Você que me lê, me ajuda a nascer.

quinta-feira, dezembro 27, 2018

Eu não pareço com você.

me ensina a descolonizar o corpo?

vem comigo, meu bem. isso você só aprende respirando junto, bem perto

terça-feira, dezembro 25, 2018



eu não quero ser salva, eu quero ser feliz

25 de dezembro.

Há um ano atrás, conheci um moço que me fez apaixonada. Eu suspirei por ele meses seguidos e resolvi pôr um fim nisso porque a gente não se entendia direito. Até hoje, eu sinto que não é que ele não gostasse de mim, a gente só tinha entendimentos diferentes sobre o que a gente queria e como a gente queria, por isso achei melhor pôr um freio em tudo. 

Mentira. Eu pus um freio porque senti uma paixão louca e não sabia o que fazer direito com isso, porque eu não entendia o que ele sentia. Também tinha coisas que eu não gostava e não sabia lidar, como o machismo de todo dia com alguém com quem você não sabe até onde pode ir. Aí parei.

Parei também pelo orgulho de não saber lidar com alguém que, apesar do carinho que aparecia em vários momentos, não parecia estar apaixonado por mim na intensidade que eu estava. Não estava ou não demonstrava, vai saber. Ele também não parecia receber a minha paixão como eu gostaria que ele recebesse. Então foi orgulho, mau jeito, foi sensação estranha de não ter controle do que eu tinha ali. 

Mas hoje, um ano depois, quando ele me liga, eu tenho consciência disso tudo que eu senti e passei. Meu corpo responde com batimentos que se apressam e gargalhadas que querem esconder a falta das palavras, mas ainda assim eu digo. Digo a ele que ele é especial e que fui apaixonada, que queria estar no coração dele. Ele diz que eu estou, eu não acredito (não acredito porque não estou do jeito que eu quero estar, eu não quero pouco, sempre quero tudo). Eu digo que ele é arisco, ele diz que não. Ele diz 

vamos nos ver

eu digo 

calma senão volta tudo

ele também ri.

Eu não ligo para ele, tento nem falar com ele, mas eu penso nele quando estou sozinha, sim. Penso, penso, lembro, sinto. Escrevo e ele sempre me responde, nem sempre com o carinho que eu quero, mas responde. Eu sou uma marrenta de marca maior porque sempre tive homens por mim suspirando, ele me desafia com o querer dele que não é como eu quero que seja, ele me irrita mas eu faço as pazes com ele porque ele me ensina que não pode ser como eu quero e pode ser bom, como é difícil quando a gente gosta de controlar tudo, como é gostoso (e irritante) essa sensação de perder o chão, de não ter certeza se ele gosta ou não de mim como eu acho que tem de gostar, que loucura.

migh, eu tou aqui te ligando hoje, você sabe muito bem, eu não ligo pra ninguém

Eu sei que sim, eu sei que é, ele me ligava quando saíamos a contragosto, eu desinstalava whattsapp só pra ele me ligar, ele me pedia com jeitinho
instala migh, por favor, é melhor pra gente

mas eu não queria, eu saía na pirraça só pra ver se ele ia me ligar, eu sou assim. Ficávamos horas e horas mas eu queria mais, como eu sou assim, gente, eu apaixonada não dou pra o que presta.

Que coisa mais doida que é o sentimento. É tão bom sentir, eu nem sei direito o que é, mas gosto tanto dele como antes todas as vezes que a gente se fala. Eu gosto de tê-lo aqui, um ano depois, tanta coisa aconteceu, paixão, tesão, zanga e sorrisos, mas ele é para mim algo que ninguém mais é, uma coisa que eu não sei direito o que é, mas é. Isso torna ele único e especial, assim como alguns outros na minha vida. Só ele me toca assim, desconcertadamente, diferente de todas as pessoas e necessário. 

É pra isso que a gente vive mesmo. Pra sentir tantas coisas diferentes por tantas gentes. 

Incorrigível, mas comportada.

Escrevi

me liga

E ele me ligou, tinha de ser rápido, não tinha muito tempo. Eu disse que queria falar ao vivo, que tinha de ser pessoalmente, mas eu também queria dizer naquela hora, então eu não sabia o que fazer, se dizia ou esperava, mas ia levar tempo, então eu disse.

todas as vezes em que te vi, todas as vezes, eu pensei em fazer amor contigo

Tchau, tchau. Desligou. Fiquei ali, de pé, telefone entre as mãos e o peito, olhos fechados, sorrindo. Porque eu disse isso? Porque eu quis. Porque me excita a presença dele quando o vejo, em qualquer momento ou lugar. Não precisa de clima, é só olhar e eu penso coisas. 

Fiquei pensando que não deveria ter feito isso. Pra que, pra que. Pra nada, só para perturbar a mente do moço, pra perturbar a minha também. Ah, por mim. Tem uma coisa, sabe? Eu fui tomar banho e enquanto a água caía sobre meu corpo quente de praia e piscina eu descobri o quanto tem de prazer nisso de me sentir errada em coisas miúdas, isso me lembra da minha humanidade que às vezes querem perdida, errar, achar que errei, sentir vergonha, assumir o erro, me divertir um pouco com uma safadezinha besta, daquelas que não tiram pedaço e fazem a vida mais gostosa, mais quente. 

Todo mundo precisa disso. De entender que erros nos constituem e as vontades de fazê-lo precisam às vezes serem alimentadas. Porque não? Eu não sei o tamanho do seu erro, qual convenção você precisa desafiar. Eu estou conhecendo as minhas e brinco com elas também, sem me sentir a pior pessoa do mundo, me divertindo em me descobrir. Eu tou chamando aqui de erro aquilo que me dizem erro, quando quebramos uma convenção social estabelecida, como paquerar o namorado da amiga ou dizer à mãe coisas que dizem que elas não precisam ouvir. Erro? Não sei. 

O que é erro para mim, alguém pode ler e se perguntar. Erro é quando você não consegue conviver com as pessoas ao seu redor. Ainda assim, às vezes é necessário gritar e fazer coisas impensáveis porque somos carne e desejo. O que se faz com isso, com o erro, é o que justamente eu estou tentando pensar aqui. Posso me flagelar, acordar com a tal ressaca moral ou posso fazer uma celebração do quanto esse meu erro me conecta com partes de mim - "boas", "ruins", vai saber -, com eus que são meus e que também precisam ser conhecidos, aprendidos, experimentados, para descartados ou vivenciados. 

Vai ver essa conversa toda aqui foi um erro também. Paulinho da Viola disse que eu sou assim, quem quiser gostar de mim, eu sou assim. 

sexta-feira, dezembro 21, 2018

quinta-feira, dezembro 20, 2018

Dirty things.

Quanto de desejo pode caber numa ligação de telefone?
Eu não sei. A gente esteve ali por quase meia hora e eu falando coisas que chamam de sujas ao telefone, coisas que envolviam calcinhas e sex shop (eu e minha mania de manter distância, às vezes isso funciona, às vezes não... a gente sempre tenta...), mas foi quando ele disse, depois de um silêncio que dizia que ele ia dizer algo sexy, que

sua boca é muito bonita

... que meu peito arfou lentamente, no compasso de uma nuca quente, foi quando eu não sorri. E desejei.

Boa noite, tchau, sem beijo.

Carolina, de Sirlene Barbosa e João Pinheiro.


[resenha a fazer]


quarta-feira, dezembro 19, 2018

Marshall: Igualdade e justiça.


Quantas línguas você fala?


Quando você tem uma professora de inglês que também quer descolonizar a sua mente. 
Só amor. 

terça-feira, dezembro 18, 2018

Aprendiz.

Eu adoro começar coisas que eu não sei nada. Foi assim quando aprendi a nadar. Ficava atenta, ainda que preguiçosa, a tudo que meu professor me dizia. Ele foi meu professor de natação por oito anos e eu sinto muitas saudades dele, que sempre me tratava, todos os dias, como se fosse a primeira vez. 

Aprendi a nadar, mas parei com as aulas. Gosto mais da hidroginástica por causa do grupo divertido de senhoras e senhores que fazem aula comigo. Eu danço, canto, dou risada, me alegro. Não é a toa que marquei um xis na caixa "fazer amigos/as" na pergunta que faziam sobre qual era o motivo de fazer esporte no formulário da academia.

Disse que começaria ano passado, mas finalmente comecei o longo caminho até a carteira de habilitação. Minhas amigas mais próximas dizem que eu vou amar aprender a dirigir e nada mais vai me segurar (tem como, mais que agora?). Então vou lá, pelo desafio de aprender coisas que eu não sei, para poder passar pelo frio na barriga da avaliação, sentar em carteiras, ouvir instruções, paquerar os moços nas carteiras, fazer piadinhas infames (eu as continuo fazendo como professora), toda essa coisa que envolve aprender coisas novas.

Imagino rotas novas, tenho já medos de coisas que nem sei o que vou sentir, penso, sinto, imagino, invento, mas continuo. Adoro as etapas, cada dia uma, cada mês uma coisa nova, eu quero. Como alguém pode parar de fazer isso?

No questionário de hoje eu precisei encher três linhas de planos para o futuro. Esqueci tanta coisa e ainda coloquei reticência... esqueci que ainda quero tentar ter um cachorro, aprender a fazer doces e coxinha, a andar de balão, a voltar a fazer yoga, a conhecer uma pessoa centenária, a aprender palavras novas, a me apaixonar de novo, a viajar atrás de alguém por quem vou me apaixonar, a ouvir novas músicas... 

segunda-feira, dezembro 17, 2018

quinta-feira, dezembro 13, 2018

segunda-feira, dezembro 10, 2018

Disque Quilombola.


Que belezura. Lágrimas nos olhos de amor.

domingo, dezembro 09, 2018

quinta-feira, dezembro 06, 2018

quarta-feira, dezembro 05, 2018

Vidas Ubuntu, Cristóvão Seneta.


Tenho saudades. 

Dourada preta.

Ali sentada numa mesa para o almoço, veio uma joaninha pousando no meu vestido. Um vestido de flores e bolinhas pretas, um vestido-joaninha? Teria ela olhado de longe e pensado que era um pouso-joaninha para asas cansadas de batejar por aí e ali? Não sei, mas ela veio. Ela, joaninha dourada com preto, solar, como me disseram solar naquele dia, um dos elogios mais lindos que eu posso ouvir na vida, um elogio que me faz escancarar a boca num sorriso-delícia, prazer ouvir "você é solar", coisa bonita assim no meio de um dia qualquer, lugar qualquer, mar qualquer. Só não a joaninha que não era qualquer.

Elas, bicho de sorte, eu mais sorte ainda por ver uma dourada ali, pousada no meu colo, no meu vestido. Devagarzinho foi caminhando, queriam foto, mas a foto mostraria mais que a joaninha, melhor não, porque sim, tinham outras coisas. Eu de cabeça baixa sem jeito de encarar um sorriso de frente que me mostravam, olhar no olho tem dessas, deixa escapar coisas que se pensam, eu nunca mais tinha passado por isso, que gostoso é ficar sem jeito, com palavras, sorrisos e joaninhas. 

A joaninha voou, voou, quando ele tocou nela ainda no meu vestido, pôs no dedo e disse algo que eu não lembro mais e nem mesmo na hora prestei atenção, o que eu ia inventar para dizer não com a boca, porque os olhos e os sinais, o corpo respirava outra resposta, isso não era segredo. Segredo era como eu ia dar um jeito nisso, isso eu não contava, eu não conto, só faço. 

Eu gosto do desejo, eu gosto da sensação de desejar, eu alimento, eu quero mais, eu tenho prazeres miúdos com a palavra que estimula, que acende, que anima, que bota o tesão na ordem do dia, eu gosto, eu brinco com fogo, eu quero. Eu vou até o limite e volto e adoro ser assim, das extremidades, cheia de arestas, eu não quero nem saber, o prazer está nesse descontrole, assim como estou escrevendo aqui sem olhar para trás, sem corrigir, sem revisar. Essa delícia que é quando não se sabe como vai ser, eu gosto. 

Eu não fujo, mas também não abro a guarda. Como se faz isso? Ainda não sei direito, mas depois do pouso da joaninha dourada e preta, descobri que estou no caminho certo. 


sábado, dezembro 01, 2018

segunda-feira, novembro 26, 2018

Bluesman, Baco Exu do Blues.


O que me faz feliz é... ver que ainda tem pessoas que se importam com as outras [...]

Olhos d'água, de Conceição Evaristo.


Não gosto tanto de livro de contos. Não gosto, mas leio. Quanta coisa que eu não gosto e faço? Não tem problema, não. Às vezes eu me faço fazer e às vezes gosto. É que quando vou pegando gosto a coisa termina e... li os contos de Conceição Evaristo porque eu quero tudo que ela escreve, eu não gosto tanto de contos mas ela fala tanto comigo que eu quero tudo dela, e fim.

Quis ficar sabendo mais de cada pessoa de quem ela contou um pouco. Por isso, escrevo pouco aqui, na vontade que vocês cacem esse livro e também aprendam. Vou escrever aqui a última frase do livro, pra dar mais vontade ainda:

E quando a dor vem encostar-se a nós, enquanto um olho chora, o outro espia o tempo procurando a solução. (p. 114)

Como não amar Evaristo, como não amar a palavra? Essa coisa que me liberta eu quero tanto, poder ler e sentir as palavras como minhas, da minha gente, é tão gostoso isso, é o que eu quero, é o que eu procuro quando leio esses livros todos que faço desfilar aqui.

Não tem como não amar a poesia, a prosa, a vida. 

Camisinha.

Ouvi uma coisa tão massa dia desses. De uma moça negra chamada Renata Prado. Ela disse que uma das coisas mais políticas quando se pensa em sexo é usar camisinha. Era uma conversa em que os temas sexo e política se encontraram eu achei essa frase - que pode parecer bem óbvia e simples - realmente muito poderosa e política, mesmo. 

Mesmo.

Usar camisinha é tão simples e tão importante para nós mulheres. Camisinha feminina, camisinha masculina, a que você quiser. Use ou exija. Ela liberta a gente de dúvidas, de medos, sem ela não é possível viver uma vida sexual plena como nós merecemos.

Ultimamente eu tenho conhecido muita gente que não usa camisinha, sim; que não gosta, que diz que não liga de usar mas que nunca põe. As pessoas esquecem que a camisinha nos protege de uma penca de coisas e também nos deixa viver a nossa vida sexual em paz, sem aquela preocupação chata de "o que pode ser que aconteceu ontem já que hoje eu vou encontrar com ele e...". 

As doenças sexualmente transmissíveis continuam existindo e bebês aparecem se a camisinha não está lá. É óbvio, mas achei tão massa isso de pensar a política da liberdade e do afeto - de deixar ser, de deixar viver - que há numa camisinha, que não pude deixar de escrever aqui sobre isso.

                                                           Renata Prado

Anitta.



Sobre como inventar pessoas, nomes e coisas. Uma série que mostra como fazer isso passo a passo.

sexta-feira, novembro 23, 2018

Casamento.

Eu não pensava em casar. Quando eu era mais jovem, eu não lembro disso ser algo que eu me ocupei por algum tempo. Eu não me lembro mesmo. Suspirava por alguns homens, namorei, saí, me apaixonei. Depois, lá pelos 27, 28 anos, encontrei homens por quem eu pensava que eu poderia começar a pensar em casar... aí as coisas não davam certo, eles moravam longe e frio e eu desistia da ideia.
Continuava a sair, namorar, conhecer. Aí com uns 30 eu comecei a pensar se eu deveria ter pensado nisso antes e comecei a construir uma narrativa que às vezes eu repito hoje: casamento acontece. Não é algo que eu deveria ter pensado ou almejado porque é um troço construído a dois, numa lida de relacionamento que eu não tive. Eu não tive nada que me moveu para isso, então eu não pensei. Foi assim que resolvi minha falta de pensar nisso.
E agora, eu continuo pensando sobre casamento, sei lá se impulsionada pelos outros, sei lá porque eu crio um medo da solidão que eu nem tenho quando ouço algumas pessoas falando. Eu acho que não quero casar. Nunca quis, talvez. Mas há sim uma leve pressão que te direciona para isso quando você vai envelhecendo. Eu acho, eu sinto ela. As pessoas te veem com alguém, pergunta se está legal e já acham que a etapa seguinte é casar. Eu não quero. Eu preciso parar de ter medo de assumir isso. Eu não quero.

Eu amo a minha vida. Eu gosto dela como ela é. Não sinto falta de casar e não acho que deva fazer isso só pra dizer que sei viver junto, que sou a favor da convivência entre as pessoas, algo que eu realmente acho muito caro. Quando escrevo isso, escrevo para que eu leia também. É que eu estou descobrindo de novo que entre os muitos modelos impostos por uma sociedade a uma mulher negra, está esse de que se você não casa é porque você foi rejeitada, então a gente não quer esse rótulo e às vezes casa. Mas não tem só essa resposta (a da solidão) para uma mulher negra que está só. Ela também pode não querer e estar bem. Ela pode ver uma grande abertura para a tal (pequena) liberdade no fato de não casar, não ter alguém "sério", ter relações bonitas com muitas gentes por aí, sem se preocupar com mais nada além de ser feliz e fazer feliz. Eu quero saber qual é a minha resposta. Eu já posso ir além de aceitar outro rótulo para minha vida, eu sei que posso. Um amigo me disse lindamente que é isso que finalmente acontece quando a gente se descoloniza REAL: quando você se conecta tanto com a mulher preta que há em você que você inventa suas próprias respostas íntimas para a vida que você vive dentro de você; há sempre uma análise e um balanço dos rótulos todos pendurados fora de você mas, o massa de descolonizar a mente é que você não fica mais ocupada de entrar nesse ou naquele modelo para tentar ser feliz. Você implode o modelo e passa a vida tentando de verdade descobrir quem é você e o que é que você quer com tudo que você tem. 
Claro que erra-se muito, de qualquer jeito. Disso não dá para prescindir. 

Há tempos atrás, escrevi para uma psicanalista famosa que publicava as cartas em anônimo num jornal de grande circulação. Minha pergunta era simples. Eu saía com os caras, estava bem, não pensava em nada além daquilo. Ela, muito inteligente, foi simples também. Está bem? Se sim, porque a preocupação? Ocupe-se em descobrir de que jeito você é feliz, algo assim. Eu estou caçando essa publicação, porque queria ler de novo qual era minha onda naquele tempo, qual era a minha pergunta. Talvez ela seja a mesma ainda hoje. Talvez eu precise só ler de novo a mesma coisa para compreender outras coisas. Procura-se uma coluna de jornal antiga.

E eu estou aprendendo a ser feliz, sim. Todos os dias. Eu sei o que me faz feliz. Viagens, crianças, música, cinema, cuidar da minha (pequena) liberdade. Agora gosto um pouco de cachorro e plantas também. Eu tou tão feliz com todas essas descobertas, sem esquecer que eu também tenho de lidar com as opressões diárias e pressões da vida. Um saco isso.

Eu quero ser leve, love, livre. Não quero descartar fácil, mas vou escapar sim das coisas que não me fazem bem. Eu escorrego e vou embora, sim. 

Procura-se.


A gente está sempre procurando alguma coisa, alguém. Imagina, eu não duvido mais de nada. Nada.
Eu mesma estou procurando sempre um jeito de ser eu mesma, mais e sempre. Não é fácil, a briga é grande, eu canso, vou dormir às vezes, volto.
Talvez fosse melhor ir procurar canoas perdidas.

quinta-feira, novembro 22, 2018

terça-feira, novembro 20, 2018

É verdade este bilete.



Amei essa história, mas fiquei sabendo tem umas duas semanas. Linda, né? Muito muito muito. Gabriel tem cinco anos, escreve bem demais e merece todos os aplausos do mundo só por ser criança. Li que a mãe desabafou por causa de críticas ao acontecido, eu queria que ela soubesse que se Gabriel estudasse na minha turma a gente ia rir muito juntas por causa desse bilhete; pode ser que eu até pedisse a ela de presente pra emoldurar ou pôr na geladeira, como fiz  a vida inteira com coisas como essa.
Mentira? Gabriel não mentiu, ele disse que amanhã não iria ter aula porque poderia ser feriado. Como não era, teria. Assim, ele não mentiu. E, mesmo se mentisse, a exposição do bilhete não é para repreender Gabriel, mas para mostrar como as crianças são realmente capazes de entender o mundo à sua volta e estão o tempo inteiro, à sua maneira, querendo participar dele com aquilo que pensam e sentem. Nós, adultos, só vemos a mentira. Ainda bem que a mamãe de Gabriel vê mais do que mentira. Espero que mais professoras vejam mais inteligência e menos sermão nesse bilete.

Ainda bem que teve história divertida com isso tudo também. Gabriel, a mamãe e o bilete.

Tem meu máximo respeito. 


Visita.

Eu conheço o desejo. Durante esse tempo de vida sobre a terra, ele me visita vem em quando. Ás vezes, vem e fica por muito tempo. Não pede direito e senta, deita, dorme. Faz morada. Noutras, aparece, chega perto, sopra no meu ouvido, dá um sorriso bem perto do meu rosto e eu até consigo sentir seu bafo quente na minha nuca. 

O desejo, não sei se me conhece. Tenho dúvida se me visita querendo me ver ou perdeu alguém de vista. Não sei responder direito porque ele parece que sim quando em mim eu vejo que ele vem, mas ele também me deixa, vai embora sem nem explicar como chegou e o que eu fiz para ele me reconhecer assim de longe. Nem eu sei. Eu penso que eu só fiquei ali e esperei, mesmo quando não sabia pra que e quando achava que ele nunca ia me conhecer. Mas... 

Será que é música o desejo? Será que ele diz coisas quando as letras cantam e dançam na minha cabeça? Não sei. 

segunda-feira, novembro 19, 2018

domingo, novembro 18, 2018

sábado, novembro 17, 2018

sexta-feira, novembro 16, 2018

Pergunte-me se estou feliz.


Né?

Engraçado, muito engraçado. Conversando com mainha, eu descubro que quase não lembro do que não quero, do que poderia me fazer triste, vítima, infeliz, com baixa autoestima.

Se eu soubesse a poção mágica que me deixa longe de lembranças tão dolorosas que ela me conta e eu ouço como sendo de outra pessoa, juro que divulgava ela aqui. Deve ser antídoto bom para curar de racismo, machismo, sexismo, falta de amor e coleguismo. Vai saber.

quarta-feira, novembro 14, 2018

Assis Horta.



Forever Don't Last, Jazmine Sullivan.


Tudo bem.

Eu estou bem. Você que me procura para saber, eu estou bem. Com saúde, disposição, coragem, falta o que. Às vezes quando vou sair de casa mainha me pergunta "quer o que?", eu respondo, "coragem", ela quase sempre diz que isso eu tenho demais. Então estou bem.

Estou bem, porque ainda acredito. Respiro fundo, quando não consigo acreditar ou quando me irrito. Não me deixo ficar assim por muito, mas quando acontece, penso: "vai passar,  isso tudo é uma grande besteira, daqui a pouco eu nem vou me lembrar mais dessa porcaria", aí respiro fundo, como aprendi na yoga, e continuo.

Estou bem, porque tenho companhia para estar. De homens, mulheres e crianças. De várias cores, formas e orientações. Nem com todas faço tudo mas gosto dessa situação de não ter controle do que que vai ser. Tenho aprendido a me divertir com a dúvida e a angústia, com o meu erro. Contei para um amigo que não sofro quando erro, porque me digo "tudo bem, Míghian, você é humana, não pode controlar tudo". E quando acho que outra pessoa erra, eu digo "tudo bem, Míghian, ela é humana, ela não pode controlar tudo". E assim tenho justificativas ótimas para continuar não levando a vida a sério.

Algumas pessoas que me conhecem dizem que eu levo a vida a sério demais, sim. Que eu invento isso para enganar gente. Uma outra dizia, quando eu respondia que não fazia nada da vida, que eu tinha dois empregos e fazia doutorado, mas que eu sempre respondia assim para desconcertar as pessoas, que esperavam esfregamento de título e de tempo preenchido. Pode ser verdade, sim. Mas eu não sei. O que eu quero dizer é, quando sinto que posso emaluquecer com as coisas da vida, eu penso nas coisas boas que eu tenho, aí dá uma coceira gostosa no coração e eu sorrio, aí rápido esqueço aquilo que não presta. Serve também conversar com alguém que te diz "isso vai passar", porque vai mesmo. Quando eu ouço isso, parece que destrava um monte de troço aqui dentro e eu lembro que a vida é mais que aquela irritação que apareceu ali, chata, que eu posso ir à praia agora mesmo e chegar lá em 15 minutos, então... isso de poder, de poder, de escolher algumas coisas enquanto muita gente hoje, agora mesmo, não é LIVRE, me faz ficar tudo bem. 

Eu acho que estou bem então porque na maioria do tempo eu estou tentando aprender jeitos novos de escapar das coisas que não prestam. Eu vivo nessa astúcia de descobrir caminhos que façam as coisas serem menos pesadas, mesmo que eles sejam mais longos e nada práticos. Eu faço isso, eu tenho essa consciência da minha vida em prol de ficar em paz. 

38 anos aqui e eu preciso dar um jeito de continuar o combinado de não morrer. Não é morrer só morte matada, morrida (que também é matada, às vezes), é morrer para a beleza das coisas que tem vida, sorriso, criança, música, amizade, cachorro (eu até queria um), comida, sei lá, pencas de coisas tão boas que a vida tem todos os dias. Parece que dizer isso cada vez mais soa piegas, bobo, infantil. Mas é isso aí mesmo que eu pretendo ser, voltar ao meu estado natural de quando eu nasci. Parece ingenuidade supor boa convivência no trabalho, lugar de competição intensa e desenfreada. Parece mas eu nem ligo pro que parece, eu preciso continuar assim mesma. 

O que eu aprendi com as crianças, eu não abro mão. 

terça-feira, novembro 13, 2018

segunda-feira, novembro 12, 2018

segunda-feira, novembro 05, 2018

domingo, novembro 04, 2018

Novembro.

Novembro chegou, mais uma vez. Amo novembro, amo fazer aniversário, mas nem sempre foi assim. Por algum tempo, isso nem era importante. A única coisa que faço há muito tempo nesse dia é não trabalhar. É coisa minha, botei na cabeça, não trabalho nesse dia faz muitos anos. É um jeito de me dizer que ainda tem jeito.

No único ano que trabalhei nesse dia, a pedido da instituição que eu estava vinculada, foi péssimo. Não quero mais fazer isso. Saí de lá logo depois, sem esquecer desse dia. Uma mulher deve poder ter suas próprias regras, ou pelo menos uma, algumas vezes na vida. Inadmissível. 

Eu ando bem feliz, como quase sempre. Não é demagogia nem nada. As coisas não estão boas o tempo todo, mas eu penso que se já não estão boas, eu pelo menos devo ficar. Me apego ao que de bom tem na vida. O que é? Crianças, amor, cerveja, praia, não sei. Vai depender de muita coisa, mas essas aí eu sempre consigo ter. 

O preço que eu pago para me incomodar pouco e conseguir sorrir sem um traço de amargura não é pouco, não. Mas eu pago com gosto, sentada aqui numa cadeira tendo vista para um braço de mar logo aqui. Silêncio num domingo pela manhã (os passarinhos cantam, ah como eu queria saber nome de passarinho só pelo cantar), conversa com vizinha, cheiro do churrasco dela vindo aqui, não tem cinema, não tem exposição, não tem teatro, não. Não tem. 

Tem praça, gente na rua, música alta, criança correndo. Tem mangue, braço de mar, vista de ilha com sol no fim da tarde. Tem nadas e nisso eu tenho tudo, meu preço é viajar por aí e fazer o que eu não faço aqui, para não fazer o que faço lá, aqui. Eu gosto disso, de calma e vontade de dormir, de conseguir dormir porque calma e vontade.

E lavar roupa? Virou a coisa mais de quem tem tempo na vida. As pessoas lavam roupa à máquina porque estão cansadas, porque é mais prático. Mas todo mundo acha que a roupa não fica bem lavada e é aí que agora lavar roupa à mão para mim virou sinônimo de tempo. Eu gosto de fazer minhas coisas, ter o controle delas, comprar as coisas de casa, saber onde tudo está, lavar roupas brancas e vê-las côco, eu gosto muito mas faço pouco. Quando faço, sinto um prazer enorme e dona de um tempo só meu, todo o tempo do mundo. Me sinto forte e invencível quando lavo roupas brancas, com toda a calma eu esfrego, espero um pouco, faço outra coisa, ouço uma música - às vezes ele está por ali, acendendo a churrasqueira ou estendendo as roupas - e volto à roupa, esfrego um pouco mais, amaciante, depois estender. É tempo, é tão bom cansar de fazer as minhas próprias coisas, as coisas que eu escolhi fazer porque são de minha vida também.

Esse é o alto preço que se paga para não enlouquecer demais, nessa vida onde tudo é demais. Machismo demais, racismo demais, adultismo demais, chatice demais. Paguemos, então. E bem feliz.


Who shot the Sheriff?


No ritmo da sedução.


Não vou mentir, amei as cenas de dança-filme. <3 p="">

quarta-feira, outubro 31, 2018

Jazmine Sullivan.


Obrigada, Alysson, você e Jazmine iluminaram meu dia. <3 p="">

segunda-feira, outubro 29, 2018

Segunda, segundo.

Muita gente levantou da cama hoje muito triste, mais triste. 
Eu também.

Muita gente está com medo, muito medo.
Eu nem tanto.

Mas sim, hoje foi uma segunda de segundo lugar. As cores não brilhavam igual, o dia passou sem nenhum interesse, meio autômato. Só fiz o que tinha que fazer. Cheguei em casa, fiz um café forte. O mesmo de sempre, só que mais triste.

Ele não é meu presidente. Presidente, presidente mesmo, até agora, eu só tive um. Ah, já tive presidenta também. E todo mundo sabe quem é.

Lula la
Dilma ma


quinta-feira, outubro 25, 2018

Olélé Moliba Makasi.


Que lindo. As meninas do curso de Infância e Relações Raciais que me mostraram essa lindeza. Quero ir na creche mostrar para os bebês. 

Ah, há coisas para ser feliz por aí.

quarta-feira, outubro 24, 2018

Haddad sim.

Estou correndo correnddo correnddo mas passo bem rápiddo para dizer que eu sou Haddad.
Preciso dizer? Sim.
Preciso escrever? Sim.
Preciso debater? (ufa) Sim.

Eu volto.

sexta-feira, outubro 19, 2018

sexta-feira, outubro 12, 2018

Eu sei porque o pássaro canta na gaiola, Maya Angelou.


Eu conheci Maya faz pouco tempo. A Netflix faz isso com a gente, tem documentários ótimos sobre personalidades negras estadunidenses. Ainda quero pesquisar se as pessoas que fazem a Netflix acreditam na diversidade como capital ou como direito num canal de streaming, porque tem até bastante coisa para a população negra lá. São espertos ou são sensíveis à causa racial?

Bom, assim conheci Maya e vejo muitos documentários de lá, cuidando para que não fique sabendo mais da vida deles do que da nossa, né? Achei-a linda, perfeita. Imagina quando descobri que ela também escreveu livros infantis e um monte de autobiografias? Fiquei louca, esperando pelo dia que pudesse lê-la. 

Assim que tive como comprar seus livros, comprei. Li este que apresento agora e li também um livro infantil chamado A vida não me assusta, com ilustrações de Jean Basquiat. Tem mais um na fila, mas ele chegou agora, depois de tantos outros, como o que comecei hoje chamado O caminho de casa, de Yaa Gyasi. Comecei lendo Maya nas idas e vindas entre São Francisco e Salvador, mas não sabia que ela ia me fazer chorar entre as páginas que ela escreveu há mais de cinquenta anos atrás sobre sua infância, que foi ainda há mais tempo. 

O que eu tenho para falar desse livro? Rapaz, ele me pegou. Eu estive lendo livros que não me pegaram nos últimos meses e fiquei pensando se eu ainda gostava de ler como antes. Não, não era eu. É sobre escrever bem e sobre falar comigo, me inspirar. Maya me disse coisas em sussurro sobre como amar homens e mulheres como eu nunca mais tinha ouvido nem baixinho ao ouvido. Eu não vou poder falar mais sobre esse livro. É preciso ler e ser tomada por ela, pela forma como ela escreve sobre ela e as pessoas ao redor da cena que ela recria para nós, muito generosa. 

Só posso dizer que há pelo menos dois capítulos que eu deverei compartilhar com todas as pessoas que amo e que passaram ou passarão pela minha vida, assim eu possa. Maya me diz como é que nós, negras e negros, conseguimos suportar o insuportável, da dor, da humilhação, da vergonha, da indigna vida de desrespeito a que somos submetidas diariamente, em nossa condição de menina, mulher negra. Mas também não direi quais. Só posso dizer que são dois e que estão em ordem, no livro. 

Leia Conceição Evaristo (que por sinal foi quem nos indicou ler Maya), leia Cristiane Sobral, leia Carolina de Jesus. Leia Maya também. 

Ah, o nome do livro é inspirado no poema Sympathy, de Paul Laurence Dunbar, um dos muitos autores que Maya me contou. É isso, Maya não tem ódio dos homens negros. Ela sabe como falar sobre eles de um jeito duro e doce que no fim tem um jeito só dela - que pode ser nosso também - que nos ensina a fazer as pazes com eles. E, assim, fazer as pazes com a gente também. 

segunda-feira, outubro 08, 2018

Desafio (com amor, a gente chega lá).

Sinto muita falta dos bebês da creche. A creche aonde eu trabalhava. Eu saí dela e estou trabalhando numa universidade. Faz muita diferença. Eu chegava às 08h, encontrava com eles e elas, eram onze frequentes esse ano. A gente sentava no chão e ficava brincando até todo mundo chegar. A gente conversava e brincava, dava risada, um mundo nosso cheio de sorrisos, birras e felicidade. 

A gente ficava junto o tempo todo. Grudado, colado. É uma falta física, eu sinto falta da pele, do cheiro, da baba, do dedinho que roçava minha mão, da quentura quando eu trocava ele ou ela de cama ainda dormindo, de pegar no colo, de sentir o suor, o sorriso. Eu sinto tanta falta disso e isso não tem substituto. É uma coisa inominável e eu fui muito feliz ali, tão feliz ali, foram dois anos com bebês que me doaram tanta energia para continuar de pé, eu reclamava das condições de trabalho, fazia greve mas sentia falta deles e delas, só deles e delas. 

Migh lindona, você tava aonde?, ela me fala com as mãos nas cadeiras e eu respondo sorrindo, ela me olha de cima embaixo (ajuda porque eu estou abaixada, à altura de seus olhos) e quase balança o pezinho, gestos completos de uma pessoa inquiridora e que não aceita qualquer resposta como justificativa para o meu sumiço. Como dizer pra ela que estava dando atenção a outras pessoas que não ela? Como dizer que eu não estava ali mas suspirava querendo ouvir sua risada e sentia falta até de suas birras, aquelas que ela repetia sem se cansar, sem desanimar, mesmo quando nós, adultas, dizíamos não o tempo todo? Não consegui dizer muito, só que estava em casa, respondo sorrindo, ela ainda quase séria com as mãos nas cadeiras por um segundo me dá espaço e eu a agarro, abraço, beijo, ela sorri gostoso, mostra os dentes que cresceram mais desde a última vez que lhe vi, sou feliz.

Agora é gentes grandes que me declaram amor e me abraçam do jeito que aprenderam, que sorriem e me gostam também, não posso negar. Recebi hoje um email de uma grandona que me dizia assim:

Mighian!!!!!
Mighian!!!!
Obrigada
Estou com "Histórias de ébano". Ler o livro em pleno sábado na véspera de eleição pois é tá ótimo. Tá sendo como uma dor de barriga. Mal comecei e tudo que li apertou tanto a minha mente que pude traduzir o que quero pesquisar. Agora eu sei o que vou pesquisar!!!!!!!!!!!!!! Eu entendi o que eu vim fazer em São Francisco e que não pedi demissão de emprego à toa não. Tô aliviada!!!!!! Saiu! Eu pari uma vontade, mulher!!!! Sensacional saber como fazer o que eu quero fazer mesmo, se aceitarem ou não, eu entendi o que posso fazer. Vou construir a linha pra esse trem e ele vai correr por cima dela que nem criança no meio fio!!! Doido demais!

Afaga o coração ler essas belezas e saber que a gente continua na vida das pessoas e elas vão lembrar da gente, assim como quando encontrei um menino de seis anos que me disse "oi, professora" e eu não acreditei que ele lembrava que eu havia trocado a fralda dele 3 anos antes (eu nunca esqueci seu nome, mesmo antes disso, porque ele era muito retado para que eu o esquecesse, pelo menos por uns dez anos). Há respiros de alegria no meio da vida corrida que tem a universidade. As coisas não são de todo ruim, não; as coisas são como antes, como sempre, como a vida. Mas, não posso dizer que não sinto mais falta da baba, do suor, do grude, da birra, do chão, da pele, do olhar, do sono, do carinho, da comida na boca. Não posso dizer.

Eu tenho montes de fotos lindas que eu tirei a vida inteira com as crianças, das crianças, pelas crianças. Sempre que posso, revejo essas fotos e me emociono. Alguém fez uma delas no celular, poucos dias antes de eu ir embora da creche. Estou sentada no chão, um nenê entre minhas pernas, eu trocando fraldas. Sinto um amor por essa foto tão grande toda vez que a vejo, sinto amor por mim e pelas crianças. Ela é um pouco do que eu sinto falta quando estou lá, na universidade. Consolo-me um pouco olhando para ela às vezes e me esforço para fazer um sorriso, porque vejo que estou sorrindo na foto e essa é a sensação que ficou desse tempo tão bom. De verdade, para mim é muito gostoso ter saído de lá com saudade e não com tristeza, com cansaço, com desânimo. Foi assim também quando fiz outras coisas na vida. Sou uma sortuda, enfim. 

sábado, outubro 06, 2018

quarta-feira, outubro 03, 2018

segunda-feira, outubro 01, 2018

sexta-feira, setembro 28, 2018

quarta-feira, setembro 26, 2018

terça-feira, setembro 25, 2018

90 dias.

Onde vamos eu não sei, mas eu quero ir

Foi o que ele me disse depois de 90 dias que me conheceu. Eu queria responder que sabia de alguma coisa, mas eu não sei. Eu nunca sei e às vezes finjo que sei, sou esnobe e finjo que sei, mas ele me atura e não reclama quando eu finjo que sei, quando eu finjo que tenho controle, eu não sei.

Nem eu mesma entendo o que acontece comigo. Quando estamos juntos é só paz e sorriso. Aí chega a hora de ir embora e eu fico pensando "pra quê ele vai embora, não precisava" e fico pensando como posso deixar ele ir, como posso ir, se é tão bom e calmo e eu sou eu mesma sem ele ou com ele aqui, "pra quê ele vai embora, não precisava". Quando ele vai, não sei como deixo. Quando eu vou, não sei como consigo. E quando ele vai chegando, eu fico pensando "como é que deixei ele ir embora? Como é que fiquei esse tempo todo sem ele?"

Aí me lembro que nós dois vivemos por aí batendo cabeça 37 anos antes de querer ficar de vez. Eu quero ficar de vez. Eu descubro isso devagar e sempre. Eu tenho medo, ele também. Mas vamos juntos, devagar e sempre, confirmando o que queríamos ontem, o que nem sabíamos há 90 dias atrás.

Onde vamos eu não sei, mas eu quero ir

Eu repito para quem quiser ouvir. 




Daniel Caesar: NPR Music Tiny Desk Concert.


Batalha de Rap em São Francisco do Conde (BA).


quarta-feira, setembro 19, 2018

quinta-feira, setembro 13, 2018

quinta-feira, setembro 06, 2018

segunda-feira, agosto 27, 2018

Começa com L.

Um nome que diz muita coisa, mas diz coisas novas.
Ando escrevendo pouco e fazendo muito, sentindo mais ainda. Como não?

Ele me envolve num abraço quando eu o abraço ele é enorme mais ainda maior é minha vontade de explicar para ele que eu gosto dele, eu gosto dele, ele com paciência esperou acontecer, ele está vendo acontecer, sentindo acontecer. 

E eu, que queria tantas coisas, agora tenho tantas delas que nem lembro que um dia eram as coisas que eu mais quis. Porque ele faz e é tão simples e tão dele sem alarde sem barulho só ele fazendo ali e eu vendo e todo mundo vendo mas ele não dizendo, só fazendo. 

Como foi isso? Quando começou, o que foi que deu em mim? Eu não sei direito, estavam acontecendo outras coisas tão legais quanto e ele chegou de mansinho, ficou ali, nem sei como direito, só ficou, só chegou, só continuou. E agora é só paz. 

Não me pergunte muita coisa que nem eu sei, acho que nem ele também. A gente namora e ele diz "eu gosto muito de você" e eu acho lindo e repito. Depois ele diz "eu gosto muuuito de você" e me beija e me abraça e pede abraço também, a gente vive junto e bem. 

E que bom. O amor está aí, está no ar, em mim, está na gente. 
Sou feliz porque ele chegou.

Um cara aí.

Conversando com uma amiga, ela disse como alguns homens a machucaram e como isso a deixou mais amarga para a vida. Fiquei pensando, pensando... achei que seria uma ousadia deixar alguém que me fez mal (ou pelo menos tentou fazer) mudar o meu jeito de pensar as coisas sobre a vida. Acho que a vida é muito boa e muito demais para deixar que as marcas de um cara que não foi legal sejam mais fortes que as daqueles que me fizeram feliz e sorridente.

Ela concordou, mas achou que é difícil. É difícil esquecer quem te fez mal, mas tem de ser mais difícil ainda entregar sua vida na mão de alguém que não esteve nem aí pra você. Entregar seu jeito de sentir amor e sentir a vida para alguém que te machucou e não para alguém que te fez sentir a pessoa mais linda do mundo. 

Eu não, que nada.
Eu escapo do que não me faz bem.
Quando eu não consigo, eu tento. E quando eu tento, só por tentar, já consigo.
Tenta e consegue vocês tudo também. 


Espelho, espelho meu!


terça-feira, agosto 21, 2018

quinta-feira, agosto 16, 2018

quarta-feira, agosto 15, 2018

Lu-la, Lu-la-la.


Minha frase: "eu não tenho vocação pra sair do Brasil". Amei, vou roubar pra mim.

Funcional.

Ginástica na rua, com as pessoas indo e vindo, mar e pôr do sol de fundo. Que massa isso de estar na rua, ver e ser vista. Eu gosto, não me importo, deito no colchonete, um ônibus passa, pessoas correm, eu corro, eu trasnpiro, uma hora de estar na rua e fazer parte da cidade.

A vida é mais, sempre.

terça-feira, agosto 14, 2018

Mestre Bimba: Corpo de mandinga.



[resenha a fazer]

Sob o sol de Leão.

Comprei esse livro junto com tantos outros de escritoras negras disponíveis por aí. 



segunda-feira, agosto 13, 2018

Carta de Despedida.

São Francisco do Conde, 13 de agosto de 2018

CARTA DE EXONERAÇÃO

Hoje é um dia muito especial para mim; hoje, no Diário Oficial da União, saiu publicada minha nomeação como professora da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Campus dos Malês. Minha felicidade, contudo, não provém do fato de estar deixando o cargo de professora de educação infantil. Apesar de estar na rede de São Francisco do Conde a apenas um ano e quatro meses, comecei a exercer a profissão em 1996 e, de lá para cá, com algumas interrupções, já se vão 19 anos de trabalho com crianças.

Trabalhar com crianças é uma das atividades que mais me dá prazer na vida e eu sigo acreditando que, de um jeito ou de outro, farei o possível para continuar perto delas. Com elas aprendi a ter paciência, a ser amorosa e festeira, a brigar pelo que quero e a descobrir na diferença possibilidades de aprender ainda mais.

Se estou feliz, é porque sei que este lugar que ocuparei agora me dará outras oportunidades, oportunidades estas que também poderão impactar na vida das crianças são-franciscanas com quem continuo a conviver, já que vivo na cidade. Se estou feliz, é porque sei que a UNILAB deve ser a ponte entre as crianças, as professoras e o conhecimento necessário para que São Francisco do Conde tenha uma educação de qualidade.

É certo que é preciso fazer muito ainda para que a educação do município alcance o patamar de excelência, mínimo que deveria ser oferecido às crianças e adolescentes dessa cidade; excelência é o mínimo porque temos profissionais competentes, tanto aqueles que estavam aqui antes do concurso público como os que adentraram em 2017. Precisamos, contudo, de melhor infraestrutura e condições de trabalho que nos permitam ir mais longe com nossas crianças. Ir mais longe, mas sem esquecer de onde viemos, levando onde formos aquilo que aprendemos com os nossos e nossas.

Não me isento de, mesmo não sendo mais professora da rede, estar perto e atenta para fazer acontecer, lutando pelo que nós professoras acreditamos ser vital (educar para ser), somando forças com as pessoas que se importam mais com pessoas do que com aparências. Em especial, coloco-me à disposição para o trabalho com a Lei 10639/03 e o debate sobre infância e a educação infantil do município, áreas nas quais sou especialista.

Não poderia exonerar sem dizer essas palavras. São Francisco do Conde é o lugar onde escolhi para viver. É por isso que eu farei o possível para que aqui seja o melhor lugar do mundo, para mim e para todas as pessoas que aqui estão.

Com afeto,
Míghian Danae Ferreira Nunes

quarta-feira, agosto 08, 2018

Mudbound: Lágrimas sobre o Mississipi.


Adoção PositHIVa.

Cheguei nesse site por causa de um amigo. Aí li esse manual. Aí lembrei que é mais uma das coisas que eu quero fazer na vida: adotar.


Adoção em Mato Grosso (Foto: Leandro J. Nascimento/G1)



domingo, agosto 05, 2018

quinta-feira, agosto 02, 2018

Sentir é melhor do que saber (OPANIJÉ).

As coisas acontecendo e eu eufórica louca vivendo cada minuto da vida, um de cada vez. Encontrando coisas ótimas de ler na internet, descobrindo que eu sou mulherista africana sem nem saber disso direito, ra. Foi Anin Urasse que me contou isso. Tão bom, fiquei lendo e me encontrando, preciso dizer isso para ela. Minhas relações tem sido com os homens negros a fim de pensar a partir de outra ética de relação, que massa, não estou só e continuo indo de encontro à maioria.

Nem posso parar aqui para contar o quanto feliz estou. Comprei uma sandália linda e estou no meio de um filme também lindo, Mudbound (eu tou falando das imagens lindas de crianças brincando no meio do trabalho dos pais, como isso é nosso, de resto é o mesmo. Ao menos esse filme tem uma polifonia, ao menos). 

Mas eu também estou fazendo pareceres técnicos para congressos, escrevendo um artigo, fazendo exames admissionais, amando minhas amigas, sorrindo com um homem negro que não me apressa mais do que eu mesma me apresso na minha vida. Eu estou aqui, fazendo mil coisas e lembrando que preciso também escrever, para saber o quão bom é estar viva e ser eu mesma. 

Penso que escrevo mais quando estou mais reflexiva e talvez um pouco triste, me sentindo sozinha. Mas não, isso não é bom, eu preciso dizer das belezas que eu sinto na vida, com as pessoas que encontro na rua, com as crianças. Das coragens que eu tenho de continuar aqui, de viajar, de ouvir música, de deixar a porta do meu coração aberta para o amor e o carinho de umas declarações lindas escritas num app, eu preciso dizer que tudo isso existe e eu recebo tudo isso, sabe?

Às vezes me ouço falando uma frase pessimista e na mesma hora eu paro tudo e refaço aquilo, eu não posso fazer isso, eu sou feliz demais, viu? Eu tenho tanta coisa boa na vida, amizades, festas e viagens, amores, do que é que eu vou me lamentar? Eu já sofri tanto em todas as vidas que eu tive e tenho que eu tenho de celebrar minha existência, a despeito do estupro, do racismo, machismo, sexismo, branquitude, desamor, inveja, desânimo, genocídio... (a lista é grande).

Mas eu estou aqui. Em cor e corpo.

terça-feira, julho 31, 2018

sexta-feira, julho 27, 2018

Não digo nada porque não me dizem nada.
Mas me olham tanto e dentro que dizem muito.
Porque nunca mais tinha sido tanto, sem dizer nada.

Uma vida de descobertas.