Você que me lê, me ajuda a nascer.

quinta-feira, março 30, 2017

Rede Extremo Sul.

Quer ver beleza e luta? Vem aqui, ó. Ah, e aqui.


quarta-feira, março 29, 2017

Era o Hotel Cambridge.


Leia para ela.

Recebi no email, achei uma lindeza:

Prezadas docentes e alunas,

A Pró-Reitoria de Graduação concedeu à Faculdade de Educação uma bolsa para aluno de pós-graduação com disponibilidade para atuar como ledora de textos para uma aluna com deficiência visual.  
A bolsa, no valor mensal de R$ 1.200,00 (hum mil e duzentos reais), será concedida de imediato, pelo período de 3 meses (abril, maio e junho)
Os interessados devem fazer sua inscrição na secretaria da Direção da Faculdade de Educação até 2a.feira, dia 3 de abril, informando: nome completo, CPF e RG; endereço, telefone e e-mail; curso de pós-graduação no qual está matriculado; e número USP. 
A todos que puderem colaborar, pedimos a gentileza de fazer rápida divulgação, pois a aluna precisa terminar sua licenciatura neste semestre.
Grata pela atenção.

segunda-feira, março 27, 2017

domingo, março 26, 2017

Trovão.

Um código sem aviso
Suas batidas na parede
E a certeza do seu corpo, retorcido de desejo
Eu ali, pele e sorriso, a brasa

Ele trovão, eu terra
Na espera do encontro relâmpago
...

Entre nós, só luz (e lençóis brancos)





Maxixe, minha áfrica de amor.

quinta-feira, março 23, 2017

Não me conheço.

Eu prometo que vou tentar, fazer tudo certo.
Amar e só amar. Sem me perguntar os motivos todos.
Me deixar sentir, lavar a alma da mágoa e do medo.
Sorrir, viver, desfrutar, sorver.
Ser.
Eu prometo que vou tentar, fazer tudo certo.

(se eu sumir, é porque deu certo)

quarta-feira, março 22, 2017

Fenda.

Bem que eu queria
a viva voz
te anunciar o meu amor
e colocar na mesa dos teus braços
o meu destino.
Mas a timidez prende-me os gestos
do profundo apreço
congela-me os movimentos,
embaraça-me as palavras,
meu desejo se amedronta.
Emudeço.

Geni Guimarães, (Balé das emoções, 1993, p. 16)


segunda-feira, março 20, 2017

Pergunte a eles.

Os homens brancos não entendem. As mulheres brancas também não. Os homens negros, pergunte a eles.
Mas nós, mulheres negras, inventamos outros jeitos de viver essa vida sacana e nem sempre dá pra explicar com letras inventadas por outras pessoas que nem nos conhecem o que a gente fez para chegar aqui.
Se falamos, vitimismo.
Se calamos, soberba.
Se gritamos, loucura.
Se morremos, desistimos.


Por isso, eu só quero ser eu (com os outros). Às vezes, eu brinco de explicar, mas dá um trabalho danado. Porque eu sei as coisas que eu sei na carne, eu sinto elas. Eu nunca sei se expliquei, mas eu sei porque eu sinto. Você, nunca vai saber não sendo eu, nós, mulheres negras.

sábado, março 18, 2017

Carta.

Encontrei uma carta que escrevi para ele e não mandei. Não escrevi com essa intenção. Só precisava botar pra fora um monte de agonia que tinha dentro do peito.

Engraçado. Agora, de longe, reli e me deu paz.
A carta resume a nossa história até quase hoje. Me li e me vi, me entendi. Me libertei?

Melhor não mexer com o que tá quieto.

Sem sol.


sexta-feira, março 17, 2017

Saída (não há).

Não há saída.
Quando abro os olhos, quando olho bem, quando olho pra dentro, só encontro ele.
Eu não vou tentar, nunca mais.

Mas eu o amo, e eu sei disso como sempre soube.
Não é diferente agora.
A única certeza que eu tenho é que saída não há.
(e que a gente nunca mais vai se encontrar)



Outsider Within (na vida).

É noite, sua mãe ressona ao seu lado (você decidiu dormir com ela naquela noite, depois de conversas sobre família e amores) e você lê um texto de Patricia Hill Collins anos depois que ela o escreveu e acredita que se encontrou na vida. Nada de terapia nem conversa com psicólogo (homem e branco) isso me ajuda a me entender mais do que o conceito de outsider within.

Isso já aconteceu com você?

Lembro que quando estava terminando de escrever a dissertação foi outro texto, o de bel hooks, que me pegou, aquele que publiquei aqui, Intelectuais Negras. Eu andava às voltas com escritos e palavras, conceitos, definições, noites adentro pensando no que eu queria falar quando eu escrevia. Encontrei alento nas letras de hooks, hoje é Hill quem me liberta de mim mesmo, do peso de ser eu. Do peso de ser eu para a leveza de ser eu, ela me ensina que eu posso ser uma dentro-fora, porque ela também aprendeu com hooks que 

ao viver como vivíamos, na margem, acabamos desenvolvendo uma forma particular de ver a realidade. Olhávamos tanto de fora para dentro quanto de dentro para fora... compreendíamos ambos (hooks, 1984: vii)

Collins fala de hooks, que me faz lembrar de mim e ... subitamente ouve minha mãe ressonar. Ela funga e diz:

é igual caranguejo na lata [uma metáfora para assuntos de família, coisa nossa]

E volta a dormir.
Durmo também, feliz por ser quem eu sou. Eu não queria estar em outro lugar.



Patricia Hill Collins

quinta-feira, março 16, 2017

Búzios do seu coração.


Lanchonete.

Na última semana, minha mãe mudou o endereço da  sua lanchonete. Um lugar maior e mais perto de casa. Agora, ao andar por aí, encontra as pessoas que conviveram com ela por treze anos, no endereço antigo. 

Um amiga porém, de longa data, havia se chateado com ela e não ficava mais por lá. Passava direto, sem nada dizer. Minha mãe e ela, duas tinhosas, não se aguentam juntas por muito tempo. 

Hoje, nas andanças pelo bairro, mainha encontrou mais uma dessas amigas, que também conhecia a outra tinhosa. Disse que certo dia, ao esperar o sinal fechar em frente à lanchonete, avistou-a, em frente à lanchonete, alisando o portão do estabelecimento, como em sinal de respeito à amizade que tinha com minha mãe por tantos anos mas que, por infortúnio, não poderia dessa vez ser reatada, já que ela não sabia para onde ela tinha ido. Ao alisar o portão de ferro, olhava para amiga de mainha que fingia nada ver, mas que, com certeza, por dentro, não via a hora de fazer a fofoca. 

As duas estão por aí, pelo bairro. Se encontrarão e farão as pazes, qualquer dia desses. Ainda assim, mesmo ser ter visto, a imagem dela alisando a porta da lanchonete não sai da minha cabeça. 

quarta-feira, março 15, 2017

Fugaz.

1h52
Anteontem, solteiro, me paquerou
Pediu número de telefone, fixo, Skype, Twitter
Eu não tenho nada disso, não teve como se apaixonar por mim
Em um dia, o perdi

2h49
Conheceu outra, hiper conectada
Celular, instagram, whattsapp', enfim
Ontem mesmo saíram, namoraram, fizeram juras de amor

19h37
Hoje, terminaram, ele descobriu que ela não era tão legal assim
Me ligou, eu sorri feliz
Nem sabia que nesses dois dias passados ele já tinha quase casado de novo

23h59
Eu ainda estou suspirando pela mensagem carinhosa de bom dia de anteontem
Eu, velha demais para a rapidez desses amores

(em homenagem às minhas paixões de adolescente que demoraram anos para me dizerem sins e nãos)

terça-feira, março 14, 2017

Ajudar (posso) não.

Mais uma vez: começo de semestre, um rapaz branco me pergunta se eu trabalho na biblioteca. Respiro fundo e ele parece perceber a merda que fez; se afasta antes que eu termine de lhe responder. Eu lhe digo 

com certeza, não

Mas arremato:

só posso ser funcionária para te ajudar? eu poderia fazer isso sendo estudante, porque conheço aqui. mas, pra você, não

(porque não tem nenhum problema em ser funcionária da USP, há realmente muitas pessoas negras lá, o problema é a abordagem, o estereótipo)

Ele já vai longe, envergonhado, parece. Algumas pessoas se tocam só depois que já perguntaram. Eu, respiro fundo de novo, me desconcentro um pouco. Era mesmo sobre escravização o livro que eu procurava e não achei.

Engraçado de constatar, mas essa pergunta rola mais comigo na FFLCH, onde supostamente há cursos em que se estuda relações raciais... vai entender.

100% Womanista.



"Minha fragilidade não diminui a minha força", MC Carol diz, eu repito.
Já ouvi de namorado "você não é tão forte quanto parece", em conversas em que eu me expus, falei de mim, do que sentia.
É isso mesmo. Mas essa letra responde tudo. 

segunda-feira, março 13, 2017

São Francisco do Conde.

10h51.
Na estrada, um bar.
Três mulheres negras dividem uma cerveja.
É segunda-feira.

Não se escondem, estão à frente. Olham a estrada. Não conversam.
Eu estou sentada num ônibus, elas não me veem.
Eu as vejo.
E tenho absoluta certeza que estou no caminho certo.



127 horas.




domingo, março 12, 2017

quinta-feira, março 09, 2017

Não.

Não.
Eu não vou aceitar menos, não posso, não quero.
Meu corpo não aguenta, eu não quero.
Meu amor é mais, eu não poderia fazer isso com ele.

Não.
Eu não vou ser sem você, eu não quero sem as outras pessoas
Só se for inteira, só se for todo mundo.
Se não, não.

Vai, não posso dizer que não vou chorar.
Mas vou ficar, me amando, abraçando minhas lágrimas.

domingo, março 05, 2017

Eu tenho um entojo de umas invenções. 
Vejam vocês, agora todo mundo falar de descolonizar isso, descolonizar aquilo... A colonização é um fenômeno que não deveria ser banalizado. Eu entendo ele como um processo de dominação e exploração bastante violento para ser transformado num adjetivo e caber em qualquer coisa. Aí, que acontece? A colonização deixa de ser esse monstro e acaba nomeando práticas menos ofensivas da relação entre as pessoas. Tem gente que fala, por exemplo, em 'descolonizar a infância'. Nunca entendo direito o termo: os adultos colonizam as crianças, é isso? Nós as dominamos e as exploramos? Como vamos viver num mundo onde não sabemos diferenciar colonização de 'adultocentrismo', 'etnocentrismo', 'racismo'?

Empoderamento é outra palavra que dá nos nervos. Talvez não tenha sido criada com essa intenção que vemos sendo usada hoje, mas o fato é que tem gente que realmente acredita que é empoderada - cheia de poder - e pode empoderar alguém. O lance todo é que esse papo é furado e a gente já sabe a muito tempo que o poder não é algo que você tem, ele circula, ele é exercido, logo, você não se empodera; no máximo, você pode ter, em determinadas situações, ações, táticas e estratégias que te façam chegar em determinados espaços e tal. Se a gente ficar com essa ideia de que somos empoderadas quando conseguimos alguma coisa, não demora e a gente toma uma queda bem grandona. A ideia de empoderamento, além de individualizar as conquistas, fazem a gente achar que elas são estáveis. Que nada. Ter auto-estima, por exemplo, não é ser empoderada, ter auto-estima é ter auto-estima. E isso é massa, mas não, não é ter poder.   

Rapaz [moça], hoje em dia, até o que é sólido está desmanchando no ar.

quarta-feira, março 01, 2017