Você que me lê, me ajuda a nascer.

sexta-feira, novembro 23, 2018

Casamento.

Eu não pensava em casar. Quando eu era mais jovem, eu não lembro disso ser algo que eu me ocupei por algum tempo. Eu não me lembro mesmo. Suspirava por alguns homens, namorei, saí, me apaixonei. Depois, lá pelos 27, 28 anos, encontrei homens por quem eu pensava que eu poderia começar a pensar em casar... aí as coisas não davam certo, eles moravam longe e frio e eu desistia da ideia.
Continuava a sair, namorar, conhecer. Aí com uns 30 eu comecei a pensar se eu deveria ter pensado nisso antes e comecei a construir uma narrativa que às vezes eu repito hoje: casamento acontece. Não é algo que eu deveria ter pensado ou almejado porque é um troço construído a dois, numa lida de relacionamento que eu não tive. Eu não tive nada que me moveu para isso, então eu não pensei. Foi assim que resolvi minha falta de pensar nisso.
E agora, eu continuo pensando sobre casamento, sei lá se impulsionada pelos outros, sei lá porque eu crio um medo da solidão que eu nem tenho quando ouço algumas pessoas falando. Eu acho que não quero casar. Nunca quis, talvez. Mas há sim uma leve pressão que te direciona para isso quando você vai envelhecendo. Eu acho, eu sinto ela. As pessoas te veem com alguém, pergunta se está legal e já acham que a etapa seguinte é casar. Eu não quero. Eu preciso parar de ter medo de assumir isso. Eu não quero.

Eu amo a minha vida. Eu gosto dela como ela é. Não sinto falta de casar e não acho que deva fazer isso só pra dizer que sei viver junto, que sou a favor da convivência entre as pessoas, algo que eu realmente acho muito caro. Quando escrevo isso, escrevo para que eu leia também. É que eu estou descobrindo de novo que entre os muitos modelos impostos por uma sociedade a uma mulher negra, está esse de que se você não casa é porque você foi rejeitada, então a gente não quer esse rótulo e às vezes casa. Mas não tem só essa resposta (a da solidão) para uma mulher negra que está só. Ela também pode não querer e estar bem. Ela pode ver uma grande abertura para a tal (pequena) liberdade no fato de não casar, não ter alguém "sério", ter relações bonitas com muitas gentes por aí, sem se preocupar com mais nada além de ser feliz e fazer feliz. Eu quero saber qual é a minha resposta. Eu já posso ir além de aceitar outro rótulo para minha vida, eu sei que posso. Um amigo me disse lindamente que é isso que finalmente acontece quando a gente se descoloniza REAL: quando você se conecta tanto com a mulher preta que há em você que você inventa suas próprias respostas íntimas para a vida que você vive dentro de você; há sempre uma análise e um balanço dos rótulos todos pendurados fora de você mas, o massa de descolonizar a mente é que você não fica mais ocupada de entrar nesse ou naquele modelo para tentar ser feliz. Você implode o modelo e passa a vida tentando de verdade descobrir quem é você e o que é que você quer com tudo que você tem. 
Claro que erra-se muito, de qualquer jeito. Disso não dá para prescindir. 

Há tempos atrás, escrevi para uma psicanalista famosa que publicava as cartas em anônimo num jornal de grande circulação. Minha pergunta era simples. Eu saía com os caras, estava bem, não pensava em nada além daquilo. Ela, muito inteligente, foi simples também. Está bem? Se sim, porque a preocupação? Ocupe-se em descobrir de que jeito você é feliz, algo assim. Eu estou caçando essa publicação, porque queria ler de novo qual era minha onda naquele tempo, qual era a minha pergunta. Talvez ela seja a mesma ainda hoje. Talvez eu precise só ler de novo a mesma coisa para compreender outras coisas. Procura-se uma coluna de jornal antiga.

E eu estou aprendendo a ser feliz, sim. Todos os dias. Eu sei o que me faz feliz. Viagens, crianças, música, cinema, cuidar da minha (pequena) liberdade. Agora gosto um pouco de cachorro e plantas também. Eu tou tão feliz com todas essas descobertas, sem esquecer que eu também tenho de lidar com as opressões diárias e pressões da vida. Um saco isso.

Eu quero ser leve, love, livre. Não quero descartar fácil, mas vou escapar sim das coisas que não me fazem bem. Eu escorrego e vou embora, sim. 

Nenhum comentário: