Você que me lê, me ajuda a nascer.

segunda-feira, janeiro 31, 2011

Arrumando a casa.

Botando as coisas no lugar, outras tirando de vez.
Não estou preocupada com essas coisas de coração, não agora.
Mas não sei o que mais tem importância, agora.

E também acho que nem quero saber.
Quero cuidar de mim. Me abraçar quando acordo cedo, sentir meu cheiro, ficar comigo.
Sorrir, falar bobagens, estar em paz.

Perto de pessoas que me façam bem. Isso ajuda muito.
Uma grande lista para agradecer.

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Roubo.

Li aqui e peguei aqui.

Mas é que fiquei completamente louca de ver tanta gente bonita.

Muito indecisa para escolher, escolhi uma entre milhões de beleza. O mais gostoso é enxergar em cada pessoa ali alguém que você conhece.

Veja, veja, veja e depois leia bel hooks.

Não aguentei, posto mais uma?

Acabou aqui, veja mais lá.

Sabe o que é?

Eu simplesmente me recuso a pensar que a vida é só isso. Um pouquinho de amor e basta. Eu gosto de muito amor, em abundância. Pode parecer que não, mas é que quando tá sem gosto eu pulo fora.

A gente às vezes se engana. Eu me engano direto. Meu coração... é bicho que não tem paragem. Mas quer ter. Só que eu também acho que tem gente ruim de laço. Depois fica chorando pelos cantos. Mas já teve sua chance.

Tirou partido de mim/ abusou

E eu acho que amor é bicho bom. Se faz mal, não é amor. Se faz engasgar de raiva, de coisa que não sabe o que é, não é amor. E ponto final. Simples assim, por que amor é uma das coisas mais simples que existem. Até bem pouco tempo atrás, eu me convencia que alguém poderia amar-me e sofrer muito por isso. Balela. Alguém que me ama, se eu estou bem, deveria estar também. Por que eu amo e eu sei bem como é essa coisa chamada amor. Eu amo e estou feliz, longe ou perto, meu ou não-meu, por que eu sei, eu sinto, que todos/as que eu amo estão bem.

terça-feira, janeiro 25, 2011

É assim,

Um dos motivos que me fazem não gostar de comédias românticas é a ideia absurda de que a vida gira só em torno de encontrar alguém e se apaixonar. Isso irrita às vezes. Alguém pode dizer que é coisa de solteira rabugenta, mas eu me defendo.

Rabugenta, solteira. Isso tudo eu sou. Mas estou apaixonada. E acho que é sim importante para viver. Mas não só a paixão por um homem, mas pela vida, pessoas, emprego, família, estudo. Tem vários jeitos de se apaixonar. E tem vários jeitos de fazer isso continuar, por muito tempo, até pra sempre.

Quê?

Eu sinceramente só queria que as pessoas me esquecessem.

Às vezes,

sábado, janeiro 22, 2011

1:43.

Conversamos por uma hora e quarenta e três minutos. E não foi ontem. Nem hoje. Tem uns dias. Mas a sensação ainda me acompanha, só que não sei escrever sobre ela. Fico sentindo sua voz em meu corpo, nas coisas que eu faço, como faço, quando me espreguiço e me abraço, sinto cheiros, tenho sonhos.

É a palavra. Ela que me alimenta. Não é escrever aqui, mas quando ele fala, e também quando me ouve. Quando me deixa ser. Sobre essas coisas não é possível escrever.

Escrevo um artigo científico então. Sentindo ainda essa sensação aqui dentro. E fora.

Entre Itapuã e Praia do Flamengo, onde eu queria estar agora (pra Leo).


Essa música vai e volta aqui, sempre no começo do ano.

Nem para todos é a cidade.

[...] "Sobre consciência racial, segue seu depoimento:
'às vezes ela dizia assim: 'Quando alguém chamar você de negro, você pergunta pra ele qual a cor do leite da mãe dele, ou senão você pergunta qual é a cor do sangue da mãe dele. Se forem diferentes da sua mãe, então  eles tem algo diferente. Mas a única diferença é a pintura... a nossa é mais bonita por que não descora' (Josué, 70 anos, administrador aposentado, Vila Madalena. [...]

Isso pra mim é poesia.

Do livro: Nem para todos é a cidade: Segregação Urbana e Racial em São Paulo. De Maria Nilza dos Santos, Fundação Cultural Palmares, 2006.

sexta-feira, janeiro 21, 2011

Ensino Superior.

A região Sudeste concentra o maior número de matrículas no ensino superior — 2.516.712, que representam 49,2% do total. Em seguida, vem o Nordeste, com 965.502 (18,9%). Na região, 31,8% das matrículas são ofertadas em instituições federais e 31,4% em estaduais, enquanto no Sudeste a maior parte dos alunos (55,3%) está em instituições particulares.
Fonte: Inep.

Merthiolate.

Eu sou do tempo que o merthiolate ardia.

Lembra?

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Fotografia.

A gente sempre acha o que fazer.
Agora me dedicando a encontrar mais fotos bonitas para colorir meu dia.
'Tás a ver?
Neusa Santos, presente (baiana).
Guerreiro Ramos, presente (baiano).
Milton Santos (baiano).
André Rebouças (baiano).
Psirico? (baianos).

Tem de tudo.

Nessas minhas pesquisas sobre gentes. Depois tem a minha professora que fala do etnocentrismo baiano.
Fica difícil mesmo (agora mesmo uma moça aqui na faculdade ficou me olhando por alguns minutos, acho que pensando o que que eu tou fazendo atrás dessa pilha de livros).

Sentidos.

Você descobre que vive a vida inteira pra ouvir um sim, ou um não.
Mas só quando ouve. Tenho aprendido.
A esperar, a entender que nem sempre é a hora.
Eu não sei quem define essa hora, mas eu só sei que não tou sozinha nessa parada.
Por que a gente quer resolver tudo, mas a natureza, as folhas, elas te ensinam que nem sempre a hora que tu pensa que é certa, é certa.
Caminhando, devagar.

Eu acho engraçado as pessoas dizerem, "ah, se eu tivesse 15 anos com a cabeça que eu tenho agora". Mas, se fosse com a cabeça que a gente tem agora, nunca teríamos 15 anos! 15 anos são 15 anos por que são, por que a gente não tem a cabeça de 30.

Outro dia eu falei pra uma moça que trabalhava comigo que a ouvia por que ela era mais velha. Ela ficou profundamente irritada, achou que era uma agressão eu falar isso, "mais velha". Não entendi. É um elogio mesmo. Eu me sinto linda "mais velha". Cheguei num ponto de que não fico pensando muito para dizer coisas - principalmente coisas de amor - para as pessoas. Estou num ponto que não me sinto nem velha, nem jovem. Me sinto Migh, com todas as coisas que isso tem de ruim e de bom.

Todo mundo já errou muito na vida. Eu não sou diferente. Fico pensando nas chances que a vida nos dá e fico pensando nas pessoas com quem eu errei. Queria poder dizer muitas coisas à elas, mas muitas vezes elas não querem mais ouvir. E tem todo o direito. Fico pensando isso agora quando tenho pedras preciosas nas mãos, pessoas que eu conheci e me fazem seguir aqui, sobrevivendo.

domingo, janeiro 16, 2011

sábado, janeiro 15, 2011

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Makota Valdina.

Da pesada.

Confirmação.

 Eu te amo e eu sei que eu quero te ficar na minha vida sempre,


...

mas eu não tô apaixonando pra você.

Mulheres Negras do Brasil.

Esse aqui.

quinta-feira, janeiro 13, 2011

Estudo.

A gente estuda pra isso. Agora eu descobri por que eu me sentia tão infeliz morando em Pinheiros.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Ladson-Billings.

Mandando essa, Dona Gloria Ladson-Billings:

"Hoje em dia há muitas pessoas que decidem se tornar professores puramente pela emoção. Elas gostam de crianças: “Ah! Adoro crianças”. E eu respondo: “E o que você faz com as crianças quando elas não são tão adoráveis?” (risos). Elas estão aí e nem todas são adoráveis. Mas todos têm direito à educação. Essas pessoas não conseguem ir além dessa visão romântica".
E essa:
"É nas escolas de educação infantil que se encontra uma excelente metodologia de ensino. Nessas escolas, os alunos não são facilmente cooptáveis. Eles não permanecem passivos no processo de aprendizagem. Os professores sabem que para ensinar precisam adotar múltiplas metodologias".

E, para acabar:

“Se estamos mesmo indo em direção à educação para aqueles que estão nas camadas mais baixas, vamos melhorar a educação porque vamos aprender algumas coisas a respeito da maneira como todos podem ser melhor atendidos. Francamente, os brancos não têm uma educação tão boa assim. Na verdade, eles têm muitas outras coisas que os ajudam a ter sucesso".

Leia na íntegra.

terça-feira, janeiro 11, 2011

Passatempo.

Lendo coisa boa na internet.
Pra passar o tempo.
... meio sem rumo...
...
Ouvindo Lizz Wright.


Afroblue.

Propaganda.

Eu gostei da nova propaganda do MEC. Respeitando o enorme número de professoras negras que temos na Educação Infantil e Ensino Fundamental, botou uma atriz preta pra interpretar o papel da professora do Brasil. Holmes diria elementar meu caro Watson, mas para um país que colocou como meta para sua civilização exterminar os/as negros/as do país em cem anos, no comecinho do século vinte, isso não é nada elementar.
Embora tenha gente que discorde. Sempre tem. Eu acho que ser professora é umas das coisas mais bonitas que eu faço na vida. E eu vivo dizendo pras pessoas que elas devem sim ser professoras. Se gostam e se querem, não por nada mais além disso.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Encafifada.

Não entendo direito. Quando conto que vou usar minhas férias para me dedicar aos livros e à escrita, tem gente que me faz cara de dó. Como se eu devesse ficar triste. Mas a verdade é que eu estou animada e todos os dias acordo para escrever alguma coisa. E eu lembrei de bel hooks falando sobre como é difícil para as pessoas compreenderem o trabalho intelectual algumas vezes.
E às vezes eu fico pensando que estou fazendo alguma coisa errada, já que não me cansa estudar nem nada disso. Que não acho chato ou deprimente. Aí fico pensando que não estudo o suficiente, que eu devo não gostar disso e se eu gosto é por que não faço direito. E tento ler uns dois livros por dia.
Vai entender.

domingo, janeiro 09, 2011

Pra horas.

A gente conversou pra horas, como ele diz. E a gente tinha saudades. E ele disse que vai acontecer tudo que está certo pra acontecer. Fiquei com medo mas ele estava tranquilo e me fez um sorriso no rosto. A ligação caiu mas eu não tenho dúvidas sobre isso.
Agora, não tenho mais dúvidas. Por que antes eu não sei se eu queria ser feliz. Agora eu vou ser feliz com ele. Daqui a pouco. Quando ele voltar.
É estranho quando alguém gosta de você igual você gosta dela. Ainda não sei direito como é isso, mas parece que agora é sintonia. E eu querendo vinte e dois filhos mas ele disse

com você vinte e três 

E me beijou.

sábado, janeiro 08, 2011

Pomba-gira.

Minha amiga me disse que sou vaidosa. Eu nunca tinha pensado assim sobre mim mesma, mas comecei a fazer uma análise e não é nem um pouco mentira. Aliás, eu sou vaidosíssima. Posso passar horas me olhando no espelho e saio de cara amarrada por que ainda não ficou bom. Quando vou passar alguns dias fora de casa, tenho que pensar em tudo, por que se os brincos não combinam eu fico deprimida. Nas duas únicas vezes que esqueci de pôr um brinco antes de sair de casa fiquei rezando para o dia passar bem rápido.
Eu me olho em todos os espelhos. Todos, mas tomando cuidado para não olhar para espelhos que me engordam (vidro de carro nem pensar). Eu vou ao banheiro só pra me olhar no espelho. Toda mulher faz isso? Mentira. Eu sou uma coisa com espelho. Prefiro me olhar sem óculos para me achar mais bonita, porque astigmata vê tudo meio embaçado, assim é melhor.
Cabelo? Esse me toma um tempo danado. Mas o resto não fica atrás, e eu na verdade achava tudo isso muito natural até que ela me disse vaidosa assim, aí eu me peguei pensando. Já me disseram que eu tenho duas pombas-gira sentadinhas no meu ombro. Talvez isso tenha ver com tanta vaidade.
Mas foi engraçado ouvir isso, vaidosa. Como as pessoas pensam coisas da gente que a gente nunca pensou. Mas eu sou, isso sim. Me disseram essa semana também que “sempre tentei uma aproximação contigo, mas foi sempre muito difícil. E admito essa coisa também. Sou difícil demais. Para aproximações.

sexta-feira, janeiro 07, 2011

Google.

Tem coisas que só o google faz por você.
Mas eu não vou contar tudo.

Música.


Tem coisa que me paralisa. Música. Agora começou a tocar aqui Leave All It Behind, pode parecer bobo, mas eu não consigo desligar e ir estudar. Fico aqui pensando tantas coisas e sentindo tantas coisas com todo esse som e melodia que não consigo mais me concentrar.
Agora é a segunda vez que ela vai acabar e eu vou tentar não pôr de novo por que preciso terminar umas coisas aqui. Mas a música me trouxe cheiro bom e vontade de sorrir. Mas com ele.

Lembranças.

É só isso e isso.

terça-feira, janeiro 04, 2011

Telefone.

Não sei se é ele ou ele que me liga.
Eu só sei que alguém me liga.

No tarô.

As cartas (pelo menos as minhas) não mentem jamais. E elas me disseram que há um segredo inscrito na pergunta e no mês de janeiro.
E não podem me responder do desejo.
Aquieto-me então.
Espero,

domingo, janeiro 02, 2011

sábado, janeiro 01, 2011

Sabedoria.

Quem disse que eu quero ômi, Edney, eu quero um marido

Raimunda, em Domésticas, mas é Rai, por que ela não gosta.

Erros de português.

Se alguém achar algum erro de portuga vasculhando no blog, em posts antigos, manda pra mim por email? Pode ser vírgula, pontuação, acento, qualquer coisa. Quero arrumar a casa, mas sempre fico com preguiça e com a ajuda de vocês vai mais rápido.
mighiandanae@yahoo.com.br

Ganha uma lembrancinha de presente. Manda o endereço (físico) que eu mando.
De verdade.

Inconstitucionalississimamente.

Foi de repente que ela descobriu. Sem querer, veio de uma vez. O gozo e a lembrança da palavra enorme, saindo assim, devagarinho, naquela voz meio fanhosa de um homem que não falava direito o português. Maravilhoso, foi o que ele tentava dizer, e ela gozou. Coisa que fazia tempo na vida.
Ficou com isso na cachola por mais de semana. Mas não queria ligar para o tal homem e chamá-lo para sair com a desculpa estapafúrdia de querer descobrir se gozava polissilabicamente. “Polissilabicamente”, pensou, “essa palavra nem deve existir, tamanho gozo”. E foi o que realmente sentiu, fim de tarde, ali no escritório, quando pensou no tamanho da palavra. Foi ao banheiro e ficou achando ridículo tudo aquilo, suando e pulsando de tesão por palavras com quatro sílabas ou mais.
Precisava antes ter certeza. Mas como, perguntava-se. Pensou em contar para Marília, de todas a única amiga que gozava todas as vezes que transava com o namorado, ex-contador agora dono de padaria, com Marília poderia falar de gozo sem pecado, sem invejas ou coisas do tipo, ela entendia das coisas. Ou pelo menos dizia que entendia, não dava nunca para saber. Mas não, ia dizer de seu não-gozo por quase dois anos e depois a descoberta de que simples assim, bastava um “fantástico”, “estonteante”, para que ela viesse ao delírio?
Resolveu fazer um breve estudo de caso naquele domingo. Trancou-se em casa e em frente ao computador começou a digitar todas as palavras polissílabas que lhe vinham à mente. Paralelepípedo, negritude, deliciosa, envolvimento, inconstitucional, não conseguiu ir em frente. Seus seios entumescidos mais duros ficavam a cada palavra e sentia uma quentura entre as pernas difícil de controlar. Respirou fundo e começou a falar em voz alta todas aquelas palavras e mais algumas que conhecia: descobriu que qualquer palavra, qualquer uma delas com mais de três sílabas fazia seu fogo crescentemente aumentar. Não saiu naquele domingo, e atrasou-se na segunda, deixou-se notar que havia sempre uma palavra polissílaba procurando abrigo no corpo de uma mulher desgostosa.
Não conseguiu parar. Passou todo o tempo relembrando palavras. E durante a semana especializou-se no tema. Descobriu que gozava mais, e melhor, com palavras de sílabas mais abertas: arreganhada, esbodegada, escancarada, despudorada, essas eram o ápice. Mas não negava fogo às palavras mais discretas, armadura, pertencimento, cabelereiro, indiferente. Inventando combinações e com palavras desconhecidas, com essas sim gozava lentamente, não que isso fosse ruim. Qualquer gozo é sempre um gozo, isso também descoberta. Encontrou na internet, navegando em hora extra, um dicionário só com palavras polissílabas. Encomendou no ato, recebeu um dia depois. Passava noites treinando, finais de semana extasiada.
Feito isso, achou que era hora de encontrar-se com o tal homem novamente. Agora, sabia o que queria e o que a fazia feliz. Alimentava seu gozo com palavras, e, quanto maiores fossem, mais gozo tinha. Certo que gozava só com polissílabas. E com cada uma delas, com todas as que tinha conhecido, tinha uma relação intensa, passional. O homem veio, atendendo aos seus pedidos. Ele não sabia de nada, e ela divertiu-se por um bom tempo, já que ele realmente achava que tinha o controle da situação. Ele em seus ouvidos era só maravilhosa, gostosíssima, sedutora, e ela correspondia sendo mais romântica, mais selvagem. Ele gostava, ela gozava. E foi quando ele começou a chamá-la deliciosamente de superwoman que ela entendeu que palavras polissílabas em outras línguas também faziam efeito. Não eram mais nem menos, mas produziam sensações diferentes, que ela ainda não havia conhecido. Talvez nisso aí, nesse intertíscio de coisas entre a palavra dita numa língua para ser entendida por quem fala outra é que se escondesse o amor que ela lhe dedicou, estava apaixonada, de modo único, monossilábico, para não perder o gozo.
Vivia sem saber se contava para o homem de seu amor, mas vivia também a ideia de que tendo seu segredo revelado, o gozo não seria assim tão perfeito. Ele aceitou compromisso, ele também era feliz com ela, era o que ele tentava lhe dizer naquele português arrazoado. Ela nunca compreendia por que se apaixonavam por ela, mas dessa vez aceitou o amor, por que bom, por que misteriosamente lhe fazia um bem sem precisar explicação. Mas o segredo, ah, o segredo, ela não queria se desfazer, por medo de se acabar, ir minguando e fim.
Mas já se passavam anos e tudo ia bem, gozo e palavras não lhes faltavam, ele sempre aprendendo mais e mais, ela de modo particular ensinava-lhe polissílabas, ele achava que era absolutamente comum um estrangeiro comentar o cotidiano valendo-se de palavras polissílabas, isso não era assim uma coisa tão ruim, tinha até certa erudição.
Ela disse, enfim. Não num dia especial, depois de um jantar à luz de velas. Disse assim, disparando palavras como uma metralhadora. O homem ficou desapontado, desesperado. A ideia de que qualquer pessoa ou mesmo ela, sozinha, poderia fazê-la gozar loucamente como ela havia gozado durante aqueles dois anos fê-lo imaginar-se obsoleto, descartável, imprestável. Ela não poderia desenganar-lhe. Seu pensamento tinha boa fundamentação. Foi aí que uma tal palavrinha, de poucas letras e quase uma sílaba entrou em ação: amor, amor, amor.
Ela tentou dizer-lhe pouco importavam todos os homens do mundo e suas palavras enormes na manga. Havia algo nele que o fazia especial, era o tal amor, colorido, desejoso, instigante. Era tudo isso, e não (só) as palavras que faziam dele o homem da vida dela, completamente. Completamente, só por ser palavra polissílaba, para também gozar no fim.