Você que me lê, me ajuda a nascer.

domingo, março 29, 2015

Voe por todo o mar.

Ele chegou aqui, vi o seu sorriso de novo, depois de muito tempo. Gosto de quando a gente conversa, mesmo quando a conversa não é a melhor do mundo. Gosto dele, pronto. Sem mais.
Quero que ele seja feliz, e queria poder ajudar nisso.
Mas não sei como.
Uma vez, eu tentei. Disse que a gente poderia ficar junto, tentar.
Mas eu acho que eu falhei. Eu fui embora, não suportei a vida real, com as pessoas do passado e as contas do mês.
Minhas impossibilidades.

Estamos ficando velhos, não oferecemos mais perigo um ao outro.
Mas eu queria ter uma chance. Mas eu também tenho medo de falhar de novo.
Talvez ele precise saber disso.

Criança, esse substantivo (e ser) sobrecomum.



Fotografia de Denisse Salazar.

Crystal Swain-Bates


Nascida em Atlanta, GA, Crystal Swain-Bates é autora e proprietária da Karat Publishing, editora boutique que visa preencher a lacuna da diversidade no mercado editorial tradicional, fornecendo os leitores com livros de alta qualidade, com personagens de ascendência africana. Alguns dos livros infantis de Cristal são Big Hair, Don't Care, Naturally Me!, Supermommy, e o livro de colorir inspirado em cabelos naturais chamado Color My Afro. Cristal possui um mestrado em Relações Internacionais na Universidade Estadual da Flórida e é uma viajante ávida por descobrir o mundo.





466 anos, Salvador (Senhora-piriguete).

Farol de Itapoan

Eu já sabia, mas tenho mais certeza. Uma das magias da vida é quando você está no lugar onde sempre quis estar. E eu estou vivendo justamente isso, agora. 

sábado, março 28, 2015

Para sempre Alice.


Oco.

Foi aí que eu descobri que ele não tinha mais nada dentro dele, era um oco só, era um vazio imenso, uma agonia dentro dele, ele não conseguia cavar mais, pra dentro e pra fora, era sempre a mesma toada, o mesmo silêncio. Ele vinha, chegava perto, superfície, voltava pra dentro de novo, com tudo e com mais força, eu não consegui alcançar. Liso, areia, liso, poeira.
Eu, que gosto de barulho e conversa e faço silêncio depois disso tudo e do amor, fiquei sem saber se eu errei ou ele quem nunca acertou. Fiquei ali, do outro lado, telefone tocando e ele me dizendo não.
Não, mais uma vez. Eu não pude reclamar, porque sempre foi assim, e eu sempre tinha visto. Eu me aventurei por esse mar de tristeza e agonia e silêncio bem porque eu quis, porque eu achava - eu achava mesmo! - que aquele sorriso dele às vezes e quando ele falava do país que ele nunca mais viu e o olho brilhava, eu achava que isso poderia me manter de pé, do lado dele.
Mas eu comecei a fraquejar, a querer colo e dengo no meio da noite, de longe. E descobri que ele nunca me deu - "não chora pelo que tu nunca teve, fia" - ele nunca nem prometeu.  
Ele sempre foi isso mesmo, seco e oco, pouco. Pra mim. Talvez não para as que vieram antes, para as que chegarão. 
Por isso, quem precisa ir embora sou eu. 
Sem erros, sem acertos. Foi uma tentativa.
Dói nele quando me ouve dizer duro, oco, seco e dói em mim dizer. Por isso, melhor não. Melhor longe, para o amor chegar de outro jeito, para que o que eu sinto por ele - amor - não seque também.

Viagem.


quarta-feira, março 25, 2015

A Sociedade das Crianças A’uwe – Xavante: por uma antropologia da criança.

                                                                        Foto: Angela Nunes

Terminei de ler o livro A Sociedade das Crianças A’uwe – Xavante, mas não vou escrever muito sobre. Importante para mim, deixo aqui o link de um artigo mais recente sobre o mesmo, escrito também pela autora da dissertação, defendida em 1997. Vale a pena para quem quer saber mais sobre temas relacionados à infância e antropologia. 

Cotas - Essa conversa não é sobre você.


Homens.

Das últimas histórias de amor e vontade, eu aprendi muito pouco sobre os homens, mas aprendi muito sobre mim. Não sei até que ponto isso me ajudará a me relacionar novamente. Na verdade, não vivo a minha vida pensando no que devo aprender direito para viver as outras experiências e me irrita um pouco as pessoas que ficam presas ao que lhe fizeram pessoas que chegaram antes de mim em suas vidas, não permitindo apenas o tempo passar, as coisas acontecerem.

segunda-feira, março 23, 2015

quinta-feira, março 19, 2015

IX Curso de Atualização nos Estudos da Diáspora Africana nas Américas - Inscrições Abertas.



A CRIOLA, através do Programa MultiVersidade Criola, um espaço de formação feminista e anti-racista para mulheres negras, e a UFF-Universidade Federal Fluminense através da Programa de Estudos Pós-Graduados em Política Social e Núcleo Transdisciplinar em Estudos de Gênero em parceria com a Universidade do Texas em Austin, através do Centro de Estudos Africanos e Afro-americanos (CAAAS), do Departamento de Estudos da África e da Diáspora Africana (AADS), e do Instituto de Estudos Latino Americanos Teresa Lozano Long (LILLAS), torna público a abertura de inscrições para selecionar alunas e alunos para o IX Curso de Atualização em Estudos da Diáspora Africana.


Objetivo do Curso 

Oferecer formação acadêmica e intelectual de alto nível a ativistas, estudantes e intelectuais de todo o país interessados na área de Estudos da Diáspora Africana, a partir das análises críticas produzidas pelo feminismo negro no Brasil e em outras comunidades da Diáspora Africana, em especial nos Estados Unidos. Este Curso de atualização tem como base o Programa de Pós-Graduação em Estudos da Diáspora Africana da Universidade do Texas em Austin, um dos mais respeitados nos Estados Unidos, e oferecido pelo Centro de Estudos Africanos e Afro-americanos (CAAAS) e pelo Departamento de Antropologia, ambos filiados à Universidade. 

Coordenação do Curso 


• Lucia Maria Xavier de Castro 
Assistente Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e Coordenadora de Criola. 
• Luciane de Oliveira Rocha 
Ph.D. em Antropologia Social e Diáspora Africana pela The University of Texas at Austin. Coordenadora de projetos em Criola.
• João Bôsco Hora Góis. 
Doutor em Serviço Social pela PUC/SP. Professor Associado da Universidade Federal Fluminense e Pesquisador do CNPq, 
• João Costa Vargas (Ph.D., University of California in San Diego) 
Professor Associado, Depto. de Antropologia e Centro de Estudos Africanos e Afro-americanos da Universidade do Texas em Austin. 

Condição do curso 

O curso é gratuito e realizado na Universidade Federal Fluminense. As despesas de alimentação, transporte, hospedagem e do material didático-pedagógico são de responsabilidade exclusiva da candidata e candidato. 

Total de Vagas 
20 vagas 

Público-alvo 

O curso privilegiará a participação de ativistas dos movimentos sociais, negro e de mulheres negras, bem como de estudantes universitárias (os) em nível de graduação e pós-graduação com temas de estudo/pesquisas relevantes aos estudos da Diáspora Africana. 

Condições para a participação 

1. Ter no mínimo o domínio intermediário da língua inglesa para leitura e compreensão, pois grande parte da bibliografia do curso não está disponível em português. 

2. Disponibilidade de tempo de no mínimo 20 horas semanais para frequentar as aulas e para a leitura da bibliografia. 

Inscrição e seleção 

A ficha de inscrição está disponível on-line através do link (https://www.dropbox.com/s/nuknpwe5jrcabk2/Ficha%202015.doc?dl=0). As/os interessadas/os deverão preencher a ficha, e enviá-la por e-mail para diasporaafricana@criola.org.br anexando um curriculum vitae (três páginas no máximo) com informações sobre formação, a ação antirracista e feminista, participação em eventos acadêmicos e/ou ativistas. A ficha de inscrição e o curriculum vitae só serão aceitos por e-mail e deverão ser enviados no período de 16/03/15 à 06/04/2015. 

A seleção é realizada por uma comissão composta de representantes das organizações proponentes. Os critérios para seleção são: experiência de ativismo na luta antirracista e/ou feminista, interesse acadêmico sobre questão racial, capacidade de leitura e compreensão da língua inglesa. 

A lista com o nome d@s selecionad@s para o curso será publicada no site de CRIOLA (www. criola.org.br) e da UFF http://www.uff.br/politicasocial no dia 17/04/15. Os 20 alun@s selecionad@s devem confirmar sua participação em reunião com a coordenação do curso. A data da reunião será informada publicamente nos sites acima citados. A participação na mesma é obrigatória. 

A seleção das alunas e alunos e a decisão final e irrevogável cabem à coordenação do curso. 

Estrutura e local do curso 

O curso será realizado na Universidade Federal Fluminense (UFF), em local a ser informado na confirmação da matrícula, as segundas e quartas-feiras de 13h às 18h, no período de 08 de junho a 17 de julho de 2015, com carga horária total de 40h. 

Programa do Curso 

O curso procura dotar os participantes com uma visão geral sobre as teorias, histórias e questões políticas relativas à Diáspora Africana nas Américas e está inicialmente dividido em 4 módulos:

I- Rotas e Raízes: Teoria da Diáspora Africana – Neste módulo, analisa-se as perspectivas-chaves sobre a formação e dinâmica da Diáspora Africana. Os autores analisados têm diferentes posições — algumas vezes complementares algumas vezes contrastantes — com relação aos conteúdos e conseqüências da tradição radical negra. 

II- Pesquisa Ativista - Este módulo oferece uma introdução ao conceito de pesquisa ativista, tanto no que se refere à teoria quanto à prática. Com a perspectiva de que não existe neutralidade em pesquisa, o módulo articula o conceito de pesquisa ativista com tradições radicais mais amplas. 

III- Políticas Públicas – Este módulo oferece uma introdução ao conceito de Políticas Públicas enfatizando o processo de formulação e implementação como parte de lutas ideológicas e técnicas. Enfatiza a produção de políticas para “minorias sociais” sempre tendo como pano de fundo das discussões a questão racial. 

IV- Pensamento das Mulheres Negras na Diáspora – Este módulo oferece uma introdução aos estudos feministas negros das Américas, ao Movimento de Mulheres Negras e da Teoria Queer. A partir da bibliografia selecionada, discutiremos diversos temas, tais como: o sistema de opressão da mulher negra, sua prática política de resistência, metodologia e epistemologia feminista negra, assim como a critica a heteronormatividade, a papeis sociais definidos por gênero entre outros temas. 

V- Diáspora e Movimentos – Este módulo apresenta o legado histórico de resistência da população negra a partir do conceito de Tradição Radical Negra , evidencia suas formas de mobilização e organização desta população como protagonistas de suas próprias demandas. Estão incluídas aqui a luta pela terra, contra o genocídio, e outras produções acadêmicas e artísticas sobre movimentos negros na diáspora. 


Requisitos para Aprovação

Será considerada aprovada a aluna e o aluno que atender aos critérios de avaliação do curso: 1) freqüência de até 75% do total de horas do curso, 2) apresentar resumo e perguntas para debate em pelo menos 2 aulas, 3) entrega de um paper acadêmico ao final do curso, de 15 à 20 páginas, baseado em trabalho etnográfico, de arquivo ou de caráter sociológico, com foco no Brasil. 

A data para a entrega do trabalho final será acordada durante o curso e os certificados serão emitidos pela UFF-Universidade Federal Fluminense através da Programa de Estudos Pós-Graduados em Política Social e Núcleo Transdisciplinar em Estudos de Gênero 

Informações adicionais 


Para maiores informações escreva para o e-mail: diasporaafricana@criola.org.br

Original.

Você é toda linda porque é original, pele, olhos, caretas e cabelos. Eu que não vou dar mole de deixar uma mulher linda e inteligente como você por aí, vou fazer tudo direitinho e como você mandar até você aceitar namorar comigo


Ele bem que tentou, foi ótimo. Mas ainda não me convenceu.

quarta-feira, março 18, 2015

terça-feira, março 17, 2015

Dizer.

Eu queria dizer, dizer coisas.
Que eu não tranço mais o cabelo faz um tempo, e eu queria ter você aqui me fazendo cafuné, aquele cafuné que você reclamava não fazer direito quando o cabelo tinha tranças (muito embora minhas melhores fotos de cabelo trançado foi você quem tirou...).
Eu queria fazer coisas, fazer coisas.
Coisa de amor, coisa de ficar junto conversando e rindo, falando do presente e lembrando do que a gente falava do futuro.

Eu queria sentir coisas.
Sua respiração pesada, seu sono que não vinha mesmo quando estavas cansado, seu olhar baixo que me olhava, suas lágrimas, suas mãos, suas lentes e suas fotografias (que eu tinha ciúme como se fossem minhas).
Eu queria ver coisas, ver coisas.
Ver seu rosto, seu corpo, ver você e eu juntos de novo.

sábado, março 14, 2015

quarta-feira, março 11, 2015

Hibisco Roxo.

A partir de hoje, começarei a escrever pequenas resenhas de livros que terminei de ler. Há muitos outros que eu deveria ter feito isso, se conseguir tempo, postarei os livros dos últimos anos.

Terminei de ler Hibisco Roxo, de Chimamanda Adichie. Tenho buscado ler livros de escritoras africanas ultimamente, porque entendo que a linguagem utilizada nestes livros difere substancialmente de outros que passei toda a minha vida lendo. Eu, que quando adolescente li O Diário de Anne Frank e Christiane F, quero agora ver a vida por outros olhos, outras palavras, paisagens e sensações. Assim, vamos às escritoras africanas por enquanto. Quero também não apenas ler Chimamanda, mas outras tantas, como Pauline Chiziane, Noêmia Souza e Noviolet Bulamayo. 

Hisbisco Roxo (Purple Hibisco) é o primeiro livro de Chimamanda, publicado em 2003. Apesar de ter tido tradução literal em português brasileiro, gostei mais da capa e da tradução do título em português. 

Capa do livro de Chimamanda pela Asa, editora portuguesa

O livro conta a história de uma família de classe alta na Nigéria, pelos olhos da menina Kambili. A devoção de seu pai Eugene a uma religiosidade branca católica é o que faz com que Kambili cresça com medo de errar todo o tempo, o que também a afasta de parte de sua família, que segundo o pai, não aceitou a religião certa e cultua deuses pagãos. O relacionamento de Kambili com a tia e os primos e também o avô, que é visto de maneira reprovadora pelo pai, é o que a leva a questionar se seus medos e timidez condizem com o que ela realmente pensa.
A partir da estadia na casa de tia Ifeoma, conhece padre Amadi, por quem começa a ter sentimentos que remetem a um primeiro amor. Kambili tem um irmão, Jaja, que é uma das personagens que mais gostei, apesar de não ser principal e nem tão falado. Não sei bem porque, mas penso em Jaja como alguém realmente especial e importante para Kambili ser quem é e se tornar o que é. Ele... bem, não vou contar o final do livro, não é mesmo?

Eu gostei do livro, recomendo. 

Apesar de ler Chimamanda, estou absolutamente segura que seu texto está carregado da Nigéria que conheceu, ela mesma de classe média e com acesso à Universidade dentro e fora do país. Não é apenas esse o relato que existe, mas é o que me chega e por isso, vou ler!

Nota: Tenho notado certa padronização nas traduções da Companhia das Letras para a maioria dos livros que leio. Não sei se é só uma sensação ou isso pode ser confirmado por alguém que entende de tradução e revisão. Estou lendo um livro da mesma autora por outra editora e gostei mais da narrativa. Resta-me ler o mesmo livro por editoras diferentes.

                                                                                            Chimamanda Adichie

Resistência Poética.

Indo para faculdade, aquela maresia dentro do buzu (na verdade, isso não acontece sempre. Viajar de buzu em Salvador é uma das experiências mais legais que eu passo na vida, um dia ainda vou escrever sobre isso). Mas ali entre a Pituba e Amaralina, entraram dois jovens, moça e moço, subiram as escadas começando a disparar palavras em forma de versos. Eu que tava ouvindo música e meio sonolenta parei tudo e comecei a ouvir, não apenas porque eram pessoas negras, mas porque estavam fazendo poesia falando de racismo, juventude, cabelo, essas coisas. 
Comecei a me arrepiar inteira.

racismo existe sim/ e ele não tá de brincadeira, não/ ele está nas ruas, nas escolas/ aqui no ônibus e televisão/ 

Coisas assim. Lembrei de Rosa Parks, lembrei dos jovens do Cabula, me segurei para as lágrimas que se escoravam no canto do olho não saírem para fora e transbordarem aquele lugar, virar mar. Pediram palmas, contribuição. 
Pediram, mas me deram muito mais do que eu estava preparada para receber numa viagem de buzu. Ainda me arrepio quando lembro de suas caras. 
É por essas coisas todas que é tão bom estar aqui, que eu escolhi estar aqui. 



Xororô


/Hoje o guarda-chuva chora mas não é de felicidade/

segunda-feira, março 09, 2015

sexta-feira, março 06, 2015

quarta-feira, março 04, 2015

terça-feira, março 03, 2015

Facebook.

Não ia escrever sobre isso, mas fiquei tão intrigada com as sensações que tive que vou fazer uns comentários. Eu tive MSN por muito tempo, mas depois que o hotmail cancelou minha conta antiga (eu era do tempo do mighiandanae@msn.com), fiquei chateada e decidi não fazer outro, deixei para lá. 
Conversava pelo Orkut com as pessoas. Mas aí, desativei o Orkut quando comecei a escrever a dissertação. Em janeiro desse ano, me pediram tanto que eu fiz o tal do Feicibuque. Gostei bastante no começo, mas cansei, cansei. 
Incomoda-me a ideia de que a gente converse com as pessoas a partir de um dado virtual, que as conversas nos bares girem em torno de postagens e imagens retiradas dali, que as gírias reinventadas venham de um canal exclusivamente virtual, que as "modas" surjam a partir desse lugar. Eu acredito que todas essas redes são para ampliar os horizontes mas, por conta da vida que temos, a gente para ali, não vai além, vai acomodando na vida que essas redes te dão, vai empobrecendo o vocabulário e diminuindo o tempo de vida. 
Vida real, vida virtual. Não acho que são coisas separadas, enquanto eu teclo eu estou vivendo a minha vida real, não gosto muito dessas dualidades. A questão é quando você para ali e fica. Fica. Fica. 

10 anos de blog Migh Danae.

29 de março de 2005, foi quando tudo começou.
Há anos em que nem me lembro disso, mas esse ano faz 10 anos e eu percebi que esse mês também é aniversário de Salvador.
Talvez tenha sentido pensar nessa relação se eu lembrar que em 2005 eu tinha quase dois anos em São Paulo e sentia tanta falta de Salvador. Esse blog nasceu e com ele, eu diminuí as cartas.

Curioso é pensar que, depois de um tempo, escrevi menos nele e voltei às cartas.
Agora elas voltaram de novo.
Se tem uma coisa que eu queria, depois de morta, é que as cartas que eu escrevo fossem publicadas.
Mas, para isso, eu preciso ser alguém importante para o mundo, não só para os meus amigos. Mas tudo bem, vou orquestrar com eles a manutenção de um blog e a publicação das cartas por aqui mesmo. Uma boa ideia para o fim.

Mas, vamos brindar à vida. De Salvador e de blog Migh Danae!

Scandal.




Selma.


Boyhood.


domingo, março 01, 2015

Quatro anos.


Eu queria ter quatro anos hoje. Talvez menos, nunca mais que isso.

Ter quatro anos e morrer devagarinho, só se vive quando se é criança. O resto é mentira, lágrimas duras e contas a pagar. Morrendo devagarinho até chegar aos dezoito, época que eu ainda brincava de boneca e tinha um urso no lugar de um namorado.

Eu queria ter quatro anos e não saber que existiam verdades e mentiras. Verdades que você iria preferir não ouvir como “sua mãe já não tem a mesma coragem de antes, filha” ou “eu amo você, mas estamos longe”.
Morrendo devagarinho nas mãos daquela professora que dizia “senta direito”, “come tudo, de garfo e faca agora, “não briga com o coleguinha”, “obedece sua mãe”. Queria saber se ela ia mandar obedecer a mãe mesmo quando ela acorda num humor péssimo, como hoje.

Eu queria ter quatro anos hoje e não mais que isso daqui a um ano, quando eu escreveria essa poesia de novo e faria o tempo voltar outra vez.

Eu queria ter quatro anos, só isso. Não queria saber que iam me matar, matar a criança que eu era, queria ser de novo boba e imbecil, perdoando pessoas e emprestando lápis de cor, brigando por amigas que nem valem a pena, indo pra casa sem minhas presilhas douradas porque dei de presente para alguém.

Eu queria ter quatro anos, nem precisava ser criança prodígio ou coisa do tipo, não queria saber ler nem escrever, nomes enormes de dinossauros na ponta da língua, matemática, nada. Queria massinha de modelar e encher a boca de bala que vira chiclete, brincar de corda e bambolê na rua.


Quatro anos.