Você que me lê, me ajuda a nascer.

quarta-feira, março 31, 2010

Meu, minha.

Perguntei pro menininho: quem é ela? é Fernanda, ele disse ela é o quê sua? ela é Fernanda mas é o quê sua? ela é minha, minha fernanda.

Omolu.

Se aquiete que lá vem Omolu.
A mãe dele me contou que ele disse pro pai não teve aula ontem, pai, foi paralisação O pai pergunta como assim, filho? é, pai, a professora disse que as professoras vão pegar um ônibus e vão lá falar com o prefeito das coisas que estão faltando na escola é mesmo? é pai, você acredita, lá na escola só tem três motocas! É assim que se faz mesmo.
Olha o Bando. E olha eles e elas em São Paulo. Oba.

domingo, março 28, 2010

Tempo.

... Estou aqui escrevendo e apagando faz tempo. Mas pode ser mentira também. Queria que alguém me dissesse quem sou eu, às vezes. Me desconheço cada vez mais. Muita coisa, mas muita coisa aconteceu. E mudou todo o script. Ainda assim, gosto de viver, das crianças e de ser eu. Tem gentes que me ajudam. Às sete da manhã você pensa que pode escrever um email gigante para alguém, e você pode. Estou com vontades. De viagem, de cheiro de feijão de mainha, de comer cuzcuz que ela me faz, do amor dela miúdo, do sorriso, da gritaria dela, até do cachorro. Da minha rua, de andar quase nua, pedaço de bunda de fora descendo a ladeira do Abaeté de bíquini e Leonardo cantando um samba de Ederaldo Gentil.

segunda-feira, março 22, 2010

Lavando pratos.

Eu adoro lavar pratos. Tive uma amiga que desde pequena trabalhou muito em casa nos afazeres domésticos e me contou que pra passar o tempo enquanto lavava os pratos, fingia que eles tinham uma doença e que ela, quando lavava, salvava cada um.
Animava pra lavar. Eu gosto mesmo. Mas não gosto de secar. Lavar, lavar e lavar.
Vai entender.
Professor Kabenguele falou que psicólogo tu vai e escuta escuta. Mas que curandeiro tu ouve e ouve.
Eu prefiro ouvir ouvir.

Urban Bush Women.


Vamos ver as meninas dançar. E aqui também.

domingo, março 21, 2010

Descascando laranja.

Eu adoro. Quando é grossa demais, fica mais fácil. Na verdade, acho que deveria ter um concurso pra quem consegue descascar a laranja sem tirar a pelezinha branca. Eu nunca consigo.

Síndrome de Estocolmo.

Eu leio muita coisa boa na internet. Mas não posto tudo tudo tudo. Vai saber por quê. Preguiça, esquecimento, a ideia de que ninguém vai ligar... esse blog hoje foi uma coisa. Adoro road blog - vou usar o termo aqui por que acabei usando-o num post para Denise, dona do blog, e achei legal. Gosto de blog's de pessoas que moram aqui e ali e me contam um pouco da vida de lá, de cá, sem afetação ou deslumbramento. Só contar. Denise é assim. Mas além disso, ela é uma mulher também. E mãe. Ultimamente, acho que as mães são as únicas pessoas que salvarão o mundo, junto com as crianças - menores de seis anos. As mães são realmente demais. Achei bobeira uma vez que li uma moça dizendo que voltou pra Recife de saudades da mãe. Hoje eu sei o que é. Por que eu também vou voltar. Leiam lá quando puderem. Não acho que esteja escrevendo coisas legais ultimamente. Não mesmo. Não me dedico aqui como antes. Escrevo mais, mas não escrevo melhor. Aconteceram muitas coisas em fins de 2009 e começos de 2010 e fiquei assim-assim, encruada, encolhida, esquecida, dentro de minha própria vida e dentro da vida que tenho do lado das crianças, não quero escrever. Não quero fazer muitas coisas. Se eu pudesse escolher, só crianças, livros, conversa, músicas e mãe. Mas não dá pra escolher tudo que se ama. Mainha no telefone perguntou o que você tem, e eu não disse. Nem vou dizer aqui. Acho que uso o cinema, o teatro, as exposições, os shows, para me anestesiar da vida que levo. Que às vezes é bem dolorosa. Umas pessoas jogam. Outros veem pornografia. Outras bebem. Umas fumam. Eu acho que invento que tá tudo bem, sentando duas horas numa cadeira e vivendo aquela vida que me apresentam pela telona. E no teatro, e em tudo aquilo ali. Não é fácil. Não consigo parar também. Tenho essa coisa de querer sempre estar fazendo alguma coisa, dormir pouco. Mas não quero ansiedade. Faz a gente dormir mal e ranger os dentes, comer rápido e falar embolado. Não quero meia-vida. Muita gente não acredita que eu realmente gosto de pensar na minha vida, daqui alguns anos, morando num pequeno sítio, plantando alface e couve-flor, regando as flores e chupando manga do pé. Talvez achem que é um sonho de quem mora em cidade grande. Só um sonho. Que é mentira, que vou sentir falta do cinema e da badalação, das feirinhas no centro da cidade e da comida japonesa. Não é mentira, vou sentir falta. Assim como agora sinto uma falta absurda de terra, de folha, de mato e bicho. De criança correndo na praia. De vento com cheiro de sol quando bate na pedra - não sei explicar como é direito, mas tem cheiro o sol quando bate na pedra, meio do mar -, sinto falta falta falta e me falta o ar, acho que preciso ir pra longe daqui pra ver o tanto que é a falta que vou sentir de cinema, de comida, de feirinha. Coisas que enfim, posso arranjar em qualquer lugar, com algum esforço. Por que tudo é só paliativos da vida moderna, criados para aguentarmos viver a tal da vida moderna. Sendo assim, de verdade? Acho que a falta de vida faz mais falta que todos esses penduricalhos da cidade grande. Sabe o que eu acho mais engraçado? Yoga pra dar um tempo, psicólogo pra te ouvir. Tudo embromação. A gente sempre morre aos poucos, sempre mais infeliz. Fico lendo os blogs e querendo que aqui tenha mais cor, fotos, músicas, links. Mas não. Esse não seria o meu blog. A vida real é bem menos divertida, já diria Mano Brown. Acho que as pessoas que ainda vem aqui vem pelo que escrevo. Estando triste ou alegre.

sábado, março 13, 2010

Sabor de mim.

Esqueci de postar: logo esse mês que o blog faz cinco anos fui jantar num restaurante mexicano e a música que deu o nome ao blog deixou de ser só umas poucas frases num livro de Pedro Juan para virar música. A primeira música cantada por eles foi essa mesmo, Sabor a Mí. Fiquei emocionada e quase saí rodando pelo salão. Mas me contive. Também, o chili poderia esfriar, preferi comer.
Sorte de quem me levou ao restaurante. Teve direito a beijinho na boca com gosto de guacamole. __________________________________________________________________________ Sabor a mí

Tanto tiempo disfrutamos de este amor Nuestras almas se acercaron tanto así Que yo guardo tu sabor Pero tú llevas también Sabor a mí.

Si negaras mi presencia en tu vivir Bastaría con abrazarte y conversar Tanta vida yo te di Que por fuerza tienes ya Sabor a mí.

No pretendo ser tu dueño No soy nada yo no tengo vanidad De mi vida doy lo bueno Soy tan pobre, qué otra cosa puedo dar.

Pasarán más de mil años, muchos más Yo no sé si tenga amor la eternidad Pero allá, tal como aquí El la boca llevarás Sabor a mí.

Letras.

Às vezes eu acho, Que toda preta como eu, Só quer um terreno no mato, Só seu. Sem luxo, descalça, nadar num riacho, Sem fome, Pegando as fruta no cacho. Aí truta, é o que eu acho, Quero também, Mas em São Paulo, Deus é uma nota de 100
Essa música me pega sempre. Racionais MC's, Vida Loka.

sexta-feira, março 12, 2010

Luluzinha.

Eu sempre acho que tudo que eu sou hoje eu devo em parte às leituras feitas de revistinhas em quadrinhos como Luluzinha e Mônica. Eu até me achava parecida com Luluzinha, mainha fazia aquele penteado de cachinhos na parte de trás do cabelo e dois cocós na frente, nem sei onde ela inventou - eu tenho muito orgulho de mainha nunca ter alisado meu cabelo quando eu era criança, como faz hoje a maioria das mães com filhas de cabelo crespo: mainha na verdade inventava mil e um penteados e nunca adotou o corte joãozinho na gente, ela sempre fazia super produções com trancinhas e cachinhos mil -, talvez foi uma inspiração lulu. Gostava dessas revistinhas por que as meninas protagonizavam as coisas, brigavam e se divertiam como os meninos, e mesmo essa questão de gênero era levantada algumas vezes. Com Luluzinha, Mônica e mainha, não dava para ser mais nada além de uma chata mesmo. Pra muita gente.

segunda-feira, março 08, 2010

Céu ou sobre a arte de cantar músicas.

Eu fico me enganando. Ontem fui assistir um show e fiquei deprimidérrima. Tem muita gente que acha que cantar é só carinha bonita, viual moda e juntar os amigos. Me senti meio penetra, mesmo tendo pagado o ingresso. Não vou falar o nome da cantora, por que não sou crítica musical nem nada - muito embora eu acredite que escreveria melhor do que muitos que escrevem por aí, sem metidez nenhuma -, não vou falar o nome dela por que talvez ela não seja cantora, seja só uma menininha com vontade de fazer alguma coisa. As pessoas levantaram antes do bis. Por que era tudo muito de mentira. A gente vai num show sabendo que ali é tudo uma grande encenação, quase não há improviso, os textos são os mesmos do show no dia anterior, mas a gente quer que os/as artistas nos enganem, a gente vai lá pra isso. Mas quando tudo se torna fake demais, aí para o mundo que eu quero descer. É por isso que eu, de agora em diante, só vou em show do tipo Bethânia pra cima. Se é que tem mais alguma cantora viva no Brasil acima dela. Gal Costa emparelhada. Em tempo: quando a mocita disse "quem quer beijar, agora é a hora", tive ganas de levantar e pedir pra abrirem a porta do teatro.

quarta-feira, março 03, 2010

Caroço da azeitona.

Ouvi um canto de trabalho e lembrei-me de um professor na graduação, Filosofia. Ele cantava com a gente músicas como "Pisa na Fulô", coisas do tipo. Fazia a gente se abraçar, pisar na terra, sentir o cheiro da chuva. As pessoas riam, ficavam sem jeito. Não gostavam dessa coisa toda.
Eu não entendia muito, mas fazia tudo aquilo.
Hoje, ouvindo
Pisa, pisa no caroço de azeitona
Você toma o amor dos outros
Mas o meu você não toma
Eu entendi muita coisa. Acho que eu já disse aqui, a gente viaja o mundo todo pra descobrir que o céu é logo ali. Ou é ali por que ali não mais está. Vai entender.