Você que me lê, me ajuda a nascer.

sexta-feira, outubro 12, 2018

Eu sei porque o pássaro canta na gaiola, Maya Angelou.


Eu conheci Maya faz pouco tempo. A Netflix faz isso com a gente, tem documentários ótimos sobre personalidades negras estadunidenses. Ainda quero pesquisar se as pessoas que fazem a Netflix acreditam na diversidade como capital ou como direito num canal de streaming, porque tem até bastante coisa para a população negra lá. São espertos ou são sensíveis à causa racial?

Bom, assim conheci Maya e vejo muitos documentários de lá, cuidando para que não fique sabendo mais da vida deles do que da nossa, né? Achei-a linda, perfeita. Imagina quando descobri que ela também escreveu livros infantis e um monte de autobiografias? Fiquei louca, esperando pelo dia que pudesse lê-la. 

Assim que tive como comprar seus livros, comprei. Li este que apresento agora e li também um livro infantil chamado A vida não me assusta, com ilustrações de Jean Basquiat. Tem mais um na fila, mas ele chegou agora, depois de tantos outros, como o que comecei hoje chamado O caminho de casa, de Yaa Gyasi. Comecei lendo Maya nas idas e vindas entre São Francisco e Salvador, mas não sabia que ela ia me fazer chorar entre as páginas que ela escreveu há mais de cinquenta anos atrás sobre sua infância, que foi ainda há mais tempo. 

O que eu tenho para falar desse livro? Rapaz, ele me pegou. Eu estive lendo livros que não me pegaram nos últimos meses e fiquei pensando se eu ainda gostava de ler como antes. Não, não era eu. É sobre escrever bem e sobre falar comigo, me inspirar. Maya me disse coisas em sussurro sobre como amar homens e mulheres como eu nunca mais tinha ouvido nem baixinho ao ouvido. Eu não vou poder falar mais sobre esse livro. É preciso ler e ser tomada por ela, pela forma como ela escreve sobre ela e as pessoas ao redor da cena que ela recria para nós, muito generosa. 

Só posso dizer que há pelo menos dois capítulos que eu deverei compartilhar com todas as pessoas que amo e que passaram ou passarão pela minha vida, assim eu possa. Maya me diz como é que nós, negras e negros, conseguimos suportar o insuportável, da dor, da humilhação, da vergonha, da indigna vida de desrespeito a que somos submetidas diariamente, em nossa condição de menina, mulher negra. Mas também não direi quais. Só posso dizer que são dois e que estão em ordem, no livro. 

Leia Conceição Evaristo (que por sinal foi quem nos indicou ler Maya), leia Cristiane Sobral, leia Carolina de Jesus. Leia Maya também. 

Ah, o nome do livro é inspirado no poema Sympathy, de Paul Laurence Dunbar, um dos muitos autores que Maya me contou. É isso, Maya não tem ódio dos homens negros. Ela sabe como falar sobre eles de um jeito duro e doce que no fim tem um jeito só dela - que pode ser nosso também - que nos ensina a fazer as pazes com eles. E, assim, fazer as pazes com a gente também. 

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