Você que me lê, me ajuda a nascer.

domingo, novembro 04, 2018

Novembro.

Novembro chegou, mais uma vez. Amo novembro, amo fazer aniversário, mas nem sempre foi assim. Por algum tempo, isso nem era importante. A única coisa que faço há muito tempo nesse dia é não trabalhar. É coisa minha, botei na cabeça, não trabalho nesse dia faz muitos anos. É um jeito de me dizer que ainda tem jeito.

No único ano que trabalhei nesse dia, a pedido da instituição que eu estava vinculada, foi péssimo. Não quero mais fazer isso. Saí de lá logo depois, sem esquecer desse dia. Uma mulher deve poder ter suas próprias regras, ou pelo menos uma, algumas vezes na vida. Inadmissível. 

Eu ando bem feliz, como quase sempre. Não é demagogia nem nada. As coisas não estão boas o tempo todo, mas eu penso que se já não estão boas, eu pelo menos devo ficar. Me apego ao que de bom tem na vida. O que é? Crianças, amor, cerveja, praia, não sei. Vai depender de muita coisa, mas essas aí eu sempre consigo ter. 

O preço que eu pago para me incomodar pouco e conseguir sorrir sem um traço de amargura não é pouco, não. Mas eu pago com gosto, sentada aqui numa cadeira tendo vista para um braço de mar logo aqui. Silêncio num domingo pela manhã (os passarinhos cantam, ah como eu queria saber nome de passarinho só pelo cantar), conversa com vizinha, cheiro do churrasco dela vindo aqui, não tem cinema, não tem exposição, não tem teatro, não. Não tem. 

Tem praça, gente na rua, música alta, criança correndo. Tem mangue, braço de mar, vista de ilha com sol no fim da tarde. Tem nadas e nisso eu tenho tudo, meu preço é viajar por aí e fazer o que eu não faço aqui, para não fazer o que faço lá, aqui. Eu gosto disso, de calma e vontade de dormir, de conseguir dormir porque calma e vontade.

E lavar roupa? Virou a coisa mais de quem tem tempo na vida. As pessoas lavam roupa à máquina porque estão cansadas, porque é mais prático. Mas todo mundo acha que a roupa não fica bem lavada e é aí que agora lavar roupa à mão para mim virou sinônimo de tempo. Eu gosto de fazer minhas coisas, ter o controle delas, comprar as coisas de casa, saber onde tudo está, lavar roupas brancas e vê-las côco, eu gosto muito mas faço pouco. Quando faço, sinto um prazer enorme e dona de um tempo só meu, todo o tempo do mundo. Me sinto forte e invencível quando lavo roupas brancas, com toda a calma eu esfrego, espero um pouco, faço outra coisa, ouço uma música - às vezes ele está por ali, acendendo a churrasqueira ou estendendo as roupas - e volto à roupa, esfrego um pouco mais, amaciante, depois estender. É tempo, é tão bom cansar de fazer as minhas próprias coisas, as coisas que eu escolhi fazer porque são de minha vida também.

Esse é o alto preço que se paga para não enlouquecer demais, nessa vida onde tudo é demais. Machismo demais, racismo demais, adultismo demais, chatice demais. Paguemos, então. E bem feliz.


7 comentários:

Anônimo disse...

E lá se foi novembro...e chegou dezembro! E estou com medo.O danado do tempo,tá passando rapidin demais.Ainda bem que dentro da minha cabeça,as coisas tendem a desacelerar,e as boas lembranças,tendem a caraminholar por mais tempo.
Todavida.

Migh Danae disse...

Como seria bom saber quem são todas as pessoas anônimas que passam por aqui. Pela escrita, eu tento descobrir. Quase nunca consigo. Mas invento alguém e juro pra mim que é ela e tá bom.

Anônimo disse...

Boa essa estratégia de inventar pra determinar o perfil de um "anônimo".Vou utilizar,toda a vida!

Migh Danae disse...

Mas eu não sei mesmo quem é...

Unknown disse...

Se não sabe,o anônimato funcionou.

Migh Danae disse...

Tinha certeza que era você.

Migh Danae disse...

... ou não.