Você que me lê, me ajuda a nascer.

segunda-feira, maio 23, 2005

Mainha.

Hoje é aniversário da mulher da minha vida. Da mulher que eu mais amo no mundo. Da mulher que me ensinou a sorrir o tempo inteiro, e só chorar baixinho no banheiro e escondido, até passar tudo e poder sorrir de novo. Só chorar alto perto de alguém que você ama e que te entenda. Eu sorri com ela hoje, que está tão longe. Mas é a mulher mais linda do mundo (me disse hoje que o cabelo está lindo, e que eu nem vou conhecê-la quando a gente se encontrar ainda esse ano), é a minha mãe, minha mainha. Meu coração pula aqui dentro, eu nem sei esconder, e nem sei se quero, sabe, por que todo mundo sabe que eu sou feliz por ela, eu vivo por ela, por mais piegas que isso seja. E eu quero viver um tempão, ficar velhinha junto com ela, que me disse um dia com os olhos marejados e brilhantes, depois de uns copos nossos de cerveja: - Eu vou morrer não, filha. Vou viver pra sempre, aqui, com vocês. Não esqueço disso, desse cuidado dela, de querer cuidar pra sempre e ter perto, mas mesmo assim entender o meu voô pra longe, de entender meus "eu te amo" por telefone, meus choros, e ainda conseguir ser tão importante pra mim nas minhas decisões de vida, de não ligar que o mundo pense que a gente não se dá bem por que não moro com ela, de perguntar se eu tou feliz e de que eu tenho que me cuidar pra não sofrer... Foi com ela também que aprendi a sonhar alto, e é por ela que vivo agora, que respiro, que sorrio e que penso que sim, pode ser possível, amar, dar certo, ganhar dinheiro, ser feliz. Mainha, te amo. Você e os miseráveis. ________________________________________________ Esse blog ficará fora do ar por uns dias aí. Viajar é preciso, viver não é preciso. In Ascolto: Niente.

sábado, maio 21, 2005

Dor de cabeça.

Enorme, insuportável. E por que eu não vou dormir? Sei lá, estou ansiosa, ocupando o tempo todo com todo o cansaço do mundo, pra deitar e puf, apagar. Não ficar pensando no dia que eu quero logo que chegue e que nunca acabe. Ninguém vai saber se eu não disser, mas tive ontem as 2 melhores horas da minha semana, mesmo com um trabalho que amo fazer todos os dias e todos esses pequenos prazeres da vida, ontem essas 2 horas me salvaram. Eram 11 da noite, quase outro dia, quando fui feliz. Desliguei o telefone e tiveram que me advertir para colocar de volta os pés no chão, eu estava realmente levitando, sabe como é, falando alto e fazendo todos os mortais invejar minha vida de rainha. Eu sorri, minhas bochechas ficaram assim doendo de sorrir e ver que umas das pessoas que eu quero bem no mundo também sorria com as minhas piadas sem graça. Se isso não é querer bem, então não sei mais o que é. In Ascolto: Right To Be Wrong, Joss Stone Live.

sexta-feira, maio 20, 2005

Chiques & Famosos.

Andar de ônibus nunca foi um problema pra mim. Claro que nem sempre gosto de viagens demoradas e preferiria que isso ocorresse com menos frequência, mas... foi numa dessas viagens que conheci Rosa. Senhora de seus 52 anos de idade, entrou no ônibus com umas sacolas enormes, atrapalhando a todos. Eu já a tinha visto antes, no meu local de trabalho, é parente de alguém que por lá também trabalha, vai saber, mundo pequeno. Rosa ia em pé, até que a moça com um neném ao meu lado desceu, e ela se sentou ao meu lado, com um sorriso no rosto. - Pra onde vai, Rosa? - essa pergunta só existindo aqui por que Rosa já tinha falado comigo umas poucas vezes, sendo sempre muito sorridente, lhe perguntei assim que se sentou. - Trabalhar, menina. Vendo flores no semáforo. Sabe aquele semáforo ali, que tem antes de chegar no Aeroporto? Pois é, tenho ponto ali há 20 anos. - É mesmo, Dona Rosa? Nossa, que trabalho, hein? Quando a senhora termina de vender? - Ah, minha filha, chego em casa lá pelas 02 da manhã, e meu netinho às vezes me espera, de tanta saudade que sente. - E como é, Dona Rosa, muito puxado? - Ah, é, sim, e agora então! Chego em casa sempre duas da manhã, vou no negreiro (nome dado ao último ônibus de uma linha, uma alusão muito direta aos verdadeiros negreiros existentes há tempos atrás...)! Os rapa andam sempre por lá, sabe, e querem levar a gente ou manda a gente desistir de ir vender lá. Mas eu digo pra ele, tu vai me dar emprego, se tu me der eu saio, mas aí ele não tem resposta, eu finjo que vou embora e volto depois, mais tarde, que não tem fiscalização. - Mas Dona Rosa, deve ser perigoso por lá... - Se é, menina. Tu sabe aquele famoso que cantava numa banda do Gugu? Pois é, ele tava sempre por lá usando drogas, sabe? Agora não tá mais. Dizem que ele parou e voltou, você precisa ver, todo acabado, ele deve morar lá por perto, por que ia andando, sabe? Mas isso tem em todo lugar, não é só lá, eu mesma é que não quero isso pra mim, tou fora. Vendo minha flor e já tá bom. - O que tem de bom nesse trabalho, então? A senhora parece tão animada, mesmo sendo tão cansativo... - Ah, mas eu gosto, gosto muito, menina. Você nem imagina, a gente vê todo mundo por lá... esses cantores, atores, sabe? O Sílvio Santos, antes do sequestro da filha dele, passava muito por lá. Mas como é feio, hein? A Hebe, esses cantores de música sertaneja... uma vez eu confundi, tava vendendo flor pra uma dupla e chamei pelo nome da outra, ai eu disse que era por que eu gostava das duas e tava emocionada... aha. - Quem mais a senhora já viu por lá? - A Sandy é legal, a família toda compra e deixa a gente chegar perto do carro... Netinho não... de longe ele já diz pra gente não aproximar... - Sério? - Pois é, minha filha, tudo pose. E tem esse ator da novela das 8, que faz o peão, o Tião, sabe? Ele é legal, compra flor na minha mão, sempre tá por lá... tem muitos, todos esses que passam na TV' eu já vi. - Imagino que a senhora deve ter muita história pra contar... a senhora nunca pediu autógrafo, não? - Eu? Pra quê? Um dia sabe, eu pedi, dessa atriz aí da novela das 6, eu não sei o nome, aí ela rabiscou uma coisa lá, nem parecia letra, sabe, pra quê eu ia querer aquilo, peguei e joguei fora, garrancho eu também sei fazer. Aí depois disso não quis mais, sabe? - É mesmo, né, bobagem... - Mas sabe, deixa eu te dizer uma coisa... trabalhar nisso de vender flor só tem um problema: tu fica conhecida demais. Outro dia eu tava lá no Ipiranga com minha filha, andando na rua, na minha, e buzina um carrão importado assim, sabe? Olhei e o cara acenou lá de dentro, reconheci, é um senhor que sempre compra flor na minha mão. Vê se pode, eu lá longe, ele me achou? Isso não é legal não, em todo lugar que vou encontro gente que me conhece, é chato demais, gosto não. Dona Rosa pediu ponto e desceu dois quarteirões adiante. Eu segui a viagem, não ousando puxar conversa com mais ninguém. Dona Rosa já tinha tomado todo o meu pensamento, era quase um desrespeito querer aprender mais alguma coisa com algum desconhecido naquele dia.

segunda-feira, maio 16, 2005

Jornal

Eu tava hoje pensando como eu queria que o pessoal que mora aqui no meu bairro lesse mais, lesse mais jornal, por que eu me sinto às vezes estranha quando abro um jornal no ônibus, olho pro cara do lado e por mais que eu coloque na página de esportes e tente entabular uma conversa sobre o time do coração dele, não tenho como conseguir uma cara mais amigável. Bem, mas hoje eu estava lá sentada com meu jornal fechado e sentou do meu lado uma velhinha cheia de badulaques dentro daquelas sacolas de lojas de grife, e foi logo abrindo o jornal de hoje, lendo avidamente. Sorri pra ela e tentei me envolver na leitura, mostrar que também estava interessada. Aí ela comenta assim alto, meio sem jeito: - Eu não entendo por que que jornal sempre escreve a mesma coisa por dias seguidos! Imaginei que era comigo que ela falava e tentei esxplicar pra ela que às vezes as notícias se repetiam com dados novos, e então o jornal dava uma cobertura assim por cima de tudo que tinha sido escrito até então. - Ah... E continuou a ler. Depois de um tempo, não sei bem como, começamos a conversar, acho que comentando o fato de terem duas blitz policiais no percurso que fizemos. Falamos sobre muita coisa, até que ela me disse: - Minha patroa me dá esses jornais, são de hoje, mas ela me explicou que são notícias de ontem, e eu levo pros meus filhos lerem por que eu escutei ela dizendo uma vez pro filho que tudo que tá escrito aqui é a história de amanhã, que vai fazer parte da história. Então eu quero que meus filhos saibam disso tudo, da história, pra não passar humilhação de ser pobre e ainda burro. Me animei a conversar sobre o assunto, e ela me disse também que eles não tinham dinheiro para ir ao cinema, mas sabiam de cor todos os filmes que estavam em cartaz, e se arriscavam até a comentar, apenas com o que tinham lido no jornal. E assim eram os shows, encontros, passeios... longe de tudo, mas perto da informação, assim me confidenciou Dona Sônia. Ela pediu ponto e desceu. Eu fiquei ali no mesmo lugar pensando como a gente se surpreende, como a gente se supreende. In Ascolto: Georgia On My Mind, Ray Charles.

sexta-feira, maio 13, 2005

Sobre a comunicação no amor ou Cala a boca, mulherada!

Tentei não transcrever isso aqui, mas vai assim mesmo, por que me fez aprender hoje pra vida inteira: (...) Só as melhores histórias (entre as quais a que conta Anzuategui) conseguem nos oferecer fragmentos de uma sabedoria do amor. Roland Barthes lembrou um dia que saber e sabor têm uma etimologia comum: o saber que nos ajuda a viver não é uma doutrina, é aquele que nos permite reconhecer e saborear os gostos, mesmo que sejam amargos, às vezes. De qualquer forma, na vida, como na cozinha, o pecado capital é o insosso. As histórias que nos ensinam a degustar a experiência (e que, no caso, nos ensinam um pouco a amar) são aquelas que não nos iludem, mas conhecem e respeitam a dificuldade atrapalhada dos sentimentos e dos desejos. (...) O amor que nos é apresentado é vivido numa economia de palavras e de gestos que é uma forma extrema de respeito. Em suma, o amor de Juliana não promete a felicidade, mas evita (e quem sabe nos encoraje a evitar) a maior praga dos relacionamentos amorosos: a incontinência verbal. Nisso, "Calcinha no Varal" poderia servir de "educação sentimental". Calligaris, FSP, 12.maio.2005. Daí depois me peguei pensando como é que nós mulheres, donas de sextos e múltiplos sentidos, não conseguimos na maioria das vezes calar pra entender o outro, aqui apenas no masculino por que estou falando dos homens. Todos eles. Na maioria das vezes, a gente acaba falando sempre além da conta, culpando ainda os homens de insensíveis por não nos ouvirem como gostaríamos. Mas como seria esse "ouvir"? Sim, a gente sempre reclama que eles não nos ouvem como deveriam, mas a gente mesmo nunca sabe explicar como é! E a gente nunca vai conseguir explicar mesmo, sabe por que? Por que na maioria das vezes em que os homens poderiam aprender da gente, estamos falando. Falando sem parar. Falando o óbvio, e pedindo que eles também falem o óbvio, como "eu te amo" depois de uma noite perfeita, com jantar à luz de velas e todos esses mimos que nos preenchem a vida. Incontinência verbal, eu também sofro. Um bom nome para uma comunidade orkutiana. Sim, a gente sofre disso ao mesmo tempo em que conseguimos suportar dores e sentimentos dos mais variados, estar à flor da pele nos momentos mais duros e ainda assim se emocionar com uma flor e mensagens de saudade no celular... mas como saber quando é a hora? A hora de calar para deixar que o respeito e o amor ao outro apareçam? Pensam que eu sei? Pensam que eu não incorro o tempo inteiro nesse tipo de "problema? Ah, e como! Só que agora eu sei disso, o que na prática não muda nada, mas me ensina a aprender sobre mim para me fazer conhecer pra quem eu amo e quero bem. Li num outro artigo do Nelson Ascher que hoje em dia a palavra diálogo está mais para "convencer alguém de". As guerras atuais também começaram assim, com os chamados "diálogos intensos", e aí, quando não se atingiu o objetivo do diálogo do mais forte, houve a apelação para outros métodos de convencimento menos diplomáticos. Taí, é isso que acontece também num relacionamento. O que a mulher quer é que o homem a ouça aponto de convencer-se de que toda aquela choradeira tem sentido, quandoela mesma, passado o primeiro momento, fica a se perguntar o por quê daquilo tudo. Então, acho que é hora sim do homem acreditar que ser homem é o melhor que ele faz, por que como diz Puglia, homens e mulheres são diferentes, mesmo que nas Academias atuais todo mundo esteja querendo ser eunuco. Quando eu digo isso, quero dizer que os homens devem ter em mente que não é preciso entender a mulher que ama o tempo inteiro (e eles, ao modo deles, já fazem e entendem muito bem isso). Guarde todo o amor que sente por ela para que nos momentos em que ela esteja completamente insuportável, você se lembre que ali na sua frente, chorando ou dando uma de durona, está a mulher que você ama, a melhor, a que você quer pra você. Se é essa umas das características que diferenciam os sexos, que venham as diferenças! E que a gente aprenda a vê-las como aliadas para a construção de um relacionamento bonito, cheio de vontades e desejos realizados e sonhos por realizar. Mais um parágrafo original de Sabina, mas não por isso inédito na minha vida: "Eu estava com Fabrício na cama, ele gozou primeiro e eu não quis continuar. Ficamos deitados, ele em cima de mim, eu de olho aberto, e de repente comecei a chorar. Não pensei que ia chorar. Mas, quando vi, as lágrimas estavam escorrendo dos meus olhos. Ele estava quase dormindo, eu não queria que percebesse. Em algum tempo as lágrimas secaram. Perguntei se ele não se incomodava de continuar mesmo depois de ter gozado. Ele disse que não se incomodava, que gostava." "Calcinha no Varal", de Sabina Anzuategui (Companhia das Letras). In Ascolto: Chauffer, Nina Simone.

quinta-feira, maio 12, 2005

Erro.

Você já errou e teve uma consciência enorme, MAS ENORME mesmo do erro que você fez e ficou que nem doida pra tentar reverter o quadro, na tua cabeça tudo fazendo você crer que isso seria impossível de ser feito? Pois é, eu vivi momentos de tensão assim no último fim de semana. Bebidas e cigarros me fizeram companhia até que eu tivesse certeza que ainda dava tempo de explicar pra todo mundo que eu sou humana, erro, e assumo isso quando preciso. Mas nunca foi assim tão latente o meu erro. Sim, erro. Sim, eu erro. Me sinto bem em confessar isso agora pra todo mundo que me ouviu achando que eu era a única dona da razão e vítima de uma história criada pra maquiar meus medos, inseguranças e covardias (preguiça, talvez?). Aprendi o verbo to love essa semana. Talvez por isso eu tenha feito tanta besteira nesses últimos meses. Precisava aprender a amar de novo, em outra língua começo mais uma vez, invento outra forma de ver as coisas, os sentimentos. Sou feliz, então. In Ascolto: Diamonds on the Inside, Ben Harper

domingo, maio 08, 2005

Só sei.

Eu não sei o que fiz direito, mas sei que fiz. Tou feliz por ter feito, só isso. Eu não uso a cabeça pra pensar, uso pra pôr chapéu. Mas como também faz tempo que não uso chapéu, ela tá sem uso faz tempo. Eu penso é com o coração nas coisas do amor e nunca me arrependi. Choro e sofro pra burro, mas quem disse que eu ligo? Eu tou é na chuva e quero me molhar. Prefiro intenso como nunca a morno como sempre. E se não gostou adoçaaaaaaaa! Enchi demais o mundo inteiro de asneira e aprendi com criança que a gente deve brigar e ficar de bem. Rapidinho, antes que o dia acabe e a noite chegue com a mãe mandando a gente entrar pra casa. Pra tomar banho. In ascolto: Lucy In the Sky With Diamonds, The Beatles.

sexta-feira, maio 06, 2005

Resposta.

Resposta. Ela decidiu sozinha que, aos sete meses de namoro, ele merecia comer-lhe o cu. Ela o amaria o suficiente para entregar-se de corpo e alma, finalmente. Contabilizou quantas vezes haviam transado: cento e trinta e cinco vezes até aquele dia, e lhe faltavam duas semanas para o tão esperado dia oito, que era quando se completavam os sete meses e ele chegaria de uma longa viagem. Nada poderia ser mais confirmador do que todas essas datas acontecendo assim, num perfeito bailar de números, horas, ânsias, desejos se encontrando. Claro que não, ele não sabia. Era segredo, aliás, o único, já que ele lhe desvendava tudo assim aos poucos. Mas ela gostava desse jogo de esconde e mostra, se sentia importante pra ele, pro mundo dele, ele era seu, ela dele, que mais importaria? Entregava sim, entregava tudo, até mesmos seus códigos mais secretos, aqueles que os homens nem mesmo precisam saber para se apaixonar ou odiar uma mulher. Ele, ávido por ela, bebia as informações todas, gota a gota, esperando descobrir então que diabos ela escondia dentro de si que o enfeitiçava desse modo, que o enlaçava mais e mais pra perto dela, que o fazia refém dos seus caprichos, que lhe fazia correr o mundo pra encontrar apenas o gosto de um seu beijo. Talvez fosse o cu. Mas isso era ela quem não sabia, e até tinha medo de que assim o fosse, por que lhe ofertando o dito cujo, não haveria assim mais nenhuma descoberta brilhante, a não ser aquelas típicas do cotidiano que tudo embrutece, como daquela vez que lhe viu escovar os dentes, emitindo um barulho estranho que ela nunca conseguiu deixar de fazer, mesmo depois de tanto tempo de prática. Sondou o terreno. Ele foi cortês em dizer-lhe indiretamente que esse não era o foco principal do namoro, que estava contente com o que tinham juntos... Mas, mais à noitinha, quando foram dormir após um jantar à luz de velas, ele lhe confidenciou que um dos seus desejos era conhecer a tal cavidade da mulher que amasse de verdade. E para completar a declaração, afirmou, comovido: "Você é a mulher que eu amo de verdade!". Se fosse o cu o causador de tal fenômeno, o do mistério e desejo, pensava ela, ele vai procurar em mim alguma coisa que valha a pena tudo isso, as viagens, as serenatas, os bombons de gosto exótico, por que deve sim haver numa mulher como eu interesses outros que não apenas meus orifícios espalhados pelo corpo. Mas que tinha receio do encanto acabar, ah, isso tinha. Mas que fazer? Ela também estava ali, incendiada de vontade para saber como era que se processava tal feito amoroso. Amoroso sim, já havia se consultado com amigas que lhe disseram ser possível que tal ato fosse executado com amor, bastando para isso que o parceiro tivesse paciência com sua inexperiência, afinal, estava ela ali, com toda a boa vontade do mundo a dar-lhe o cu, não seria pedir muito que fosse um cavalheiro. Havia, além disso, lido várias matérias sobre o tema, como para se confirmar que aquilo não era assim tão bizarro, também para anotar o nome daquela pomadinha indispensável à via dolorosa, que na verdade, confidenciava aquela amiga mais saidinha, era apenas fachada para o enorme prazer sentido logo depois. Bem, estava então preparada. Previu muita coisa, tudo assim disposto. Mas não poderia prever que naquele sábado, uma semana antes de completarem os sete meses de amor e cumplicidade, ele fosse pôr um fim em tudo aquilo. A vizinha. Sim, a vizinha de sonhos adolescentes havia voltado de uma viagem ao exterior, mais bonita, encorpada e ainda solteira. Propôs-lhe sexo sem envolvimento. Ele aceitou, e se apaixonou. Ela por sua vez, não tinha vizinhos para esperar. Tomou o maior porre da sua vida. Chegou em casa bêbada demais para entabular qualquer assunto, mas a sua mãe, senhora do tipo insone e bisbilhoteira, apareceu à porta do banheiro com cara assustada: - Mas que você tem, chorando? - Acabou, mãe! - O quê, minha filha? - O namoro. - Oh... Dirigiu-se a mãe para o quarto, mas de lá pôde ouvir uma voz abafada, que de dentro do banheiro vinha possuída de ira: - Mas pelo menos, mamãe, o cu ainda está aqui!

quarta-feira, maio 04, 2005

Le Mépris.

Procurando... procurando... vem cá, por que é que a gente ainda se decepciona, me diz? Palavras, onde é que elas estão? Desde ontem eu tento escrever um texto bacana, mas outros textos interferem nessa minha produção, me roubaram as palavras. Capturaram-nas todas, os sentimentos. O torpor tomou conta do meu corpo e eu só consigo me perguntar se eu me faço assim de ignorante ou é mesmo fato que eu sou uma boba e não quero deixar de sê-lo? Me faz bem ser boba? Faz bem sim, eu sorrio à toa, eu esqueço do mundo. Eu juro que prometo a mim mesmo quase todos os dias que vou ser mais dura, eu admiro pessoas que são desse jeito, eu digo à elas que vou mudar, vou sim, mas quando vejo, já estou de novo sorrindo por qualquer besteira que me disseram, que me fizeram. Agora dá licença que eu vou me divertir de verdade. Ah, e estou devendo o texto, que tá ficando muito legal. São até dois.

segunda-feira, maio 02, 2005

Eu nunca noto quando olham pra mim, no ônibus, na rua, quando estou alugando um filme, eu nunca acho que é pra mim, e se noto que é comigo, eu nunca acho que o cara quer nada além de perguntar alguma coisa. O cara do meu lado no lotação pra casa hoje me olhava o tempo inteiro. Acho que ele notou meus olhos tristes demais, longe demais, e aí me fez uma graça: me deu tchau quando eu desci do ônibus, e sorriu. Eu respondi, sou educada. Educada nada, sou tagarela, faladeira, e adoro dizer oi pra todo mundo. Estou melhor, vi Chocolate e não chorei, amei, amei. Saudade de casa. Do cheiro da minha casa, das minhas coisinhas lá, meu irmão que me faz rir, rir, rir, sendo ele mesmo e imitando meu pai, minha irmã, o cachorro... passando trotes e trotes só pra me ver rir, por que eu rio um rio por qualquer coisa... é só eu perceber que estão querendo me fazer feliz que eu me desmancho. No sábado eu saí correndo do cinema pra ir comprar uma vaquinha com um peso nas patas, mas o lugar tava fechado. Eu disse pra atendente, "abre pra mim, tenho que comprá-la por que ela vai ser minha companhia agora, vai inaugurar uma nova fase na minha vida", mas ela não entendeu nada me ouvindo lá detrás do vidro. Mas deixe estar, vou comprá-la amanhã e vou dizer pra ela que amanhã é dia 30. Ela vai acreditar, tralala.

domingo, maio 01, 2005

Lágrimas.

As lágrimas molham e atrapalham a minha escrita? Sim, sim. Não, não, eu não vou parar de escrever. Estou tentando ficar bem, pra cima. Mas é que é difícil, as coisas acabam e tudo fica assim meio vazio agora, sensação de incompletude, absoluta. Por que antes era a dúvida, agora é a falta. Mas falta do quê, meu deus, se fui eu mesma quem quis assim? Não, enganam-se vocês, eu não quis assim, eu não quis o fim, eu quis lutar até o fim pra mostrar pra todo mundo que não era impossível, que com um pouco de paciência a gente chega lá. Que eu sou paciente o bastante para esperar você enxergar os óbvios, o que não é seu umbigo. Você me pediu isso, pra te mostrar as coisas que doíam, como sapato apertado que a gente tem que ficar descalçando. Eu não cansei disso, de falar o que me fazia mal. Não cansei nem mesmo de esperar você ver sozinho. Eu não cansei de nada disso, eu apenas tenho ficado mais e mais triste com o tempo, por perceber o quão duro, seco e rígido você é, você sempre pode ser mais do que já foi, é isso que você me diz. E não, no fundo você não quer me ouvir, você quer fazer as coisas do seu jeito, do jeito que aprendeu a ser feliz, mesmo que isso custe à você ficar sozinho por bons longos anos. Se isso me faz chorar, o que importa pra você? O que realmente importa pra você além de você mesmo? Eu ainda fico surpresa como você ainda consegue me assustar com suas atitudes mesquinhas, algumas tolas, mas que me machucam profundamente. Taí, bobo, eu não te disse uma vez que o que me convence são essas pequenas tolices, um amor feito de café e jornal? Eu não te disse que me levar no bico seria facinho, bastava para isso sorrir para uma criança, ajudar um velhinho a atravessa a rua, dar bom-dia pro pipoqueiro? É, eu lembro que te disse, mas você achou bobagem. Claro que faz falta. Claro que eu estou triste, procurando ocupar meu tempo de você sem você. Vou conseguir? Vou, claro. Poderia ser mais fácil, se você fosse tão sensível quanto mostrou no começo. Era pra me conquistar? Era? Funcionou, eu me apaixonei. E acreditei tanto que acreditei na gente, por mais incongruente que parecesse acreditar nisso. Foi bonito, meu preto. Foi bonito sim, por muitos momentos eu fui feliz. Obrigada por isso. Pena que não dá. Pena mesmo. ________________________________________________ 30/4/2005 13:08:13 - Eu curti bastante por muito tempo... mas ultimamente tem sido sempre mais difícil. 30/4/2005 13:09:01 - eu queria ter percebido isso, merda 30/4/2005 13:09:14 - não ia ficar que nem um idiota achando que tudo está bem 30/4/2005 13:09:31 - Tudo tem só separado mais a gente, pra namorar a gente precisa sem cúmplice e sei lá, eu não me vejo daqui a 2 anos fazendo algo junto com você, a não ser dividindo um copo de cerveja. 30/4/2005 13:09:44 - Não dá pra acreditar que você não percebia isso. 30/4/2005 13:10:20 - Sei lá, cara, a cada dia eu estava mais e mais seca, dura, estranha. Eu sentia isso em mim, nas respostas que eu te dava, que eu sempre achava que iam funcionar como alerta. 30/4/2005 13:11:41 não sei, merda Tira a minha foto de lá também, acaba logo com isso.