Você que me lê, me ajuda a nascer.

quarta-feira, dezembro 05, 2018

Dourada preta.

Ali sentada numa mesa para o almoço, veio uma joaninha pousando no meu vestido. Um vestido de flores e bolinhas pretas, um vestido-joaninha? Teria ela olhado de longe e pensado que era um pouso-joaninha para asas cansadas de batejar por aí e ali? Não sei, mas ela veio. Ela, joaninha dourada com preto, solar, como me disseram solar naquele dia, um dos elogios mais lindos que eu posso ouvir na vida, um elogio que me faz escancarar a boca num sorriso-delícia, prazer ouvir "você é solar", coisa bonita assim no meio de um dia qualquer, lugar qualquer, mar qualquer. Só não a joaninha que não era qualquer.

Elas, bicho de sorte, eu mais sorte ainda por ver uma dourada ali, pousada no meu colo, no meu vestido. Devagarzinho foi caminhando, queriam foto, mas a foto mostraria mais que a joaninha, melhor não, porque sim, tinham outras coisas. Eu de cabeça baixa sem jeito de encarar um sorriso de frente que me mostravam, olhar no olho tem dessas, deixa escapar coisas que se pensam, eu nunca mais tinha passado por isso, que gostoso é ficar sem jeito, com palavras, sorrisos e joaninhas. 

A joaninha voou, voou, quando ele tocou nela ainda no meu vestido, pôs no dedo e disse algo que eu não lembro mais e nem mesmo na hora prestei atenção, o que eu ia inventar para dizer não com a boca, porque os olhos e os sinais, o corpo respirava outra resposta, isso não era segredo. Segredo era como eu ia dar um jeito nisso, isso eu não contava, eu não conto, só faço. 

Eu gosto do desejo, eu gosto da sensação de desejar, eu alimento, eu quero mais, eu tenho prazeres miúdos com a palavra que estimula, que acende, que anima, que bota o tesão na ordem do dia, eu gosto, eu brinco com fogo, eu quero. Eu vou até o limite e volto e adoro ser assim, das extremidades, cheia de arestas, eu não quero nem saber, o prazer está nesse descontrole, assim como estou escrevendo aqui sem olhar para trás, sem corrigir, sem revisar. Essa delícia que é quando não se sabe como vai ser, eu gosto. 

Eu não fujo, mas também não abro a guarda. Como se faz isso? Ainda não sei direito, mas depois do pouso da joaninha dourada e preta, descobri que estou no caminho certo. 


2 comentários:

Anônimo disse...

Ouvi falar do seu blog pouso-joaninha dourada. Uma delicia caminhar meus olhos pela sua escrita <3

Migh Danae disse...

Voou, voou...