Você que me lê, me ajuda a nascer.

terça-feira, agosto 28, 2007

Sobre nomes e coisas.

tem gentes por aí ó, gente que nasceram poesia se descolam do papel com facilidade aprendem a língua falada e viram pessoas que transitam no nosso mundinho demora pra perceber mas elas andam por aí e se tu topar com uma delas sorria seja gentil e deixe-as passar elas estão quase sempre apressando-se lentamente para o encontro inesperado com a felicidade todas essas pessoas têm nomes que dariam lindas letras de samba eu Caio na dança eu me encho de alegria.

segunda-feira, agosto 27, 2007

é taí, foi pra tu que eu guardei o tal amor infinito.

Esqueço de escrever. Escrevinho em tudo que é lugar, e esqueço disso aqui. Mas acho que eu tou bem, tou inteira, vivão e vivendo, tou em paz, então. Tou aqui, guardando amores infinitos, roendo unha, esperando o guarda-roupa chegar, a vida passar, eu cantar coisas de amor. Não esperem por mim, antes esperarei por vocês, na chuva, na saudade, na lida. Por que Cecília disse, e eu assino embaixo, que essa vida só é possível reinventada. E foi Carlinhos que pediu o pito pra Mariquita, só pra ver o infinito. Ouvindo tudo isso, que deveria eu dizer de você? Dizer que te escrevi uma história, te fiz final feliz e tenho esperança de morrer segurada nos teus braços? Deixa pra lá. Vou dormir agora. Mas não pra sonhar com tu. Isso eu só faço acordada. Quando eu durmo, eu descanso de você. Por que te amar o tempo todo me dói a cabeça e o coração.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Música,

Se não fosse chato, eu escreveria todos os dias aqui uma música, eu sempre tenho uma na cabeça... agora é... "se você quiser eu vou te dar um amor desses de cinema...", essa coisa boba que é o cinema na minha vida, e o amor. Devo estar meio chatinha por não ter conseguido ver um filme sequer na telona esse fim de semana, estou tentando não lembrar disso senão piro, quando isso acontece eu nem abro o guia do fim de semana por que senão me dou um tiro no peito, fico pensando como é que essa coisa pelo cinema me assaltou, lembro que iniciei com Kill Bill, lá no Gemini, eu sei, foi em 2004, pouquíssimo tempo, mas peguei um desses livros de "Os 100 filmes que você não pode deixar de ver antes de morrer", e rabisquei um visto em 87, sou dependente. Cinema, brincar de deus, disse Fellini. Pá-pum, escrevi de vez o conto que tava engasgado aqui na goela, saiu no meio da aula no sábado, mas não que eu não estivesse prestando atenção, se bem que agora estou cansada de ouvir elucubrações sobre as teorias modernas trazidas da Europa, ou pelo menos, inventadas na Europa. Tudo isso eu já vi, eu nasci, há dez mil anos atrás. O conto ficou bonitinho, mas tenho data pra postar, data final de mês de outubro por que é dia especial, pelo menos agora nesse mundo que eu vivo (ou que eu inventei, como queiram). Eu sei que tem alguma coisa no ar, a mãe da minha amiga me contou que quando viu o futuro marido dela lá de longe, disse para a amiga dela que tava perto "eu vou casar com aquele moço", eu não disse pra ninguém, mas eu sei, eu vou casar com aquele moço, sinto até as dores do primeiro filho que a gente vai ter junto e sei que ele parece bagunceiro mas vai arrumar a toalha no lugar só por minha causa, eu sei. É só uma questão de tempo, como tudo na vida, e como mais ainda na minha vida.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Banza.

Tou com saudade. Sódade, para dizer melhor. Da minha mãe, da minha casa, do cheiro de lá, de tudo de lá, de lá. E chorei um choro contido, queria ter coragem de ligar pra ela e dizer quero ir embora, mas não sei como dizer te amo, então finjo que ligo e choro no banheiro escondida do trabalho, pra depois todo mundo me perguntar se também peguei conjutivite, e se estou fungando por causa da gripe. Estou apaixonada, e dessa vez está durando tanto que não sei o que fazer com isso, coração fica pequeno para tanta coisa, e fico chata, e reclamo com o mundo, e sem paciência, vou ficar quietinha, vou esperar o tempo passar, trabalhar, comer, dormir e esperar, esperar.

segunda-feira, agosto 13, 2007

Perdida.

Não se espantem. Se por algum acaso da vida eu largar qualquer coisa minha na sua casa, não é maluquice. É que quando eu me sinto a la vontê, penso que posso me espalhar, deixar as coisas por ali, por que é como se fosse casa minha, não me preocupo... do contrário, guardo e conto tudo, é assim. Se eu perder alguma coisa na sua casa, por favor, me devolva, com um bilhetinho escrito coisas do tipo "obrigada por me considerar da família", ehe. Mas o contrário não é verdade, se eu não esquecer nunca nada também não quer dizer que eu não te ame, não deixe a lágrima cair. É que eu preciso de tempo, pouco a pouco as coisas se ajeitam, e se você for uma pessoa legal, eu vou notar. Eu sou sensível, sabia? :-P Quando fico feliz, não me controlo e te escrevo. Ah, mas quem liga? Hoje eu dancei James Brown e Cab Calloway em pleno horário de trabalho, com mais 28 crianças me acompanhando. Funk, funk, mister Hancock. Isso me faz jogar todas as minhas teorias para o alto sobre a vida, e te escrever, só pra matar a saudade. E que todos os mestrados e despejos do mundo inteiro se danem. Eu queria só ver você sorrir.

sábado, agosto 11, 2007

Bodelé, Benjamim e Certeau.

Por que eu quero ser mais flaneur e menos voyer, eu tenho que dizer aqui que São Paulo é uma cidade única. É a cidade que me fez começar a pensar qual é a relação que eu estabeleço com as cidades. Tudo isso por que ela se impõe. São Paulo não é nada disso que dizem dela. Ela só é, ela existe e se impõe. É isso. Sem adjetivos, só verbos. Mas então parece que eu não gosto daqui, pelo que escrevo e digo por aí. Mas não é isso. É que não tenho paciência para explicar sentimentos. Sentidos são produzidos, e podem ser mal-interpretados, coisa boa é respirar fundo e sentir São Paulo, ou qualquer outra coisa, sempre, antes de teorizar sobre. Então vou dizer que gosto sim de São Paulo, mas não saberia te dizer por que a odeio, na mesma intensidade. Coisa de gente assim, cheia de arestas. Assim como veio passou, não entendi, mas a imagem dele ainda fresca na minha memória vive, como quando abro o dekstop e ele me sorri, mas são coisa de dias, eu acho, mas não queria, não queria. Queria voltar aqui na semana que vem e ainda estar apaixonada por ele, ainda suspirar por ele, e ainda resistir por ele, essas coisas. Não sei o que acontecerá, sei o que quero. Vamos ver se tudo combina e eu sorrio feliz a hora da estrela.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Arerê.

Cheia de arestas. Adorei isso. Acho que sou também. Isso é um pedido: Por favor, respeitem meus cabeloduro! Não, eu não quero fazer progressiva tom de chocolate, eu não quero fazer chapinha, eu não ligo se ele parece um ninho de pombo, me deixem em paz, me deixem passar com ele e com minha felicidade e sorriso. Eu sou é linda demais, cês tão é com inveja, que além de inteligente, eu sou bonita. Hum. Musiquinha para alegrar os corações! Revolta Olodum Retirante ruralista, lavrador/a Nordestino/a lampião/maria-bonita, salvador Pátria sertaneja, independente Antônio conselheiro em canudos presidente Zumbi em alagoas, comandou Exercito de ideais Libertador , eu Sou majin kabalaiada Sou malê Sou búzios sou revolta, arerê Ohh corisco, maria bonita mandou te chamar Ohh corisco, maria bonita mandou te chamar È o vingador de lampião È o vingador de lampião Êta cabra da peste Pelourinho olodum somos do nordeste

quarta-feira, agosto 08, 2007

Ode à minha tatuagem.

Dois e dois: quatro Ferreira Gullar, o "velho com o gato" Como dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena embora o pão seja caro e a liberdade pequena Como teus olhos são claros e a tua pele, morena como é azul o oceano e a lagoa, serena como um tempo de alegria por trás do terror me acena e a noite carrega o dia no seu colo de açucena - sei que dois e dois são quatro sei que a vida vale a pena mesmo que o pão seja caro e a liberdade, pequena. Deixa pa lá. Deixa tudo pa lá. Só não esqueça de viver.

terça-feira, agosto 07, 2007

Nêgo Drama.

E quando entra essa parte da música eu não consigo me controlar: (...) Daria um filme, uma negra e uma criança nos braços Solitária na floresta de concreto e aço Veja, olha outra vez um rosto na multidão A multidão é um monstro sem rosto e coração Ei São Paulo terra de arranha-céu A garoa rasga a cara é a torre de babel Família brasileira dois contra o mundo Mãe solteira de um promissor vagabundo Luz, câmera e ação, gravando a cena vai Um bastardo, mais um filho pardo sem pai Ei senhor de engenho eu sei bem quem você é Sozin cê não guenta, sozin cê não guenta Véi,Cê disse que era bom e as favela ouviu Whisky, red bull, tênis nike, fuzil Admito seus carro é bonito, eu não sei fazer Internet, video cassete, uns carro louco Atrasado eu tô um pouco, só que pô que eu acho Seu jogo é sujo e eu não me encaixo Eu sou problema de montão de carnaval a carnaval Eu vim da selva sou leão sou demais pro seu quintal Problema com escola eu tenho mil, mil fita Inacreditável más seu filho me imita No meio de vocês ele é o mais esperto Ginga e fala gíria, gíria não, dialeto Esse né mais seu ó, fiu, subiu Entrei pelo seu rádio, tomei cê nem viu Nós é isso ou aquilo, quê cê não dizia Seu filho quer ser preto, há que ironia Cola o poster do Tupac aí que tal que cê diz Sente o negro drama vai tenta ser feliz Ei bacana quem te fez tão bom assim O quê cê deu, o quê cê faz, o quê cê fez por mim Eu recebi seu tique, quer dizer quite De esgoto a céu aberto, e parede madeirite De vergonha eu não morri, tô firmão eis-me aqui Cê não, cê não passa quando o mar vermelho abrir Tou ouvindo rap pra não ficar louca. Tou ouvindo rap pra não perder a fé em tudo. Tou ouvindo rap pra lembrar que a vida não é feita só de paixão. Tem outras coisas que acontecem nessa vida. Se você não me dá bola, que posso fazer além de ouvir rap e chorar?

domingo, agosto 05, 2007




Da série "Eu-maria-bonita-quero-um-cabra-valente-só-pra-mim"
E eu deveria dizer pra mim só pra rebater:
"pior-que-eu-sei-quem-é-cabra-mais-que-valente-mas-ele-está-longe-muito-longe-daqui"
Quando eu desço lá na rua principal e compro pamonha de milho com um moço sorridente e que sempre me coloca a par das mais novas notícias do futebol, volto pra casa pensando em como essa atividade, vender pamonha na rua, tem quase 300 anos e faz parte de mim, da minha ancestralidade. Comprar, comer a pamonha de milho faz-me ser parte de um mundo, de um grande mundo chamado Afro-América. Me perguntam sempre, me mandam sempre comprar um carro, comprar uma casa. Tentei, gente, mas não consigo. Estou mais preocupada em ser, não em ter. Tenho pouco tempo para ser alguma coisa nessa vida, ter dá muito trabalho. Tudo que eu mais amo deve caber numa mochila. Ultimamente, meus pertences têm aumentado consideravelmente, livros, dvd's e afins, então eu tenho que começar a resolver esse problema, amanhã posso não estar mais aqui e dá sempre mais trabalho com tanta tralha espalhada. Fielmente, toda semana jogo fora ou dôo coisas que não precisarei mais. É a vida.

Revelar.

Ahá, Jum Nakao mandou essa no jornal de ontontem: Tanto as classes populares brasileiras quanto a nossa elite não têm cultura de moda. Nos Jardins na zona sul, o que predomina é a roupa para peruas. Do contrário, teríamos aqui lojas dos inventivos estilistas belgas e japoneses. E mais: Não sou o primeiro estilista conhecido que trabalha para uma fábrica no Bom Retiro, mas devo ser um dos primeiros que não esconde isso dos outros. E pra completar: Cópia no Bom Retiro? Isso é preconceito, por que o fenômeno da cópia atinge tanto o Bom Retiro e o Brás quanto os Jardins. Talvez nas passarelas das fashion weeks não se consiga ver isso tão claramente, por que as grifes tomam mais cuidado, mas se você for nas araras das lojas, vai percever que a 'importação de idéias' ocorre em toda parte. Ah, como eu adoro quando as pessoas falam a verdade. Desmascaram as coisas. É uma pena que uma entrevista desta não é capa de caderno de cultura, tá lá escondida, mas é sempre assim, ou não? Ouvindo Tom Zé, me sinto mais Bahia, me sinto passageira. quando eu vi que o Largo dos Aflitos não era bastante largo pra conter minha aflição eu fui morar na Estação da Luz por que estava tudo escuro dentro do meu coração. E ontem foi dia de revelar as coisas, de relembrar passados que para mim mais parecem hiatos na minha vida, caminho vicinal que minha memória tem preguiça de lembrar, ou é um jeito de não sofrer mais ainda nessa vida severina, a gente cria uns códigos com o inconsciente para não acordar de mau-humor, né não? Aí eu lembrei que eu sou boazinha demais, que perdoô sempre, mas também vi que hoje não seria diferente, ou seja, nada mudou aqui dentro. Devo comemorar? Estou descobrindo que adoro o cinema romeno. Assistam Algo como a Felicidade. É só poesia sobre a concretude do amor. Se você é boazinha como eu, vai deixar cair uma lágrima. Frase do ano: Eu vim da Bahia, mas algum dia eu ainda volto pra lá. Doces Bárbaros.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Só quero com você.

Apaixonada eu vou mais longe. Pego na sua mão (mesmo que ela não esteja aqui) E vou (vôo).

A invenção da crise.

Por Chauí: 1) Que papel desempenhou a mídia brasileira – especialmente a televisão – na “crise aérea” ? Meu relato já lhe dá uma idéia do que penso. O que mais impressiona é a velocidade com que a mídia determinou as causas do acidente, apontou responsáveis e definiu soluções urgentes e drásticas! Mas acho que vale a pena lembrar o essencial: desde o governo FHC, há o projeto de privatizar a INFRAERO e o acidente da GOL, mais a atitude compreensível de auto-proteção assumida pelos controladores aéreos foi o estopim para iniciar uma campanha focalizando a incompetência governamental, de maneira a transformar numa verdade de fato e de direito a necessidade da privatização. É disso que se trata no plano dos interesses econômicos. No plano político, a invenção da crise aérea simplesmente é mais um episódio do fato da mídia e certos setores oposicionistas não admitirem a legitimidade da reeleição de Lula, vista como ofensa pessoal à competência técnica e política da auto-denominada elite brasileira. É bom a gente não esquecer de uma afirmação paradigmática da mídia e desses setores oposicionistas no dia seguinte às eleições: “o povo votou contra a opinião pública”. Eu acho essa afirmação o mais perfeito auto-retrato da mídia brasileira! Do ponto de vista da operação midiática propriamente dita, é interessante observar que a mídia: a) não dá às greves dos funcionários do INSS a mesma relevância que recebem as ações dos controladores aéreos, embora os efeitos sobre as vidas humanas sejam muito mais graves no primeiro caso do que no segundo. Mas pobre trabalhador nasceu para sofrer e morrer, não é? Já a classe média e a elite... bem, é diferente, não? A dedicação quase religiosa da mídia com os atrasos de aviões chega a ser comovente... b) noticiou o acidente da TAM dando explicações como se fossem favas contadas sobre as causas do acontecimento antes que qualquer informação segura pudesse ser transmitida à população. Primeiro, atribuiu o acidente à pista de Congonhas e à Infraero; depois aos excessos da malha aérea, responsabilizando a ANAC; em seguida, depois de haver deixado bem marcada a responsabilidade do governo, levantou suspeitas sobre o piloto (novato, desconhecia o AIRBUS, errou na velocidade de pouso, etc.); passou como gato sobre brasas acerca da responsabilidade da TAM; fez afirmações sobre a extensão da pista principal de Congonhas como insuficiente, deixando de lado, por exemplo, que a de Santos Dumont e Pampulha são menos extensas; c) estabeleceu ligações entre o acidente da GOL e o da TAM e de ambos com a posição dos controladores aéreos, da ANAC e da INFRAERO, levando a população a identificar fatos diferentes e sem ligação entre si, criando o sentimento de pânico, insegurança, cólera e indignação contra o governo Lula. Esses sentimentos foram aumentados com a foto de Marco Aurélio Garcia e a repetição descontextualizada de frases de Guido Mântega, Marta Suplicy e Lula; d) definiu uma cronologia para a crise aérea dando-lhe um começo no acidente da GOL, quando se sabe que há mais de 15 anos o setor aéreo vem tendo problemas variados; em suma, produziu uma cronologia que faz coincidir os problemas do setor e o governo Lula; e) vem deixando em silêncio a péssima atuação da TAM, que conta em seu passivo com mais de 10 acidentes, desde 1996, três deles ocorridos em Congonhas e um deles em Paris – e não dá para dizer que as condições áreas da França são inadequadas! A supervisão dos aparelhos é feita em menos de 15 minutos; defeitos são considerados sem gravidade e a decolagem autorizada, resultando em retornos quase imediatos ao ponto de partida; os pilotos voam mais tempo do que o recomendado; a rotatividade da mão de obra é intensa; a carga excede o peso permitido (consta que o AIRBUS acidentado estava com excesso de combustível por haver enchido os tanques acima do recomendado porque o combustível é mais barato em Porto Alegre!) etc.; f) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que Congonhas, entre 1986 e 1994, só fazia ponte-aérea e, sem mais essa nem aquela, desde 1995 passou a fazer até operações internacionais. Por que será? Que aconteceu a partir de 1995? g) não dá (e sobretudo não deu nos primeiros dias) nenhuma atenção ao fato de que, desde os anos 1980, a exploração imobiliária (ou o eterno poder das construtoras) verticalizou gigantesca e criminosamente Moema, Indianópolis, Campo Belo e Jabaquara. Quando Erundina foi prefeita, lembro-me da grande quantidade de edifícios projetados para esses bairros e cuja construção foi proibida ou embargada, mas que subiram aos céus sem problema a partir de 1993. Por que? Qual a responsabilidade da Prefeitura e da Câmara Municipal? 2) Como a sra. avalia a reação do Governo Lula à atuação da mídia nesse episódio ? Fraca e decepcionante, como no caso do mensalão. Demorou para se manifestar.Quando o fez, se colocou na defensiva.O que teria sido politicamente eficaz e adequado? Já na primeira hora, entrar em rede nacional de rádio e televisão e expor à população o ocorrido, as providências tomadas e a necessidade de aguardar informações seguras. Todos os dias, no chamado “horário nobre”, entrar em rede nacional de rádio e televisão, expondo as ações do dia não só no tocante ao acidente, mas também com relação às questões aéreas nacionais, além de apresentar novos fatos e novas informações, desmentindo informações incorretas e alertando a população sobre isso. Mobilizar os parlamentares e o PT para uma ação nacional de informação, esclarecimento e refutação imediata de notícias incorretas. 3) Em “Leituras da Crise”, a sra. discute a tentativa do impeachment do Presidente na chamada “crise do mensalão”. Há sra. vê sinais de uma nova tentativa de impeachment ? Sim. Como eu disse acima, a mídia e setores da oposição política ainda estão inconformados com a reeleição de Lula e farão durante o segundo mandato o que fizeram durante o primeiro, isto é, a tentativa contínua de um golpe de Estado. Tentaram desestabilizar o governo usando como arma as ações da Polícia Federal e do Ministério Público e, depois, com o caso Renan (aliás, o governador Requião foi o único que teve a presença de espírito e a coragem política para indagar porque não houve uma CPI contra o presidente FHC, cuja história privada, durante a presidência, se assemelhou muito à de Renan Calheiros). Como nenhuma das duas tentativas funcionou, esperou-se que a “crise aérea” fizesse o serviço. Como isso não vai acontecer, vamos ver qual vai ser a próxima tentativa, pois isso vai ser assim durante quatro anos. 4)No fim de “Simulacro e Poder” a sra. diz: “... essa ideologia opera com a figura do especialista. Os meios de comunicação não só se alimentam dessa figura, mas não cessam de instituí-la como sujeito da comunicação ... Ideologicamente ... o poder da comunicação de massa não é igual ou semelhante ao da antiga ideologia burguesa, que realizava uma inculcação de valores e idéias. Dizendo-nos o que devemos pensar, sentir, falar e fazer, (a comunicação de massa) afirma que nada sabemos e seu poder se realiza como intimidação social e cultural... O que torna possível essa intimidação e a eficácia da operação dos especialistas ... é ... a presença cotidiana ... em todas as esferas da nossa existência ... essa capacidade é a competência suprema, a forma máxima de poder: o de criar realidade. Esse poder é ainda maior (igualando-se ao divino) quando, graças a instrumentos técnico-cientificos, essa realidade é virtual ou a virtualidade é real...” Qual a relação entre esse trecho de “Simulacro e Poder” e o que se passa hoje ? Antes de me referir à questão do virtual, gostaria de enfatizar a figura do especialista competente, isto é, daquele que é supostamente portador de um saber que os demais não possuem e que lhe dá o direito e o poder de mandar, comandar, impor suas idéias e valores e dirigir as consciências e ações dos demais. Como vivemos na chamada “sociedade do conhecimento”, isto é, uma sociedade na qual a ciência e a técnica se tornaram forças produtivas do capital e na qual a posse de conhecimentos ou de informações determina a quantidade e extensão de poder, o especialista tem um poder de intimidação social porque aparece como aquele que possui o conhecimento verdadeiro, enquanto os demais são ignorantes e incompetentes. Do ponto de vista da democracia, essa situação exige o trabalho incessante dos movimentos sociais e populares para afirmar sua competência social e política, reivindicar e defender direitos que assegurem sua validade como cidadãos e como seres humanos, que não podem ser invalidados pela ideologia da competência tecno-científica. E é essa suposta competência que aparece com toda força na produção do virtual. Em “Simulacro e poder” eu me refiro ao virtual produzido pelos novos meios tecnológicos de informação e comunicação, que substituem o espaço e o tempo reais – isto é, da percepção, da vivência individual e coletiva, da geografia e da história – por um espaço e um tempo reduzidos a um única dimensão; o espaço virtual só possui a dimensão do “aqui” (não há o distante e o próximo, o invisível, a diferença) e o tempo virtual só possui a dimensão do “agora” (não há o antes e o depois, o passado e o futuro, o escoamento e o fluxo temporais). Ora, as experiências de espaço e tempo são determinantes de noções como identidade e alteridade, subjetividade e objetividade, causalidade, necessidade, liberdade, finalidade, acaso, contingência, desejo, virtude, vício, etc. Isso significa que as categorias de que dispomos para pensar o mundo deixam de ser operantes quando passamos para o plano do virtual e este substitui a realidade por algo outro, ou uma “realidade” outra, produzida exclusivamente por meios tecnológicos. Como se trata da produção de uma “realidade”, trata-se de um ato de criação, que outrora as religiões atribuíam ao divino e a filosofia atribuía à natureza. Os meios de informação e comunicação julgam ter tomado o lugar dos deuses e da natureza e por isso são onipotentes – ou melhor, acreditam-se onipotentes. Penso que a mídia absorve esse aspecto metafísico das novas tecnologias, o transforma em ideologia e se coloca a si mesma como poder criador de realidade: o mundo é o que está na tela da televisão, do computador ou do celular. A “crise aérea” a partir da encenação espetacularizada da tragédia do acidente do avião da TAM é um caso exemplar de criação de “realidade”.Mas essa onipotência da mídia tem sido contestada socialmente, politicamente e artisticamente: o que se passa hoje no Iraque, a revolta dos jovens franceses de origem africana e oriental, o fracasso do golpe contra Chavez, na Venezuela, a “crise do mensalão” e a “crise aérea”, no Brasil, um livro como “O apanhador de pipas” ou um filme como “Filhos da Esperança” são bons exemplos da contestação dessa onipotência midiática fundada na tecnologia do virtual.