Você que me lê, me ajuda a nascer.

sexta-feira, outubro 29, 2021

Ele.

Ele
Ele é solar e acha que um dia o racismo vai acabar
Ele não raspa os pelos e me enche de beijos
Ele canta músicas e me manda pelo celular
Ele acredita que a gente nunca vai deixar de se amar (eu também).
 
Ele é calmo e doce como o mar
Ele é intenso e envolvente como o mar
E eu amo o mar
Amo o mar e tudo que me lembra o mar
Porque o mar é pedaço da palavra amor virado do avesso
Como ele me virou.

Ele é ele e por ser ele eu quero
Ele é o que eu pensei que não tinha mais no mundo
Ele é água no olho de saudade e de desejo
E também de coragem e aconchego.

Ele é aquele que me pergunta se eu quero
Ele é o que diz que me ama no meio da tempestade (de palavras saindo da minha boca)
Ele diz 'não vou desistir de nada, não"
E me conforta o corpo e o coração.

Ele é um caminho em meio a tantas opções
Mas ele é o único que me faz sentir que estou acompanhada em muitas direções.

O Quebra-Bondes na cidade de Salvador (1930).


 

Amor EaD.

Eu acordo chata para caramba e ele diz

Meu amor, como você está? Eu sinto seu coração apertado daqui. Vou te ligar, espera aí

E liga e fala e conversa e diz e pensa e suspira e canta e escreve eu te amo meu amor lindo. E eu penso, como é que aguenta, gente, a parte de mim mais chata do mundo sou eu EaD. Tem que ter amor, mas sem paciência não vai. Pense numa pessoa que dia sim dia não acorda jururu de saudade (eu menti dizendo que era só final de semana, mas acho que ele já sabe)? Uma saudade que eu sempre quis esquecer de sentir? 

Não gosto de saudade de gente. Fico fingindo que ela não está aqui, aí quando ela aparece eu fico de cara feia. Eu minto que é outra coisa. Não é, é só saudade, só que fica chato contar o quanto ela me toma e me pega e me alcança e me abate e me irrita. 

Eu não sei namorar, eu disse, eu avisei. Mas eu sigo e ele também. Então, tá bom. 

Sintonia: T2.


 

quinta-feira, outubro 28, 2021

Beabá de Afetos: Educação Antirracista e Primeira Infância, Míghian Danae.


 

Resposta.

Eu às vezes me pergunto porque é que as pessoas não respondem. Email, mensagem, ligação, carta ou presença. Eu nem sempre sei, porque nem sempre parece que elas não querem que você não fale com elas. Elas apenas parecem ter certeza que você nunca vai deixar de amá-las, o o que julgo que é algo deveras importante para a auto-estima. Importante para auto-estima, mas não ter resposta faz minguar o amor. 

Faz, sim. Amor é correspondência. Para mim, sim. Não existe aquele amor que se suspira, que se espera, sonhado, imaginado. Isso para mim tem outro nome. Amor é coisa que se pega no cotidiano das coisas, na lida com o tempo e a vida, na presença, na ausência. Amor é correspondência. Amor incondicional também precisa de correspondência, quem não pensa assim, para mim, não entende que romantismo é escola literária, não a vida que se vive, de todos os dias.

Há quem diga que mães e pais amam incondicionalmente, pode até ser, mas na verdade não sei bem o que seria isso, seria amar e não esperar nada em troca? Ora, mas quando eu amo eu não espero, eu só amo porque sou amada, para mim não tem saída. É condição, assim como para estar viva tenho que respirar, o motor do meu amor é o amor da outra pessoa. 

E tenho dito. 

domingo, outubro 24, 2021

A corrida das Vacinas - Mercado Paralelo.

 Aqui o trailer.



Teus olhos em mim.

Hoje é dia de música cantada na voz de Virgínia Rodrigues.

Tira teus olhos de mim
Teus olhos não podem ver
Meus olhos chorando assim
Com medo de te perder

De perder a viagem, a vontade, o tempo, a saudade. De perder o que nem sabemos que temos, pela distância, pelas faltas, pelas ausências. De perder, só perder, porque não é agora. 

Se você não me namora
Nunca mais vou namorar

Mas sabe? Mesmo em dias tristes, a beleza é presente quando se ama. Mesmo que doa, ainda assim, faz viver. Vivamos, então. 



sexta-feira, outubro 22, 2021

quinta-feira, outubro 21, 2021

Cisne, Lívia e Arthur Nestrovsky.


 Quando você percebe como a voz é um instrumento.

quarta-feira, outubro 20, 2021

Pare de me inspirar ao menos um dia, por favor. É difícil ter de lidar com tanto amor

Eu gosto de palavras. Eu amo palavras. Quem diz que falar é fácil, mentiu. Que nada. Falar é muito e quero tudo. Quero palavra, quero ação, melodia, silêncio e reação. Quero tudo, já disso. Tudo mesmo. As palavras são a cama onde a rotina se deita e descansa bem. 

Que venham as palavras desencontradas, estranhas, repetidas, palavras amadas. Aladas. Quem venham todas elas e em mim façam morada. Completamente. 


Crime do eu te amo.

Mandei um áudio eufórica, depois de uma reunião de trabalho muito massa

Será que é crime em algum lugar do mundo dizer eu te amo no meio da tarde?

E ele responde

Você sabe eu adoro essas poéticas assim?

Continuo sem saber se é crime e por isso, continuo fazendo. Tomara seja atenuante amar de verdade e não saber que era crime.


Sabotagem acadêmica.

Todos os semestres, ouço as mesmas coisas.

Eu não consigo estudar

Eu não consigo me concentrar

Eu não consigo ler todos os dias

Eu não vou conseguir escrever esse tanto

E fico pensando porque é que a gente diz assim, porque é que a gente não consegue. Fiquei me perguntando porque muitas vezes procrastinamos de fazer coisas que precisamos, que devemos, que queremos, que são importantes para a gente. Conversando com uma pessoa amada depois de mais uma aula, fiquei pensando que nós não nos achamos que podemos estudar. Separar tempo e espaço para isso parece artigo de luxo, de quem faz parte de outra raça e classe social. A gente não se vê ali, em todos os sentidos. Todo mundo diz isso de teatro de classe média, de restaurante fino e até mesmo da universidade, mas não conseguimos compreender que esse "eu não caibo ali" aparece em todo lugar, não é só nos lugares físicos que a gente não se vê numa sociedade embranquecida. Nossa sabotagem com a gente tem morada também dentro da gente, dentro de casa, com nosso tempo e nossas coisas, é assim que ela passa a fazer parte da nossa vida.

É doloroso, não é mesmo? Perceber que nos dizemos não mesmo quando podemos encontrar um jeito de dizer sim porque nos sentimos aprisionados pelos lugares que não nos cabe, física e psiquicamente. A gente briga com o mundo à vezes para ter o direto a achar que pode, a gente sempre dá um jeito (mas cansa muito) e continua vivo, mas a gente não se permite ordenar muito a vida, porque fazer isso significa pensar sobre isso e pensar sobre algo a que não nos vemos com direito parece... ilegal. Ilegal para nós, pessoas negras que passamos muito tempo da vida ocupando nosso tempo com coisas que nos mandavam fazer ou esperando sermos mandadas. Precisávamos estar ali, mas não para nós, mas sempre esperando ordens. E assim, um dia inteiro de prontidão e cansaço se passava. O que mudou? Me diga você que me lê.

A gente atropela e cansa mais, porque organizar e planejar, sentir prazer nas coisas miúdas sendo feitas na nossa vida acadêmica parece que não é para a gente, não. Aí a gente não quer deixar de ser a gente e não, isso não é a gente, sentar no domingo à noite e organizar uma agenda de estudos para a semana. Isso parece fora de nossa realidade, aí a gente não faz e, ao não fazer, a gente passa a semana se atropelando e "viu, que essa coisa de estudar não é para mim?"

A gente fica brigando com a gente mesmo e só quem ganha não somos nós. A gente pode sim, organizar tempo e espaço para estudar. Isso não é privilégio, é direito. É o que faz dar certo. Não é chique nem nada, é simples e prático, é o que a gente precisa para conseguir o que a gente quer sem sofrimento. A gente pode sim, pensar em tempos de brincar e lazer, porque a gente é pessoa, lembra? 

Não estou dizendo que "ah, é só se organizar e tudo se resolve?". Não mesmo. Eu nem acho que as coisas "se resolvem". Estou falando de uma das muitas dimensões que temos de vencer para conseguir fazer nossas coisas e uma delas é ter a certeza que educação é direito, então eu posso sim organizar meu tempo, pelo menos em alguma medida. Uma amiga perguntou "como uma mãe estuda?" e a gente ficou pensando que não tem como fazer isso sem rede de apoio. Aqui, não estou dizendo que se organizar resolve tudo, mas ter certeza que, sendo mães, podemos estudar, nos faz não nos sentirmos mal quando alguém toma conta da nossa cria ou quando ela fica com o pai. Lembro sempre da minha tia, que quando meu sobrinho era pequeno, deixava ele com o pai, que era separado dela, para sair com as amigas e era execrada pela família. Hoje pai e filho convivem muito bem, apesar de minha tia quase nem ver o ex-marido. Eu estou falando em acreditar que temos direito como um dos princípios para reger nossa vida acadêmica, não como resolução de todos os problemas do mundo.

No final do semestre passado ouvi emocionada uma estudante contando que tinha começado a acordar 20 minutos mais cedo para ler. E um dia, antes do filho acordar, ela se pegou chorando lágrimas grossas em cima do livro pensando que passou tanto tempo se privando de sentir aquele prazer porque achava que não poderia. Ela chorava, mas também ria, porque descobriu que precisava de pouco para se sentir forte e inteira outra vez. 

Por isso, eu repito. A gente PODE, sim. A gente precisa se libertar desse jugo de que temos de passar a vida correndo ou sofrendo. Isso não é de nossa natureza, não, isso se chama opressão. Vamos exercitar liberdade e organizar nossa a partir daquilo que nos traz prazer também. Vamos nos permitir o encontro com a delícia que é a vida, o amor e o prazer. 

II Semana de Pedagogia UNILAB Malês (BA): Sarau da Onça.


 

segunda-feira, outubro 18, 2021

Amora.


Eu sempre achei lindo amora. Sempre. A primeira vez que vi um pé de amora, foi numa escola que trabalhei. Todo mundo conhece a história: eu lá, comendo amora e as crianças me dando cobertura, chega a diretora para reclamar comigo, porque ela já tinha dito que as amoras não deveriam ser colhidas nem comidas no parque da escola. Eu pedi que as crianças me escondessem, mas não deu muito certo. Eu nunca tinha comido amora na vida e nem sabia que ela deixava aquela mancha meio preta na gente. E eu ali, dizendo que não tinha comido nada para a diretora, ela me diz

E essa mancha preta aí na sua bochecha?

As crianças riram, ela fez cara feia e nesse dia as crianças descobriram que a gente tinha um pacto de amizade, afinal, eu também tinha alguém que "mandava em mim". Depois disso, amora ficou sendo uma coisa ainda mais linda na minha vida.
Só que nunca tinham me chamado de amora, não como agora.

Amora amora amora

E aí ontem eu lembrei de tudo que ele sempre me diz e pensei na cor da amora e em como o amor, assim como a amora, mancha e cola e gruda com sua mancha preta a gente inteira, quando a gente se entrega, assim como eu me entreguei naquele dia no parque da escola.
Quero ser a amora de alguém, para amar e marcar, aparecer, manchar tudo de amor preto, eu quero. Quero ter uma amora na minha vida também, para fazer sentir tudo isso na mesma intensidade e as mesmas coisas. 
Eu quero. Você é a amora de alguém? Se você é a amora de alguém, você é a preta dele(a) também. 

Como não amar amora? Como não amar o amor? Como não amar quem te diz amora amor todos os dias como ele faz? Que vida boa que é essa que eu tou vivendo.

Perdas e Danos.


 

quinta-feira, outubro 14, 2021

Primeira poesia.

Essa é a primeira poesia que eu escrevo, fiquei pensando em você e em tudo que você falou e que a gente sentiu

E foi assim, saindo do aeroporto e esperando alguém que me levasse embora que me chegaram as palavras de amor, as palavras trocadas de um corretor (essas também ficaram lindas naquela roupa de poesia que o WhatsApp vestiu quando ele ficou online). 

E quando você não responde como você está, significa que você não quer falar sobre isso?

Eu queria responder sim e não, que quando eu não respondo significa que eu quero que você pergunte de novo, até cansar, até parar de mexer e até sentir vontade de ficar em silêncio olhando fotos e ouvindo áudios das canções que você canta para mim. 

Posso te ligar mais tarde e a gente fala sobre isso?

Pode, até porque, a gente vai usar aliança. Uma pessoa que te dá uma aliança pode ligar para você a qualquer hora.

Se a rua Beale falasse, James Baldwin.

 


Quantas vidas eu tenho de ter para ler todos os livros que me fariam flutuar todos os dias? Esse livro é leve, é love e eu preciso. Eu quero. Eu ainda sinto as palavras dele em mim, percorrendo minha cabeça e chegando ao meu coração, morando na minha certeza de que sim, o amor existe. Existe e é real, para mim, para Tish e Fonny, para quem quer acreditar.
É a natureza das pessoas, diz uma amiga. Tem gente que não vai conseguir, mas tem gente que vai. E é assim que todo mundo acaba indo, vivendo. As crianças tem de nascer, elas tem de nascer, esqueçam a moralidade, as longas conversas sobre o que seria melhor para nós, para as pessoas grávidas, elas tem de nascer, elas não tem saída, nem nós, então as recebam bem, elas já vem aí, elas já estão aqui, desistam de querer explicar, elas vão continuar nascendo e morrendo e vivendo e fim.

James Baldwin

quinta-feira, outubro 07, 2021

Pele eu, pele você.

Queria ser sua pele, para ficar grudado em você. Esse é o tanto que eu tou de saudade de tu

O que dizer quando se lê uma coisa dessa, meio do dia, meio da correria, meio da vida, eu perdidamente apaixonada?

Ele também. Eu me toquei assim, no meio do aeroporto, depois de um voo sacolejante, eu não tou apaixonada, eu tou correspondida. Você entendeu, você me leu?

Eu tou correspondida, porque apaixonada eu sempre fui. Pela vida, pelas crianças, pelo amor, pelo tesão, pelo gozo, desejo, comida. Correspondida é coisa rica, é coisa para quem acredita junto, quem conversa e dorme cedo, quem acorda e diz meu amor minha preta meu bem Migh. Isso é coisa rica, se vem junto com música no violão com uma voz só para você, de Chico Buarque a Zeca Pagodinho (e no meio palavras fofas de carinho doce), fica coisa mais que rica, fica paz. 

Distância.

Quero ficar no teu corpo feito tatuagem não combina com distância. 

Eu não sei o que fazer, eu nunca sei o que fazer. Só estou aqui, quietinha, esperando tudo parar de girar para me levantar novamente e ver que ainda estou aqui. 

Um amigo disse que em Fortaleza todo mundo fala vai dar certo o tempo todo e ele aprendeu isso. Mas ele agora está em São Luís já. Não sei o que ele aprendeu lá, faz pouco tempo que ele chegou. 

Deixa, me deixa, se deixa, nos deixem.

terça-feira, outubro 05, 2021

Pedido.

Quer namorar comigo?

Ele disse, mas eu não acreditei.

Quer namorar comigo?

Ele repetiu, mas ainda acho que está brincando. 

O que eu faço? 


segunda-feira, outubro 04, 2021

O cheiro dele passou por mim e ao mesmo tempo não foi embora, como ele mesmo, como a gente, como a possibilidade de mais do que umas noites regadas a músicas, fumaça e amor. E desejo e tesão. 

O que ficou foi a certeza de que queremos coisas parecidas: ser feliz, amor, amar, beijos miúdos pelo rosto, sorrisos, abraços, carinhos, olhares, intensidade. O que ficou foi o sim, o pedido.

Eu acredito em tudo que tem amor no meio. Paixão à primeira vista, amor, desejo, interesse, vontade, atração. Eu acredito em tudo que tem amor no meio e basta me oferecerem e eu estarei ali, pronta. Disponível.