Você que me lê, me ajuda a nascer.

quinta-feira, dezembro 31, 2009

31 de dezembro de 2009.

Gostando ou não, a gente acaba um monte de coisas quando o ano acaba. A gente programa para não fazer algumas coisas, para fazer um monte de coisas novas, a gente se promete. Mas nunca dá. Por isso, não fico paranóica com projetos para o ano seguinte. Vou devagarzinho vivendo. Acho mesmo que seria ótimo se na noite do dia 31 de dezembro todo mundo ficasse em silêncio, nas suas casas, como nos outros dias. Dormindo, lendo, cozinhando, sei lá, mas em silêncio. Ia ser bem diferente, divertido.

Essa coisa de Ano-Novo põe a gente numa expectativa e tal, acho até gostosa essa sensação que dá de recomeço. Mas ela não pode ser falsa. Muitas vezes é só fogo de palha e aí não tem graça nenhuma. Toda hora a gente pode recomeçar, pode perder e ganhar, desculpa, por favor, licença e obrigada. Tem coisa legal acontecendo o tempo todo, tem coisa que não espera 2010 chegar, sempre tem coisas.

E eu gosto delas.

Fico aqui pensando nele por estar aqui. Essa cidade cheira a saudade. Aí vem saudade de muitas coisas que eu finjo querer muito, até para querer voltar mais depressa. Eu construo os sonhos também, eu minto até para mim, para que pareça bonito querer alguém como quando eu era adolescente, ler poesia, lambreta e cerveja e ele na cachola. Combina mais. Mas ele nunca vai entender, e nem quer, e acho que nem eu, e talvez fim. Talvez exista só para escrever palavras desesperançadas, para mexer as coisas aqui dentro e botar perigo na vida, a gente sempre gosta de um pouco de perigo, aventura e desejo, excitação. Só não entendo por que ele me toma assim, arremata, arrebata. E não me redime. É simplesmente constrangedor esse sentimento. Mas é só para mim. E eu tenho certeza que por isso, nada acontece. Eu nem fico mais ansiosa. Eu fico sem entender só a sensação de que não precisava ser assim, que eu vou conseguir resistir, mas eu venho aqui e ele me toma de novo, e sempre, e mais. E sempre e mais, e nunca é diferente, por mais experiência que eu tenha na vida, por mais historinhas que eu colecione, é sempre a mesma droga de sensação de que poderia. Essa hesitação da angústia, essa poesia do gostar. É mais forte do que eu.

Tento não fazer nada além de pensar e escrever aqui. Mas às vezes, me perdoem, eu não consigo. Tento não estar presente, sair de fininho, sem proposições. Mas, creiam, é difícil. Igual bicho-de-pé de Gena Guimarães em A Cor da Ternura (livro): fica ali, coçando, e quando ele morre a gente sente falta, e quer coçar, é uma coceguinha boa de sentir, e depois, ele está ali, ao meu dispor, minhacoceguinha. Egoísmo? A gente nunca sabe amar mesmo. Desvontades.

Someaparecesomesomesomesomeaparecesorrisomesomesome!

Some... (!)

terça-feira, dezembro 29, 2009

godozinho.

Acabei de receber a ligação de um amigo. Nos veríamos numa praia aqui no interior da BA. Ele me liga e ouço barulho de metrópole. Me assusto. Voltou correndo pra São Paulo, a empresa chamou-o de volta no meio das férias – coisa que para mim só acontecia com executivo ou gente rica –, pagou a passagem dele por que só ele saber fazer uma coisa lá para eles. Ele tava zangado, mas orgulhoso. Imaginei o sorriso escondido nos becos da zanga. Ficamos conversando quando é que enfim iríamos conseguir nos ver. Cruzamos as agendas nos próximos dois meses para saber se enfim teríamos paz.

Aí caímos de lembrar nossa adolescência juntos andando de skate numa cidade pequena no sertão da BA – eu nunca me esqueci o shape que ele destruiu, mas acho que hoje um jantar paga tudo – quanto tempo, quanta coisa mudou. Me emocionei também por que fico pensando no quando somos importantes para a “locomotiva do Brasil”, mas ainda assim, somos vistos por muitas pessoas como micos de auditório – olha lá como ela anda/fala engraçado, baiano é sinônimo de gente brega – e ninguém nem imagina que ainda hoje, 29 de dezembro de 2009, as pessoas nos ligam, nos chamando para trabalhar nessa cidade que não para, não para, não para. Se antes era para construir o prédio, acho que talvez agora seja para fazê-lo funcionar. Mas ainda não nos deixaram em paz.

Esse post é em nossa homenagem, godozinho.

domingo, dezembro 27, 2009

Olha a minha cara descarada.

Estou aqui dentro de casa deitada na rede tomando vento e um bando de homem batucando na rua, cantando assim:
olha a minha cara
a minha cara
descarada
olha a sua cara
a sua cara
descarada
Vez ou outra um faz uma quadrinha
você diz que é malandro
malandro você não é
se você fosse malandro
não apanhava de mulher
Eita vita besta.
O sol na cabeça.
Eu tento fazer alguma coisa além de deitar na rede e ouvir um bando de homens cantando quadrinhas, mas não consigo. Não consigo mesmo.

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Mainha e cinema.

Tava lembrando ontem que dia desses levei mainha para o que os intelectuais chamariam de "a primeira sessão de filme udi-grudi da vida". Foi muito bonitinho vê-la depois da sessão elaborando mil teses sobre o filme, sobre as cenas, os atores e atrizes... uma intelectual de carteirinha minha senhora mainha.
Nem conversou durante o filme.
Chique toda.

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Ter nascido e ser Migh Danae.

(esse post dispensa comentários)

terça-feira, dezembro 22, 2009

Casamento.

Coco Chanel disse: Eu sei que nunca serei esposa de ninguém... mas é que às vezes, me esqueço Mighian diria isso também.

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Chuva e lotações.

Quando eu pego essas lotações lotadas indo para casa de alguém aqui pros lados da Zona Sul eu fico pensando como a gente não desiste. É chuva, gente empurrando, desculpa, licença e obrigada, sorrisos, música alta, tudo. Tem tudo, menos lugar para enfiar o pé e se segurar, você segura no moço da frente com cuidado e vai, o motorista dá mais um tranco e empurra o de trás, devagar a gente chega. E eu fico pensando por que a gente não desiste. Depois, essa chuva toda. Encontro um menino que estava na sala que eu dei aula no começo do ano. Lembro dele, onde mora, conheço sua avó, sei o seu nome. Digo oi bem feliz para ele, beijo sua bochecha. Ele está feliz em me ver, ainda me chama de professora. Pergunto se passou de ano. Ele baixa os olhos e diz que não. Tento me segurar para não chorar na frente dele, abraço e digo, ah, liga não, não desiste, você é jovem, embolo as palavras, não sei o que dizer, queria dizer mais, mas ele continua de cabeça baixa e não me olha mais. Desço a ladeira chorando. Ninguém vai entender, mas fico pensando no que pode acontecer com aquele menino tão tímido e inseguro - lembro-me que ele sempre achava que não ia conseguir fazer nada direito - daqui pra frente. A chuva veio e molhou o rosto. Escondeu as lágrimas.

Pequena Princesa.

Sou eu, com meu asteróide e minha semente de baobá. O amor são umas pessoas. E sementes. Mas a gente sabe que baobá não é só coisa de Pequena Princesa. É força, sabedoria, coisa sagrada. Coisa para casa nova e solidão. (fico devendo foto de minha semente de baobá. O asteróide, ah, o asteróide é o meu mundinho todo)

O Pequeno Príncipe e nossa desleitura.

Entrei na exposição do Pequeno Príncipe (não vou pôr link aqui) achando que não veria muita coisa, e acertei. A moça me disse que eu levaria hora e meia para ver tudo, se fosse rápida. Demorei 10 minutos, se lembro bem. Percorri as coisas todas, não li as frases retiradas do livro, que com as imagens bonitas projetadas nos blocos recortados com as figuras do livro pareciam bem atraentes, mas eu só conseguia pensar no mundo de dinheiro que foi gasto para se fazer uma exposição como essa, talvez valesse mais a pena distribuírem em praça pública o livro para a criançada, não sei não. Eu não sou contra mega-exposições, mas fico pensando que às vezes elas não funcionam para nada... como essa aí. Nem tão bonita ela é, e nem consegue captar metade da graça do livro, que nem tão grosso é, qualquer criança, adolescente ou adulto lê em dois dias. Não quis ficar mais tempo por que me senti traindo o livro, aquele contrato de fantasia que a gente assina quando começa a ler uma história e que essa exposição bota de lado. Mas eu sou rabugenta mesmo e cada dia fico mais. Não liguem para minhas desrecomendações. Crianças pequenas acho que gostam de toda aquela ideia, não sei direito, mas custando 18 reais... bom, deixa pra lá. E foi pensando nisso que eu me peguei pensando no cinema. Como eu estou cada dia mais apaixonada por ele e vendo cada vez menos filmes. Por que estão chatos, por que em São Paulo em certos períodos do ano imperam os filmes franceses, por que eles todos se inspiram em contos ou narrativas já escritas (nada contra total, mas só pode se fazer filme desse jeito??). Fico pensando no último filme que eu vi que não era baseado num livro... e faz tempo... Desvarios.

domingo, dezembro 13, 2009

Vá.

Ed Viggiani.
Meu Olho Esquerdo, exposição do moço na Caixa Cultural, uma das melhores do ano.
Veja texto bom sobre as fotos do moço aqui.

Ruth de Souza e a infância.

Não dá para não chorar junto com ela, Ruth. No livro Ruth de Souza, Estrela Negra (Coleção Aplauso, Ed. Imprensa Oficial), Maria Angela de Jesus escreve Criança de seus dez anos, ela estava na casa de uma das famílias para quem a mãe lavava roupa, fazendo-lhe companhia. Na rua, um vendedor passa oferecendo mangas. - Olha aí, criançada, venha ver manga sem caroço. A dona da casa imediatamente responde: - Aqui não tem criança. Sem compreender, a pequena Ruth pensa: - Mas eu sou criança. Ao reler essa passagem, algum tempo depois, em nosso último dia de trabalho, quando já estamos no processo de revisão final dos originais, seus olhos novamente enchem de lágrimas. Para por alguns instantes e repete, como se fora a menina de 10 anos: "Mas eu sou criança" Fico pensando nisso e em como matamos todos os dias nossas crianças. Quando as ensinamos a ser adultas e quando não aprendemos nós, imbecis que somos, a sermos crianças. A conservarmos em nós o espírito infantil. Infantil hoje é sinônimo de coisa imatura, sem experiência. Pois eu prefiro ser infantil a ser perversa. E adulta. Sim, eu me recuso. Por mais que queiram dizer para mim que as gentes já não tem mais jeito, eu insisto, insisto por mim, pelas crianças, pelos bichos e paisagens: pelas coisas impregnadas de amor, como o único brinco que minha mãe me deu, como um presente ouro negro. Me recuso conscientemente a fazer parte do jogo sujo das adultices, do controle, da mesura, do comportado. Quero e vou sair do sério, fazer careta, gritar bem alto, subir no pé de árvore, deixar que a criança em mim voe e encontre lugares que eu mulher nunca encontrarei, cansada, amargurada, fragmentada, doída. Por que é só pelo amor às crianças que ainda vale a pena continuar lutando. E por mainha, é claro.

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Abacaxi.

Quero uma rua que passe o moço que vende abacaxi. Que amola alicates. Que vende pão doce. Quero uma rua torta, onde os vizinhos se cumprimentem e tenha um senhor de idade sentado à soleira da porta todos os dias. E quando eu passe, quando eu estiver indo trabalhar, que eu diga "boa tarde", e ele desconfiado, demore dois segundos e depois me responda, com um sorriso, "boa tarde". Quero uma casa colorida. Com festa dentro e fora. Quero uma luz, um vinho, uma saída.

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Outros feminismos.

Não, eu não quero. O feminismo que “nasce” com a sociedade capitalista só me trouxe problemas. Prefiro outros feminismos. Aquele da mulher que entende da luta, mas não acha que seu trabalho numa empresa é mais importante que o daquela senhora que ela contrata para ser sua empregada doméstica. Por que agora ela é uma “mulher independente” e não pode mais ocupar-se das “tarefas de casa”.

Ora, mas de que casa a gente está falando? Da casa dela! Se a casa é dela, as tarefas deveriam ser também, não? Pois sim, esse feminismo de araque só serve para que a máquina do capetalismo continue funcionando a todo vapor, e desse eu não gosto.

Fico bufando de raiva contra essa mulher que nasce com o capetal que se acha “a” gostosona e não sabe que os homens adoram o feminismo, contanto que dê mais lucro para eles! Ainda bem que existem outros feminismos.

O que não se divide pela classe social. O que entende que ser mulher não é trabalhar fora, cuidar da casa, dos filhos e do filho grande que é o marido – que dá mais trabalho por que já vem criado por outra mulher e cheio dos costumes demora mais a entrar no jeito. Se ser mulher é isso aí, desisto de tudo e vou-me embora. Se antes já fazíamos muito, cuidando da casa e das crianças e do marido, agora para ser mulher tem que trabalhar! E tem mulher que se gaba, acha mesmo que é isso aí, sua função é ser multi. Não pode ter tempo pro não fazer nada, acordar tarde e pensar na vida: ser mulher é ser tudo que era antes, com mais algumas qualidades: prover a casa e não fazer cara feia na hora do vamos ver. Entre a cruz e a caldeirinha, pulo fora e tomo banho de água fria.

Pior ainda é se as mulheres negras, historicamente já vistas como empregadas de forno e fogão, entrarem nessa paranóia e acharem que para ser mulher no século 21 precisa passar por essa bateria de exames. Entrarem nessa loucura de quererem ser “as melhores”: e as melhores, nesse caso, só alimentam a chama do capetalismo.

Ser mulher é respeitar seu corpo. Seu tempo. Seu compasso. Ser mulher é isso. É ser.

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Mudança.

Lembro que no dia que saí da casa de Dona Noi, ela levou-me até a casa onde eu iria morar e disse pra moça assim: cuida bem dela, minha fia. migh é moça boa de viver, quem não vive com ela, não vive com mais ninguém Apego-me a essas palavras para ter certeza de que eu não sou uma pessoa ruim. Sonhei com barranco, água e avião. Dona Noi disse que é morte na certa. De gente que eu conheço, gosto. Sei lá. Abri a internet e vi que morreu Lombardi. Eu não gostava dele.

terça-feira, dezembro 01, 2009

Gravidez.

Foto de Adriano Mello para a campanha África em Nós. Dela eu não sei nada.
Só sei que é linda e despretensiosa.
Em tempos de dureza, a gente se encanta com as coisas bonitas que a gente topa pela frente.

sábado, novembro 28, 2009

Sábado.

Estou sem ideias, mas às vezes não quero escrever mesmo. Tem dias que eu quero escrever e não escrevo. E agora sem vontade, estou aqui. Enquanto espero um email terminar de completar seu arquivo, ouço uma música e penso que não gostei de saber que o Ilê vai fazer um bloco alternativo. Que não gostei mesmo. Mas tem coisas que gosto. Como exposição de fotografia. E ainda, o cinema. Estou vendo Ladrões de Bicicleta pela primeira vez. É um bom filme. Eu não consigo parar de ver nem quero que ele acabe, assisto aos pedacinhos e fico voltando, como na hora que o menininho fala com o pai que caiu no chão. O menino tem mais força que o pai o filme todo. Ele fala pouco e manda em tudo. As crianças é que salvam o mundo. Mas eu ainda acho que isso pode ser ruim. Pra elas, decerto, não pra nós. Como uma criança que vira e diz pra mãe o que ela deve fazer, não jogar lixo no chão e etc. Isso deve bagunçar a cabeça dela, mas tudo bem também. Ou não.

sexta-feira, novembro 27, 2009

Horário de Verão.

Mainha me liga de manhã cedo, me acordando.
Ainda bem que em Salvador não tem horário de verão.
Eu amo 'ssa muié.

quarta-feira, novembro 18, 2009

Família.

Você tem uma foto de família bunitona como essa???

domingo, novembro 15, 2009

Declaração de Amor.

Às vezes as mulheres acreditam mais nas mentiras que os homens contam do que eles mesmos. Mas não é difícil ser mulher – eu mesma se voltasse, gostaria de voltar mulher todas as vezes para esse mundo, ou então queria voltar cavalo-marinho. É difícil viver, com todas as coisas que a vida tem. E se é difícil para mulher, é também para o homem, que fica muitas vezes esperando a mulher quebrar tudo para vir atrás segurando os cacos. Talvez eles pensem que não podem dar a cara pra bater, por conta da sociedade machista e todo aquele papo que a gente conhece. É quase uma súplica masculina, venham, nos ajudem, comecem a revolução sexual, sem vocês não conseguiremos. Fogo é que tem horas que cansa demais. Por que na história, as honras vão sempre para eles, não importa o que se faça. Quando se escreve o nome de uma mulher ali, todo mundo fica admirado e agradece com algo que deveria ser, por si só, regra. Quer um exemplo? Eu sempre achei que gostava tanto de ler por causa de meu pai. Só de meu pai. Pensava assim quando queria imaginar que com tudo de feio que ele fez com a gente, tinha algo do que me orgulhar. Mas mainha me contou esse fim de semana que na verdade, ele tinha parado de estudar e ela, para incentivá-lo, matriculou-o na escola novamente e começou a estimulá-lo à leitura quando percebeu que era um caminho possível para educação dele, já que não era muito chegado a educação formal. Meu pai se apaixonou pelos livros, isso é verdade. Mainha já não lia tanto, ocupada que estava com os afazeres domésticos e com a gente. Afinal, ela também precisava ensinar-nos a aprender. Todo mundo aqui em casa é meio fanático por leitura, e até meu irmão, que não gostava muito de escola também – desconfio, pelas conversas que tive com ele, que achava que os professores subestimavam os alunos e por isso, ele foi perdendo o interesse. Gostava apenas de um ou dois professores que realmente davam aula – lia bastante para um garoto de 18 anos. E é justamente isso que me preocupa: quantas e quantas mulheres já nao leem mais tanto por conta de outros afazeres e a história “esquece” de contar o quanto elas foram importantes para a compreensão que se tem do mundo? São fraquezas, mas é também por que este mundo em que vivemos é moldado em bases masculinas e portanto, o homem não precisa, quando as letrinhas do filme sobem, dar créditos às mulheres – fico aqui pensando nos homens que fazem isso publicamente para muitas vezes receberem elogios e suspiros de mulheres presentes, mas no dia-a-dia, não mudam suas práticas machistas. Essa coisa de ler foi e é fundamental para minha vida. Hoje as pessoas ficam meio admiradas com o fato deu conseguir escrever bastante em pouco tempo, digo, em momentos onde preciso fazer um pequeno texto ou um resumo – um curso de formação, por exemplo. Isso veio da observação do mundo à minha volta, veio da leitura, veio da escrita – mainha achava o máximo a gente ter diário e escrever tudo sobre a nossa vida pessoal neles, e para mim escrever diários foram grandes estímulos para a organização do pensamento . Fui perguntando para mainha por que isso de estudar tanto. Ela acabou me contando uma outra história. Uma tal de tia Amália, na década de 60, interior da Bahia, na roça do Berimbau, para ser mais exata. Essa história eu conto depois. É dureza posicionar-se contra o machismo, pois como tudo na vida ele se metamorfoseia e comparece de outros modos e maneiras. Se antes o homem sentia-se ameaçado quando as mulheres trabalhavam em subempregos e o machismo teve de ser combatido com outras armas, hoje as mulheres, que estão disputando os espaços de poder se sentem compelidas a “cederem” aqui e ali para aqueles “colegas” de trabalho – “estamos todos no mesmo barco”, eles dizem, mas você sente que não quando esses mesmos colegas não poupam adjetivos para qualificar (ou desqualificar) mulheres em geral – “não é com você, veja bem, mas a chefe de tal seção é realmente uma piranha”; se não cedermos, vai parecer que estamos sempre em guerra contra tudo e contra todos, e aí, já sabe, os homens inventaram também um modo de desqualificar as mulheres que assim se comportam: “ela é mal-amada, faz tempo que não transa com ninguém, deixa ela”. Na hora do vamos ver, os homens apelam e justificam suas atitudes por conta das mulheres que são agentes do racismo – ah, mas se a gente não come a gente é viado, mulher gosta de homem safado, etc – e esquecem de balizar suas práticas em respeito às mães que os criaram muitas vezes sozinhos, em respeito àquelas mulheres que encontraram na vida e que lhes mostraram que as coisas só podem funcionar se estivermos junt@s, deixando de lado as picuinhas e desavenças pequenitas. Eu só queria escrever isso tudo por que eu me perguntava muitas vezes por que fiquei tanto tempo sozinha. E agora mais do que antes, mais do que nunca, entendi que era justamente por não ter encontrado um interlocutor com quem eu pudesse conversar sobre tudo isso de maneira inteligente, por não encontrar alguém que soubesse que a luta feminista (polifônica em sua construção social, vamos entender. Não há uma luta feminista, mas lutas, e feminismos) não é besteirada de mulher mal-amada, que não fosse dormir de cara feia depois de cada discussão acalorada sobre o que é ser mulher. Ainda bem que enfim, encontrei. Essa coisa toda que escrevi é, na verdade, uma declaração de amor.

sábado, novembro 14, 2009

Acarajé.

Acarajé todo dia.
Sentar ali e ficar vendo a vida dos outros.
É boa coisa.
Praia todo dia.
Nem que seja só um tiquinho.
Enterrar os dedos na areia da praia do Canal - minha praia e pôr-do-sol bonito por que desconhecido.

terça-feira, novembro 10, 2009

Futuro.

As crianças não são o futuro. Elas existem. São o presente. Um presente. No futuro, se a gente não cuidar rápido disso, vão se tornar adultos chatos como a maioria de nós. Por isso, criança é presente.

domingo, novembro 08, 2009

Chore a chuva.

Já fez isso, ouvir Jairzinho cantando choreachuva e a chuva chovendo? E aí quando ele completa choroqueassimeunãochorosónão é que eu desabo.
Tem gente que sabe contar histórias como ninguém. Eu só queria ficar ali escutando e perguntando mais para não acabar a conversa.

quinta-feira, novembro 05, 2009

Arruda.

Trouxe de Salvador, mainha pegou na barraca de Rose, que faz pouco tempo, perdeu a mãe. Olha pra mim com cara triste e diz
é sua mãe, né, nega, aproveite, vu?
Fiquei sem ter o que falar, mainha emendou conversa, roubou arruda. Arruda ainda aqui, cheiro espalhado no quarto. Mainha em Salvador.
Rosa, tristeza.

Besouro?

É uma pena.
Locação linda, muita grana desperdiçada. Gente bonita e inteligente, câmera frouxa e textos sem tesão. Tem coisa boa? Tem sim, mas é pouco demais para honrar Besouro e sua história, o Recôncavo e a beleza. Quem lê aqui sabe que eu não quero mais ficar falando de filme. Mas ontem o Besouro me deixou meio deprimida.
Fiquei pensando em mim, no povo preto, na minha vida. Não consegui dormir direito, emendei o filme do Denzel, O Grande Debate, consegui um pouquinho de sono no fim da madrugada.

domingo, novembro 01, 2009

Pessoas e caixas.

Sou metódica toda com sentimentos, emoções, coisas e pessoas. tudojunto. Não sei onde pôr alguém que vai-e-vem, vagueia na minha vida para lá e cá, mas eu quero, eu quero essa sensação pra mim, quero roubar esse instante bonito de vida, quero viver pra sempre o momento da pergunta, da dúvida e do suspiro, sei que não dá pra fazer isso, mas quero-quero e não deixo que ele vá embora, pergunto, duvido, chamo, reclamo, sorrio, mas não quero perder, mesmo não tendo uma caixa pra colocar as coisas dele que estão na minha cabeça eu preciso dele para continuar acreditando. e.fim.

quarta-feira, outubro 28, 2009

Epifania.

O segredo. Hoje eu tive uma epifania. Sons vindos não sei de onde. Não me pergunte o que é. Nem eu sei (só queria usar a palavra).

segunda-feira, outubro 26, 2009

Aniversário.

Quem me conhece sabe que eu adoro número ímpar.
Vou fazer 29, e, pela primeira vez, me peguei fazendo lista de presentes.
Nunca liguei pra presente, mas esse ano, defini presente assim: "tudo aquilo que você quer, mas acha supérfluo demais para comprar". Mas, contraditoriamente, na minha lista - que só vai ser feita, nunca divulgada - só tem coisa pra usar, nada de supérfluo.
É que na verdade, só descobri agora, faz bem saber aquilo que você gosta. De ganhar, de comprar, de ter, de perder.

É isso.

Balancê.

Procurem Sara Tavares. E sejam felizes.
Você tem alguma mandinga para seguir vivendo? Quando as coisas parecem não ter muito sentido, no que mais você se apega para continuar?
Sorriso de criança?
História de avó?
Medo de trovão?
Sempre alguma coisa que faz a gente perceber que somos pequeninos. Dá pra entender?
Talvez na insignificância das coisas, more o estar bem.

sábado, outubro 24, 2009

Sara Tavares.

Quando você pensa que não tem mais saída, encontra Sara Tavares - por causa de um amigo. Aí você acorda, sorri, mais um dia, é possível. Qualquer coisa dela é maravilhoso. Algumas coisas que ela canta e como canta me lembra Salvador, uma Salvador que não me sai do pensamento. Que nem sei se existe mais, mas era a Salvador dos meus 10 anos voltando da escola o sol na cabeça, olhando as pessoas na rua, chupando manga, essa sensação. As sensações te perseguem? A mim sim, e tem coisas que eu nem quero e nem gosto mais, mas gosto da sensação de. Como quando alguém volta querendo ser amigo e você nem quer, mas você gostava do jeito que ele sorria com o canto da boca, como mexia a orelha ou te fazia rir caindo da cadeira, daquele jeito e aquela sensação ninguém mais consegue fazer, e você quer, mas esquece que com a sensação vem um monte de coisas-pra-fazer, responsabilidades... mas você não quer mais nada, só reviver as boas conversas, e quer esquecer que a outra pessoa pode pensar que é um novo começo... e começa.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Senhorinhas.

Escrevinhando no computadô e ouvindo Ben Harper dizer umas coisas em inglês mas que dá pra todo mundo que sabe dizer "i'm fine" entender eu me sinto bem. Levanto, desligo o cd', ponho um disco para dançar, eu me sinto bem.
Ontem eu estava num ônibus ouvindo uma senhora conversar, como eu gosto das senhorinhas, eu me divirto com elas e elas comigo, a gente se entende, acho que no fundo eu sou uma senhorinha também, por isso que gosto de passear com mainha de braço dado vendo os preços das coisas nas lojas, sem comprar nada. Tem loja que eu não entro, mas é só de birra, leva tempo mas eu descobri que todo mundo tem o seu jeito de enfrentar as coisas do mundo, tem seu jeito de organizar as dores, ou para não doer, inventa um jeito, todo mundo faz isso e eu não sou diferente, por que sou eu e sou todo mundo o tempo todo.
Mas eu tava dizendo da senhorinha, eu adoro essas senhorinhas que sentam e começam a conversar com você sobre a vida delas e ficam dando conselhos sobre coisas que nem conhecem direito, você fala metade da frase e ela diz que já viveu aquilo, eu acho graça e continuo falando, ela ouve sim, e no final tudo que ela fala se aproveita, eu gosto mesmo daquela hora que eu levanto e ela fala vai com deus, acho bonito, essa senhorinha falou deus te acompanhe pra lá, por que ela ia pra outro canto, eu ia descer antes e ia pra lá, pra outro lugar.

quinta-feira, outubro 22, 2009

Mostra, amostra.

É caro, tem jeito de gente cult-chata, mas eu não resisto, eu vou. Com o canto do olho olho a lista de filmes e fico louquinha. 33ª Mostra Internacional de Cinema Fiquei aqui lembrando da primeira Mostra, quatro anos atrás. Eu já estava já dois anos em São Paulo - cheguei em outubro de 2003, mas nunca tinha ouvido falar dela! Também, eu não habitava o quadrilátero "augusta-consolação-paulista-e mais qual você quiser", então seria difícil saber de alguma coisa mesmo. Mas me apaixonei de cara e viciei. Todo ano guardava pelo menos duas folgas no trabalho para ir à Mostra. Não é que as coisas mudaram, agora eu só finjo que não ligo tanto. Ontem, caminhando por ali, fiz o que mais gosto, que é olhar as pessoas que vão e vem com crachás da Mostra, camiseta, material, pessoas que você nem pensa que é tão viciado quanto você. Mas como todo mundo sabe, todo evento de luxo é patrocinado com dinheiro público e por isso irrita pagar 18 reais por cada ingresso.

Mulher solteira procura.

Casa ou kitinete para alugar na região do Butantan (gosto mais de Butantan que Butantã), meio mobiliada, com azulejos claros e lugar por onde passe a luz do sol. Vizinhança agradável e que não me deixe completamente só.

sexta-feira, outubro 16, 2009

Angela Davis.

Angela Davis, ontem e hoje.
Não reclamem. Estou escrevendo pouco. Mas é que tem tanta coisa boa que já foi escrita que fico com uma preguiiiça. Hoje vou só falar de Angela. Amanhã posto mais uma mulé retada.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Denis Sena, o menino que fez estrelas na minha calça branca.

quarta-feira, outubro 07, 2009

avemaria.

É tanta coisa acontecendo, dá nem tempo. Ontem Les Nubians, amanhã voo, sábado cinema com mainha e domingo samba de roda. Eita vida besta. Segunda? Dia de praia que eu não conheço ainda, do lado da Praia do Canal. Itapoan City, meu lugar. Toda vez que alguém novo me diz que lê o blog, eu abro a página como se fosse a primeira vez. Fico tentando imaginar o que pensam de mim e o que eu pareço ser, o que eu quero que pensem e o que eu confirmo com essas letras. Ainda não sei. Mas é sensação boa de criança, ver o mesmo mundo com outros olhos. Como ele que me diz é mesmo? noooossa, caramba! Como se ainda se assustasse com as dores. Ele é um homem, minha gente, mas é uma pessoa que me faz feliz. Conseguiram, enfim.

sexta-feira, setembro 25, 2009

Amigos.

Há amigos velhos e velhos amigos.
Serve tudo.
Mas existem amigos novos que parecem-se com velhos amigos quando te olham e calmamente suspiram querendo te dizer
não, não tem jeito, nem caindo se aprende
E como ele é um amigo novo com jeito de velho amigo, não posso refutar. Ouço João Borba com samba de Jorge Costa dizendo
só vai na onda quem sabe nadar
E vejo que quem não gosta de samba, é realmente ruim da cabeça. Quem ouve samba, sabe tudo, e não dança.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Novela.

Próxima Novela das onze e quarenta e cinco:
Migh, a Tola.
Numa vida real bem pertinho de você.

Morte.

quando tu morre, fica só os retrato Disse o moço, sentado no ônibus do meu lado. Sorri. Ele tinha medo da morte. Eu fingia que não. Dava risada da cara de medo dele quando eu dizia que a morte vinha pra todo mundo. Mas a verdade é que depois que tanta aconteceu eu não tenho medo de quase nada. Só de dormir.

quarta-feira, setembro 23, 2009

Passista.

Ela traz samba dentro dos olhos Um acorde perdido pelos morros No coração swing e cadência Ritimicado e sem falha Abandonei revólver e navalha Pra adormecê no seu batuque Minha preta.

(Akins Kinte)

terça-feira, setembro 22, 2009

Racismo.

professora, não é que é racismo se eu chamo alguém de preto? depende, depende de como você usa o termo Levanta uma outra criança e diz se você me xingar de preto, posso te processar por que isso é racismo, mas se você me chama de pretinho, depende, né? E vira pra mim: mas ele nem pode me xingar de preto, né professora, ele também é, não é?

Eu canto.

Não resisti quando vi essa menina preta Roubei pra mim. Lembrei quando mainha penteava meu cabelo pra ir à escola e eu ainda nem sabia que ia precisar usar óculos, precisava sentar bem na frente e minhas colegas lá do fundo reclamavam do meu cabelo, davam risada dos meus pompons. E eu tinha - ou tenho? - um narizinho assim, mainha falava que era narizinho que o boi amassou Não sei de onde ela tirava essas coisas. Mas ela é mãe, não precisa se explicar. Liiiindo.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Tudo bem.

Faça o teste. Quando alguém perguntar tudo bem, aproveite pra dizer não tá não, para ver só o que acontece.
A pessoa se senta, faz cara de preocupada, te pergunta o que aconteceu, fica triste, compadece. Chama outras pessoas pra ouvir, dá dó. Mas se tu responde tudo bem, não dá ibope. E parece que as pessoas se preocupam mais, por que ser feliz não tem graça, é isso, né, ela tá feliz, ah, deixa ela pra lá, que droga, né? Nem tem nadinha assim pra gente sapatear em cima.
A desgraça vende mais. Tanto é que um dia desses saiu uma manchete de capa boa no jornal e eu guardei, se tivesse câmera tirava foto e botava aqui. Falava assim
emprego aumentou pra caramba
Fiquei boquiaberta de feliz. Mas não vende. Eu também acho graça quando noticiam
a popularidade de lula cai de 76,8 por cento para 72,4 por cento
Vejam vocês, nenhum presidente teve tanta popularidade, e todo mundo torce o nariz pra esses tais "institutos de pesquisa", mas mesmo assim gasta-se dinheiro fazendo uma matéria dessa. Como diz minha mãe
o errado é que tá certo
Tem amiga que diz pra mim, quando perguntarem, não diga tudobem assim rapidinho, faz cara de tristeza, fala um tudo bem doído, pra não secar nada. Eu tou fugindo dessas coisas.
Ópaí, ó.

Mãe Hilda Jitolu.

Foto extraída do site Ilê Aiyê
O grupo cultural Ilê Aiyê está de luto. Faleceu, hoje, às 10h30, sua líder espiritual, Mãe Hilda Jitolu.

domingo, setembro 20, 2009

Wynton Marsalis Assistam e sejam felizes, assim como eu e o menininho preto.

Tristesse.

Tem tanta coisa triste acontecendo e eu fico triste pensando na tristeza dos outros, mas esqueço que aqui do lado também tem coisa a ser feita.
Então, só por um momento, vou pensar em mim.
Queria que esse tempo durasse mais, mas volta e meia fico pensando no que ela tá sentindo e se minha dor vale a pena.
Deixa tudo isso pra lá.
Não quero falar mais.

quinta-feira, setembro 17, 2009

Questão.

Na hora de contar uma história do livro de Rogério Andrade Barbosa, Histórias Africanas para contar e recontar, a criança me diz quando vê ilustração Na África todo mundo é preto E eu falo E na Europa tem muito branco Aí ele me faz a questão, como dizia minha vó E por que aqui no Brasil a gente tem um bocado de cor assim, professora? Quer saber o que eu respondi? Não vou dizer. Mas o que você responderia? Aproveitando falar de livros, o livro Neguinho Aí, de autoria de um tal Luís Pimentel, merece ser retirado das livrarias, sob acusação de racismo. Já na contracapa, ele diz: neguinho aí é qualquer criança pobre, independente da cor Engraçado, né? Se é tão independente da cor, por que o livro não poderia ser Branquinho aí, para falar das crianças pobres? Pra não dizer do resto, texto e ilustração (blé!) Vou ver o que consigo fazer contra.

segunda-feira, setembro 14, 2009

Chuva.

Lá fora está chovendo, e ainda bem que eu não preciso ir correndo pra ver meu amor passar.
Ele ainda dorme.

domingo, setembro 13, 2009

Nostalgia.

a saudade mata a gente a saudade é dor pungente Música cantada por Bethânia, não sei quem escreveu, não quero procurar. Por que eu tava num samba semana passada e o moço perguntou isso mesmo, de quem é a música, de quem escreve, de quem canta e ele disse é de quem ouve. Recebi um email lindo de amor e de amizade hoje cedo, então eu sou feliz. Incrível como algumas pessoas, mesmo sem te conhecer, falam coisas sobre você que você também acha, mas fica com medo de dizer il m'a semblé que ta fréquentation assidue des salles de cinéma démontrait un besoin impérieux de te sortir de ta vie quotidienne. J'ai probablement dû être un "petit" moyen d'évasion pour toi É isso aí tudo mesmo. Eu acho que há muita descoragem no mundo. De descor mesmo, de descorajosas pessoas também. É um dia bonito demais para se dizer isso. Tem sol. Mas é preciso ter coragem. Pelo menos um pouco, todos os dias, ao se levantar pela manhã. Malfada com seu pouco tempo de vida acordava e às vezes não queria pôr os pés no chão, no mundo. As crianças, as baratas e as mães é que salvarão o mundo.

sexta-feira, setembro 11, 2009

De novo.

É bom mudar. Eu acho, né?
A mocinha veio toda esperta me contar que ela não ia mais com o transporte da escola, pai e mãe sem dinheiro para pagar a mensalidade. Mas ela arrematou
mas eu gosto mais assim, não gosto de ir de perua pra casa, agora minha mãe e meu pai tem que vir me buscar, eles não gostam, mas eu gosto mais de ir com eles, por que eu quase não vejo eles
E hoje, quando ela chegou, na moto do pai e com o sorriso largo, entendi o que ela queria dizer. É a mesma mocinha que no meio da tarde senta quietinha no canto e eu pergunto por que e ela diz
fiquei com saudade da minha irmã Bibi
É pra isso mesmo que a gente vive.

Malcolm X.

Eu também posso ser tiete, né? Mas só um pouquinho. Além de lindo, inteligente. Sensível e bem-humorado? Não dá pra ter certeza, mas eu finjo que posso ver isso por detrás das lentes e suspiro, suspiro. Candidatos a namorado de Migh não precisam ter ciúmes de mais ninguém. Ninguém.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Chora não.

Tava eu aqui querendo consolo quando uma moça preta amiga de tempos mas mais de online mandou essa: chora não, num chora pelo que tu nunca teve, fia Limpei as lágrimas, nem chorei. Ela tá mais que certa e me fez lembrar que deve ser por isso também que o povo preto num chora. Nunca teve piedade pra pensar em chorar por ela. Por isso fez mais bonito e me dá mais orgulho ainda. Essa moça preta. Eita.

terça-feira, setembro 01, 2009

Não é bem assim.

Quando você olha pra trás e vê que não foi bem assim, dá tristeza. E dá preguiça de começar de novo. O que é bom de fazer? Deitar na cama e esperar a vontade de chorar passar. Faz tudo de novo, quem sabe? É uma briga com seu coração. Amadurecer.

quinta-feira, agosto 27, 2009

Ali.

Eu converso com as pessoas só pra roubar as palavras delas.
pêndulo
primazia
eu-nós
calor da hora
resumida-mente (dito à boca pequena)
ma petit (o francês)
prospectiva
propedêutico
honraria
Saiam de baixo, eu cheguei.
E falando com mainha, disse do medo de pensarem que eu fiquei esnobe. E ela me acalmou dizendo
não se preocupe se disserem filha, você sabe, você não é
Aquietei então.
E é ele ali, te dizendo oi. Você quer ir embora, mas não consegue dizer não, por causa do passado, que teve vinho e foi bom. Alguém talvez te espere numa outra estação, mas você não consegue subir no trem, fica ali parada.
Uma, duas estações.
Vai ser sempre assim?
As pessoas sempre voltam?

quinta-feira, agosto 13, 2009

Cantada em Olinda.

Michal e Chris.

Meu primo de cinco anos me pede
Põe o clip do Michael aí
E eu quero ver Chris Brown, ele diz
Mas Michael é melhor, põe aí
Eu digo que
Mas sabe que esse cara imita ele?
Ele diz
Se imita, melhor ver Michael né?
Né.

Tem-po.

Na verdade, eu deveria escrever mais aqui. Mas é que... bem... acontecem tantas e tantas coisas que tem tanto e tanto sentido, chego em casa correndo e quero escrever aqui - eu já disse isso, eu sempre escrevo isso aqui, parece mea-culpa -, mas quando abro a tela fico olhando e mordendo o lábio, pensando que não vou conseguir, mais um vez, escrever como foram as coisas todas.
Como ir no parque e passar o domingo namorando. E fazer joguinhos do tipo complete a frase "eu me sinto..."
Como ouvir crianças sorrindo. Como vê-las sorrindo.
Como ler Negras Raízes e chorar.
Como entrar no Outback e procurar uma atendente negra e não encontrar e ficar triste com isso.
Como ouvir uma senhora negra no trem falando da situação da Palestina.
Como ver a mãe feliz de cinco filhos.
São essas coisas todas que me fazem, pessoas que perdem a graça também me fazem pensar e querer viver mais, odiar a palavra inveja, ouvir música que dizem ser ruim e não conseguir parar de ouvir. Fico sempre achando que ninguém vai querer ler isso, mas fico me sentindo mal por não escrever mais e sempre, poesias, histórias, coisas assim bonitas, talvez eu esteja me dedicando a outras coisas e pessoas e falando poesia por aí, mas eu penso em escrever e acho que nada nada está a altura do blog. Como agora.
Vou tentar, eu juro.

sábado, agosto 08, 2009

Biquíni.

Ele não sabe nada. Não sabe amarrar biquíni, não sabe cantar nenhuma música direito, não sabe fingir as coisas, não mente para os parentes, não acorda cedo nem toma banho rápido.
Mas me ama como se fosse a última coisa que quisesse aprender.

Mainha e futebol.

Vou te explicar por que mainha é especial: só ela sabe de cor os nomes dos estádios de Recife e João Pessoa, sem pesquisar no google ou pescar no jornal da semana.
Ah, Arrudão e Almeidão. Nessa ordem.
Só ela usa o verbo locupletar no meio da frase, assim, do nada.
Só ela fala latim no meio da conversa, assim, do nada.
sine qua non
pari passu
Essa coisas eu ouço desde muito pequena. Deve ter ativado parte do meu cérebro e aí me tornei assim inteligente. Ehe.

Futebol.

Não reclame se o moço gosta de um futebol danado. Se ele joga todo fim de semana. É bom. Já vistes? Futebol faz homem fazer várias coisas ao mesmo tempo, coisa que eles sempre reclamam de não conseguirem ao longo da vida. Pensem que Ronaldo é Ronaldo simplesmente por que ele consegue antever a possibilidade de um gol, e isso é coisa que só um homem que pensou e correu - pro canto certo, olha ele lá, gol - pode fazer.
Jogar futebol ajuda muito, os moços acabam aprendendo a se desdobrar na vida. E isso é mais do que importante. Quando passarem alguns anos de namoro, você vai entender mais.

segunda-feira, julho 13, 2009

Um sol amarelo.

Dia 03 de julho a amiga fez aniversário. Vocês podem até pensar que eu esqueci de escrever aqui, mas a verdade é que mais importante do que ser amiga da moça no dia 3 de julho, bonito foi vê-la boba com o presente que uma outra amiga ofertou no dia 5 de julho. Uma caixa de lápis de cor. 48 cores. Não sei quantas pessoas aqui já sofreram com isso, mas a verdade é que na minha infância - e na infância das três amigas em comum - ter uma caixa de lápis de cor com 48 cores era coisa impensada. Eu sempre ganhava caixa de lápis com seis ou doze cores, que deveriam ser divididas com minha irmã, criança também. No teatro, entre uma apresentação e outra, ela abria a caixa e olhava os lápis, depois lia os nomes das cores na caixa dourado, canela, prateado, grená Eu nunca soube o que era grená, e cada uma das amigas falava o que achava que grená era. Eu achava que era cinza. A outra me disse que era tipo um vermelho. A verdade é que eu sempre cantei a música, mas nunca sabia no que é que ia dar rosa e grená. A irmã da amiga que deu o presente na hora chorou, e chorou mais quando ela disse o mundo não tem só seis cores Coisa pra durão nenhum conseguir ficar sem se emocionar. A coisa toda é que a pequetitica que ouvia a história, menina preta que já conhece lápis de cor um tantão assim, sobrinha da amiga, fazia cara de que não entendia o motivo do chororô. De outra geração, ela não teve esse problema. Ainda bem. Teremos enfim, crianças e futuros mais coloridos.

terça-feira, julho 07, 2009

São Paulo é isso.

São Paulo I:
Na escola de natação, precisaram trocar a água da piscina. 180 mil litros. Ligaram para a SABESP, companhia de água paulistana. Queriam doar a água para lavar a rua, para fazer qualquer coisa, tratando sempre dá. Avisaram que não tinham caminhão-pipa disponível. O jeito foi ir jogando a água fora durante uma semana, durante a noite.
São Paulo II:
Hoje, se você morar num bairro que dista 45 minutos da Paulista, ou até menos, pode ficar sem ter como solicitar internet banda larga. Com a Telefonica sob vigilância da ANATEL (tu sabia, Telefonica não pode vender speedy enquanto não se resolver com a ANATEL, isso Jornal Nacional não fala direito, só do preço do caixão de seu Michael) e a NET sem cobrir a maior parte da cidade, periga de tu ficar sem ter como acessar internet rápida.
São Paulo III:
Espaço Unibanco, sábado, Rua Augusta. O filme dá um "tilte", digital. A maior graça era ver o "maquinista" da coisa toda indo para trás e para frente no filme e as pessoas no cinema dizendo "pra lá", "pra cá, "essa parte ainda não vi", hilário. Achei que iam me oferecer uma entrada no cinema de brinde, ou devolverem meu dinheiro. Neca de pitibiriba.
É isso.

Lázaroeeu.

Sonhei com Lázaro Ramos. A gente numa palestra qualquer e ele me chamou lá fora pra dizer que já tinha me visto numa festa, no Reveillon. Conversamos. Ele não era tão bonito no sonho, mas era Lázaro. Me acordaram para perguntar onde estava minha meia grossa, faz frio em São Paulo e pra mim não está sempre bom. Adoro internet grátis em pontos públicos de São Paulo. Acho super kiscth isso.

terça-feira, junho 30, 2009

Tempo de pressa.

As pessoas dizem que quando você ama o tempo passa devagar quando se está longe da pessoa amada. Não é nada disso. É o tempo te ensinando a se acalmar e aproveitar bem o tempo, por que quando o amor chega quer colo, quer carinho e quer devagar, aí você, já acostumada a sorver o tem-po, desacelera e tranquilamente vai indo a cada passo, passo do amor. O amor é tempo. Tempo de pressa, tempo de calma. É assim: quando ele está perto de chegar, mas você sabe que ele vem, respira fundo. Quando ele chega, a pressa acalma bem devagar e o amor assenta igual pó de café no fundo do copo - quando você faz o café com coador de pano. Quando você não sabe se ele chega ou não, engasga o peito de vontade de café.

sexta-feira, junho 26, 2009

Medo.

Eu tenho medo de dormir em casa sozinha. Pode dar risada, mas é verdade. Venho pra sala e ligo a tevê. Fizeram uma festa aqui no domingo e tem bola de assoprar na varanda, quando o vento bate faz barulho e eu me assusto mais ainda. Bato as teclas bem alto para não ter medo, abro-fecho a porta, como outro miojo, troco de canal - a tevê deve ter raiva de mim, eu que nunca falo com ela agora fico toda cheia de amores -, caminho pela sala. Fico pensando qual a melhor saída: deixar a porta trancada ou a janela aberta. Convites para dormir não me faltam, mas eu me encolho no sofá e entre um sono e outro, tenho medo.
Toda sexta é assim, futebol e solidão aqui pros lados da Zona Sul.

quarta-feira, junho 24, 2009

Post antigo.

Sinto vontade de escrever quando estou assim, aqui. Já passa de meia-noite, estou sozinha aqui no quarto. Gosto disso. Tenho uma boa sensação, sensação que as coisas vão dando certo, é noite e faz frio e eu sozinha e gostando disso, não tem mais nada pra acontecer de bom, minha mãezinha lá longe agora deve dormir sorrindo, eu penso assim e é melhor que seja tudo verdade. São uma e treze da manhã, Lizz canta qualquer coisa para Mia aqui e eu me deixo ouvir como se fosse para mim também, acho que ela não liga, segue cantando alguma coisa sobre distância e saudade, coisas que eu conheço bem, sei como dói, onde dói. Gosto de ser eu, com todos os problemas de ser eu. Gosto de aprender a ser eu, gosto de me colocar em dúvida e a postos sempre, sempre. Mas não gosto da palavra sempre. Não gosto de me sentir presa. Não gosto de jogar o jogo, embora assuma que é difícil não jogar. Não gosto que me liguem quando estou com saudades – penso que posso resistir, mas você me liga e aí... Não gosto de dar satisfações, nem explicar posts. Vou dormir, por que há dias que você descobre mais de você do que numa semana, mês, isso aí.

terça-feira, junho 16, 2009

A vida é difícil.

Vendo a criança chorar, perguntei o motivo. Ele eu não quero mais brincar das brincadeiras que você brinca, são difíceis O amiguinho se compadece, lastimando a vida é assim, amigo, difícil, brincar é difícil Nem disse nada.

segunda-feira, junho 01, 2009

Mainha e eu.

Ontem me olhei de relance num espelho, vi a cara de minha mãe. Tomei um susto. Eu, que nunca me achei parecida com ela, tava ali, ela toda, no espelho. 
Ela sou eu também. Deve ser por isso que ela fica tão orgulhosa de mim.

domingo, maio 31, 2009

Simonal - Ninguém sabe o duro que ele deu.

O ingresso vale pelas imagens de Simonal cantando Tributo a Martin Luther King. Ainda ficaram dizendo que ele não sabia direito o que era isso de preconceito. Pelamor. Assistam o documentário, teçam seus comentários. Não consegui chorar, fiquei entalada. Também não quero dizer muito, não quero dizer que ele era perfeito. Nada disso. Ele era um negro de cor, meu irmão de minha cor. Deu vontade de abraçar Max de Castro. De fazer cafuné no Simoninha. Estou devendo escrever mais e mais aqui, mas a vida segue seu curso, com todas as coisas que se tem quando se decide viver mesmo, botar bloco na rua, sair de casa em dia de chuva - mesmo antes de música de Vanessa da Mata, mainha já fazia isso com a gente, dava uma chuvona daquelas e ela ia junto com a gente pra debaixo da água, minha infãncia teve isso também, tomar banho de chuva -, pagar pra ver, sorrir, chorar no meio da noite, baixinho e depois abrir berreiro, aprender a pedir abraço, deixar de fazer coisas e aprender a ouvir outras pessoas, falar tábom quando não tábom pra gente que não gosta disso e pede pra você falar de novo tudo e mais e sempre.

quarta-feira, maio 27, 2009

É só um homem.

Descendo as escadas, saindo do buzu e indo de encontro ao trem, estação Hebraica-Rebouças. Um homem negro, morador de rua, almoça sempre no mesmo lugar, "atrapalhando" o trânsito das pessoas que descem correndo para pegar o trem, ir trabalhar, ir, ir. Vejo as pessoas resmungarem, mas ninguém diz nada pro moço, que além de almoçar ali religiosamente entre meio dia e uma da tarde, espalha ao redor seus vasilhames, seus pertences. Penso que ele quer mesmo que alguém fale alguma coisa, que reclame, talvez ele tenha muita coisa engasgada para dizer. Mas as pessoas não falam nada, meneeiam a cabeça, bufam, quando muito. Eu de minha parte não me importo muito. Sou sempre atropelada pelas pessoas que descem. Ele me ajuda a conter o fluxo.

terça-feira, maio 26, 2009

Me encontre.

Quer me encontrar em Salvador? Vá em Itapoan e passe pela avenida Dorival Caymmi. Depois da feira, tem uma lanchonete bem pequenininha. Eu passo o dia todo que deus deu sentada ali, olhando a vida dos outros. Sem nenhuma vergonha. Pode passar depois das sete da manhã que tu já me encontra lá.

terça-feira, maio 19, 2009

A resposta das crianças.

Domingo de meio-sol, sou interpelada por um menino-bonito. Ele me pergunta quantos anos você tem? Eu digo, meio sem jeito vinteeoito Ele estranhou, vi pela cara e emendou mas eu tenho quatro anos e sou quase do seu tamanho! Olhei pra cara dele, admirei o moço. Pena ele ter só quatro anos, mesmo sendo quase do meu tamanho. Contei essa historinha aí só pra dizer que deve ser por conviver tanto com criança que eu não aturo muito gente chata, gente hipócrita, gente ciumenta, insegura, nojenta, gente que conversa no banheiro pra te assustar e te olha de alto a baixo e te vira a cara, deixa pra lá por que vai ficar feio ficar escrevinhando coisa feia na vida neste blog que é meu e é só pra falar de como eu estou, e eu estou felizapaixonadaesendoamada e fim.

quarta-feira, maio 06, 2009

Maturidade.

Se alguém me perguntar algum dia o que é maturidade, eu respondo na lata. É uma mocinha de cinco anos te responder assim, depois que tu conta história de lobisomem em noite de lua cheia: faz isso comigo não, por que eu chego em casa e quando eu vou dormir eu fico sonhando Auto-conhecimento total.

terça-feira, maio 05, 2009

Caldo de mocotó.

Se você nunca viu, venha ver. Venha provar. Caldo de mocotó de Seu Lourenço tem 23 anos aqui no Grajaú. O mais engraçado é que às vezes, tem que vir alguém de Ribeirão Preto pra te ensinar o caminho do caldo de mocotó. Você mora ali e não sabe, nunca sentou ali pra conversar com Seu Lourenço. Acontecem coisas estranhas com casais que provam o caldo na manhã de um domingo também. Mas disso eu não posso falar, são coisas que se contam e você ouve sem querer quando você está ali sentado no bar, domingo de manhã. Acontece. Nas piores famílias também.

segunda-feira, maio 04, 2009

Jantar.

Simples assim.

quinta-feira, abril 30, 2009

Bem-me-quer, mal-me-quer.

Ele me quer?
Pergunte pra ele. Ele vai dizer que não, mas depois vai ligar e dizer que sim. Ou o contrário.

quarta-feira, abril 29, 2009

É preciso ter coragem.

Ele me perguntou, docemente quer água? quer Salvador? quer Itapoan? quer Dona Graça? E eu, sem graça, resmunguei que estava estudando. Mas queria chorar. E chorei. Quanto você conhece de você mesmo? Quanto de você mesmo você quer conhecer? É simples ser amada? Aparentemente, é muito simples. Aparentemente.

quinta-feira, abril 23, 2009

Congada.

O rei tem que ser honesto pra fazer a sua lei à sua lei eu me presto mas se ele é honesto, eu não sei Congada, de Clara Nunes. Troque rei por qualquer outra coisa que você conhece, dá no mesmo. Universidades, escolas, hospitais, presidentes, chefes... a la carte.

segunda-feira, abril 20, 2009

O corpo.

De tanto ler Foucault fico maluca. Mas só uma certeza eu tenho: só o corpo é real. E de mais a mais, eu ouvi esse elogio hoje: você é a única mulher que dosa muito bem entre o que quer as mulheres de hoje e o que queriam as mulheres da década de cinquenta Não vou explicar, pensem o que quiserem.

Irmão de cor.

Adoro essa música sim, sou negra de cor minha irmã, de minha cor o que te peço, é luta sim, luta mais que a luta está no fim cada negra que for mais uma negra virá para lutar, com sangue ou não com a canção, também se luta irmão Tributo a Martin Luther King, Simonal.

quinta-feira, abril 16, 2009

Aconteceu (também) comigo.

Estava eu ali, entre as fileiras de livros da biblioteca, correndo feito louca e com um papel na mão cheio de letras e números, procurando livros no meu curto espaço de tempo, passo por um moço, olho pra ele, ele me olha. Sigo direto, esbaforida. Vou para outra fileira. Ele vem até mim e pergunta, sem saber, sabendo, querendo saber você não trabalha aqui? Digo, eu estudo aqui, e emendo, por quê, mas ele vai embora, meio sem jeito. Todas as minhas amigas já tinham me contado isso, mas quando a gente passa a gente fica passada. Bem-vinda ao clube, elas dirão.

quarta-feira, abril 15, 2009

Espera.

Era sempre assim. Toda vez, mesma irritação. Ele me deixava plantada esperando, esperando por ele, sempre ele, nos mesmos lugares de sempre, eu praguejando, xingando a mãe e todas as gerações futuras, mas ele não aparecia. Não aparecia por que não ia aparecer nunca, depois me ligava, as desculpas eram sempre convincentes, era trabalho, estudo, amigo antigo, festa de família, doença de parente longe, era desculpa que dava pra desculpar, não era mentira, eu acreditava, e esperava. De novo, no mesmo lugar, mesmo ponto de ônibus, cinema, porta de bar. Esperava por que achava que era missão esperar, acaso namorar também não era isso, esperar? Certa vez insinuou por telefone que eu estaria apaixonada, me irritei, desliguei o telefone na cara, esperei me ligar. Não ligou. Liguei, pra dizer que não o esperaria nunca mais. Espero aqui dentro, até o dia em que ele me ligue de novo, para esperá-lo em algum lugar. Qualquer lugar.

E se?

E se os universais não existissem? E se o amor não existisse? A loucura? O ódio? O que sobraria?

segunda-feira, abril 13, 2009

Ói o trem.

O trem chegou e estão construindo parques, limpando as ruas, arrumando a paisagem. Engraçado. Só melhoram as coisas quando chegam as máquinas, mas aqui sempre teve gente e gente não precisa de parques, minha gente? Coisa mais estranha, o progresso que traz o verde é o que mata o verde, círculo vicioso da morte. Enganação pura. Quem vai ficar, quem vai subir ou parem o mundo que eu quero descer?

As várias versões do amor.

Deveria enfiar aqui uma poesia do Drummond, mas não vou não. Vou escrever a frase que eu disse ontem pra ele: euteamo é onde começa o que eu sinto por você

quarta-feira, abril 01, 2009

A vida ao vivo.

A vida é aqui e agora. Então eu não deveria estar aqui escrevendo, deveria estar pendurada no cangote dele, pedindo mais um beijinho, só mais um, mas agora ele está ali, é meia-noite e cozinha pra mim, fico de longe olhando pra ele cortando cebola, aproveito e escrevo - a vida ao vivo é cheia de interrupções, com direito a beijinhos no pé da escada, a escrita não me dá o direito de dizer ops assim, vocês não entenderiam -, vou lá e volto, olho de novo, ele existe e, melhor ainda, eu também existo pra ele, então acabou o post por que agora é hora de mais beijinhos nos outros cômodos da casa.

sexta-feira, março 27, 2009

Tem homem que pensa que só por que escreve coisas como essa aqui fiquei pensando em você no fim de semana... Confesso que fiquei deliciosamente nervoso ao segurar a sua mão, sentir o seu corpo mais próximo do meu acha que vai fazer a gente suspirar. Pior não é nada. Pior é que eles têm razão.

terça-feira, março 24, 2009

Mais um.

As minhas amigas dizem, torcem o nariz, mais um, mais um, fico triste, elas não me entendem, eu sei que eu só quero é ser feliz, e demora às vezes, às vezes não, mas como saber, tu tem que ficar pronta, sempre a postos com o coração aberto e coração aberto sabe como é, passa passa e ele olha, suspira, basta dar um sorrisinho e ele se encanta logo.
Então não é mais um, é sempre o mesmo, por que sou eu, a mesma de sempre, sempre apaixonada. O moço é só mais um moço, só mais um detalhe, ops, tropeção da vida. Vai ser sempre assim, querendo ou não, sempre apaixonada. 

domingo, março 22, 2009

Zainab.

Ele consegue falar coisas que em outras bocas soariam sem nenhuma graça, consegue falar coisas bonitas sem parecer mais um canalha. Ele consegue me fazer sorrir enquanto eu falo por que lá do outro lado, ele me espera doido de vontade de falar com um brilho no olho igual o de criança pequena - ele não sabe, mas eu adoro isso, e prolongo a frase só pra que o olho dele continue a brilhar, pra que eu continue vendo a criança que ele é dançando, sorrindo, brilhando. 
Só posso dizer da mão, dos sentidos, dos beijos - bochechas envergonhadas sempre pedem um beijo mais à boca -, dos olhos, bocas e sorrisos. 
Pessoas que não querem me seduzir me seduzem mais do que pessoas que saem de casa decretadas a me fazerem apaixonar - e eu não sei por que diabos eu tinha a impressão que ele sabia isso de mim, o tempo todo. Tinha a impressão de que por dentro ele sorria ao perceber meus olhares e minha mão que descansava ali perto da dele, esperando ser roubada, carinhada, cafuné. 
Olho pra ele, lembro dele e penso que sei o que vai acontecer. Mas finjo que não. Finjo que não sei que gosto do modo como me ouve, me olha, me encabula. Finjo que não quero de novo sua companhia, pra fazer nada, botar a mão no queixo, encostar cotovelo na mesa de bar e olhar a rua.
Eu só queria que ele lesse isso aqui e abrisse um sorriso de criança, daquele que só ele sabe sorrir, pra mim, pra mim. 

terça-feira, março 17, 2009

She wants talk to me.

Se você estivesse ouvindo Billie Holiday, I am Blue, numa vitrola velha trocada por uma geladeira mais velha ainda e soubesse que ela quer falar com você, ela, só ela, também sorriria feliz.

Se eu te dissesse que está chovendo, e o barulhinho bom da agulha raspando no vinil acontece entre um pingo e outro dessa chuva, você entenderia o que é felicidade, além de todas aquelas outras coisas que eu digo aqui, fazem quatro anos.

I do, ou melhor, Oui.

domingo, março 15, 2009

Menu.

Descobri ontem onde se esconde a sedução da língua francesa. No menu. 
É que você tem falar moêniu, mas sem falar o i. É boca de u com som de i.
Deu pra entender?
De agora em diante, vou pedir sempre, me vê o cardápio.
Quando mais eu aprendo, mas eu me estrepo. Quando mais eu aprendo a falar, mais eu entendo por que um grande amigo meu - saudade - fica quase o tempo todo em silêncio.

sexta-feira, março 13, 2009

Uma pena.

A criança me olha e fala eu já fui na natureza Fico sem jeito de contar pra ela que antes, um pouquinho antes dela nascer e dos seus cinco anos, o mundo não era coisa ao contrário e a gente diria eu já fui na cidade Penso que se "lá na natureza" os bichos assistem tv', o noticiário diria um mar de cimento invadiu o que antes era uma bela floresta Ao invés de ouvir o que a gente ouve, coisas como novo prédio de empresa tal, conforto e parque e lazer Pena. ___________________________________________________________________ A menina me cutuca e diz tou com saudade da minha mãe E eu que não sei de nada, respondo calma, meu amor, daqui a algumas horinhas tu volta pra casa E ela replica, depois de um suspiro e com cara de não-você-não-entendeu não, professora, não adianta ir pra casa, ela não está em casa quando eu chego, eu só vejo ela fim de semana, quando ela não vai trabalhar, ela chega muito tarde e eu tou dormindo e de manhã sai muito cedo e eu tou dormindo Eu sempre arrumo alguma coisa pra fazer quando respondem uma coisa dessa. Mas a menina cutuca de novo e diz queria que você fosse minha mãe, pelo menos eu te vejo todo dia de tarde (coceira na garganta)

terça-feira, março 10, 2009

Instrumentos.

Andando pela rua, vi um homem negro tentando usar o pedaço da porta de uma geladeira velha pra fazer um tapume de onde fica o relógio da luz da casa dele. Acredito que vá funcionar. Fiquei matutando comigo o que será que a gente conseguiria produzir além do que a gente já produz se não nos fosse o tempo inteiro negado o acesso aos lugares, coisas e pessoas. Se pudéssemos sempre fabricar nossos próprios instrumentos, tintas e tudo o mais. Conseguir tudo na marra tem um gosto diferente, mas cansa se tiver que ser toda vez assim. Aí eu lembro da frase de um estudante negro que tinha acabado de ser admitido na Universidade do Alabama, país que foi um dos últimos a acabar com a segregação racial no EUA: dê-me a entrada na Universidade e eu me torno presidente dos EUA Obama neles, mais uma vez.

Estação Cidade Universitária.

É quando eu ponho o pé pra fora, longe do risco de cair em baixo dos trilhos, que me sinto, de novo, uma mulher inteligente, bonita, que tem muita saudade da mãe e que queria, um dia, dar tchauzinho pra ela da estação.
Daquela estação.

domingo, março 08, 2009

Cotidiano.

você diz que elas são comuns, mas elas são bonitas, você diz que eu sou bonita mas eu sou igual à elas
(...) é por que eu te amo, né?
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A moça-senhora depois da feira me viu no ponto de ônibus e parou, queria conversar. Me contou a vida inteira. Depois disse
tenho que ir lá na USP, arrumar meus dentes
E eu, inocente
ah, a senhora sabe, conhece o atendimento lá? é grátis
E ela
ah, minha filha, conheço, é ruim demais, caiu tudo, olha aqui
Sorriso sem graça. Meu, a senhora não quer sorrir. Chegou a perua, ela me deu tchau, me disse que era encostada mas fazia bico na feira, me pediu segredo que a Previdência não podia saber de nada.
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E eu adoro um amigo que diz
tudo isso aí é muito recente, coisa de cinco mil anos. nossa cultura é mais que milenar, esses problemas que inventaram nem são nossos
Adoro não. Eu tou apaixonada por ele, mas ele acho que não acredita. Disse que eu sou bonita, inteligente. Sou mulher, enfim. 
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Tanta coisa pra escrever, eu passo, esqueço. Vivo, sinto, esqueço. Só de escrever. Tá tudo aqui, na cachola do coração. Por que compreender é só mais um modo de sentir o mundo. 
Alô pandeiro, alô viola. 

quinta-feira, março 05, 2009

Bagagem.

Depois que li Adélia Prado não quis mais escrever. Ela disse que tudo que escreve é inventado de bíblias e guimarães. Eu digo que depois que a li não quero mais escrever nada. Só fazer as coisas para gastar alegria. Só para ouvir meu nome dito numa boca feita pra mim. Ela que diz assim, ainda mistura terra, chão e mato às dores, coisa que eu agora selva de pedra vou perdendo um pouquinho todo dia. Tem gente que vai embora e nem avisa, outras avisam mas mesmo assim a gente não se acostuma, eu não queria que ninguém fosse embora de vez, ou é só a gente que não sabe como fazer quando as pessoas se vão, a gente tem que aprender com quem vai, mas como, se ela vai, se ele vai, es-vai.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

Foi bem na hora que uma pérola saiu da ostra pra ver o mar que a cataram ... Morreu feliz então olhou o monte de azul fechou os olhos
... uma mulher linda deitada ao meu lado... (meunomemeunomemeunome) loucura, loucura Respirei fundo, mas não consegui segurar e a lágrima caiu. Deixei que caísse, uma dúzia delas. Molhei a cama dele, a cama por onde passeei, deitei, virei, dormi, sorri. Não amei, porém. Não entendi, porém. Continuo aqui, achando que é tudo um grande jogo e que vou ganhar no final.

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Felicidade sim.

Perguntei pra um amigo tu não fica triste nunca? E ele fico... mas passa logo ______________________________________________________________________ Verônica, o filme. Assistam se quiserem. Eu parei de comentar filme há algum tempo, porque não sou crítica de cinema e me irrito quando alguém que não entende nada fica dando pitaco. Mas esse filme sem propósito é sobre uma professora de escola pública infeliz com sua carreira que fica incumbida de levar para casa um de seus alunos que a mãe não foi buscar na escola. O resto você já deve ter visto por aí. Não quero falar muito, mas vou falar só mais isso aqui. O filme tem problemas no roteiro, nas continuações, nas atuações (gosto da Beltrão, mas nesse filme...). O interessante é que em meio a tudo isso, o ator Matheus de Sá manda muito bem e pronto. Pelo menos isso. Ah, e além de tudo isso, o filme é recheado de estereótipos bizarros. Bizarros mesmo. Eu sou professora, e posso falar.

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Fazendo amanhecer.

Eu gosto de Manuel de Barros por que ele diz Sou leso em tratagens com máquina. Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis Em toda a minha vida só engenhei 3 máquinas Como sejam: Uma pequena manivela para pegar no sono Um fazedor de amanhecer para usamentos de poetas E um platinado de mandioca para o fordeco de meu irmão. Cheguei a ganhar um prêmio das indústrias automobilísticas pelo Platinado de Mandioca. Fui aclamado de idiota pela maioria das autoridades na entrega do prêmio. Pelo que fiquei um tanto soberbo. E a glória entronizou-se para sempre em minha existência. O fazedor de amanhecer, do livro Fazedores de Amanhecer, Ed. Salamandra. Um monte de autores. Amigo meu que diz você passa anos em São Paulo sem botar o pé na terra E depois ele me diz vem cá, senta aqui, ultimamente a gente não para mais pra conversar Parei, sentei, conversei.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Invisibilidade Pública.

Uma vez, quando reconheci na Lavagem do Bonfim um moço que tinha me vendido cremosinho um dia antes na frente da Feira de São Joaquim, minha amiga achou engraçado. oxi, foi você mesmo, moço Ele também lembrava de mim. Mais louco ainda que quando com a mesma amiga um ano depois na praia de Piatã reconheci o vendedor ambulante que havia vendido a ela uma canga. Ele também lembrou de mim, minutos depois. Leiam essa matéria aqui http://http//carosamigos.terra.com.br/da_revista/edicoes/ed80/sofia_amaral.asp que eu já conheço faz tempo, você fica agoniada e triste. Muito triste. Fico mais triste ainda quando as pessoas dizem em São Paulo ninguém dá bom dia pra ninguém E eu pergunto na lata como é que tu sabe, tu dá? Às vezes é só uma coisa que você precisa começar a fazer. Dê bom dia, que as pessoas respondem.

Minha Casa.

Atentem para a questão, não errem um milímetro com as crianças. Eu, na aula, digo escrevam um texto E botei o nome do texto, Minha Casa. Levanta um mocinho, oclinhos azul, compenetrado professora, não posso fazer Eu, cara de quase-brava: c-como assim? Ele moro de aluguel, professora.

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Abusou.

Tira partido, abusa. A gente vai e vem, revém. Vira por que torna e volta. ... Mas uma hora nem é coração que cansa, é tu que pensa que talvez seja o teu amor uma coisa tão inexplicável que quer conversa sempre e direto às sete da noite antes do café, um elogio antes de dormir e não nada. Não mais nada.

quinta-feira, fevereiro 12, 2009

Morte.

Primeiro dia de aula. Crianças de cinco anos, rolou um papo sobre a morte. Mandei e pra onde a gente vai quando a gente morre? Mocinho inteligente responde o coração vai pra deus e o corpo vira lama Adorei a idéia. E ainda mais que ele só tem cinco anos e a vida toda pela frente.

Escaninhos.

As memórias percorrem caminhos estranhos para nos fazer lembrar de coisas tão boas que nunca deveriam fazer voltas para aparecer de novo. Andando com mainha pela Baixa dos Sapateiros, Barroquinha, de mãos dadas ela ia me contando de sua infância e adolescência, como tinha medo daqueles becos que desembocavam no Pelourinho, tão estreitos e misteriosos, como desejava os vestidos nas lojas e coisa e tal. Fomos subindo em direção à Praça Castro Alves e ela de repente lembrou lembra quando tu era pequena que se perdia sempre que a gente saía? E aí veio tudo de uma vez só, eu me perdia na feira, me perdia no supermercado, na loja, no shopping, na rua, lembro bem da minha cara de criança olhando o mundo - lembro agora de Bia que pede pra Zandra quando acorda elizanda, me leva na laje, quero ver o mundo - eu lembro bem que eu era pequenininha e olhava pra cima, me concentrava no que estava olhando e quando eu olhava pro lado, pra frente, nada de mainha, a gente se procurando entre as pessoas e coisas, a gente sempre se encontrava, de novo os mesmos conselhos, mas eu sempre achava que não tinha nada demais parar para olhar direito as coisas, que tinha alguma coisa errada na pressa em fazer, olha eu ali me perdendo de novo e daquela vez mainha tinha ficado mesmo preocupada, botou no som do supermercado o meu nome, bem na hora que me encontrou falaram meu nome, eu achei que era magia de mãe, fiquei encantada e orgulhosa de sair do supermercado de mão dada com alguém que tinha super poderes, aha. Fico pensando se é por isso que eu gosto de me perder por aqui, se é por todas essas histórias que eu escolhi ficar longe às vezes, olhando com cara de criança pro mundo.

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Adoro (poesia).

Adoro pau mole. Assim mesmo. Não bebo mate não gosto de água de coco não ando de bicicleta não vi ET e a-d-o-r-o pau mole. Adoro pau mole pelo que ele expõe de vulnerável e pelo que encerra de possibilidade. Adoro pau mole porque tocar um pressupõe a existência de uma intimidade e uma liberdade que eu prezo e quero, sempre. Porque ele é ícone do pós-sexo (que é intrínseca e automaticamente - ainda que talvez um pouco antecipadamente) sempre um pré-sexo também. Um pau mole é uma promessa de felicidade sussurrada baixinho ao pé do ouvido. É dentro dele, em toda a sua moleza sacudinte de massa de modelar, que mora o pau duro e firme com que meu homem me come. Maria Rezende

terça-feira, fevereiro 10, 2009

"Baianinha, é?"

Domingo, esperando vôo com mainha em Congonhas, nada pra ler, lembro que na bolsa havia parte do jornal da Folha, Caderno Ilustrada. Surrupiei de um amigo para anotar as sessões de cinema, mas ali, sem nada para ler, comecei a folhear as poucas páginas. Me deparo com a "coluna social" de Mônica Bergamo, coisa mais provinciana que coluna social em jornal de cidade com mais de dez milhões de habitantes não tem, vamos lá. Leio que a entrevista são com namoradas de banqueiros, perguntas sobre como elas estão enfrentando o namoro nessa época de crise. Conversa vai, conversa vem, Monica dispara uma pergunta sobre escolha de namorada, essas coisas assim. No que dispara uma tal de Mariana rola isso, sim. É até feio falar, mas a ex-namorada do Marcelo era uma "baianinha". Tenho certeza de que o fato de eu ter morado no mundo inteiro, falar línguas, conhecer pessoas o levou a pensar: "Vou ficar com esse fim de mundo ["a baianinha"] ou fazer essa troca?". E me escolheu Li umas duas vezes, só pra me acostumar com a idéia de que o preconceito, num dos jornais mais lidos do País, é algo comum. Desde quando ter nascido nesse ou naquele outro lugar diz se somos fim ou começo de mundo? Não entendi nada. Mas pelo que entendo de leis, isso dá um looongo processo. E é o que eu vou fazer.

segunda-feira, fevereiro 09, 2009

Mighian Danae.

http://correio24horas.globo.com/noticias/noticia.asp?codigo=16904&mdl=49

 Acessem o site acima, vejam a foto. O jornal carlista Correio da Bahia, em Salvador, tem um espaço dedicado às fotos enviadas por leitores e leitoras todos os dias. Estava em Salvador e cliquei a 2ª Marcha contra Intolerância Religiosa que acontece em Itapoã, dia 21 de janeiro. Fiquei feliz quando abri o jornal e vi estampada a foto que tirei, mas não gostei nem um pouco da legenda que inventaram: baianas em caminhada a favor da Lagoa do Abaeté Fiquei pensando que talvez a foto não fosse tão boa e sugerisse isso, mas de qualquer modo, eu havia mandado a legenda. As referidas "baianas" contidas na legenda não estavam fantasiadas: são, respeitadamente, filhas e mães de santo de terreiros de candomblé em Salvador e cidades vizinhas. Por que será que o jornal, que não cobriu a Marcha, fez questão de inventar uma notícia? Mandei um e-mail reclamando o erro, e no site aparece uma outra legenda, misturando verdade e mentira. O moço que segura a placa SOS ABAETÉ segura por que quer, por que gosta, mas não era o mote central da Marcha. Alhos com bugalhos. Aqui pra nós, nem gostei tanto da foto. Gosto mais da foto de Mãe Jaciara que postei lá embaixo. Mas agora me retei.

Nada a declarar.

Estava ali, no salão, fazendo a unha. Isso quase nunca nunca acontece. Entrou uma moça, paulistana da gema. Mas isso eu tava lá em Salvador, ela puxou assunto com mainha e acabou descobrindo que eu morava em São Paulo. Puxou papo comigo e perguntou o que eu achava de São Paulo, como estavam as coisas por aqui. Falei que estavam legais, mas que gostava muito de Salvador, que queria voltar. Ela começou a dizer que não gostava de nada dali, que morava há sete anos mas achava tudo uma grande porcaria, eu fiquei sem jeito e disse que gostava muito de Salvador. Mainha fica logo zangada e saiu do salão para não brigar com a moça, eu saí de lá e falei com mainha que não era pra zangar, a moça só não sabia dizer as coisas direito.
Sabe? A grande maioria das guerras devem ter começado assim. Não num salão de beleza, mas sim por que alguém ficou dizendo que isso ou aquilo era mais bonito ou mais gostoso, aí alguém mais esquentado foi lá e pimba, tacou um míssel e matou um montão de gente. Fiquei pensando nisso e fiquei pensando que não dá mais pra ficar explorando essa idéia de São Paulo não presta, odeio esse lugar. E que Salvador é cidade idílica, que lugar bom de morar.
A verdade é que São Paulo é metrópole, e como toda metrópole, tem suas coisas. As pessoas devem saber disso e devem saber que não é fácil ser agradável e gentil numa cidade com dez milhões de habitantes. E as pessoas correm por que precisam correr e depois querem até parar de correr mas tá todo mundo correndo e o tempo, ah, o tempo, ele é outro.

Sorria, meu bem.

Direto da recepção da Selva de Pedra, eu parada esperando o ônibus, recém chegada da viagem de férias, São Paulo, dia três de fevereiro. No ponto de ônibus mamãe e filho esperavam também a condução. Olhei pra ele, ele me olhou, esboçou sorriso, talvez fossem as minhas tranças, minhas roupas coloridas, vai saber. Olhei pra ele, sorri de volta, disse oi, neném A mãe sorriu, mas um sorriso desconfiado surpreso e sem jeito. Disparou você conhece ele? Gaguejei, baixei os olhos.

sábado, janeiro 31, 2009

1989.

Caçando o que fazer, fui mexer nos diários e encontrei um de quando eu tinha nove anos, 1989. Num dia lá de outubro escrevi hoje foi dia de eleição. mainha e painho votaram no Lula, mas parece que ele não vai ganhar. mas quem disse que a gente tem que votar em quem ganha? tem que votar em que a gente acredita. collor tem o apoio da rede globo, mas de mil funcionários trabalhando para a campanha dele. o nome do dono da globo é roberto marinho. Não acredita? Vem aqui em casa que te mostro o diário.

Pra sempre.

Vou embora, mas nunca nem fui. Fui embora, mas nunca nem vou. Nunca fui muito com a cara de Daniela Mercury, vai saber por quê. Acho chata, metida a gás com água, como diz mainha (não me peça pra explicar nada). Mas hoje ela deu um depoimento bem legal na tv' aqui da Bahia, uma pena que não passou pra todo mundo do Brasil. Perguntada sobre religião, ela disse eu não tenho nenhuma religião assim, mas vou no Gantois e gosto muito, quero ter mais tempo para me dedicar. é importante que se diga, o candomblé é um lugar maravilhoso, se diz por aí que temos 365 igrejas na Bahia, mas as pessoas esquecem de dizer que temos mais de 3.000 terreiros de candomblé, isso não é pouca coisa não. tudo é candomblé, todo aquele batuque foi ressignificado e transformado nesses sons que conhecemos agora, o samba, o pagode, esses blocos afro... o que é tudo isso se não candomblé? Gostei dela, que pra arrematar falou não deve haver diferença entre brancos e negros, a questão de não haver ainda oportunidade igual para negros querem justificar por conta da escravização, mas isso não pode ser usado como desculpa para que até hoje continuemos mantendo o fosso racial Mais ou menos isso. Pronto. Continuo não gostando tanto dela, continuo sem saber por quê, mas agora eu a respeito.

terça-feira, janeiro 27, 2009

Buá.

Por onde começo? Dizendo que sim, eu sou uma moça difícil. Que facilito tudo, dez prestações e depois eu vazo, vou embora, nem olho pra trás. Ouvi isso de um amigo, fiz cara de espanto, mas aqui dentro eu já sabia. Agora tem mais esse. E aquele, e aquele de sempre. Não sei direito o que fazer, as mãos têm cinco dedos e eu queria parar de contar as vezes em que fugi das coisas. Os dedos das mãos acabam, eu conto no pé, eu não paro de contar, invento classificações absurdas e não paro de contar. who cares? Você e eles e elas poderiam dizer, mas tem gente que liga. Eu ligo.

quinta-feira, janeiro 22, 2009

Mãe Jaciara.

Vendo Mãe Jaciara falar, eu me arrepio toda e me orgulho de ser mulher, nascida e criada na Bahia, em tantos lugares daqui. Mulher negra que sabe que é forte é muito mais forte que mulher negra. Sai de baixo. Ou venha pra cima. Mas só se aguenta. Dei um abraço nela, ela me deu um abraço, me beijou. Dos dois lados.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

Tango crioulo.

Assista Café dos Maestros e aprenda: um dos tangos que a tal Virgínia Luque canta se chama Orgulho Crioulo. E em muitos deles a palavra crioulo aparece como adjetivo de moços e moças apaixonadas, ao lado de morena, moreno. Tu vai na Argentina e as pessoas querem fazer desaparecer o elo que existe entre a formação do povo argentino e a África. Uma pena. Aí depois vem uma cantora uruguaia, Lágrima Rios e diz o tango tem muito a ver com o candombe É ela mesma quem diz que seu marido a chama de negra, quando quer dizer meu bem. Aprenda a assistir filme, mesmo quando ele não é feito para nós.

Biquíni de bolinha.

terça-feira, janeiro 20, 2009

Coragem.

É preciso ter coragem Para ter na pele a cor da noite Cabaré da Raça, dia 16 de janeiro. Eu chorei.

sábado, janeiro 17, 2009

Sinuquerìa.

São Tomé de Paripe.

Eu pivetinha, tu imagina, ia na praia de São Tomé de Paripe e ficava lá, de boresta. A água batendo no pescoço, eu pequena, a praia parecia o mundo inteiro. Voltei lá e a água não me passa das coxas. Mas o sabor do mar, catar conchinha atrás das pegadas de mainha - a senhora não viu essa bitelona aqui? - continua lá, e eu senti, continua aqui. No jeito de andar, no rebolado pra escapar das dores de partida, nas conversas e no sol que ainda brilha - lá em cima, e no meu coração.

Foto de Heloíse Domingues

domingo, janeiro 11, 2009

Dia de bode.

Bodeando na frente da internet. Não quero escrever nada. Queria escrever trechos do livro sobre a vida de Miguel Arcanjo, livro que estou lendo, mas não quero. Procure e leia. E li todos os quadrinhos da Marjane Satrapi e chorei mesmo, por que eu choro com essas coisas. Mas não choro por amor faz tempo. Uns 55 dias, para ser sempre exata. A vida é feita de escolhas. Tem uma hora que eu penso que eu vou escolher pouco amor e me contentar pra sempre, sem reclamar. Tenho medo dessa hora e penso que nunca vou escolher pouco amor e vou morrer sozinha. Tenho medo dessa hora também.

sábado, janeiro 03, 2009

Cena.

Quando uma cena de cinema acontece na sua frente e com você, tu lembra na horinha ou só depois de muito tempo? Pense nisso.

sexta-feira, janeiro 02, 2009

Atotô.

Dá licença 2009.