Você que me lê, me ajuda a nascer.

sexta-feira, agosto 29, 2008

Mas tá.

carolzita, você gostava da Tina, sua professora do ano passado? sim que cor ela era? prr... (abaixa a cabeça, fica sem jeito) preta? Acena com a cabeça que sim. Carolzita tem quatro anos, mas já disseram pra ela quer ser preta é coisa feia, e ela, mesmo branca, quer ser educada e não quer xingar ninguém. e eu, Carolzita, que cor eu sou? preta, mas pretaclara, tá? eu sou marrom diz o outro menino, que chega no meio da conversa. Todo mundo ri. vai, vai lá brincar Carolzita Eu digo, e fico no meu canto matutando.

Durma com um barulhos desses.

Agora aguente. Peguei o livro do Ler e Escrever - Livro de Textos do Aluno, do programa estadual Ler e Escrever, para as séries Iniciais do Ensino Fundamental. Achei estranho por que ali haviam muitas cantigas de roda que eu conhecia, do meu tempo, da minha cidade, da minha infância. Coisa como a pombinha voou, voou caiu no laço se embaraçou ai, me dá um abraço que eu desembaraço a minha pombinha que caiu no laço Quase chorei quando li essa canção, senti até o cheiro do quintal de casa, eu cantava quando tinha uns cinco anos... os gestos... cantei logo que o ano começou para as crianças, depois tinha dá um remelexo no corpo dá uma umbigada na outra Fiquei intrigada, tinha até o vapor de Cachoeira (de São Félix, recôncavo baiano) não navega mais no mar Fui ler as letrinhas miúdas, e descobri. O tal livro é cópia resumida dos livros organizados para o Projeto NORDESTE de Leitura, um projeto de lá de riba. Aha, quase caí da cadeira. Mas ora vejam só, São Paulo copiiia um projeto (que deve ter dado certo, senão, não copiariam) nordestino e depois fica por aí, arrotando superioridade (o jingle do Alckmin grita nos nossos ouvidos: São Paulo é a melhor cidade do Brasil!). Superioridade de quê? Nem copiar sabem, por que as músicas tem a ver com as crianças que moram por ali, sabe, falam de mar, terra, são cantigas de roda e parlendas do Nordeste. Não que as minhas crianças não possam aprender isso e não tenham que aprender, conhecer, mas a gente imagina que um projeto de leitura da melhor cidade do Brasil seja pelo menos adequado à realidade das crianças que aqui vivem, e, assim, partam do lugar de onde elas vivem para depois chegar no mar, no cheiro do rio, no vapor de Cachoeira. Aí juntei isso com o fato de que toda vez que recebo uma criança que vem de alguma cidade do Nordeste, na segunda ou na terceira série (e algumas vezes na primeira), ela já sabe ler. E uma aluna minha, que pelejava para aprender a ler, passou um mês na casa da vó, interior da Bahia, voltou corada e bonita e feliz e lendo tudinho. Vai juntando as coisas, não sei o que é, mas só sei que é assim. Eu mesma aprendi a ler com cinco anos, mas isso é coisa que dá outra história, depois conto. Ler as letrinhas miúdas é a melhor coisa do mundo. Eu sempre faço isso. Ehe. E ontem, chorei quando terminei de ler Do Silêncio do Lar ao Silêncio da Escola, de Eliane Cavalleiro. Livro que retrata o racismo, o preconceito e a discriminação sofridos por crianças em Educação Infantil numa escola municipal em São Paulo, lá pela década de 80. Trabalhando com Educação Infantil na cidade de São Paulo, milênio dois, posso te dizer que pouca coisa mudou. Foi por isso que ouvi dia desses uma professora do meu lado chamar uma criança de filhote de urubu e a outra de leitoa, amigavelmente, brincadeira E eu, que reclamei e falei para ela não fazer mais isso, sou a louca, a racista, a agitadora das multidões. Durma com um barulho desses, e depois diga que dormiu bem.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Para onde vai a educação?

Reclamem comigo, mas essa coisa de ensinar criança a ser peão de obra e empregada doméstica não é comigo. Ler pra quê? Ler pra entender do jeito que eles e elas querem a novela das oito e o horóscopo da semana, eu não aceito. Ferrero agoniza, Paulo Freire se remexe no túmulo, ouvindo pretensas professoras professando que discutir que rumo vamos tomar ensinando a língua culta e perpetuando a exclusão não vai levar a nada e que o que eles querem (eles, que estão lá em cima é que dizem e desdizem e a gente tem que aceitar passivamente) é o que a gente tem que fazer. Minha vontade é gritar: Professoras de Educação Básica, uni-vos! Por que eu ado-rei quando um aluno meu virou para mim e disse, depois que uma professora prometeu pagar uma excursão para conhecer a fábrica da Vigor (eca!): eu sei o que ela quer, quer comprar minha obediência com oito reais. mas eu não aceito isso Colonização mental, eu não aceito isso.
Sabe qual é sensação de ter sido professora de alguém com dois anos de idade e agora vê-la com cinco anos feliz da vida, sendo criança, sorrindo, sendo gentil, cantando musiquinhas engraçadas que falam do tomate que catchup virou, sabe o que é? Não sabe? Então, nem adianta te dizer. Deixa pra lá. Dá uma dor no coração quando tu vê criança de nove anos brigando, de cara emburrada, sem saber fazer amigos e amigas, dá uma tristeza ela querendo chamar sua atenção e conversar um mundo na sala simplesmente por que ninguém a ouve em mais lugar nenhum, ela vai pra escola e só ali ela pode ser criança mas ali ela tem que fazer lição, comer direitinho, ir no banheiro, respeitar a vez do outro e da outra que também não tem pai nem mãe pra perguntar como foi a escola, aí você que às vezes está cansada e também quer atenção não consegue entender isso e se irrita, conta até dez, diz que vai chamar a mãe pra conversar, e no fundo a criança por mais medo e tristeza que sinta quer mesmo que a mãe vá e ouça a professora dizer que ela precisa dar mais atenção pra criança que ela pôs no mundo, mas a mãe não vai, diz que vai trabalhar, que não pode perder tempo indo na escola, e a criança vai ficando cada vez mais arredia e briguenta, é um círculo, as coisas acontecendo e você não sabe direito que direção tomar, é cansativo abrir uma discussão todas as vezes que isso acontece, mas foi isso que você escolheu pra fazer, não há como fugir disso, você está presa por essa coisa chamada vontade de mudar as coisas, de mudar o mundo de crianças com pais e mães sem tempo. ____________________________________________________________________ Classe média, tá cada vez mais difícil dizer o que é. Nem os institutos de pesquisa conseguem dizer tão fácil o que é. Fixaram o teto do salário da classe média em mil seiscentos e quatro reais, se eu não me engano, e donamaria chiou, disse que ganha mil e oitocentos mas que para isso tem que ralar muito, vender natura e avon e ainda umas cocadas, daí ela no jornal de domingo definiu classe média, achei o máximo, ela disse eu ganho mil e oitocentos, mas não tenho tempo nem de ir ao cinema ou ver um teatro, e mesmo que quisesse, o dinheiro não sobra pra essas coisas, eu sustento uma família. Classe média pra mim é quem consome cultura. Podem contrariar, mas donamaria tem todo o direito - como tem todo o direito um economista com todos os seus emebieis - de definir a classe média no Brasil. A frase que eu mais gosto que cita a classe média vem do baiano Milton Santos a classe média não quer direitos, quer privilégios ______________________________________________________________________ Surreal, mas comprei na Bienal cds a um real, cds que contam um pouco a longa história do samba. É divertido ouvir compositores da década de quarenta falando de Elis Regina antes dela estourar e ser Elis agora que ela já se foi, Pedro Caetano era antes dela e depois dela continuou sendo, doideira. Vou ali escrever e volto. Saudade retada de mainha.

terça-feira, agosto 26, 2008

Mãe, dá o cabelo da Nneka pra mim?

(fala E-nei-cah que fica mais legal. Nada de Nenéka).

Carolina de Jesus.

Carolina de Jesus Com uma queda, nem se abalou Ninguém nunca veio acudi-la E descendo o morro Ela continuou O primeiro Lhe disse não O segundo Um empurrão O terceiro Mas que terceiro? Carolina nunca esperou Salve, Carolina. De Jesus.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Es-crever.

Escrever, escrever pra ter coragem de continuar. Por que tem tanta coisa que dói no peito, e a palavra se apresenta como salvação, solução, suporte, forte, morte. Acontece tanta coisa, e eu já disse isso aqui, eu esqueço de escrever por que estou vivendo a vida, é quando abraço um amigo e ele sem jeito me dá um beijo no pescoço, me olha no olho e me diz que ainda posso continuar, se escrever eu posso ficar aqui, nesse mundo, sem medo, de cara aberta e pronta pro novo, pra nova vida que todos os dias quando a gente acorda nos espera detrás dos olhos fechados. Tem criança, tem doce, tem sonho, tem pão, tem chão, tem saudade, tem desejo, vontade. Nessa caminhada tem gentes, comidas, cheiros, solidões, sabores, dores, padeceres todos dos mundos todos das pessoas que passam, eu também passo, eu descobri que passo, às vezes repasso, isso às vezes dói, dói saber, dói viver, mas continuemos. Por que tem coisas que só eu posso dizer, então tenho que vir aqui, escrever, dia cinza de domingo e eu que continuo empinando meu cabelo. Doa a quem doer. Gosto da multidão, mas gosto da solidão, gosto de mim depois que aprendi a me descobrir, gosto de você, que é parte de mim, gosto dela, que não sabe quem eu sou, gosto dele, que não respondeu meu alô, gosto de escrever, de ser nas palavras, de brincar de enfeitar a vida, a palavra como penduricalho da realidade, ela enfeita nossa invenção cotidiana, ela atesta nossa dessabedoria da vida, ela resume nossa impossibilidade de dizer todas as coisas, tem o olhar, a dança, a música, a pintura, o cinema, todas as coisas inúteis que inventamos para seguir na vida, inúteis coisas sem as quais não vivemos, posto que a vida não tem utilidade para ninguém, assim como a arte, a música e a pintura. A vida é, a vida não se ocupa de adjetivos, a vida é verbo, a vida é palavra, e eu volto dizendo tudo que eu disse, por que escrevo, escrevo. _____________________________________________________________________ Eu falo pros moços pretos, não sei se eles me ouvem, já fui mulher e sei, mulher branca acha que namorando com preto está por cima da carne seca, mulher é discriminada por ser mulher, né, mas tendo um namorado preto a idéia da branca é que pelo menos ali ela é quem manda no pedaço, coisa que quando ela topa de frente com um namorado branco ela não sente, tem o lance do fetiche sexual, mas é mais que isso, e a menina preta com um moço branco, tem mais coisas, coisas que vocês já sabem, descubram o que é o amor, por que talvez o que disseram pra tu que era amor esse tempo pode ter sido só colonização mental. Radical, eu? Nada, sou negra. Essas coisas eu não vi, eu não li, eu sou, eu sinto, na pele. O que pega é que quanto mais o tempo passa mais exigente você fica e não aceita um moço te dizendo certas coisas, isso eu vim conversando com uma nova amiga, é aquela pessoa que tu sabe que se ela quiser ela vai ser tua amiga até o fim da vida, velhinha, falando de coisas como negritude, cinema e educação. Poesia.
Andar com fé eu vou Que a fé não costuma faiá Sentindo o vento, lendo as poesias de Sérgio Vaz e me encantando ainda mais com a vida, quer conhecer o moço, vai no Sarau da Cooperifa pra ver, pra ouvir, pra entender, o que é literatura periférica, ache o que quiser, eu fico com a frase do DaRosa, não o Guimarães, mas o Allan nosso de cada dia, periférica por que nasce na periferia, e não por que está à margem de nada, nada é centro, descentro total, na língua, na vida, na gramática. E Vaz falou tu tem que entender que quando nóis fala nóis vai é por que nóis vai memo, tem muita gente que diz nós vamos e não vai pra lugar nenhum É isso aí. Quando eu estou ali, dentro daquele negócio que me leva até o trem, olhando para os dois lados das marginais, zuuum pra lá e zuuum pra cá, ali pra mim é São Paulo, se alguém me pergunta uma foto, uma imagem, são todas aquelas luzes de longe, nada de gente, só máquina e zummm pra todos os cantos, de trem é mais rápido mas é mais solidão, assepsia total, sentimentos e coração, você lá e quem fala e brinca é estranho ver, por isso ainda prefiro o buzu, mesmo demorando, a leseira da viagem faz a conversa fluir, no trem não, ninguém segura a bolsa, tá todo mundo pensando em descer, em ir embora, em não se envolver. E quanto mais eu fico em São Paulo, mais baiana eu sou, as pessoas dizem mas como você tem esse sotaque todo E fica parecendo que eu forço a barra, mas é o contrário, quando eu falo da hora mano mina meu obaratoélôco Eu acho estranho, língua fora de mim que entra pelas frestas do cotidiano, eu cheia de arestas quero aparar tudo. Sonhei ontem um sonho louco e doce, a gente junto num ônibus lotado, eu fechava os olhos e quando abria era só eu e você no meio do ônibus dançando um tango, uma pequena platéia observava nossos passos no ônibus que sacolejava vazio, dois pra lá, dois pra cá e meu rosto colado no seu, lembro que você não se cansava, não ofegava, dançava, dançava, seu olhar me penetrava; eu, enquanto você me despia de olhos arregalados, tentava controlar o passo, olhava pra baixo, sem jeito, sem rumo, sem tino, desatino. Acabou, acordei, virei o rosto, virei o corpo, dormi de novo, eram só três horas da madrugada, queria sonhar de novo, mas só o gosto do sonho embalou meu sono até bem tarde, quando o sol cinza se fez presente, quase-poente. Queria te dizer isso, mas você sabe separar as coisas, é certinho, é out, démodé. Vai entender. Preciso ler tanto, preciso estudar tanto, e fico aqui, olhando pra essa página em branco, que me seduz, me chama, e eu vou, vou, quando vejo é já noite funda, e eu que nem escrevi metade do que senti hoje, que faço, mordo os pulsos, faço careta na frente do espelho? Aparento calma que tem gente olhando, a tv’ tá ligada e o filme tá passando.

Oxen'.

Que inteligência é essa, me explique. Quem é inteligente pra tu, as donasmarias do mundo todo que sem estudo formal vive e vive e ainda ensina tudo que sabe e do jeito que pode, ou um dotô da vida, que na vida real só aprendeu a sistematizar as coisas num monte de palavra bonita num texto conformado pra ganhar bolsa? Preciso responder pra tu ou tua ficha já caiu? Em muitas sociedades africanas, a idéia de conhecimento é outra, e de educação também: fomos nós, ocidentais falidos que inventamos a separação forçada entre “teoria” e “prática” (tenho ojeri-za por essas palavras assim se-pa-ra-di-nhas), que destruímos a educação e a transformamos em ensino (já pararam para perceber que quando a criança vai pra primeira série, que é quando vai aprender, em síntese, as primeiras letras, conhecer o “mundo ocidental letrado”, o que era educação infantil vira ensino fundamental? Por que será, hein? Se tu visse uma sala de educação infantil ia entender: as crianças ali, ainda podem ser crianças – tudo depende, é claro, da professora, da educadora e da escola. É por isso que ainda hoje se chamam as escolas de educação infantil de pré-escola. Por que não é escola, de fato. É antes dela, mas poderia ser também o que ainda temos de bom nela.) . Essas dicotomias todas são fruto de uma idéia cartesiana absurda, o tal cogito ergo sum. Que pensologoexisto que nada, tá mais que na cara que pra existir tu tem que sentir, e eu arrisco mais: pensar nada mais é que mais uma das formas de sentir o mundo, não sem subjetividade, não sem emoção. Sinto, logo existo. Ubuntu, lembra? Eu sou por que você existe. Tá tudo explicado, só não ver quem não quer. Ou quem tem medo de lobo mau.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Chorei.

Chorei Não procurei esconder Todos viram Fingiram Pena de mim Não precisava Ali onde eu chorei Qualquer um chorava Dar a volta por cima que eu dei Quero ver quem dava Hoje foi dia. Indo embora de uma escola, amanhã entrando em outra, crianças te afagando, dizendo chora não Te dando beijinhos, é pra no mínimo chorar e chorar até que todas as lágrimas se mandem, viajem, nunca mais apareçam. Ainda bem que na outra escola, a mocinha de três anos me salvou. Perguntei seu nome e ela disse é Tatiana, por que quando deus me fez, minha mãe me deu esse nome E com a mãe chegando, ela vira pra mim e diz amanhã a gente conversa Quase trocamos números de telefone. Depois foi a outra que eu distribui tíquetes de R$48,70 no grupo dela, para fazerem compras no mercadinho de mentirinha da sala, me dizendo que professora, nós gastamos R$22,70, por que a gente comprou só doce, e vamos ter que separar o dinheiro pra comprar remédio pra dor de barriga

segunda-feira, agosto 18, 2008

Livro da professora.

Não é engraçado que o livro da professora venha respondido, já que nós somos, em tese, quem deveria saber mais? Os livros dos estudantes é que deveriam vir respondidos, assim eles e elas confrontavam as respostas. E o nosso, não respondido, daria espaço para o debate. Tudo mentira nesse mundo

sábado, agosto 16, 2008

Dor de barriga.

Dona Noi diz uma coisa, pra quando eu tou retada deixe pa lá, minha filha, dor de barriga não é doença que dá e passa Ou então quem esquenta a cabeça é palito de fósforo Aí eu subo a ladeira mais devagarinho, pensando na vida, sofrendo e gostando. ___________________________________________________________________ A menina de quatro anos, me viu e apontou para o seu cabelo preto e crespo meu cabelo é liso E eu disse é? e o meu cabelo é crespo Ela fez careta assim, e ficou lá, desenrolando o cabelo preto e crespo dela, pra ficar liso. A mesma coisa fez a mãe da outra, menina de quatro anos, já com cabelo alisado.

Linda e cabeçuda.

Foi ninguém mais que disse não, foi ele, moço por quem já suspirei. Vou ali sambar um pouco, amar um pouco, sorrir um pouco, que a vida é tão demais e tanto que que que ufa.

quinta-feira, agosto 14, 2008

Passando.

O tempo passa A vida passa As coisas passam O amor? Passa, mas ainda bem que repassa A tristeza, se tu ouve um samba passa A lágrima vai e passa A dor passa O sorriso transpassa E se tu passa Eu também passo.

terça-feira, agosto 12, 2008

04 de agosto de 2008.

Conheci gentes boas. Um começa com A, e o resto eu não vou falar, pra coisa complicada não ficar, a gente fala que gosta e as pessoas ficam logo loucas, preocupadas, como se amar fosse um problema, um dilema, mas pra mim é só gosto bom de viver, e quando eu escolho amar não é por mim nem por você, nem pelo A, é pela vida por aí, pra fazer bem a quem tiver que vir. E tem o I., que eu gosto sempre mais depois que conheci. Tem J., D., F., M. e tantos outras letras de nomes que emparelhadas formam o alfabeto do coração, vou parar de amar não, por que não chega de vontade a vontade de viver. Deixo pra você tocar o resto da canção, por que eu vou ali, amar um pouco e sempre mais. Depois tem o fato de que a gente descobre que a covardia ainda é sim, a pior coisa que alguém pode ter como defeito. Covardia, prima-irmã da intriga, preguiça feia e futricagem. Sou sortuda mesmo. Hoje ouvi historias feias de violência, tristeza, choro. E eu ando por aí, não me acontece nada. Nada. Do que vou reclamar?

domingo, agosto 10, 2008

Escrevinho.

Escrevo não por que quero. Para mim a palavra se impõe. É ela quem me acorda às seis e quarenta e cinco dum domingo chuvoso, é ela quem me desperta no frio gelado e eu pelada, a palavra me bate na cara, me bate à porta, bate meu coração. Escrever é ordem do dia, dos minutos que se escoam pela vida afora, agora é só paz quando ouço as teclas do computador e um cachorro lá fora lá longe, barulho de buzina de moto, barulho de samba no final, é domingo ainda, e a palavra que me devora.

Escrevo por que quero. Quero e não quero. É nesse empurra-empurra que as palavras saem, todas desalinhadas, briga de foice, as palavras vão saindo e eu vou me esvaindo, para nascer de novo quando elas são ditas, todas em desalinho, as palavras não têm ninho, são de quem quiser, queiram ou não, elas comparecem.

É na solidão que descubro que a palavra me devora mas também é companheira, venho matutando escrever tanto quando estou no ônibus, mas depois vejo que tem coisas que só quando estou no ônibus mereceriam ser escritas, como ontem andando pelo centro de São Paulo e paguei uma hora na lan house para escrever um texto, mas quando sentei na cadeira, era só uma cadeira, o centro estava lá fora, santas ifigênias e vintecincos não me apareciam mais, desisti. Coisas e coisas que eu quero falar, mas que só tem graça na hora, a solidão me ensina isso mas ainda não me ensinou o que fazer com tudo que eu quero falar e não acho gentes, tudo que eu quero escrever mas passou da hora.

É aí que quando encontro alguém para me ouvir gasto os ouvidos, tento me controlar mas quando vejo sou a nega do leite de novo, por que tem gente que me olha como se eu tivesse mesmo dizendo alguma coisa interessante, duas mãos postas no queixo e todo o tempo do mundo, então eu continuo, depois se a pessoa me pergunta como eu me tornei o que eu sou não sei responder e desconverso, como eu sou o que eu sou não sei; por que talvez esteja só preocupada em ser, não em dizer. E aí quem perde tempo do meu lado talvez descubra alguma coisa de mim, vá saber, mas é bom que depois me diga, para que eu saiba pelo menos o que é que parece que eu sou para alguém que me pergunta como eu sou o que sou.

Queria tapar boca e ouvir mais, mas a solidão faz dessas com gente, trairagem, tu fica quieta no teu canto por tanto tempo e quando encontra alguém no primeiro encontro já assusta com tanta palavra, fala mais que a boca e a boca que sair pra fora, quer ganhar asas, você dá uma pausa e a pessoa também respira, Dale Carnegie disse que quando tu tá conversando é normal essas pausas, eu li esse livro, Como fazer amigos e influenciar pessoas, mas não sou má não, é que meu pai tinha esse livro e eu tinha quatorze anos e ele lia e eu queria ler também, lembro dos mandamentos do sr. Carnegie mas não consigo seguir nenhum, dane-se.

Mas no fundo eu acho que falo e falo por que não quero ouvir mais e tanto de outras pessoas, vai que eu me apego e aí é fogo, amor é uma danação, amor.

E quanto mais a gente fala da gente pro mundo mais a gente descobre quem a gente é; eu disse hoje que um pouco do que eu sou vem da minha solidão, e é isso. Por que eu tenho que descobrir quem sou para ser eu de novo com todas as pessoas, mesmo com aquelas que nunca mais vou ver na vida. Não sei quem sou, só sei que tenho que ser.

Leio tudo e tanta coisa que me chega às mãos. Carolina de Jesus, Cidinha da Silva, tantas mulheres e conversas, e eu quero sempre mais, sob o perigo de parecer louca. Serei eu louca?

sábado, agosto 09, 2008

quarta-feira, agosto 06, 2008

Maninho.

Do nada, lembrei dele. Chorei.