Você que me lê, me ajuda a nascer.

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Nós.

só a lembrança do seu amor me sustentaria uns cem anos Essa foi a dedicatória que escrevi faz uns anos. Me lembraram ontem. Não deixou de ser verdade. O amor dele foi bom, a lembrança me faz bem. Até mesmo terminar do jeito que terminou, cicatrizes mil, foi tudo muito bom. Hoje eu acho assim. E é ele quem me diz hoje talvez você espere um amor tão grande que intimide quem só quer ver se aprende agostar a você Talvez seja isso mesmo. Hoje, eu acho assim.

Cigano.

Rui virou pra mim e disse, lendo minha mão você não é feia, só não tem sorte na vida Isso depois dele ter dito que alguém famoso está apaixonado por mim, mas que eu tinha que descobrir quem era. Que o tal moço toca numa banda, que eu tinha que ir num show dele e que ele ia jogar um lenço branco e eu ia pegar. Rui é morador de rua aqui em Itapoan. Sabe de coisa que até eu duvido. Legal, né? Mas Rui tá morrendo. Com uma ferida na perna, morrendo assim como João, outro morador de rua que conheci ano passado mas que agora não está mais aqui para contar história nenhuma. A gente foi ver o que podia fazer, mas o hospital disse que primeiro ele tinha que tirar os documentos. Ele se retou e voltou pra rua. Deixa vir aquelas pessoas à noite, toma sopa e refaz os curativos. Está morrendo. Lê minha mão e suspira, pede um copo de água. A manhã vai lenta embora. Fico ali na rua, olhando o tempo passar, conversando com todo mundo que passa. Aprendendo tanto da vida ali, só olhando o tempo passar.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Alguém roubou meus livros.

... e eu deveria estar feliz, sim? Alguém roubando livros, alguém vai ler os livros, vai passar pra alguém. Voltando do RJ, empresa WEBJET, tive a mala violada e os livros roubados. Um sobre África, um era o depoimento do Zuenir Ventura sobre os tempos da ditadura. Deixa pra lá.

Já cheguei em Salvador, tudo vai dar certo.

Passo horas sentada, sem fazer nada, só olhando o barulho que a vida faz.

terça-feira, dezembro 23, 2008

Nada.

Aqui na minha casa não tem microondas. Não tem máquina de lavar. Não tem computador. Mas tem o amor de mainha esquentando comida no fogão e me ensinando que homem não pode mandar na gente hora nenhuma da vida.

domingo, dezembro 21, 2008

Em Copa.

Cabana. Eu gosto de gostar, gostanu, a la solano. É verdade sim, o Rio de Janeiro continua lindo. Continua sendo. Sendo. Jorge Ben não é besta nem nada. Salve, salve. E não só em Copa, gosto de tudo.

quarta-feira, dezembro 17, 2008

Michele Obama e sua chegada à Casa "Branca" - homens brancos (e negros?), tremei!

Roubei essa foto de um blog legal pra caramba: http://www.webneguinha.blogspot.com/. Coisas da vida que só a internet faz, conheci a moça (não a Michele gente!) do blog assim, por aí. Agora nos falamos vez por outra. Até que queria falar mais e mais com ela, talvez com mais tempo eu consiga. Gostei da foto, Michele correndo, chegando na frente, na frente mesmo de Obama, e ainda mais de vestido lilás, a glória. Ela é primeira-dama pra presidente nenhum botar defeito. Agora até dá vontade de falar por aí que sou sulamericana. Ehe.

terça-feira, dezembro 16, 2008

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Ninar de cabelo.

professora, quando você vem com o cabelo assim, eu lembro de te fazer nina no cabelo diz uma criança, enfiando os dedos no alto da minha cabeça. ou então professora, eu disse pra minha mãe que você é africana

Birotes.

Já leram "As Tranças de Bintou"? Não? Deleitem-se.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Rio Tietê.

E eu mas quem é que suja o rio? A meninota nós, professora, nós Consciência ambiental. Gente adulta e emburrecida diz eles sujam, eles, sempre eles.

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Outro lugar.

Já ouviram Viagem, de Vanessa da Mata? Ouçam, e lembrem de mim. Gosto da frase não quero merecer outro lugar Eu não quero merecer outro lugar, quando mainha me liga às sete da manhã num domingo, só pra me dizer oi e contar as novidades, as fofocas. Pra me dizer que vai largar o emprego, que não aguenta mais trabalhar. Eu apóio e falo que é isso mesmo. Como vai viver, perguntaria logo um paulistano, eu pararia e responderia, não sei, mas se tu mora a 400 m da praia e não consegue tomar sol toda semana, tá na hora de pedir as contas do emprego. Como me disse um aluno dia desses, quando eu fiz a chamada o Heitor não vem mais professora, ele foi demitido Ri sozinha e continuei a chamada, as crianças comentando que a transferência de Heitor é por que ele tinha sido demitido. Mas não quero merecer outro lugar também quando estou ali, meio do mato, o axé do mundo todo é meu, é nosso.

sexta-feira, dezembro 05, 2008

Chororô.

Crianças, eu quero que vocês desenhem o momento mais legal, mais especial aqui na sala Me disseram foi no dia em que te conheci todos os dias são muito legais, não tem um dia só eu gostei no dia que você brigou comigo, você é muito engraçada Eu fico chateada com eles e elas, tanta conversa e eu cansada, mas não dá pra abrir um sorriso no meio desse dia cinza. Um sorriso não. Vários.

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Segurando o tchan.

Olha o e-mail: De toda forma, aqui vai um "Para Casa" para você: Favor escrever, em ordem alfabética, uma relação de todos os pretendentes do último e deste ano, colocando na frente de cada nome uma qualificação e uma historinha correspondente (por ex. G*: baiano, usa óculos, que falou no carro assim assado..."). No caso dos estrangeiros, não esquecer da nacionalidade (italianos, moçambicanos, angolanos etc) e mencionar que estão fazendo no Brasil (curso, passeio, conhecer Migh Danae). Razão? Esse pobre interlocutor às vezes fica perdido com tantos nomes e pretendentes. Assim, a cada nova história, ele poderá consultar o glossário e até, daqui para frente, acrescentar por conta própria novos nomes. Se você quiser colocar estrelinhas de importância ou de impacto de chegada, fique a vontade. Adoro a franqueza de meus amigos.

sábado, novembro 29, 2008

Descobrindo Djanira.

Orixás, 1966
Descascando mandioca, 1965
Tá bom, tá bom. Não reclamem. Só conheci Djanira agora. Mas pra me redimir, me apaixonei. Tu tem que ver esses quadros de perto, sentir as cores. Djanira bota pra lá.
Lindezas.

Palavras.

A gente precisa da palavra como o corpo precisa do outro pra deitar e rolar. Precisa da palavra como a folha que quando cai do pé de laranjeira só quer mesmo é encontrar o chão, se abrigar juntinho de todas as outras folhas que caem. solitário é ser gente A gente precisa de palavra pra matar o sono, pra matar a sede de viver entre as gentes, precisa de palavra pra esconder coisas, pra revelar outras, para entender a vida e desentender a gente. Letra é treta, a pele da palavra. Allan Da Rosa.

sexta-feira, novembro 28, 2008

Quero te ver, bonita.

Ele me diz, no seu português arrevesado, pelo celular preciso te ver, tou com saudade de ver mulher bonita, né? E eu ando ensaiando no passo, sambando de vestido amarelo emprestado no meio do frio, entre lotações apertadas e olhares em cima do decote azul com fundo branco. Sabe quando tu bebe? As pessoas ficam recortadas. E é por isso que às vezes tu não lembra do que fez, por que tu beijou a boca, a boca só, mais nada. Foi naquele flash que a boca merecia ser beijada e sua memória recortada que não sabe juntar pedaços de gente beija a boca, a boca, que depois te liga e te cobra um novo encontro. Vai entender a vida.

Quilombo Campinho da Independência, RJ.

Tinha Estevão, menino preto lindo de olhos-jabuticaba, uns 10 anos, mas ele era tão lindo que não consegui fotografar. Tinha tanta luz e vida que fiquei com medo do flash se apagar e bum o mundo ir junto por causa de tanta beleza que tinha seu sorriso, sua juventude, sua força pra tocar o tambor do jongo (saravá). Guardei em minha memória sua alegria doce de um fim de sábado à noite.

Festa Migh&Day.

2008 tá indo embora, vamos comemorar!
Para aquecer as férias que já estão quase chegando, vamos reunir as amizades e fazer uma grande festa!
Onde? Casa de Migh&Day – Rua Nitra, 64 Jardim Itatiaia, SP (chegar no Terminal Grajaú e subir a Rua Giovanni Bononcini até o cruzamento com a rua Prefeito Paulo Lauro. Entrar nesta rua e seguir direto, entrando na terceira rua à esquerda, que já é a rua Nitra. A nossa casa fica em cima de uma placa onde se lê BRASTEMP. Se nem assim você conseguir nos achar, ligue 83465695 (Migh) ou 85415337/67138260 (Day).
Que dia?
13 de dezembro, às 20:00;
O que vai ter pra comer?
Vai rolar um jantar típico com comida baiana e depois, um churrasco de leve, para manter a boca cheia durante toda a noite. Para isso, pedimos a contribuição de R$ 10,00 de cada convidado/a. Depósito: Agência – 0736
Conta Itaú – 71615-0
O que vai ter pra beber?
O que você trouxer, o que você quiser, o que você preferir.
Além da festa, da gente bonita e da música, vai rolar um amigo desapego, um jeito novo de trocar presentes no fim do ano. Não vamos explicar muito, só pedimos que quem quiser participar do tal amigo desapego, que traga um presente, um presente qualquer, mas escolhido com muito amor e carinho. Aguardem e confiem!
Então...
Jantar típico: 20:00;
Amigo Desapego: 21:00;
Churrasco: 22:00;

VEEEEEENHA!

Isso foi ontem. Hoje é ontem.

Indo para o trabalho, vendo uma criança que apoiava a cabeça no colo de sua mãe, meus olhos marejaram. Senti falta da minha, senti a força de um amor tão bonito que põe a cabeça no ombro e esquece do mundo, que não quer mais nada além de ser feliz ali, com a cabeça no ombro de mãe. Ombro de mãe é outra coisa, por mais que não se fale. Chorei então, e me permiti sentir, mais uma vez, saudade. Não sei mais como fazer com certas coisas, envelheço, alongo o corpo mas o coração não quer saber de mais sofrimento, então eu já disse que não quero mais sofrer por coisa pouca, coisa pouca eu vou ali e falo tudo, boto pra fora e em segundos já estou melhor por que bem mesmo só se as pessoas que amo entendessem que meu amor não precisa de nada, só precisa de amor. De amar. Não adianta ser Migh se tu não tiver jogo de cintura com as pilantragens da vida, com as pessoas que não sabem ser elas mesmas e se irritam com você sendo vinteequatro horas por dia, é quando você olha pro lado e vê que pessoas que estão no seu caminho e que tu dá a mão precisa também aprender a ser só e a parar de ter medo, ciúme e raiva que você entristece um pouco mais, mas, eu lembro de um moço que num abraço apertado me disse que dura eu não ia ficar por que eu tinha medo de ficar dura. Quis ele pra mim, quis roubar sua luz... não entendi. Deixei pra lá. Nos encontramos nos trens da vida. Tem dias que em São Paulo o único encontro que presencio são mesmo os dos trens. Dois trens se cruzando, você já viu? Encontro São Paulo: os vagões que não se olham, não se beijam, não se batem. Correndo, não se sabe quem corre mais, mas sempre é corrido. Vrrrrrum, e lá se foi mais um encontro dos trens. Ele lá, eu aqui dentro. Bem-vindo a São Paulo. Gente que vai e que vem, e gente que na verdade nunca foi, e talvez nunca tenha vindo. Estão aqui, estão-estão. Não sei dar um jeito nelas, por que também não se tem jeito a dar em tudo na vida. Tem coisas que tu empurra com a barriga, coração, cabeça. Finge que esqueceu, sorri, é mentira. Estou cheia de segredos, estou triste. Descobrindo coisas de mim mesma e de pessoas tão perto que não consigo escrever muita coisa, é tanta idéia na cachola que. Lendo Pedro Juan, leiam Animal Tropical, leiam qualquer coisa de Pedrito, ele é pervertido com classe, faz você entender por que pessoas como ele existem, ele se justifica em cada parágrafo; nesse livro, falando de felicidade e liberdade como caminhos, não como metas. Derrubei açúcar na cozinha, dizem que açúcar traz felicidade, derramar faz bem. Não sei. Não senti nada na hora. Se acontecer alguma coisa, eu escrevo aqui. Tanta gente, gente nenhuma. Todo mundo te fala, te elogia, te diz bonita, mas nada aqui dentro acontece. Seca? Dói. Arestas nem sempre são fáceis de aparar, como asas que crescem do dia pra noite, você tenta esconder, como flor no alto da cabeça que você tenta podar. Mas me disseram você é um encanto quero você com seus medos, mas não com talvez quer namorar comigo? E eu me pergunto: por que eu faço isso comigo? Sinto falta de mato, de terra, de barro, de pedra, pau, folha seca, pássaro. Sinto falta e não com hora marcada, quero nadar no riacho, como diz Brown, quero uma casa no campo, quero flor, quero brincar de pôr formiga pra brigar, quero prender aranha no vidro de maionese, marcar hora pra ver lagarta virar borboleta, quero caçar esperança, grilo. Quero natureza entrando e saindo pelos meus poros, quero vida. quero tudo isso mas não apenas num fim de semana e tchau, quero viver sem pressa, quero achar graça nas pessoas que correm quando saem do trem, quero estranhar as agressões diárias que as pessoas se permitem receber e fazer, quero olhar com alma de criança pras coisas, quero ficar só sem ter que dar satisfação de nada disso que escrevi aí em cima. Na lua cheia, abracei Abracei o mar

O melhor lugar do mundo é aqui, e agora.

Venha, chegue mais, chegue mais. Estamos cheios e cheias de amor pra dar, chegue mais. Me diga se tu não ficaria toda boba se trabalhasse numa sala de aula que tu ensaia a música de encerramento e as crianças se emocionam e choram. Reclamar da vida? Eu, hein!

terça-feira, novembro 25, 2008

Ele vai te dizer que não é arte, ele quem, eles, vão dizer que só eles sabem produzir e você tem que consumir, pra consumir a arte deles você tem estudar na escola deles e tem que pagar caro, depois tem os eventos e toda aquela pose, ele vai te dizer que você só entende de arte se suspirar meio tom acima do normal quando chega perto do quadro de fulano de tal, ele vai te dizer um monte de baboseira mas não acredite, a arte não é o que ele diz, é o que mexe, remexe e revoluciona, é por isso que ele quer tanto colocar a arte dentro de um vidro, uma moldura, um pedestal, pra tu pensar que arte é coisa que não pode pegar, amassar, revolver, mastigar, refazer. Eu tou mais interessada em sentir do que dizer.

segunda-feira, novembro 24, 2008

sexta-feira, novembro 14, 2008

minha preta, que o tempo sempre te traga coisas muito boas. Não porque hoje você faz aniversário, mas porque você merece e o mundo é um lugar melhorzinho com você dentro dele, de preferência sorrindo. beberei uma por você hoje, outra por teu sorriso e mais uma terceira pela saudade. Em suma, acho que vou beber várias. deveria ser feriado uma data tão bonita! Sou eu fazendo aniversário, são as pessoas que me gostam me dizendo tudo que eu tenho que ouvir. Mas eu chorei cedo, lembrando de minha adolescência em Salvador, a gente sem dinheiro fazia uma festa que parecia boba, parecia nada, acordava a pessoa com uma caixa de chocolate na mão e uma carta na outra, cantava parabéns, pronto, era isso, e o dia seguia sem mais complicações. Senti falta, mais do que da caixa de chocolate e da carta, do abraço. E nem telefonemas da França, mensagens de texto da Itália, vão fazer a falta que eu sinto ir embora. Parabéns para mim, então.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Dilema.

Fico aqui pensando: é chato ser gostosa ou é gostoso ser chata? Questão crucial para mais uma terça-feira sem sol.

quinta-feira, novembro 06, 2008

Bahia de todos os sambas.

03/11/2008 - 08h10 Sambistas baianos mostram o melhor do ritmo regional no Sesc As informações estão atualizadas até a data acima. Sugerimos contatar o local para confirmar as informações da Folha Online
Riachão volta a São Paulo em shows com sambistas baianos Uma aula de samba -em seus diversos matizes - acontece em São Paulo nos dias 7 e 8 de novembro (sexta-feira e sábado), no Sesc Pompéia (região oeste da capital paulista). Os professores serão quatro importantes sambistas baianos: Riachão, Mariene de Castro, Nelson Rufino e Roberto Mendes, que apresentam as variáveis do gênero da Bahia --partido alto, samba de coco e samba do recôncavo-- no show intitulado "Bahia de Todos os Sambas". Riachão foi o primeiro compositor baiano a ser gravado no Rio de Janeiro após Dorival Caymmi, ainda na década de 50. Suas músicas "Meu Patrão", "Saia Rota" e "Judas Traidor" foram interpretadas por Jackson do Pandeiro. Por anos, entretanto, o nome de Riachão continuou ligado ao "povo do samba", tornando-se mais popular entre outros públicos somente depois de suas composições terem sido gravadas por nomes de peso da MPB, como Caetano Veloso ("Cada Macaco em Seu Galho") e Cássia Eller ("Vá Morar com o Diabo"). Sambista revelação, Mariene de Castro se inspira na música do Recôncavo Baiano Nelson Rufino é um dos principais compositores baianos. Autor da música "Verdade", que se tornou um clássico na voz de Zeca Pagodinho, Rufino já fez parcerias com Jorge Aragão, Martinho da Vila, Noca da Portela, Zé Luiz do Império, dentre muitos outros. Tem dois discos solos gravados: "A Verdade de Nelson Rufino" (2002) e "Cadê Meu Amor" (2004). Tanto o compositor Roberto Mendes quanto a novata Mariene de Castro criam seus trabalhos musicais a partir de pesquisas dos ritmos populares tipicamente baianos. Mendes, que dedica sua carreira à pesquisa e à prática da chula do Recôncavo, ritmo característico de sua região, já foi gravado e cantou ao lado de Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gal Costa, Margareth Menezes e Gilberto Gil. Mariene de Castro, cantora da nova geração baiana, recebeu prêmio de melhor disco regional no Prêmio TIM de Música 2005, com o seu primeiro trabalho intitulado "Abre Caminho" (2004). O disco é resultado de intensa pesquisa musical da cultura popular, das canções do sertão e do Recôncavo Baiano. Choperia Sesc Pompéia - r. Clélia, 93, Pompéia, região oeste, São Paulo, SP. Tel.: 0/xx/11/3871-7700. Sex. (7) e sáb. (8).: 21h. 800 lugares. Ingr.: de R$ 4 a R$ 16. Classificação etária: 18 anos. http://www.sescsp.org.br/

Extraído de www.guiadafolha.com.br/shows/ult10052u462291.shtml

terça-feira, novembro 04, 2008

Lua, lua.

Goiânia, agosto de 2008. Eu não, sei, menina, sei não, disse ele desvestindo a roupa e entrando de novo debaixo das cobertas, mas é esse olho quando me olha, ele me disse, me olhando, esse seu olho me chama e que chama, acende tudo, eu quero de novo, chega aqui, vem perto, vamos só mais uma vez antes de ir embora e nunca mais a gente se vê, como é mesmo o seu nome? Marina, ah, Marina, eu lembro, sabe que meu pai sempre cantava uma canção quando eu era pequeno que falava de uma Marina que se pintava, mas você não se pinta, seu olho quando me olha não tem pintura mas me devora mesmo assim, tu não precisa de lápis no olho pra desenhar todos os caminhos por onde vão passar meu coração até chegar na calmaria dos teus beijos de novo, eu vou embora, você também vai?, a gente não vai se ver mais, vamos aproveitar então, deixa eu chegar mais perto de você, quero saber o que tem por trás destes olhos que me olham, ou o que eles fazem quando descansam, quando tu dorme quem cuida de quem tu olha e seduz assim, me diz, me conta, ou não, tá bom, não quero saber, a gente não vai se ver mais. Vem aqui. _________________________________________________________________________ O que a solidão me trouxe? A palavra. Hoje sei sorver mais e melhor os doces e as passagens. Hoje sei escrever coisa bonita com dor no peito e no corpo. Hoje sei sumir e nunca mais dar noticia, ser ruim. A solidão me trouxe a calma de uma amanhã ainda solitário, então, coisas pra fazer, livros pelo chão e casa em desalinho, quem se importa? A solidão me trouxe o choro escondido, a fragilidade perene, a fragilidade forte que não assume ser frágil, que só assume as dores quando elas já não doem, a solidão me trouxe as defesas de novos amores, os esquivos de longos amores, as dores de amores que não vão embora junto com a ressaca. A solidão me trouxe. A solidão me leva. __________________________________________________________________________ 3 de novembro. Ali embaixo, rua de baixo, árvores retorcem o cimento da rua. Não passa nada. Três árvores, imponentes, sobrevivem. Eu passo perto delas, admiro suas raízes, lembro que só quem conhece suas raízes pode voar Foi assim comigo. Só quando conheci minhas raízes pude voar mais e melhor. E voltar sempre. Lá em Salvador, na casa velha, lembro que quando a gente foi derrubar a jaqueira no quintal, tinha raiz lá na sala. A gente assistia TV’em cima da raiz da jaqueira, isso por que ela deixava, por que ela quis. E eu gosto de um amigo que diz livro é arvore, é chão, é pão Me satisfaço então.

quarta-feira, outubro 29, 2008

Eu levo jeito.

Nada demais presta. Vejam vocês, eu sou uma manteiga derretida. Ninguém choraria ali naquela hora do filme, o pai e a filha juntos cuidando da vaquinha no pasto, ela com um machucado na teta, olha como eu viajo, choro pensando como seria bom ter tido mais momentos de pai e filha com o meu pai. Lembro quando era criança e ele me fazia cócegas com a barba, eu fingia não gostar mas ficava pronta esperando ele me puxar pro colo e me futucar com sua barba carraspenta. Esses tipo das coisa, como diria meu amigo camaronense. Manteigo pra umas coisas, endureço pra outras. Tenho que aprender tanta coisa. Quando é que sou eu, quando é que é a outra pessoa que tem que falar, dizer, sentir. Não sei ainda nada do mundo e me arvoro a conhecer as coisas e os sentidos, não dá pra estudar as relações humanas no ponto de vista cartesiano, as relações são fluidas e quando você vai ver aquilo que doía cresceu e não dá mais pra dizer o que é, o que foi, misturou com outros sentidos e agora não tem mais tanta importância, deixa pra lá. Joel Rufino falou, eu assino embaixo. Essa mania de fitar estantes é minha também, e vai ver é por isso que adoro tomar banho de porta aberta (o vizinho também aprova!), do chuveiro consigo ver a minha estante de livros, cena inóspita e bela, adoro fitar estantes. De biblioteca, de livraria, vale qualquer uma. Correr a mão pelos livros, só olhar a capa, sentir o cheiro do livro, ler a orelha e guardar de novo, mesmo lugar. Mania. ______________________________________________________________________ 28.10.08 Ninguém sabe é de nada da vida. Quando tu pensa que fechou o livro de história vem mais uma historinha e tu se perde no fio da meada, bebida e mais umas palavras, suspiros, pronto, já fez besteira, já falou o que pensava e nem sempre é bom, não quando é para alguém longe e sem coragem, mais um, mais uma dose, na verdade, não é fácil, Vírginia diz quem de dentro de si não sai vai morrer sem amar ninguém Guente uma dessa na cabeça e experimente ir dormir com esse barulho martelando lá dentro. Eu não sei de nada, nada mesmo, só sei do que sinto, e quando sinto eu digo, por todos os poros falando e refazendo, eu não tenho medo de nada, nem de bicho que voa na noite nem de amar de novo a mesma pessoa. Quem liga? Eu ligo, mesmo sem crédito. A cada dia que passa estou aprendendo a viver com menos. Menos dinheiro.

terça-feira, outubro 28, 2008

Lágrima de preta

Encontrei uma preta que estava a chorar, pedi-lhe uma lágrima para a analisar. Recolhi a lágrima com todo o cuidado num tubo de ensaio bem esterilizado. Olhei-a de um lado, do outro e de frente: tinha um ar de gota muito transparente. Mandei vir os ácidos, as bases e os sais, as drogas usadas em casos que tais. Ensaiei a frio, experimentei ao lume, de todas as vezes deu-me o que é costume: Nem sinais de negro, nem vestígios de ódio. Água (quase tudo) e cloreto de sódio. Antonio Gedeão

quinta-feira, outubro 23, 2008

Presente.

Crianças, escrevam frases com verbos no passado, presente, futuro! Vem a menina: minha vó tem um passado eu tenho alguns passados terei um futuro pela frente

terça-feira, outubro 21, 2008

segunda-feira, outubro 20, 2008

domingo, outubro 19, 2008

Olhando no espelho.

Para a infância negra Construiremos Um mundo diferente Nutrido do axé de Exu Do amor de Obatalá Da espada justiceira de Ogum Neste mundo não haverá trombadinhas, pivetes, pixotes e capitães de areia. Abdias do Nascimento

sexta-feira, outubro 17, 2008

Venha, vá.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Pérolas.

A gente sempre esbarrando por aí nas pérolas das crianças. Dessa vez foi o mocinho, que via a professora todo dia falando que não podia mascar chiclete na sala nem chupar bala. Um belo dia, aparece a professora, enfiou uma bala na boca no meio da aula. A tarde inteira de danação e traquinagem, até a hora que a professora deu o sermão, dizendo que ninguém ia no parquinho, já que tinham malinado a tarde inteira. No que levanta o mocinho a gente vai no parquinho sim, professora, por que a senhora disse que não podia chupar bala na sala, e descumpriu o acordo. mostra a língua aí, tá vermelha, da cor da bala, mostra aí, vai A professora, muito consciente de seu papel e de seu exemplo, não ia descumprir o acordo, relembrado e proferido por uma criança de cinco anos. E pra completar, me disse e eu lá ia dar ousadia a ele de mostrar minha língua vermelha? fui pro parquinho, ele tava certo Da outra vez fui contar história num evento numa escola, peço pra todo mundo me dizer, nome, idade e série, escola onde estuda, chega a vez de uma menininha, meu nome é Gabriela, tenho seis anos, não estou na escola por que minha mãe não achou vaga Silêncio total, eu com que cara continuo ali, tentei emendar umas perguntas sem sal, mas tu quer estudar, ela hum-hum, menina pequena mas de alma coragem que me disse delicadamente, existe um mundo para além do seu moça-letrada, é o mundo onde as mães não conseguem vaga e eu, menina esperta que sou, quando sei que tem história de graça em escola perto de casa, vou. Aprendo mais assim, com essas pancadas da vida, do que lendo tratado de sociologia. ____________________________________________________________________ Cássia Eller disse que não sabia usar o amor. Será que eu sei? E quando a gente tá tristinha, faz o quê com o amor que tem pra dar? Será que o amor fica triste dentro da gente também? Será que fica com raiva? Amor com raiva faz bico e cara feia? Queria nunca mais repetir a cantilena, mas quero mainha, quero Lagoa, sofá vermelho, comer bolo de feijão com a mão, dormir na cama dela, chegar tarde e ir no quarto só pra ver se ela está lá. Mas também quero quero outras coisas, só não quero que me deixem, queria colo mas sem compromisso nem pena, queria cheiro de alfazema, quando eu era criança tomava banho e corria no colo de painho, só pra ele me cheirar. Mas agora é a dureza da vida toda, é mundo grande que não se acaba, palma da mão pequena pra mostrar o quanto andei, quero café com cuzcuz de manhã cedo me esperando, quero bater tampa de panela procurando comida que acabou de ser feita por ela em minha casa, quero mesmo que seja panela vazia, quero colo, quero alegria, gente sorrindo, conversando na rua, risada à toa, mormaço de fim de tarde, cheiro de chuva na terra, não quero guerra nem muita filosofia, quero meio do dia sol a pino, brincar de fura-pé que nem menino, quero-quero tanta coisa, mas fico aqui na frente dessa máquina, esperando o tempo passar, só pra mudar de tempo, quero e não sei se não resolvo por medo, desespero ou desemprego.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Nem que eu bebesse o mar,

Enche não. Enche o fundo não. É quando eu venho pra essa casa, dormir aqui, sentir esse frio dessa casa, mas esse coração quente da dona dessa casa, que eu sou mais feliz. Ela olha pra minha cara e me xinga todinha, diz que eu não ligo pra ela mais, e eu digo que ligo e ela não me atende, ela diz que eu ligo e só toca duas vezes, daqui que ela saia do tanque de roupa e chegue com a mão sequinha pra me atender o telefone já parou de apitar, eu é que sou apressada, só ando correndo, dorme aí, vai, antes de entrar no serviço, só um pouquinho, chegar atrasada um dia só, quem liga? Eu passando na rua, as crianças me comprimentam, dos dois anos aos onze, elas me conhecem, algumas querem só dizer oi, outras pulam no pescoço, outras querem tocar minha mão, é só isso. Não quero conversa por que às vezes você escreve mas quer que um certo alguém diga que legal o que você escreve, mas ele nunca diz, mesmo que todo mundo ao redor dele diga, ele só fala "bom", e muda de assunto, que chato isso, por que você escreveu pra ele, ou, pelo menos, pra ele dizer o que acha. Deixa. Então por isso me larga. Estou cansada. De um monte de coisas. Cansada de solidão. Culpa minha? Culpa não. A sensação que eu tenho é que um acarajé de Cira resolveria tudo isso.

quinta-feira, outubro 09, 2008

Me largue.

Não enche. Não quero papo com nada nem com ninguém.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Antídoto.

http://www.itaucultural.com.br/index.cfm?cd_pagina=2830 Ilê Aiyê em São Paulo. Mesmo que venha só metade da Aiyê, mesmo que eles e elas só cantem e dancem duas músicas no meio do show todo, vale a pena ficar na fila.

Mais da mesma.

mulher tão presença e tão preciosa e só vou responder pra você que merece atenção agora e sempre, a minha, a tua e a do povo que se enredar na tua bateria responder que tu merece muita idéia e consideração, não sei se mais do que você imagina, porque você é fera, é pessoa de olhar bom e de gira e de vontade de transformar raiva em amor tu é massa
Bahia que não me sai do pensamento. Aeroporto Dois de Julho, Salvador.

quarta-feira, outubro 01, 2008

São Paulo mesmo.

Que interior que nada. Isso é São Paulo.
Quer comer uma galinha? Leia a receita de Vó Teté, caderno 2:
Modo de Fazer:
1. Mate a galinha.
Quá.

Migh Fotógrafa.

Guia de Melhores Banheiros de São Paulo, por Migh Danae.
Se você estiver pelo Centro e quiser fazer um pipizinho básico, dê uma paradinha no Centro Cultural da Caixa. Melhor banheiro no quesito charme, tranquilidade e limpeza.
Detalhe na poltrona must.

sexta-feira, setembro 26, 2008

Ainda criança.

Estava eu, ali, brincando na sala com o laptop de uma criança, de brinquedo, estava eu ali, digitando, absorta, no que me cutuca uma outra criança, me prevenindo tá sem pilha, professora Me ajeitei na cadeira, fingi não ouvir bem, continuei teclando, todo mundo agora sabia que era tudo mentira, que não tinha pilha e era só minha imaginação, não se fazem tempos e espaços como antigamente, quem dirás das crianças, ora vejam só. Antes eu tinha passado na casa de Vó Teté, já falei dela aqui, já falei de Vô Florêncio, em dezembro completam 50 anos de casamento, hoje ele me disse eu amo essa moça aí mesmo, por que o que ela me aguentou Vó Teté suspira, lamentando o periquito que morreu, Vô Florêncio resmunga só falta morrer o dono da casa Vó Teté se irrita e diz, se você morrer, é melhor que eu vá logo junto, aguento não Tanta dose de amor assim, no meio do dia, quem não aguenta sou eu. Dormi um pouquinho e vim trabalhar. Não sem antes ouvir vô dizer gente criada no mundo fica danada demais. eu nunca estudei, sou analfabeto, mas o mundo é uma escola para quem não sabe viver

quarta-feira, setembro 24, 2008

Vamos estudar que é bem bom. Clica em cima que aumenta, vice, não tem desculpa pra não ir.

4º Prêmio CEERT Educar para a Igualdade Racial.

alguém quer agarrar meu copo,
edson e o jongo,
sambando com pai de billy,
me deixe,
Além de estar lá, dançar e sorrir, ganhei o prêmio. Eu aCEERTei, mãe. E agradeci a mainha, claro, mulher guerreira que me criou, e que com a sabedoria do cotidiano me deu as palavras certas na ponta da língua para enfrentar discriminações e preconceitos, sem ter aprendido em banco de escola nenhum, na lida do dia-a-dia forjou as armas necessárias para continuar vivendo, vivona. Agradeci às mulheres negras que me antecederam e aquelas que aí ainda estão, ofereci para elas o prêmio, por que
mulheres negras nunca desistem
Me aplaudiram, mas teve gente que torceu o nariz. Quem disse que eu ligo? Samba, cerveja e sorrisos.

Manuel de Barros.

Por que como diz Manuel de Barros as coisas muito claras me noturnam com as palavras se podem multiplicar os silêncios se a gente não der o amor, ele apodrece em nós (nós, pessoas, nós, pedaço de corda - penso eu) E eu gosto da invenção da vida que ele faz, tudo o que ele não inventa é falso, é isso mesmo. Demora pra entender tudo isso, mas a vida é isso mesmo, invenção.

Só sorrisos.

segunda-feira, setembro 22, 2008

Ana & Ana, livro de Célia Godoy.

Capa do livro
Crianças, o que elas podem (e devem!) fazer.

terça-feira, setembro 16, 2008

Eleições 2008.

E eu que não tenho tempo de assistir TV, ouço minhas crianças comentando o horário político. professora, o Maluf disse que é meio rico e meio pobre No que a outra emenda meio pobre de consciência, né? E uma outra mocita o Kassab fica dizendo por aí que construiu um monte de AMA. Mas de que adianta construir, se não tem médico? Fiquei só calada ouvindo as discussões pipocando, as crianças defendendo esse e essa ou atacando esse e essa, exercendo enfim, seus direitos de escolha, de debate. Mais engraçado foi quando eu expliquei o que era democracia. Eu disse alguma coisa sobre poder do povo, e todos e todas começaram a rir. Me perguntaram em que país tem democracia, professora? Mas aí expliquei que a gente votava e não cobrava, que a gente era responsável. No que vem uma e me sapeca mas minha mãe trabalha o dia todo, como é que ela vai ter tempo de ir lá na câmara reclamar? Aí a outra me mata a escravidão acabou, professora? Eu disse, é isso, é um círculo vicioso, blá, blá, blá. Depois dizem por aí que criança não sabe das coisas.

terça-feira, setembro 09, 2008

Vai lá, eu te garanto, eu de vestido branco e preto, eu sorrindo.

Vem, mas Vaz.

Encontrei enfim paz. No Vaz. O cara escreveu tudo que eu tentava dizer, quando queria falar de Sampaulo: são paulo é bonita por que é feia, e como toda feia que se preza, beija gostoso. que o Vinicius me perdoe, mas feiúra é fundamental Quer ler o resto? Se puder, procure a Folha de São Paulo de domingo, DNA Paulistano, um caderno que fala das agruras de cada zona da cidade e leia, na última página, a poesia concreta do moço. Se não conseguir, vai lá em casa que te arrumo o texto. E se gostar e quiser mais ainda, vai em http://www.colecionadordepedras.blogspot.com/ Nem fui lá ainda, para não ficar mais louca de amor. Ainda. Respiro fundo.

segunda-feira, setembro 08, 2008

http://www3.fe.usp.br/efisica/negritude/ Se inscreva tu também. Eu já vou mesmo. E uma amiga minha me conta que o aluno dela diz professora, quem cacheia o seu cabelo? Ela, numa boa ele nasceu assim mesmo, seo moço Ele não entende, vai brincar. Como diz minha mãe, o errado é que tá certo, o certo é que tá errado Tá tudo de cabeça pra baixo, então pára o mundo que eu quero descer. Festa lá em casa dia treze dos nove, vai quem quer (e sabe o caminho).

sexta-feira, setembro 05, 2008

A tal lista.

Comecei, mas é tanta gente e a lista tá em aberto que decidi parar. Quem quiser, procura na internet. Contracotas:
Adel Daher – Diretor do Sindicato dos Ferroviários de Bauru e MS
Adelaide Jóia – Socióloga e Mestre em Educação Infantil pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP)
Adriana Atila – Doutora em Antropologia Cultural, IFCS, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Aguinaldo Silva – Jornalista, telenovelista
Alba Zaluar – Titular de Antropologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Livre-docente da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), colunista da Folha de S. Paulo
Almir Lima da Silva – Jornalista, Centro de Cultura Negra de Macaé-RJ
Alzira Alves de Abreu – Pesquisadora do CPDOC da Fundação Getulio Vargas
Amâncio Paulino de Carvalho – Professor da Faculdade de Medicina Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Ana Maria Machado – Escritora, membro da Academia Brasileira de Letras
Ana Teresa A. Venancio – Pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz
Ângela Porto – Pesquisadora Titular, Fundação Oswaldo Cruz
Antonio Cicero – Poeta e ensaísta
Antonio Risério – Antropólogo
Arlindo Belo da Silva – Conselheiro Fiscal da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Químico (CNQ–CUT)
Bernardo Lewgoy – Professor Adjunto do Departamento de Antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Bernardo Sorj – Professor Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)Bernardo Vilhena – Poeta
...
e por aí vai...

quarta-feira, setembro 03, 2008

Cabelo Pixaim.

Respeitem meus cabelos, brancos

Chegou a hora de falar

Vamos ser francos

Pois quando o preto fala

O branco cala e sai da sala com veludo nos tamancos

Cabelo veio da Àfrica

Junto com meus santos

Respeitem meus cabelos, brancos

Nem preciso ensinar pontuação, canto e as crianças entendem, deixam, deixam, a madeixa balançar.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Vinho.

Vinho. Cor de vinho. Muito vinho. A solidão é vinho, e a minha cabeça roda. Danço nua na frente do espelho, sorrio, choro, penso em coisas, penso em pessoas, tenho frio. Sorrio. Penso em dormir, em escrever. Não consegui assistir Nome Próprio. Não gosto da Clarah Averbuck. Não sei por quê. Acho ela pedante. Nem a conheço. Só acho, e não estou certa, vai saber. O filme é só baseado nela, ela mesma disse que não tem nada dela ali no filme, não no sentido literal, visceral. Mas não quero ver a Leandra Leal dando uma de junkie das letras, não faz o meu tipo esse tipo de escrita. Escrita como desespero? Até funciona, mas não daquele jeito. Daquele jeito do trailler. Para mim ficou fake demais. Talvez funcionasse com uma atriz desconhecida, ou, como chama as revistas que dizem entender de cultura, uma não-atriz. Mas talvez, só para me contradizer, eu assista e goste. Por enquanto, vou de música boa e som de tecla batendo noite adentro. Fico pensando que alguém que pegou meu telefone vai me ligar, e eu vou dizer não. Só pela graça de dizer. Ir dormir só, encostar na parede fria no meio da noite, despertar com sede. Gosto de conversar com pessoas, de fazer elas sorrirem. Gosto de rir com elas, de sorrir o sorriso delas, de ver a risada saindo da boca. Gostaria de saber dizer as coisas que sinto do jeito que sinto, mas não saem, não sei dizer tudo o que sinto, fecho os olhos e me concentro na guitarra que dedilha notas no meio de mais uma música, mas já passou, agora não vai dar mais, espero a guitarra, espero uma ligação, esperoespero. Com sono. E fez-me rir o Pedro, falando sobre o acordo ortográfico. Esse moço é um docinho: Algumas observações interessantes: ultra-romântico, será ultrarromântico; ultra-som, ultrassom; microondas, agora é micro-ondas; reescrever, talvez, passe a ser re-escrever – existe a variedade rescrever e também o conceito de composição para definir essas coisas. Agora, inter-racial, será inter-racial, mesmo, nada de interrracial, não senhor! Bastante lógico, não? O novo acordo, ora busca fundamentos na fonética, ora na cabala ou na astrologia (www.balaiodopedrao.blogspot.com) E viva Marcos Bagno, que me libertou, hallelujah, diz Ray Charles em sua música Hallelujah I Love Her So.

sexta-feira, agosto 29, 2008

Mas tá.

carolzita, você gostava da Tina, sua professora do ano passado? sim que cor ela era? prr... (abaixa a cabeça, fica sem jeito) preta? Acena com a cabeça que sim. Carolzita tem quatro anos, mas já disseram pra ela quer ser preta é coisa feia, e ela, mesmo branca, quer ser educada e não quer xingar ninguém. e eu, Carolzita, que cor eu sou? preta, mas pretaclara, tá? eu sou marrom diz o outro menino, que chega no meio da conversa. Todo mundo ri. vai, vai lá brincar Carolzita Eu digo, e fico no meu canto matutando.

Durma com um barulhos desses.

Agora aguente. Peguei o livro do Ler e Escrever - Livro de Textos do Aluno, do programa estadual Ler e Escrever, para as séries Iniciais do Ensino Fundamental. Achei estranho por que ali haviam muitas cantigas de roda que eu conhecia, do meu tempo, da minha cidade, da minha infância. Coisa como a pombinha voou, voou caiu no laço se embaraçou ai, me dá um abraço que eu desembaraço a minha pombinha que caiu no laço Quase chorei quando li essa canção, senti até o cheiro do quintal de casa, eu cantava quando tinha uns cinco anos... os gestos... cantei logo que o ano começou para as crianças, depois tinha dá um remelexo no corpo dá uma umbigada na outra Fiquei intrigada, tinha até o vapor de Cachoeira (de São Félix, recôncavo baiano) não navega mais no mar Fui ler as letrinhas miúdas, e descobri. O tal livro é cópia resumida dos livros organizados para o Projeto NORDESTE de Leitura, um projeto de lá de riba. Aha, quase caí da cadeira. Mas ora vejam só, São Paulo copiiia um projeto (que deve ter dado certo, senão, não copiariam) nordestino e depois fica por aí, arrotando superioridade (o jingle do Alckmin grita nos nossos ouvidos: São Paulo é a melhor cidade do Brasil!). Superioridade de quê? Nem copiar sabem, por que as músicas tem a ver com as crianças que moram por ali, sabe, falam de mar, terra, são cantigas de roda e parlendas do Nordeste. Não que as minhas crianças não possam aprender isso e não tenham que aprender, conhecer, mas a gente imagina que um projeto de leitura da melhor cidade do Brasil seja pelo menos adequado à realidade das crianças que aqui vivem, e, assim, partam do lugar de onde elas vivem para depois chegar no mar, no cheiro do rio, no vapor de Cachoeira. Aí juntei isso com o fato de que toda vez que recebo uma criança que vem de alguma cidade do Nordeste, na segunda ou na terceira série (e algumas vezes na primeira), ela já sabe ler. E uma aluna minha, que pelejava para aprender a ler, passou um mês na casa da vó, interior da Bahia, voltou corada e bonita e feliz e lendo tudinho. Vai juntando as coisas, não sei o que é, mas só sei que é assim. Eu mesma aprendi a ler com cinco anos, mas isso é coisa que dá outra história, depois conto. Ler as letrinhas miúdas é a melhor coisa do mundo. Eu sempre faço isso. Ehe. E ontem, chorei quando terminei de ler Do Silêncio do Lar ao Silêncio da Escola, de Eliane Cavalleiro. Livro que retrata o racismo, o preconceito e a discriminação sofridos por crianças em Educação Infantil numa escola municipal em São Paulo, lá pela década de 80. Trabalhando com Educação Infantil na cidade de São Paulo, milênio dois, posso te dizer que pouca coisa mudou. Foi por isso que ouvi dia desses uma professora do meu lado chamar uma criança de filhote de urubu e a outra de leitoa, amigavelmente, brincadeira E eu, que reclamei e falei para ela não fazer mais isso, sou a louca, a racista, a agitadora das multidões. Durma com um barulho desses, e depois diga que dormiu bem.

quarta-feira, agosto 27, 2008

Para onde vai a educação?

Reclamem comigo, mas essa coisa de ensinar criança a ser peão de obra e empregada doméstica não é comigo. Ler pra quê? Ler pra entender do jeito que eles e elas querem a novela das oito e o horóscopo da semana, eu não aceito. Ferrero agoniza, Paulo Freire se remexe no túmulo, ouvindo pretensas professoras professando que discutir que rumo vamos tomar ensinando a língua culta e perpetuando a exclusão não vai levar a nada e que o que eles querem (eles, que estão lá em cima é que dizem e desdizem e a gente tem que aceitar passivamente) é o que a gente tem que fazer. Minha vontade é gritar: Professoras de Educação Básica, uni-vos! Por que eu ado-rei quando um aluno meu virou para mim e disse, depois que uma professora prometeu pagar uma excursão para conhecer a fábrica da Vigor (eca!): eu sei o que ela quer, quer comprar minha obediência com oito reais. mas eu não aceito isso Colonização mental, eu não aceito isso.
Sabe qual é sensação de ter sido professora de alguém com dois anos de idade e agora vê-la com cinco anos feliz da vida, sendo criança, sorrindo, sendo gentil, cantando musiquinhas engraçadas que falam do tomate que catchup virou, sabe o que é? Não sabe? Então, nem adianta te dizer. Deixa pra lá. Dá uma dor no coração quando tu vê criança de nove anos brigando, de cara emburrada, sem saber fazer amigos e amigas, dá uma tristeza ela querendo chamar sua atenção e conversar um mundo na sala simplesmente por que ninguém a ouve em mais lugar nenhum, ela vai pra escola e só ali ela pode ser criança mas ali ela tem que fazer lição, comer direitinho, ir no banheiro, respeitar a vez do outro e da outra que também não tem pai nem mãe pra perguntar como foi a escola, aí você que às vezes está cansada e também quer atenção não consegue entender isso e se irrita, conta até dez, diz que vai chamar a mãe pra conversar, e no fundo a criança por mais medo e tristeza que sinta quer mesmo que a mãe vá e ouça a professora dizer que ela precisa dar mais atenção pra criança que ela pôs no mundo, mas a mãe não vai, diz que vai trabalhar, que não pode perder tempo indo na escola, e a criança vai ficando cada vez mais arredia e briguenta, é um círculo, as coisas acontecendo e você não sabe direito que direção tomar, é cansativo abrir uma discussão todas as vezes que isso acontece, mas foi isso que você escolheu pra fazer, não há como fugir disso, você está presa por essa coisa chamada vontade de mudar as coisas, de mudar o mundo de crianças com pais e mães sem tempo. ____________________________________________________________________ Classe média, tá cada vez mais difícil dizer o que é. Nem os institutos de pesquisa conseguem dizer tão fácil o que é. Fixaram o teto do salário da classe média em mil seiscentos e quatro reais, se eu não me engano, e donamaria chiou, disse que ganha mil e oitocentos mas que para isso tem que ralar muito, vender natura e avon e ainda umas cocadas, daí ela no jornal de domingo definiu classe média, achei o máximo, ela disse eu ganho mil e oitocentos, mas não tenho tempo nem de ir ao cinema ou ver um teatro, e mesmo que quisesse, o dinheiro não sobra pra essas coisas, eu sustento uma família. Classe média pra mim é quem consome cultura. Podem contrariar, mas donamaria tem todo o direito - como tem todo o direito um economista com todos os seus emebieis - de definir a classe média no Brasil. A frase que eu mais gosto que cita a classe média vem do baiano Milton Santos a classe média não quer direitos, quer privilégios ______________________________________________________________________ Surreal, mas comprei na Bienal cds a um real, cds que contam um pouco a longa história do samba. É divertido ouvir compositores da década de quarenta falando de Elis Regina antes dela estourar e ser Elis agora que ela já se foi, Pedro Caetano era antes dela e depois dela continuou sendo, doideira. Vou ali escrever e volto. Saudade retada de mainha.

terça-feira, agosto 26, 2008

Mãe, dá o cabelo da Nneka pra mim?

(fala E-nei-cah que fica mais legal. Nada de Nenéka).

Carolina de Jesus.

Carolina de Jesus Com uma queda, nem se abalou Ninguém nunca veio acudi-la E descendo o morro Ela continuou O primeiro Lhe disse não O segundo Um empurrão O terceiro Mas que terceiro? Carolina nunca esperou Salve, Carolina. De Jesus.

segunda-feira, agosto 25, 2008

Es-crever.

Escrever, escrever pra ter coragem de continuar. Por que tem tanta coisa que dói no peito, e a palavra se apresenta como salvação, solução, suporte, forte, morte. Acontece tanta coisa, e eu já disse isso aqui, eu esqueço de escrever por que estou vivendo a vida, é quando abraço um amigo e ele sem jeito me dá um beijo no pescoço, me olha no olho e me diz que ainda posso continuar, se escrever eu posso ficar aqui, nesse mundo, sem medo, de cara aberta e pronta pro novo, pra nova vida que todos os dias quando a gente acorda nos espera detrás dos olhos fechados. Tem criança, tem doce, tem sonho, tem pão, tem chão, tem saudade, tem desejo, vontade. Nessa caminhada tem gentes, comidas, cheiros, solidões, sabores, dores, padeceres todos dos mundos todos das pessoas que passam, eu também passo, eu descobri que passo, às vezes repasso, isso às vezes dói, dói saber, dói viver, mas continuemos. Por que tem coisas que só eu posso dizer, então tenho que vir aqui, escrever, dia cinza de domingo e eu que continuo empinando meu cabelo. Doa a quem doer. Gosto da multidão, mas gosto da solidão, gosto de mim depois que aprendi a me descobrir, gosto de você, que é parte de mim, gosto dela, que não sabe quem eu sou, gosto dele, que não respondeu meu alô, gosto de escrever, de ser nas palavras, de brincar de enfeitar a vida, a palavra como penduricalho da realidade, ela enfeita nossa invenção cotidiana, ela atesta nossa dessabedoria da vida, ela resume nossa impossibilidade de dizer todas as coisas, tem o olhar, a dança, a música, a pintura, o cinema, todas as coisas inúteis que inventamos para seguir na vida, inúteis coisas sem as quais não vivemos, posto que a vida não tem utilidade para ninguém, assim como a arte, a música e a pintura. A vida é, a vida não se ocupa de adjetivos, a vida é verbo, a vida é palavra, e eu volto dizendo tudo que eu disse, por que escrevo, escrevo. _____________________________________________________________________ Eu falo pros moços pretos, não sei se eles me ouvem, já fui mulher e sei, mulher branca acha que namorando com preto está por cima da carne seca, mulher é discriminada por ser mulher, né, mas tendo um namorado preto a idéia da branca é que pelo menos ali ela é quem manda no pedaço, coisa que quando ela topa de frente com um namorado branco ela não sente, tem o lance do fetiche sexual, mas é mais que isso, e a menina preta com um moço branco, tem mais coisas, coisas que vocês já sabem, descubram o que é o amor, por que talvez o que disseram pra tu que era amor esse tempo pode ter sido só colonização mental. Radical, eu? Nada, sou negra. Essas coisas eu não vi, eu não li, eu sou, eu sinto, na pele. O que pega é que quanto mais o tempo passa mais exigente você fica e não aceita um moço te dizendo certas coisas, isso eu vim conversando com uma nova amiga, é aquela pessoa que tu sabe que se ela quiser ela vai ser tua amiga até o fim da vida, velhinha, falando de coisas como negritude, cinema e educação. Poesia.
Andar com fé eu vou Que a fé não costuma faiá Sentindo o vento, lendo as poesias de Sérgio Vaz e me encantando ainda mais com a vida, quer conhecer o moço, vai no Sarau da Cooperifa pra ver, pra ouvir, pra entender, o que é literatura periférica, ache o que quiser, eu fico com a frase do DaRosa, não o Guimarães, mas o Allan nosso de cada dia, periférica por que nasce na periferia, e não por que está à margem de nada, nada é centro, descentro total, na língua, na vida, na gramática. E Vaz falou tu tem que entender que quando nóis fala nóis vai é por que nóis vai memo, tem muita gente que diz nós vamos e não vai pra lugar nenhum É isso aí. Quando eu estou ali, dentro daquele negócio que me leva até o trem, olhando para os dois lados das marginais, zuuum pra lá e zuuum pra cá, ali pra mim é São Paulo, se alguém me pergunta uma foto, uma imagem, são todas aquelas luzes de longe, nada de gente, só máquina e zummm pra todos os cantos, de trem é mais rápido mas é mais solidão, assepsia total, sentimentos e coração, você lá e quem fala e brinca é estranho ver, por isso ainda prefiro o buzu, mesmo demorando, a leseira da viagem faz a conversa fluir, no trem não, ninguém segura a bolsa, tá todo mundo pensando em descer, em ir embora, em não se envolver. E quanto mais eu fico em São Paulo, mais baiana eu sou, as pessoas dizem mas como você tem esse sotaque todo E fica parecendo que eu forço a barra, mas é o contrário, quando eu falo da hora mano mina meu obaratoélôco Eu acho estranho, língua fora de mim que entra pelas frestas do cotidiano, eu cheia de arestas quero aparar tudo. Sonhei ontem um sonho louco e doce, a gente junto num ônibus lotado, eu fechava os olhos e quando abria era só eu e você no meio do ônibus dançando um tango, uma pequena platéia observava nossos passos no ônibus que sacolejava vazio, dois pra lá, dois pra cá e meu rosto colado no seu, lembro que você não se cansava, não ofegava, dançava, dançava, seu olhar me penetrava; eu, enquanto você me despia de olhos arregalados, tentava controlar o passo, olhava pra baixo, sem jeito, sem rumo, sem tino, desatino. Acabou, acordei, virei o rosto, virei o corpo, dormi de novo, eram só três horas da madrugada, queria sonhar de novo, mas só o gosto do sonho embalou meu sono até bem tarde, quando o sol cinza se fez presente, quase-poente. Queria te dizer isso, mas você sabe separar as coisas, é certinho, é out, démodé. Vai entender. Preciso ler tanto, preciso estudar tanto, e fico aqui, olhando pra essa página em branco, que me seduz, me chama, e eu vou, vou, quando vejo é já noite funda, e eu que nem escrevi metade do que senti hoje, que faço, mordo os pulsos, faço careta na frente do espelho? Aparento calma que tem gente olhando, a tv’ tá ligada e o filme tá passando.

Oxen'.

Que inteligência é essa, me explique. Quem é inteligente pra tu, as donasmarias do mundo todo que sem estudo formal vive e vive e ainda ensina tudo que sabe e do jeito que pode, ou um dotô da vida, que na vida real só aprendeu a sistematizar as coisas num monte de palavra bonita num texto conformado pra ganhar bolsa? Preciso responder pra tu ou tua ficha já caiu? Em muitas sociedades africanas, a idéia de conhecimento é outra, e de educação também: fomos nós, ocidentais falidos que inventamos a separação forçada entre “teoria” e “prática” (tenho ojeri-za por essas palavras assim se-pa-ra-di-nhas), que destruímos a educação e a transformamos em ensino (já pararam para perceber que quando a criança vai pra primeira série, que é quando vai aprender, em síntese, as primeiras letras, conhecer o “mundo ocidental letrado”, o que era educação infantil vira ensino fundamental? Por que será, hein? Se tu visse uma sala de educação infantil ia entender: as crianças ali, ainda podem ser crianças – tudo depende, é claro, da professora, da educadora e da escola. É por isso que ainda hoje se chamam as escolas de educação infantil de pré-escola. Por que não é escola, de fato. É antes dela, mas poderia ser também o que ainda temos de bom nela.) . Essas dicotomias todas são fruto de uma idéia cartesiana absurda, o tal cogito ergo sum. Que pensologoexisto que nada, tá mais que na cara que pra existir tu tem que sentir, e eu arrisco mais: pensar nada mais é que mais uma das formas de sentir o mundo, não sem subjetividade, não sem emoção. Sinto, logo existo. Ubuntu, lembra? Eu sou por que você existe. Tá tudo explicado, só não ver quem não quer. Ou quem tem medo de lobo mau.

quarta-feira, agosto 20, 2008

Chorei.

Chorei Não procurei esconder Todos viram Fingiram Pena de mim Não precisava Ali onde eu chorei Qualquer um chorava Dar a volta por cima que eu dei Quero ver quem dava Hoje foi dia. Indo embora de uma escola, amanhã entrando em outra, crianças te afagando, dizendo chora não Te dando beijinhos, é pra no mínimo chorar e chorar até que todas as lágrimas se mandem, viajem, nunca mais apareçam. Ainda bem que na outra escola, a mocinha de três anos me salvou. Perguntei seu nome e ela disse é Tatiana, por que quando deus me fez, minha mãe me deu esse nome E com a mãe chegando, ela vira pra mim e diz amanhã a gente conversa Quase trocamos números de telefone. Depois foi a outra que eu distribui tíquetes de R$48,70 no grupo dela, para fazerem compras no mercadinho de mentirinha da sala, me dizendo que professora, nós gastamos R$22,70, por que a gente comprou só doce, e vamos ter que separar o dinheiro pra comprar remédio pra dor de barriga

segunda-feira, agosto 18, 2008

Livro da professora.

Não é engraçado que o livro da professora venha respondido, já que nós somos, em tese, quem deveria saber mais? Os livros dos estudantes é que deveriam vir respondidos, assim eles e elas confrontavam as respostas. E o nosso, não respondido, daria espaço para o debate. Tudo mentira nesse mundo

sábado, agosto 16, 2008

Dor de barriga.

Dona Noi diz uma coisa, pra quando eu tou retada deixe pa lá, minha filha, dor de barriga não é doença que dá e passa Ou então quem esquenta a cabeça é palito de fósforo Aí eu subo a ladeira mais devagarinho, pensando na vida, sofrendo e gostando. ___________________________________________________________________ A menina de quatro anos, me viu e apontou para o seu cabelo preto e crespo meu cabelo é liso E eu disse é? e o meu cabelo é crespo Ela fez careta assim, e ficou lá, desenrolando o cabelo preto e crespo dela, pra ficar liso. A mesma coisa fez a mãe da outra, menina de quatro anos, já com cabelo alisado.

Linda e cabeçuda.

Foi ninguém mais que disse não, foi ele, moço por quem já suspirei. Vou ali sambar um pouco, amar um pouco, sorrir um pouco, que a vida é tão demais e tanto que que que ufa.

quinta-feira, agosto 14, 2008

Passando.

O tempo passa A vida passa As coisas passam O amor? Passa, mas ainda bem que repassa A tristeza, se tu ouve um samba passa A lágrima vai e passa A dor passa O sorriso transpassa E se tu passa Eu também passo.

terça-feira, agosto 12, 2008

04 de agosto de 2008.

Conheci gentes boas. Um começa com A, e o resto eu não vou falar, pra coisa complicada não ficar, a gente fala que gosta e as pessoas ficam logo loucas, preocupadas, como se amar fosse um problema, um dilema, mas pra mim é só gosto bom de viver, e quando eu escolho amar não é por mim nem por você, nem pelo A, é pela vida por aí, pra fazer bem a quem tiver que vir. E tem o I., que eu gosto sempre mais depois que conheci. Tem J., D., F., M. e tantos outras letras de nomes que emparelhadas formam o alfabeto do coração, vou parar de amar não, por que não chega de vontade a vontade de viver. Deixo pra você tocar o resto da canção, por que eu vou ali, amar um pouco e sempre mais. Depois tem o fato de que a gente descobre que a covardia ainda é sim, a pior coisa que alguém pode ter como defeito. Covardia, prima-irmã da intriga, preguiça feia e futricagem. Sou sortuda mesmo. Hoje ouvi historias feias de violência, tristeza, choro. E eu ando por aí, não me acontece nada. Nada. Do que vou reclamar?

domingo, agosto 10, 2008

Escrevinho.

Escrevo não por que quero. Para mim a palavra se impõe. É ela quem me acorda às seis e quarenta e cinco dum domingo chuvoso, é ela quem me desperta no frio gelado e eu pelada, a palavra me bate na cara, me bate à porta, bate meu coração. Escrever é ordem do dia, dos minutos que se escoam pela vida afora, agora é só paz quando ouço as teclas do computador e um cachorro lá fora lá longe, barulho de buzina de moto, barulho de samba no final, é domingo ainda, e a palavra que me devora.

Escrevo por que quero. Quero e não quero. É nesse empurra-empurra que as palavras saem, todas desalinhadas, briga de foice, as palavras vão saindo e eu vou me esvaindo, para nascer de novo quando elas são ditas, todas em desalinho, as palavras não têm ninho, são de quem quiser, queiram ou não, elas comparecem.

É na solidão que descubro que a palavra me devora mas também é companheira, venho matutando escrever tanto quando estou no ônibus, mas depois vejo que tem coisas que só quando estou no ônibus mereceriam ser escritas, como ontem andando pelo centro de São Paulo e paguei uma hora na lan house para escrever um texto, mas quando sentei na cadeira, era só uma cadeira, o centro estava lá fora, santas ifigênias e vintecincos não me apareciam mais, desisti. Coisas e coisas que eu quero falar, mas que só tem graça na hora, a solidão me ensina isso mas ainda não me ensinou o que fazer com tudo que eu quero falar e não acho gentes, tudo que eu quero escrever mas passou da hora.

É aí que quando encontro alguém para me ouvir gasto os ouvidos, tento me controlar mas quando vejo sou a nega do leite de novo, por que tem gente que me olha como se eu tivesse mesmo dizendo alguma coisa interessante, duas mãos postas no queixo e todo o tempo do mundo, então eu continuo, depois se a pessoa me pergunta como eu me tornei o que eu sou não sei responder e desconverso, como eu sou o que eu sou não sei; por que talvez esteja só preocupada em ser, não em dizer. E aí quem perde tempo do meu lado talvez descubra alguma coisa de mim, vá saber, mas é bom que depois me diga, para que eu saiba pelo menos o que é que parece que eu sou para alguém que me pergunta como eu sou o que sou.

Queria tapar boca e ouvir mais, mas a solidão faz dessas com gente, trairagem, tu fica quieta no teu canto por tanto tempo e quando encontra alguém no primeiro encontro já assusta com tanta palavra, fala mais que a boca e a boca que sair pra fora, quer ganhar asas, você dá uma pausa e a pessoa também respira, Dale Carnegie disse que quando tu tá conversando é normal essas pausas, eu li esse livro, Como fazer amigos e influenciar pessoas, mas não sou má não, é que meu pai tinha esse livro e eu tinha quatorze anos e ele lia e eu queria ler também, lembro dos mandamentos do sr. Carnegie mas não consigo seguir nenhum, dane-se.

Mas no fundo eu acho que falo e falo por que não quero ouvir mais e tanto de outras pessoas, vai que eu me apego e aí é fogo, amor é uma danação, amor.

E quanto mais a gente fala da gente pro mundo mais a gente descobre quem a gente é; eu disse hoje que um pouco do que eu sou vem da minha solidão, e é isso. Por que eu tenho que descobrir quem sou para ser eu de novo com todas as pessoas, mesmo com aquelas que nunca mais vou ver na vida. Não sei quem sou, só sei que tenho que ser.

Leio tudo e tanta coisa que me chega às mãos. Carolina de Jesus, Cidinha da Silva, tantas mulheres e conversas, e eu quero sempre mais, sob o perigo de parecer louca. Serei eu louca?

sábado, agosto 09, 2008

quarta-feira, agosto 06, 2008

Maninho.

Do nada, lembrei dele. Chorei.

terça-feira, julho 29, 2008

Vou ali pra Goiânia que lá faz 33 graus todo dia e é aqui pertinho, não tenho mais roupa de frio, brrrr, grrrr, vou pra ver Eleeee*, vou pra conversar até tarde, dormir mal, beber muito, sorrir, vou-me. Congresso de Pesquisa Negra. Morte à mídia tosca. Meu Vitória Futebol Clube tão bom no campeonato, mas tu procura uma linha nos principais jornais e sites de esporte e não acha nada, pode, Zé? Deixa pra lá. Coisa tão tosca que no Nordeste, e creio que em outras regiões também, as pessoas torcem pra time da cidade e para um time do Rio de Janeiro e outro de São Paulo, por que passa na TV', e as pessoas querem participar do show, né, bem? Não tenho carro e talvez esteja falando besteira, mas queria saber para que serve aquela ponte ali na Marginal Pinheiros. Do nada para lugar nenhum, leva o nome mais uma vez de um dos grandões da mídia paulista: Octávio Frias (que fria!); São Paulo é assim, com ponte que leva o nome ou do grandão de um jornal ou de outro, para não chatear nenhuma vertente da mídia tosca e conservadora. Mas sei lá, talvez sirva mesmo só para levar o pessoal que mora ali do outro lado do rio fétido (esse ninguém se preocupa em arrumar) para o Shopping recém-construído. Já repararam como aquela parte de São Paulo está a cara de Manhattan? Coincidência pouca é bobagem, e até canal fétido tem. Depois eu falo mais sobre isso. Ná foi embora, morar no interior da BA, melhor para ela, e o mundo agradece, mas nossos coraçãoezinhos aqui em São Paulo, uma classe de 34 crianças, chora. Ninguém tem tranças tão longas e frases pequenas e tão perfeitas como Ná.

segunda-feira, julho 28, 2008

Se toca.

Quase choro, quase-quase choro. Mãe de aluno meu que conseguiu emprego como zeladora da escola onde o filho estuda veio todafeliz me comprimentar com a roupa do trabalho novo, assoviou lá de cima e disse ó, fessora, Mostrando a roupa. Falei parabéns, seja bem-vinda Mas depois quis chorar, por que sei quanto ganham, e sei das dificuldades. Ela depois, na hora de buscá-lo na saída me disse essa roupa tá folgada em mim, mas na verdade, ela não me cabe, de tanta felicidade que eu tou Funguei, me segurei no choro. Mas ela me explicou, não quis chorar mais fessora, é melhor ganhar pouco e sempre que muito num mês e nada no outro Entendi, me acalmei. Foi como quando numa aula de História na PUC a professora quis falar de mercado informal e eu agoniada pedindo a palavra lá no fundo da sala, disparei sabe o que é, vocês não entendem nada. o cara que tá ali, a moça, prefere trabalhar vendendo cd' e dvd' pirata por que ela vai tirar mais do que ganha com carteira assinada e ainda vai fazer o seu horário de trabalho, não vai precisar mentir quando vai no médico, não vai precisar se preocupar com patroa chata no pé, roupinha de doméstica, essas coisas, o mercado formal não absorve todo mundo e aqueles e aquelas que são absorvidos e vidas não ficam contentes de saber que o que vem pra mão deles e delas é metade do que ela realmente ganha na carteira, Eu de minha parte, prefiro conversar com o pessoal da limpeza e da cozinha da minha escola do que com muitas professoras. Posso falar besteira, posso ouvir conselhos e não me preocupar de ter sempre razão, posso ser criança, por que somos iguais. Quando disse que queria uma roupa daquela para não gastar minhas roupas no trabalho, uma das senhoras me disse oxente, professora, você é mais, num queira isso pra tu não Mas eu queria que ela entendesse que eu não tinha vergonha delas por que estavam vestidas daquele jeito, e que eu não ligava de me vestir do mesmo jeito, sabe o que é, você tem que usar a mesma arma que te apontam, se eles por aí pensam que eu tenho vergonha de morar na periferia, eu vou usar camiseta com cem por cento zona sul, se eles acham que eu tenho vergonha de ser professora e trabalhar por amor, vou sair dizendo para todo mundo que amo ensinar, se eles acham que eu vou ter vergonha de ser negra, mulher e baiana, aha, estão enganados: como é que eu posso ter vergonha de pertencer ao grupo de pessoas que mudou/ construiu (e continua fazendo isso) o mundo, o Brasil, a humanidade? Mesmo assim, tem horas que eu canso. Ontem no ônibus um garoto de uns quinze anos, de oclinhos, cara de intelectual, uma graça, passou vendendo bala de goma. Muito polido, educado, poderia estar fazendo qualquer coisa num domingo à tarde, mas estava ali oferecendo bala de goma num ônibus, negro lindo, mas tem que trabalhar no domingo, chorei, chorei sem querer chorar, fico assim. Não dá pra aguentar sempre. É o mesmo quando encontro um menino de uns 10 anos, ele estuda mas no horário que não vai pra escola ele vende bala nos terminais, a gente conversa, mas ele sempre desconfiado por que eu me interesso tanto por ele, mesmo quando tou de mão dada com um moço eu fico de blá blá blá com ele, ele não entende. Nem eu.

quinta-feira, julho 24, 2008

Das minhas impossibilidades.

Não conseguir não chorar, não conseguir não me importar, não conseguir não ouvir música sempre, não conseguir me irritar se me ligam às seis da manhã, não querer morar em outro país, não entender as pessoas que trabalham no que não gostam, não gostar do contato com adultos em demasia, não conseguir esconder o que sinto, não ligar de parecer criança (por que ser criança é a melhor coisa que existe), me apaixonar mas não morrer de amor, não quero casar por casar, minhas limitações todas não conheço, e ah, quero deixar o cartesianismo de lado, ele já morreu e eu aqui querendo catalogar impossibilidades, o racional é irracional como o irracional tem suas lógicas, salve todas as maneiras se de chegar a algum lugar ou a alguém, intransitivo das possibilidades.

Eu gosto de você não é imperativo de nada. De nada. Mas as pessoas ouvem essa frase e ficam atordoadas, paulada certa, mas não é um contra parede, é só um sentimento, sentimento só. Foucalt já escreveu sobre isso, livro As palavras e as coisas, e como certas palavras são carregadas pelos valores que nós impomos sobre elas, as palavras não são neutras e nem devem ser, mas também não são rótulos prontos, as palavras são livres, estão aí e são intencionalmente usadas, as palavras

eu gosto de você

Parecem dizer, no nosso mundo mesquinho-capital-atual

e aí, vai encarar, vai me assumir, vai casar comigo, tou carente, o que você pode me oferecer, eu gosto de você, e você, e você?

Quando deveria apenas querer dizer

eu gosto de você e ponto.

É só coisa bonita, e só coisa de quem não quer nada, mas precisa esvaziar o peito de tanto gostar, de alguém que precisa dizer mais e sempre o que sente, pra espalhar no mundo coisa boa, pra sorrir e fazer mais gente sorrir só por ver sorrir, pegar na mão, abraçar, fazer carinho.

E viva João, nasceu João, o menino mais lindo que julho poderia trazer pro mundo. João, nome que dá samba, dá poesia, dá e dança, na luz linda de um começo de fim de tarde de sexta-feira. João merece ser feliz, e eu mereço conhecer João. E, quem sabe, João mereça conhecer minha filha.

25.06.2008

Um dia eu chego lá, um dia poderei cantar

Se eu ganho na feira Feijão, rapadura Pra quê trabalhar? Gosto do campo e o ômi não deve se amufiná

Filosofia de vida suprema.

quarta-feira, julho 23, 2008

Essa é de chorar, de fazer coração grande ficar pequeno de felicidade de ser eu. Sentada no refeitório, vejo de longe garoto que foi meu aluno há quase quatro anos atrás, ele era um bebê e não parava quieto, mas ali, na fila do almoço não sei se ele se lembraria de mim, agora com seis anos conversava despreocupado com seu professor de percussão, acho que não ia me ligar, nem ia saber quem sou. Sentei, comecei a almoçar, e senti uma mão pequenina tocando meu cabelo. Ele disse professora Estava de costas, me virei, não acreditei. Era ele, ele me dizendo, oi, professora Nunca fiquei tão sem jeito depois de um oi, ele me olhava com toda a naturalidade do mundo, meu almoço ali esfriando e eu só conseguia dizer ma-mas você se lembra de mim? Ele com um naco de carne na mão, na maior tranqüilidade me dizia hum-hum, lembro de você, você foi minha professora, eu argumentava mas você tinha dois anos E ele nem-aí, continuava dizendo hum-hum como quem dissesse e daí, lembro de você, é isso que conta, sua boba, não me pergunte por quê e nem como, lembro-lembro. Virei-me novamente, com os olhos marejados, não queria que ele me visse chorando, mesmo sendo criança ele me acharia uma boba, boba por chorar de coisa tão bonita. Ainda choro quando escrevo aqui. Não preciso de mais nada, mas ainda tenho alguém que me diz não vou deixar de te amar, assim como você não vai deixar de ser migh, faça o que você fizer. assim é a vida, né? ______________________________________________________________________ 23.07.2008 Falem o que quiserem, mas as mulheres são as melhores. Tava eu, esperando a peça começar, saguão do teatro, veio uma senhora, sei lá, um jovem senhora, tava com as amigas, no meio dos meus amigos e amigas, parou tudo, me disse A gente tava aqui te olhando, você é linda, muito linda, tudo E me olhou de novo, fiquei sem jeito, agradeci. Outra vez na hidroginástica, outra jovem senhora, me disse Você tem uns olhos bonitos, um sorriso também, acho que os meninos que te namoram gostam disso em você, quando você sorri seus olhos ficam apertadinhos Não fiquei sem jeito, fiquei pensando se era comigo ou se tinha a ver com o papo que a gente tava levando, depois me toquei que era comigo, e na verdade fiquei surpresa com a sinceridade limpa, bonita, depois dizem que as mulheres são invejosas, falácias, é só mais uma generalização idiota, essas mulheres maduras são prova disso, a gente sabe reconhecer uma moça todalinda quando vê ela. Não sou modesta, por que todalinda como sou, fica difícil ser. Mas o que eu queria escrever aqui é que a vida é simples, que coisas pequenitas é que fazem toda a diferença na vida, coragens como essas é tudo que a gente precisa num fim de dia cansado e cinza, tudo muda depois de um todalinda, eu tenho certeza. _______________________________________________________________________ Disse pra ele eu tenho medo de ficar dura, de endurecer por dentro aqui nessa cidade Ele me abraçou forte e suspirou, me apertou e disse você não vai ficar dura, por que tem medo Apertei ele mais ainda, apertei o olho pra lágrima não rolar, dizem que homem não gosta de ver mulher chorando, é uma pena, eu sempre choro, quem me conhece sabe, mas aprendi a chorar sem fazer com que os moços fiquem com pena de mim, eu choro e sorrio no fim da lágrima, eu digo, não se preocupe, sou boba, choro à toa, aí os homens não ficam chateados e me apertam mais forte, o segredo é chorar se tem vontade, não pra impressionar, chorar quando a lágrima vem, por que com lágrima e dor não se brinca, tem que deixar ela ir, sair, esvair, pra morrer nos travesseiros por aí, por ali mesmo, pra não levar pra rua, pra fora da vida, pras coisas de outras coisas, enfim. E ele me disse mais, eu também disse mais, mais do que pensei ou dizer, não sei se mais do que devia, não jogo o jogo do mesmo jeito que as pessoas jogam, eu abro o jogo, depois vejo o que acontece. Me disse você é doida, você não existe, deixa eu te beliscar pra ver se você está aqui E eu disse doida por que, só por que digo o que sinto? E ele que nem era especial, num final de semana se tornou o homem da minha vida, meu príncipe, meu hóspede, meu marido. Não quero mais nada, mas acho que nem quero mais ele, não sei o que fazer com tanto sentimento, precisaria ligar pra ele de cinco em cinco minutos para esvaziar metade do coração de amor, mas não posso, ele não tem telefone, ou não quer ter por que é especial demais, vai saber, eu não quero saber, na verdade, nem queria sentir, mas isso é coisa difícil pra menina sonhadora que nasceu no sul da Bahia e veio pra cidade grande por causa de amor tardio. Preciso esvaziar de amor, por isso escrevo, escrevo pra ele, cartas que não sei se chegarão, se farão efeito, se terão sentido, olha eu aqui chorando de novo, um choro pequeno, simples, que passa rápido, é só o tempo de molhar pedacinho do rosto, passou, falei pra ele Vai passar, vai passar, é só não mexer com isso que passa, não resisti, te liguei, tava com saudade, não consegui cumprir meu próprio trato (e eu sei que quando não consigo cumprir com os tratos que faço é por que perdi o controle, e se perdi o controle, acabou o mundo, o meu mundo regulado, o que eu faço?) Sempre acho que nunca mais vou sentir essas coisas. E tou eu aqui de novo, abestalhada. Alguém aí que me lê, pode me ensinar a viver? ______________________________________________________________________ Nem contei aqui, é pessoal demais, conheci Eduardo Coutinho, dei beijo e abraço nele, disse que tinha foto dele no meu quarto pendurada no mural, ele disse É na minha idade, eu posso ouvir essas coisas e Foi assim, ele lembrava de mim, da carta que eu tinha mandado pra ele faz um ano mais ou menos, é bom se chamar Mighian. Eu fico com a beleza da resposta das crianças, eu leio uma coisa dessa aí de baixo e me emociono, serei eu de outro mundo? é preciso resistir às crueldades do mundo, visível nas relações predatórias dos homens e entre eles e naquilo que desintegra e separa, lembrando que rir, sorrir, brincar também é resistir. Essa forma de resistência chama-se esperança (Morin, 2000)