Você que me lê, me ajuda a nascer.

terça-feira, setembro 26, 2017

Nome de bairro.

Voltamos juntos todas as vezes da hidroginástica. É um senhor de quase 70 anos, daqueles homens negros enormes para quem ninguém dá mais de 50 anos, olhando assim rapidamente. Ele fala comigo sempre como se tivéssemos acabado de terminar o assunto do dia anterior e, nos vinte minutos em que ficamos juntos, eu sou uma boa ouvinte, estimulando-o a falar sobre sua vida e os problemas que tem. 

Ele não sabe nada sobre mim e nem finge interesse, só quer falar. Eu do meu jeito gosto tanto das histórias que não importo com a desimportância. A companhia dele me agrada imensamente. Ele conhece quase todo mundo que cruza nosso caminho e seu apelido é o nome de um bairro da cidade em que nos encontramos. Não preciso de mais nada, só de ouvi-lo falar e falar já sou feliz demais. Me divirto com sua lógica de tempo e reclamações que a mim parecem algumas vezes sem propósito, mas que fazem todo sentido na vida de um homem negro que parece viver mais só do que gostaria. 

Penso no meu pai. Quiçá ele encontre uma boa ouvinte por aí. 

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