Escrevo não por que quero. Para mim a palavra se impõe. É ela quem me acorda às seis e quarenta e cinco dum domingo chuvoso, é ela quem me desperta no frio gelado e eu pelada, a palavra me bate na cara, me bate à porta, bate meu coração. Escrever é ordem do dia, dos minutos que se escoam pela vida afora, agora é só paz quando ouço as teclas do computador e um cachorro lá fora lá longe, barulho de buzina de moto, barulho de samba no final, é domingo ainda, e a palavra que me devora.
Escrevo por que quero. Quero e não quero. É nesse empurra-empurra que as palavras saem, todas desalinhadas, briga de foice, as palavras vão saindo e eu vou me esvaindo, para nascer de novo quando elas são ditas, todas em desalinho, as palavras não têm ninho, são de quem quiser, queiram ou não, elas comparecem.
É na solidão que descubro que a palavra me devora mas também é companheira, venho matutando escrever tanto quando estou no ônibus, mas depois vejo que tem coisas que só quando estou no ônibus mereceriam ser escritas, como ontem andando pelo centro de São Paulo e paguei uma hora na lan house para escrever um texto, mas quando sentei na cadeira, era só uma cadeira, o centro estava lá fora, santas ifigênias e vintecincos não me apareciam mais, desisti. Coisas e coisas que eu quero falar, mas que só tem graça na hora, a solidão me ensina isso mas ainda não me ensinou o que fazer com tudo que eu quero falar e não acho gentes, tudo que eu quero escrever mas passou da hora.
É aí que quando encontro alguém para me ouvir gasto os ouvidos, tento me controlar mas quando vejo sou a nega do leite de novo, por que tem gente que me olha como se eu tivesse mesmo dizendo alguma coisa interessante, duas mãos postas no queixo e todo o tempo do mundo, então eu continuo, depois se a pessoa me pergunta como eu me tornei o que eu sou não sei responder e desconverso, como eu sou o que eu sou não sei; por que talvez esteja só preocupada em ser, não
Queria tapar boca e ouvir mais, mas a solidão faz dessas com gente, trairagem, tu fica quieta no teu canto por tanto tempo e quando encontra alguém no primeiro encontro já assusta com tanta palavra, fala mais que a boca e a boca que sair pra fora, quer ganhar asas, você dá uma pausa e a pessoa também respira, Dale Carnegie disse que quando tu tá conversando é normal essas pausas, eu li esse livro, Como fazer amigos e influenciar pessoas, mas não sou má não, é que meu pai tinha esse livro e eu tinha quatorze anos e ele lia e eu queria ler também, lembro dos mandamentos do sr. Carnegie mas não consigo seguir nenhum, dane-se.
Mas no fundo eu acho que falo e falo por que não quero ouvir mais e tanto de outras pessoas, vai que eu me apego e aí é fogo, amor é uma danação, amor.
E quanto mais a gente fala da gente pro mundo mais a gente descobre quem a gente é; eu disse hoje que um pouco do que eu sou vem da minha solidão, e é isso. Por que eu tenho que descobrir quem sou para ser eu de novo com todas as pessoas, mesmo com aquelas que nunca mais vou ver na vida. Não sei quem sou, só sei que tenho que ser.
Leio tudo e tanta coisa que me chega às mãos. Carolina de Jesus, Cidinha da Silva, tantas mulheres e conversas, e eu quero sempre mais, sob o perigo de parecer louca. Serei eu louca?
5 comentários:
É, uai.E daí?
Louca, louca.
caio mesmo?
um louco falando da outra.
oxi.
Mesmo, mesmo. Por isso se entendem. Oxi.
grata surpresa.
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