Você que me lê, me ajuda a nascer.

segunda-feira, julho 28, 2008

Se toca.

Quase choro, quase-quase choro. Mãe de aluno meu que conseguiu emprego como zeladora da escola onde o filho estuda veio todafeliz me comprimentar com a roupa do trabalho novo, assoviou lá de cima e disse ó, fessora, Mostrando a roupa. Falei parabéns, seja bem-vinda Mas depois quis chorar, por que sei quanto ganham, e sei das dificuldades. Ela depois, na hora de buscá-lo na saída me disse essa roupa tá folgada em mim, mas na verdade, ela não me cabe, de tanta felicidade que eu tou Funguei, me segurei no choro. Mas ela me explicou, não quis chorar mais fessora, é melhor ganhar pouco e sempre que muito num mês e nada no outro Entendi, me acalmei. Foi como quando numa aula de História na PUC a professora quis falar de mercado informal e eu agoniada pedindo a palavra lá no fundo da sala, disparei sabe o que é, vocês não entendem nada. o cara que tá ali, a moça, prefere trabalhar vendendo cd' e dvd' pirata por que ela vai tirar mais do que ganha com carteira assinada e ainda vai fazer o seu horário de trabalho, não vai precisar mentir quando vai no médico, não vai precisar se preocupar com patroa chata no pé, roupinha de doméstica, essas coisas, o mercado formal não absorve todo mundo e aqueles e aquelas que são absorvidos e vidas não ficam contentes de saber que o que vem pra mão deles e delas é metade do que ela realmente ganha na carteira, Eu de minha parte, prefiro conversar com o pessoal da limpeza e da cozinha da minha escola do que com muitas professoras. Posso falar besteira, posso ouvir conselhos e não me preocupar de ter sempre razão, posso ser criança, por que somos iguais. Quando disse que queria uma roupa daquela para não gastar minhas roupas no trabalho, uma das senhoras me disse oxente, professora, você é mais, num queira isso pra tu não Mas eu queria que ela entendesse que eu não tinha vergonha delas por que estavam vestidas daquele jeito, e que eu não ligava de me vestir do mesmo jeito, sabe o que é, você tem que usar a mesma arma que te apontam, se eles por aí pensam que eu tenho vergonha de morar na periferia, eu vou usar camiseta com cem por cento zona sul, se eles acham que eu tenho vergonha de ser professora e trabalhar por amor, vou sair dizendo para todo mundo que amo ensinar, se eles acham que eu vou ter vergonha de ser negra, mulher e baiana, aha, estão enganados: como é que eu posso ter vergonha de pertencer ao grupo de pessoas que mudou/ construiu (e continua fazendo isso) o mundo, o Brasil, a humanidade? Mesmo assim, tem horas que eu canso. Ontem no ônibus um garoto de uns quinze anos, de oclinhos, cara de intelectual, uma graça, passou vendendo bala de goma. Muito polido, educado, poderia estar fazendo qualquer coisa num domingo à tarde, mas estava ali oferecendo bala de goma num ônibus, negro lindo, mas tem que trabalhar no domingo, chorei, chorei sem querer chorar, fico assim. Não dá pra aguentar sempre. É o mesmo quando encontro um menino de uns 10 anos, ele estuda mas no horário que não vai pra escola ele vende bala nos terminais, a gente conversa, mas ele sempre desconfiado por que eu me interesso tanto por ele, mesmo quando tou de mão dada com um moço eu fico de blá blá blá com ele, ele não entende. Nem eu.

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