Você que me lê, me ajuda a nascer.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Pérolas.

A gente sempre esbarrando por aí nas pérolas das crianças. Dessa vez foi o mocinho, que via a professora todo dia falando que não podia mascar chiclete na sala nem chupar bala. Um belo dia, aparece a professora, enfiou uma bala na boca no meio da aula. A tarde inteira de danação e traquinagem, até a hora que a professora deu o sermão, dizendo que ninguém ia no parquinho, já que tinham malinado a tarde inteira. No que levanta o mocinho a gente vai no parquinho sim, professora, por que a senhora disse que não podia chupar bala na sala, e descumpriu o acordo. mostra a língua aí, tá vermelha, da cor da bala, mostra aí, vai A professora, muito consciente de seu papel e de seu exemplo, não ia descumprir o acordo, relembrado e proferido por uma criança de cinco anos. E pra completar, me disse e eu lá ia dar ousadia a ele de mostrar minha língua vermelha? fui pro parquinho, ele tava certo Da outra vez fui contar história num evento numa escola, peço pra todo mundo me dizer, nome, idade e série, escola onde estuda, chega a vez de uma menininha, meu nome é Gabriela, tenho seis anos, não estou na escola por que minha mãe não achou vaga Silêncio total, eu com que cara continuo ali, tentei emendar umas perguntas sem sal, mas tu quer estudar, ela hum-hum, menina pequena mas de alma coragem que me disse delicadamente, existe um mundo para além do seu moça-letrada, é o mundo onde as mães não conseguem vaga e eu, menina esperta que sou, quando sei que tem história de graça em escola perto de casa, vou. Aprendo mais assim, com essas pancadas da vida, do que lendo tratado de sociologia. ____________________________________________________________________ Cássia Eller disse que não sabia usar o amor. Será que eu sei? E quando a gente tá tristinha, faz o quê com o amor que tem pra dar? Será que o amor fica triste dentro da gente também? Será que fica com raiva? Amor com raiva faz bico e cara feia? Queria nunca mais repetir a cantilena, mas quero mainha, quero Lagoa, sofá vermelho, comer bolo de feijão com a mão, dormir na cama dela, chegar tarde e ir no quarto só pra ver se ela está lá. Mas também quero quero outras coisas, só não quero que me deixem, queria colo mas sem compromisso nem pena, queria cheiro de alfazema, quando eu era criança tomava banho e corria no colo de painho, só pra ele me cheirar. Mas agora é a dureza da vida toda, é mundo grande que não se acaba, palma da mão pequena pra mostrar o quanto andei, quero café com cuzcuz de manhã cedo me esperando, quero bater tampa de panela procurando comida que acabou de ser feita por ela em minha casa, quero mesmo que seja panela vazia, quero colo, quero alegria, gente sorrindo, conversando na rua, risada à toa, mormaço de fim de tarde, cheiro de chuva na terra, não quero guerra nem muita filosofia, quero meio do dia sol a pino, brincar de fura-pé que nem menino, quero-quero tanta coisa, mas fico aqui na frente dessa máquina, esperando o tempo passar, só pra mudar de tempo, quero e não sei se não resolvo por medo, desespero ou desemprego.

2 comentários:

Helio disse...

Vc deve morrer de rir! rsrsrs
bjo

ps: é o Helio!

Migh Danae disse...

Demais, menino.