Você que me lê, me ajuda a nascer.
quarta-feira, julho 23, 2008
Essa é de chorar, de fazer coração grande ficar pequeno de felicidade de ser eu. Sentada no refeitório, vejo de longe garoto que foi meu aluno há quase quatro anos atrás, ele era um bebê e não parava quieto, mas ali, na fila do almoço não sei se ele se lembraria de mim, agora com seis anos conversava despreocupado com seu professor de percussão, acho que não ia me ligar, nem ia saber quem sou.
Sentei, comecei a almoçar, e senti uma mão pequenina tocando meu cabelo. Ele disse
professora
Estava de costas, me virei, não acreditei. Era ele, ele me dizendo,
oi, professora
Nunca fiquei tão sem jeito depois de um oi, ele me olhava com toda a naturalidade do mundo, meu almoço ali esfriando e eu só conseguia dizer
ma-mas você se lembra de mim?
Ele com um naco de carne na mão, na maior tranqüilidade me dizia hum-hum, lembro de você, você foi minha professora, eu argumentava
mas você tinha dois anos
E ele nem-aí, continuava dizendo hum-hum como quem dissesse e daí, lembro de você, é isso que conta, sua boba, não me pergunte por quê e nem como, lembro-lembro.
Virei-me novamente, com os olhos marejados, não queria que ele me visse chorando, mesmo sendo criança ele me acharia uma boba, boba por chorar de coisa tão bonita. Ainda choro quando escrevo aqui.
Não preciso de mais nada, mas ainda tenho alguém que me diz
não vou deixar de te amar, assim como você não vai deixar de ser migh, faça o que você fizer. assim é a vida, né?
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23.07.2008
Falem o que quiserem, mas as mulheres são as melhores. Tava eu, esperando a peça começar, saguão do teatro, veio uma senhora, sei lá, um jovem senhora, tava com as amigas, no meio dos meus amigos e amigas, parou tudo, me disse
A gente tava aqui te olhando, você é linda, muito linda, tudo
E me olhou de novo, fiquei sem jeito, agradeci. Outra vez na hidroginástica, outra jovem senhora, me disse
Você tem uns olhos bonitos, um sorriso também, acho que os meninos que te namoram gostam disso em você, quando você sorri seus olhos ficam apertadinhos
Não fiquei sem jeito, fiquei pensando se era comigo ou se tinha a ver com o papo que a gente tava levando, depois me toquei que era comigo, e na verdade fiquei surpresa com a sinceridade limpa, bonita, depois dizem que as mulheres são invejosas, falácias, é só mais uma generalização idiota, essas mulheres maduras são prova disso, a gente sabe reconhecer uma moça todalinda quando vê ela.
Não sou modesta, por que todalinda como sou, fica difícil ser. Mas o que eu queria escrever aqui é que a vida é simples, que coisas pequenitas é que fazem toda a diferença na vida, coragens como essas é tudo que a gente precisa num fim de dia cansado e cinza, tudo muda depois de um todalinda, eu tenho certeza.
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Disse pra ele
eu tenho medo de ficar dura, de endurecer por dentro aqui nessa cidade
Ele me abraçou forte e suspirou, me apertou e disse
você não vai ficar dura, por que tem medo
Apertei ele mais ainda, apertei o olho pra lágrima não rolar, dizem que homem não gosta de ver mulher chorando, é uma pena, eu sempre choro, quem me conhece sabe, mas aprendi a chorar sem fazer com que os moços fiquem com pena de mim, eu choro e sorrio no fim da lágrima, eu digo, não se preocupe, sou boba, choro à toa, aí os homens não ficam chateados e me apertam mais forte, o segredo é chorar se tem vontade, não pra impressionar, chorar quando a lágrima vem, por que com lágrima e dor não se brinca, tem que deixar ela ir, sair, esvair, pra morrer nos travesseiros por aí, por ali mesmo, pra não levar pra rua, pra fora da vida, pras coisas de outras coisas, enfim.
E ele me disse mais, eu também disse mais, mais do que pensei ou dizer, não sei se mais do que devia, não jogo o jogo do mesmo jeito que as pessoas jogam, eu abro o jogo, depois vejo o que acontece. Me disse
você é doida, você não existe, deixa eu te beliscar pra ver se você está aqui
E eu disse
doida por que, só por que digo o que sinto?
E ele que nem era especial, num final de semana se tornou o homem da minha vida, meu príncipe, meu hóspede, meu marido. Não quero mais nada, mas acho que nem quero mais ele, não sei o que fazer com tanto sentimento, precisaria ligar pra ele de cinco em cinco minutos para esvaziar metade do coração de amor, mas não posso, ele não tem telefone, ou não quer ter por que é especial demais, vai saber, eu não quero saber, na verdade, nem queria sentir, mas isso é coisa difícil pra menina sonhadora que nasceu no sul da Bahia e veio pra cidade grande por causa de amor tardio.
Preciso esvaziar de amor, por isso escrevo, escrevo pra ele, cartas que não sei se chegarão, se farão efeito, se terão sentido, olha eu aqui chorando de novo, um choro pequeno, simples, que passa rápido, é só o tempo de molhar pedacinho do rosto, passou, falei pra ele
Vai passar, vai passar, é só não mexer com isso que passa, não resisti, te liguei, tava com saudade, não consegui cumprir meu próprio trato (e eu sei que quando não consigo cumprir com os tratos que faço é por que perdi o controle, e se perdi o controle, acabou o mundo, o meu mundo regulado, o que eu faço?)
Sempre acho que nunca mais vou sentir essas coisas. E tou eu aqui de novo, abestalhada. Alguém aí que me lê, pode me ensinar a viver?
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Nem contei aqui, é pessoal demais, conheci Eduardo Coutinho, dei beijo e abraço nele, disse que tinha foto dele no meu quarto pendurada no mural, ele disse
É na minha idade, eu posso ouvir essas coisas e
Foi assim, ele lembrava de mim, da carta que eu tinha mandado pra ele faz um ano mais ou menos, é bom se chamar Mighian.
Eu fico com a beleza da resposta das crianças, eu leio uma coisa dessa aí de baixo e me emociono, serei eu de outro mundo?
é preciso resistir às crueldades do mundo, visível nas relações predatórias dos homens e entre eles e naquilo que desintegra e separa, lembrando que rir, sorrir, brincar também é resistir. Essa forma de resistência chama-se esperança (Morin, 2000)
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