Você que me lê, me ajuda a nascer.

quarta-feira, dezembro 31, 2008

Cigano.

Rui virou pra mim e disse, lendo minha mão você não é feia, só não tem sorte na vida Isso depois dele ter dito que alguém famoso está apaixonado por mim, mas que eu tinha que descobrir quem era. Que o tal moço toca numa banda, que eu tinha que ir num show dele e que ele ia jogar um lenço branco e eu ia pegar. Rui é morador de rua aqui em Itapoan. Sabe de coisa que até eu duvido. Legal, né? Mas Rui tá morrendo. Com uma ferida na perna, morrendo assim como João, outro morador de rua que conheci ano passado mas que agora não está mais aqui para contar história nenhuma. A gente foi ver o que podia fazer, mas o hospital disse que primeiro ele tinha que tirar os documentos. Ele se retou e voltou pra rua. Deixa vir aquelas pessoas à noite, toma sopa e refaz os curativos. Está morrendo. Lê minha mão e suspira, pede um copo de água. A manhã vai lenta embora. Fico ali na rua, olhando o tempo passar, conversando com todo mundo que passa. Aprendendo tanto da vida ali, só olhando o tempo passar.

2 comentários:

Katia Costa-Santos disse...

Minha nova amiga, tenho que confessar uma coisa: o que me mata é a irrealidade do meu ser, essa dificuldade com o palpável, voo com muita facilidade. E neste post seu eu decolei rapido, e fiquei vendo vc e Rui, sua palma exposta, Rui batendo a porta do hospital ruidosamente, e Rui morrendo... e a gente aqui...
Muita maneira a sua escrita.
E se eu fosse vc, eu iria ao show da banda dele... just in case.
bj

Migh Danae disse...

Vou tomar coragem. Ontem levamos Rui ao médico, disseram que enfim vão interná-lo. Na volta, ficamos dançando sentados no fundo do carro... e ninguém entendia minha felicidade.