Você que me lê, me ajuda a nascer.
segunda-feira, agosto 25, 2008
Andar com fé eu vou
Que a fé não costuma faiá
Sentindo o vento, lendo as poesias de Sérgio Vaz e me encantando ainda mais com a vida, quer conhecer o moço, vai no Sarau da Cooperifa pra ver, pra ouvir, pra entender, o que é literatura periférica, ache o que quiser, eu fico com a frase do DaRosa, não o Guimarães, mas o Allan nosso de cada dia, periférica por que nasce na periferia, e não por que está à margem de nada, nada é centro, descentro total, na língua, na vida, na gramática. E Vaz falou
tu tem que entender que quando nóis fala nóis vai é por que nóis vai memo, tem muita gente que diz nós vamos e não vai pra lugar nenhum
É isso aí.
Quando eu estou ali, dentro daquele negócio que me leva até o trem, olhando para os dois lados das marginais, zuuum pra lá e zuuum pra cá, ali pra mim é São Paulo, se alguém me pergunta uma foto, uma imagem, são todas aquelas luzes de longe, nada de gente, só máquina e zummm pra todos os cantos, de trem é mais rápido mas é mais solidão, assepsia total, sentimentos e coração, você lá e quem fala e brinca é estranho ver, por isso ainda prefiro o buzu, mesmo demorando, a leseira da viagem faz a conversa fluir, no trem não, ninguém segura a bolsa, tá todo mundo pensando em descer, em ir embora, em não se envolver.
E quanto mais eu fico em São Paulo, mais baiana eu sou, as pessoas dizem
mas como você tem esse sotaque todo
E fica parecendo que eu forço a barra, mas é o contrário, quando eu falo
da hora
mano
mina
meu
obaratoélôco
Eu acho estranho, língua fora de mim que entra pelas frestas do cotidiano, eu cheia de arestas quero aparar tudo.
Sonhei ontem um sonho louco e doce, a gente junto num ônibus lotado, eu fechava os olhos e quando abria era só eu e você no meio do ônibus dançando um tango, uma pequena platéia observava nossos passos no ônibus que sacolejava vazio, dois pra lá, dois pra cá e meu rosto colado no seu, lembro que você não se cansava, não ofegava, dançava, dançava, seu olhar me penetrava; eu, enquanto você me despia de olhos arregalados, tentava controlar o passo, olhava pra baixo, sem jeito, sem rumo, sem tino, desatino. Acabou, acordei, virei o rosto, virei o corpo, dormi de novo, eram só três horas da madrugada, queria sonhar de novo, mas só o gosto do sonho embalou meu sono até bem tarde, quando o sol cinza se fez presente, quase-poente. Queria te dizer isso, mas você sabe separar as coisas, é certinho, é out, démodé. Vai entender.
Preciso ler tanto, preciso estudar tanto, e fico aqui, olhando pra essa página em branco, que me seduz, me chama, e eu vou, vou, quando vejo é já noite funda, e eu que nem escrevi metade do que senti hoje, que faço, mordo os pulsos, faço careta na frente do espelho? Aparento calma que tem gente olhando, a tv’ tá ligada e o filme tá passando.
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