vou pegar na sua cintura para a gente não se perder viu
Ele encostou a boca na minha orelha para dizer isso ao mesmo tempo em que punha a mão na minha cintura, leve mas firme. Era Carnaval e tínhamos amigos em comum, o que nos levou até ali, no meio do circuito querendo ficar juntos, pelo grupo.
Eu tinha notado seu sorriso assim que o vi chegar, disfarcei interesse porque não sabia o que poderia ser. Eu acho que disfarço bem mas quando precisei olhar no olho dele eu já penso que ele já sabe tudo desde o começo, aí fingimos juntos, eu que não quero nada, ele que não notou, começa aí a cumplicidade, que gostoso é partilhar qualquer coisinha que seja e esperar o momento certo de chegar mais perto e me dizer coisas como
quer dançar?
Mas dizer nem é tão necessário em tempos de festa de rua, lugar onde o corpo conta o que a boca não fala, onde o corpo confirma o que os olhares fingidos não puderam conter dentro deles. Não precisei dizer nada, quando a fila de corpos e mão na cintura se desfez minha mão encontrou a dele e disse te quero. A mão dele segurou a minha e foi resposta, a gente entende a linguagem do desejo.
O vaivém da festa, dos corpos em festa que para lá e para cá iam juntavam meu corpo no dele, completavam as frases que olhos e bocas não disseram, reforçavam minha certeza do que era tudo, estar ali, presente, era isso que dizia. Eu ali me deixava amolecer em seu peito e ele me recebia carinhoso, protegendo meu corpo do que poderia não ser a delícia que era estar perto dele, sentir sua pele, mãos, peito.
Tanto espaço de um lado e outro mas eu só queria ficar ali, à frente dele. Sem olhar pra trás eu esperava que ele estivesse ali, minha nuca buscava a presença de sua respiração quente, eu não queria que aquela avenida tivesse fim, eu poderia viver uma vida toda sentindo aquele desejo que senti ali, naquele dia. Posso não ter certeza de nada nessa vida, futuro e mundo louco, mas tive certeza que ele queria estar ali também, quando me dizia coisas apertando meu corpo em muitas partes dele, passando a mão com uma leve pressão que a fazia demorar no mesmo lugar, quando estava sempre ali, me esperando quando ficávamos longe, mudando sua rota para ficarmos juntos de novo, para encaixar um corpo no outro, para sentir.
Não vou conseguir descrever o que foi esse encontro, não. Uma ideia que se fez presente no corpo de que é possível encontrar alguém que te protege sem sufocar, que te espera sem pressionar, que te deseja sem amarrar, que te entende sem precisar explicar. Foi sonho? Sim, mas foi bom e eu gosto de sonhar. Por mim.
Prefiro sonhar e sentir do que amargar e sofrer.
Tanto prazer, quanto prazer, muito prazer, essa sou eu, inteira, corpo, me queira, me deseje, eu não precisei dizer isso. Foi tanto desejo que senti que eu posso nunca mais vê-lo, mas ainda assim hoje sou mais feliz do que antes de ver seu sorriso pela primeira vez.
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