Você que me lê, me ajuda a nascer.

quarta-feira, março 27, 2019

Chuva.

O dia está assim, assim.
Eu aqui pela janela olhando a chuva que ainda não caiu lá no mar do recôncavo que vive aqui, olhando para mim. Quando não há mais nada, sei que ele estará ali, vazio ou cheio, mas estará ali. Será que eu também consigo estar sempre, vazia ou cheia, ainda aqui?

Há coisas com as quais eu não sei lidar. Com algumas, eu vivo dizendo que eu não vou, que eu não preciso. Mas, qual será o nosso limite? Quando é que a gente pode voltar atrás? Eu não sei quando é, mas às vezes eu volto e me arrependo, às vezes não.

Tudo que a gente quer às vezes é não ouvir mais coisas que já doeram, mas não há saída, se estamos aqui e queremos ficar juntinhos o jeito é respirar fundo, pedir um tempo, olhar o mar pela janela, esperar a chuva chegar e ir ao encontro dela. 

Às vezes sem roupa, noutras com alguma coisa que nos proteja de algum jeito. É preciso ir, eu sempre digo, mas eu também sei que tem dias que eu fico assim, a chuva, o mar e eu.

Porque pensar tanto? Porque sentir tanto e tão intenso? Porque querer muito? 
Não sei.

Essa sou eu. Assim, inteira, revelada. Para mim mesma, revelada. 

O tempo das coisas mudou, sempre muda mas a minha vontade de continuar vivendo um minuto de cada vez, mais aqui do que num espaço que não sei onde é, continua. Eu às vezes não sei direito como fazer isso, me encanto, perco a mão, é muita sedução, eu sou de carne e osso e de vento e às vezes bytes também. Não vou fugir, estou aqui. Mas é aqui, bem aqui, dentro de mim. Lá, no lugar e tempo de nuvem que não se pode alcançar com os olhos de alma que gosta de (con)tato, cheiro e som, o que sobra é angústia e expectativa, quero não.

A chuva chegou.


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