Você que me lê, me ajuda a nascer.

domingo, março 31, 2019

081.

Um número me liga, é meio dia. Eu não sei quem é, mas quando atendo, eu já sei quem é. Pela pausa antes do "Danae", imagino coisas. 

Ele conta das andanças, das distâncias. Ele sempre lembra com carinho da gente e de quem fomos, ele sabe que eu não mudei, continuo ranhenta e teimosa. Ele deve ser um dos poucos que mais me aguentou a vida inteira. Não pelo tempo, mas por quem eu era quando o encontrei. Mudei, melhorei, desapaixonei. Mas ele ainda me arranca as risadas de sempre, como antes. 

você sabe que a gente nunca vai se deixar 

Pergunto a ele que modos são esses, onde está aprendendo a inventar jeito novo de paquerar, ele sorri e encabula. Diz que sabe que comigo não precisa dessas coisas, que não precisa saber se eu já casei e que já que não posso ser mais dele, pelo menos ele sabe que a Danae que foi dele ninguém nunca vai ter. 

Sempre teve dessas, de dizer do passado, de fingir compromisso com uma história que nunca nem existiu. Eu não ligo. A gente vive do que sonha, mesmo. 

você me excluiu dos seus contatos

E eu soletro para ele todos os números do celular 071. Envaidecido, me diz que precisa desligar. Eu digo tchau.

Adeus. 


Baby.

Oh, sim, eu estou tão cansada. Como dizer? Quem tem coragem de dizer assim, quem tem?
Eu estou tão cansada. 

Você precisa saber da piscina, da margarina, da Carolina, da gasolina. 
Baby

Eu não preciso saber de nada, só de mim. 
E que estou cansada. Eu não quero mais, só quero desistir.
E ir.

Ir.

Outono.

As estações mudam, sim. Papo furado isso de que no Brasil a gente só tem verão. Né nada. Eu sinto tudo.
A chuva, a umidez, as pessoas que fingem frio mas só está fresco. Elas querem sair na rua e botar roupa diferente daquela da estação passada, outra cara, outros ares.

Por aqui, o que tem é paz. Esses tempos alternados entre euforia, confusão, tristeza, diversão, felicidade, dá também uma vontade de ficar quietinha e ouvir o barulho do mar. 

Quero me desfazer de coisas. Comecei doando dois quadros que ganhei há muito tempo. Um deles é muito importante para mim, mas não quero mais. Não quero mais. É isso. Ele vai para uma outra casa, ainda na família, mas longe de mim. Melhor assim.

Quero me desfazer de coisas porque tem muita coisa aqui dentro? Tem muita coisa, sim. Tem mágoa, que eu não sou de ferro. Eu sou feita de lama, todo mundo sabe. A mágoa se afoga na lama e some depois de um tempo, mas a marca que ela deixa é como nódoa, demora a limpar. Eu limpo me desfazendo de coisas também. Aqui dentro também tem amor, tem saudade; então, eu me desfaço para refazer, para remoçar as vontades de viver e para esquecer aquilo que a lama não limpa.

No encontro comigo, acabo sempre aprendendo mais como me aguentar até os 100 anos. 

Signal.

E quando eu espero um sinal, só o que vem é mais um aplicativo e mensagens de texto.

Eu preciso de mais. 

quarta-feira, março 27, 2019

In love another man.





Milton Santos, um amor platônico.


Interpretação.

A verdade é que eu sou assim com você. Poderia ser um sacana, um merda também. Eu sei como ser um imbecil, porque eu aprendi isso com o machismo. Mas eu não quero ser com você. Porque eu não quero que você saia de minha vida. 

Então tem outras versões de você por aí?

Sim, pode ter, eu não sou assim com todo mundo. Nem todo mundo me inspira o que você me inspira. 

(livre adaptação de uma conversa apaixonada)

Ciúme.

Ciúme. O que é?

Uma invenção que não serve para mim.

Para mim ciúme é posse, desejo de controle da outra pessoa. Pode ser do tempo, do corpo, das ideias. 
Há muitas coisas que não são ciúmes mas são assim rotuladas também. Eu não me acho ciumenta, mas não posso dizer que nunca senti ciúme. Para mim, uma pessoa ciumenta é aquela que baliza suas ações a partir deste sentido. Eu não dou essa ousadia a ele.

O ciúme não serve para nada. Nada. Há quem diga que eu sou uma pessoa pragmática demais. Não gosto de ser vista assim, mas talvez haja algum sentido. Eu penso que se existe algo que não me faz bem em nada, precisa ser descartado. 

Mas não é assim fácil, dizem pessoas ciumentas. É um exercício diário, inclusive de perceber se sentiu, como sente, porque. Quando tenho certeza que sou correspondida, o ciúme não tem espaço nenhum; quando não tenho certeza se sou, ele não aparece porque eu não daria espaço para alguém que eu não tenho certeza se gosta de mim tomasse conta dos meus sentimentos. 

E quando alguém que eu quero bem está feliz, não há porque sentir ciúme disso. Só se a mente tivesse muito apertada mesmo.

Aonde. É muito desperdício de energia me retar quando alguém está feliz. 

Chuva.

O dia está assim, assim.
Eu aqui pela janela olhando a chuva que ainda não caiu lá no mar do recôncavo que vive aqui, olhando para mim. Quando não há mais nada, sei que ele estará ali, vazio ou cheio, mas estará ali. Será que eu também consigo estar sempre, vazia ou cheia, ainda aqui?

Há coisas com as quais eu não sei lidar. Com algumas, eu vivo dizendo que eu não vou, que eu não preciso. Mas, qual será o nosso limite? Quando é que a gente pode voltar atrás? Eu não sei quando é, mas às vezes eu volto e me arrependo, às vezes não.

Tudo que a gente quer às vezes é não ouvir mais coisas que já doeram, mas não há saída, se estamos aqui e queremos ficar juntinhos o jeito é respirar fundo, pedir um tempo, olhar o mar pela janela, esperar a chuva chegar e ir ao encontro dela. 

Às vezes sem roupa, noutras com alguma coisa que nos proteja de algum jeito. É preciso ir, eu sempre digo, mas eu também sei que tem dias que eu fico assim, a chuva, o mar e eu.

Porque pensar tanto? Porque sentir tanto e tão intenso? Porque querer muito? 
Não sei.

Essa sou eu. Assim, inteira, revelada. Para mim mesma, revelada. 

O tempo das coisas mudou, sempre muda mas a minha vontade de continuar vivendo um minuto de cada vez, mais aqui do que num espaço que não sei onde é, continua. Eu às vezes não sei direito como fazer isso, me encanto, perco a mão, é muita sedução, eu sou de carne e osso e de vento e às vezes bytes também. Não vou fugir, estou aqui. Mas é aqui, bem aqui, dentro de mim. Lá, no lugar e tempo de nuvem que não se pode alcançar com os olhos de alma que gosta de (con)tato, cheiro e som, o que sobra é angústia e expectativa, quero não.

A chuva chegou.


terça-feira, março 26, 2019

Promessa.

Tudo de bom vai acontecer, se nós quisermos. E de ruim, se nós deixarmos.


Ele falou isso de longe mas senti sua mão apertando a minha de leve, um carinho feito assim como pra dizer que viver feliz e com alguém é possível, não é acreditar, é que a vida não pode ser só isso, eu não quero que seja, não vai ser. 

Então, tá bom. 

segunda-feira, março 25, 2019

Não para.

No metrô ele me deu um beijo no rosto e eu arrepiei. A gente esquece de beijo no rosto quando namora, como se só a boca merecesse beijo porque no rosto todo mundo dá. Mas beijo no rosto é tão gostoso quanto qualquer beijo, quando é de alguém por quem você está apaixonando é quase amor. Ele não sabia que eu amo beijo no rosto mas fez. Como as trezes coisas que eu já descobri que ele fez sem saber que eu amava. 

Ficar junto deve ser sempre sobre se divertir com alguém. Mas a gente esquece às vezes do quanto é importante que tenha alegria quando se vive junto; ainda bem que eu já sei que sem sorriso não dá para mim, não funciona, eu não fico, eu escapo, eu vou embora (todo mundo já sabe disso). A parte boa de envelhecer é poder dizer logo quem você é para a pessoa que chega na sua vida sem muita informação sobre você. 

Não quero que você saia de minha vida



Eu ainda me pergunto se isso está mesmo acontecendo, desse jeito. Me dei conta de que nunca tinha ouvido de um homem com quem eu saí elogios que ele me diz fácil, entre um assunto e outro, sem nenhuma cerimônia e sem pedir nada em troca. É estranho e é bom, não quero me lembrar que nunca ouvi, porque não preciso mais lembrar do que não tive, não preciso fixar na memória o que não me faz bem, para que? A vida é curta e eu quero ser feliz (não muito diferente de todo mundo). Conversamos por horas e ele olha para mim, bem dentro de mim, como se estivesse mesmo levando a sério tudo que falo, como se estivesse aprendendo sobre mim e guardando em algum lugar dentro da cabeça (ou do coração), ele pergunta de novo, ele lembra do que falei antes, ele está interessado e não mede esforços para demonstrar isso. Sem medo de se lançar, sem vergonha de expor, não é preciso medo se o que virá vai ser amor ou autoconhecimento, ele me conta quando olha para mim que vai valer a pena sempre, porque sou eu, é só porque sou eu, é isso que ele quer que eu entenda.

Não tenho sono porque é tão bom ficar aqui lembrando do que vivi, de como a vida parece perfeita quando tem gente que nos faz bem do lado, eu não posso reclamar de nada. Eu perguntei

porque você está se metendo nisso?

E ele me responde

porque estou vivo

E eu penso como é que alguém tão diferente de mim pode ser tão parecido comigo até nas coisas que responde sem pensar muito. 

domingo, março 24, 2019

Duda Beat, Chapadinha.


Foi quando a música começou a tocar e ele disse que queria casar com Duda Beat e eu achei engraçado ele não ter medo nem vergonha de declarar amor platônico no segundo encontro que eu tive alguma certeza que isso vai dar certo. 

Zangão em inglês (sem o bee)

Quero viver dentro de um abraço, minha vida por um abraço.
Porque sem abraço eu não preciso de vida. 
A vida é gostosa quando se tem alguém para te abraçar, sem isso, não é a mesma coisa. Então para que?


sexta-feira, março 22, 2019

quinta-feira, março 21, 2019

Melancolia.

Poderia ser de comer, quase, mas não é.
Há dias que eu não sei o que fazer. Sinto saudade de coisas que nem nunca tive, mas também não sei pedir. Eu não aprendi a pedir. Eu não sei nem por onde começar. Eu nem vejo como posso fazer isso, aprender uma coisa que parece ter passado do tempo. 

Se você me conhece e quer chegar perto, entenda que antes de tudo você precisa respirar fundo e me oferecer algo. Um minuto, um café, um sorriso. Porque às vezes eu estou fechada um pouco, só um pouco e às vezes, mas pode ser bem naquela hora em que você passa na minha frente e eu não vou ver se você não me cutucar.

Fala comigo. Não tenha cerimônia, não faça como eu, sem óculos andando na rua sem reconhecer ninguém mas achando que estou mais bonita sem eles. 

Às vezes eu tenho medos bobos e em outros dias eu estou iluminada, dançando por aí. Hoje eu estou entre esses dois mundos, vivendo os dois ao mesmo tempo, dentro e fora de mim. Como continuar com as ideias de antes, soltar a amarra que me prende e me sentir eu mesma, presa pelos fios que me fazem chegar até onde eu estou inteira?

Se eu soubesse, não estaria assim, melancólica. 

quarta-feira, março 20, 2019

Love, livre, leve.

O bom da vida é que quem chega chegue leve. Está calor, então dá para aguentar se o peso for só o de um ventilador.

A vida vive pregando peças na gente. Estava eu aqui na minha acostumando-me com minhas ideias só minhas sobre a vida os relacionamentos quando viu, Migh, você não sabe de nada, olha você aí de novo indo atrás, não foi mesma você quem disse que vai ser feliz de QUALQUER jeito?

Eu não tenho jeito a dar. Acho que no fundo eu gosto mesmo de pensar por um lado e ser surpreendida com quem vem pelo outro, devagar e sempre, ouvindo tudo que eu tenho a dizer noite adentro, me dando a certeza de que eu sou eufórica sim e quando vejo que a felicidade pode ser e que naquela noite eu vou dormir acompanhada demais da conta eu desimbesto a falar, eu tou falando e pensando "eu tou falando muito" mas eu não paro porque é tão difícil acontecer isso, alguém que quer ouvir sem parar o que eu falo que eu falo, ufa, parei, ele diz

eu entendi

Não precisa mais, mas tem mais, e esse mais não é a mais, é um jeito que alivia, que liberta também. Pode ser assim, é só a gente conversar tudo e sempre e dizer não se não quiser conversar na hora mas ainda assim ter certeza que a pessoa vai estar ali quando tudo o mais não estiver. 

Isso existe? Eu acho que não, mas não custa acreditar.  

domingo, março 17, 2019

Bird box.



Road to yesterday.


Incrível.

Foi só quando ele me disse

você é uma pessoa incrível


... que eu vi que nunca tinha pensado tanto nessa palavra. In-crível, coisa que não dá para acreditar.
Perguntei:

sou incrível porque não dá para acreditar no que eu falo ou não dá para acreditar que eu existo?

Fiquei pensando na palavra e em como ela é mesmo bonita. De qualquer jeito, por qualquer lado é bonito não ser possível ser crida, por não existir ou por parecer mentira. Essa coisa feita de algodão e ferro que são as palavras. Leves e suaves, pesadas e doridas. Tudo no mesmo dia, ao mesmo tempo. De vários lados, mas eu só quero o que me faz bem. Antes do fim do dia, eu só fico com elas. As que roçam meu rosto com carinho e descem embolando com jeitinho pousam no meu colo entram no meu coração. 

Incrível como só uma palavra pode mudar tudo. Poderia ser outra palavra? Não sei. Podem tentar, mas, ainda assim, o que senti ontem não vai mais se repetir. Talvez são essas coisas que tornam a mim e a vida tão incríveis. 


sexta-feira, março 15, 2019

Sem saída.

Não há saída, não tem volta e não tem pressa.
O jeito é viver.
Viver, intensamente viver, como der, como for possível, caindo, rastejando, levantando, sorrindo, amargando.
O jeito é viver, ir indo, como a vida deixar, como deus quiser, como for pra ser.

Não há saída para vida além de viver tudo que for possível e onde e como for possível, não tem como, não.
Só tem esse jeito aí, e o jeitinho que se pode dar é viver mais e sempre, acordar, levantar, viver, por tudo e por nada, viver.

Tá bom?
Vive
Não tá bom?
Espera e vive

Não é sobre não desistir, não é sobre superar, não é sobre resistir, é só que não tem saída, não tem alternativa, é viver mesmo, viver vivendo, desse jeito que se sabe mesmo, sem saber, com medo, sem medo, com raiva, com amor, vive.

quinta-feira, março 14, 2019

Desearas al hombre de tu hermana.


"Alta" ajuda.

As pessoas falam cada coisa para ganhar uma discussão, mesmo a mais boba possível. Eu disse

odeio autoajuda

 E a pessoa disse

mas o seu blog é o que?

De cara me deu vontade de mandar a definição de autoajuda para que a pessoa mesmo fizesse a análise do que falou. Uma definição simplista, boba também, já daria conta de mostrar a diferença:

O termo autoajuda pode designar qualquer caso onde um indivíduo ou um grupo, como um grupo de apoio, procuram se aprimorar de forma econômica, espiritual, intelectual ou emocional. (Wikipédia)

A autoajuda literária é configurada por um conjunto de obras que tem por objetivo fazer o leitor pensar sobre seus próprios problemas ou aprimorar suas habilidades e, para isso, as narrativas do gênero fornecem variadas alternativas para todo tipo de assunto.
(Infoescola)


Vamos lá, eu não gosto de livros de autoajuda, principalmente porque já li e também já li outras coisas, então eu posso dizer que não, eu não gosto, acho ruim, MAS RUIM MESMO, no sentido de não me fazer imaginar, encantar, não me fazer sentir criativa, com vontade de ler mais, de escrever mais, nada disso. E eu leio para isso tudo aí, não para resolver minha vida. 

Sigo acreditando que ler QUALQUER COISA é melhor do que não LER NADA, mas eu tenho 38 anos e acho que já sei um pouco diferenciar o que é um literatura e o que é mercado editorial. Sendo assim, apelar para o argumento de "mas o seu blog é o que?" para de algum modo desvalorizar o que eu escrevo e querer me convencer de que autoajuda não é assim tão ruim porque eu me enquadro nessa linha é argumento que já nasce morto.

Eu me divirto com essas coisas. Porque depois fiquei pensando o que o meu blog era. Meu blog surgiu da vontade de continuar escrevendo, quando eu parei de escrever em diários de papel e mandar cartas para amigas/os (eu até já falei isso aqui). Não tem nenhum objetivo além de guardar o que eu escrevo. Está online porque eu não me importo que outras pessoas leiam algumas coisas (sim, há também posts que só eu tenho acesso). Se eu quero me ajudar quando eu escrevo? Sim e não. Não é essa ideia de ajuda romântica que os livros de autoajuda querem promover; eu me ajudo porque nasço todas as vezes que consigo escrever algo que vai dentro de mim. Mas não é autoajuda, porque não tenho compromisso com isso me fazer bem ou me mostrar como resolver coisas ou "aprimorar" coisas. Não é autoajuda porque eu não estou preocupada com quem me lê, não escrevo para ser lida, na verdade eu ainda me surpreendo que tenham posts com 80, 100 visualizações. Não é autoajuda.

Talvez seja "alta" ajuda. 

quarta-feira, março 13, 2019

Maneiras.

Ele não sabe o quanto me fascina quando ele me diz

não gosto disso que você faz
não posso mudar você mas isso que você faz, não é legal

Tenho ganas de abraçá-lo e dar um beijo no rosto e apertar ele, ele nem sabe porque eu me mantenho ali, apenas digo sim e às vezes rebato levemente, também provoco mais, ele fala, fala.

Eu também sou feliz na desordem, com o caos, o conflito. Esse desequilíbrio todo me faz lembrar em como eu sou mundana e imperfeita.

Ah, se ele soubesse como cada parte de mim dança de alegria quando ele faz silêncio e depois fala de mim como se eu fosse a coisa mais importante do mundo para ele, pelo menos naquela hora eu me sinto assim, como é bom essa sensação. 

segunda-feira, março 11, 2019

sábado, março 09, 2019

Orixás para crianças (Exu!)

Umas amigas me chamaram para publicar uns livros com elas. Aí me contaram que eu o que eu escrevi já nasceu já.

Dá para saber mais coisas sobre o projeto aqui, vai lá.

Carnaval.




sexta-feira, março 08, 2019

Machismo.

Às vezes eu tenho pesadelos que homens estão sendo machistas. Às vezes eu acordo e eles estão dormindo ao meu lado. Tenho sustos dormindo e medo acordada. O que fazer?

Voltar a dormir e esperar um sonho bom?
Ou ir embora sem volta?

Eu sigo me surpreendendo com a força que o machismo tem de reinventar as formas de existir. Ele invade, ele é sutil, ele é disfarce, ele é presente, ele finge ter ido embora quando você está confiante. Reluto em escrever sobre o machismo porque ele parece tão imbecil por ser antigo e conhecido de todo mundo que eu conheço que eu canso. Mas... parece que não acabou. Ainda é sobre ele que também precisamos falar.

Eu emudeço quando algumas dessas coisas acontecem comigo. Falas, ações. Reluto um pouco para identificar automaticamente, tomo um ar, respiro fundo, espero que mudem de ideia, mas aí seguem com o preconceito disfarçado de opinião e não param, não param. 

Qual saída?
Acho que sempre deve ser pela porta da frente. Mas, quando não for possível, o importante é sair. Por qualquer lugar.

Nada a esconder.



terça-feira, março 05, 2019

segunda-feira, março 04, 2019

Amizade.

Abri o email e foi um choro só. Ele me escreveu, faz muitos anos que não nos falamos. Ele disse que sente minha falta e que nunca me esqueceu, que não estava zangado comigo.

Como eu poderia saber?

Nos separamos e ele não me respondeu mais. 

Como eu poderia saber?

Eu sofri sem ele. Ele foi meu amigo em momentos que eu queria um abraço, falava comigo como um irmão mais novo, preocupado mas sem poder fazer muito. Eu chorei, chorei de alegria ao saber que ele ainda estava ali. Ficamos de bem, então.

E ontem, quando o vi, lembrei do sorriso e da alegria que tínhamos juntos. Conversamos mas a saudade ainda está aqui dentro, bem dentro. É tão bom poder estar viva e saber que amizade não coisa séria, existe, faz bem e tem pra mim.

sábado, março 02, 2019

Green Book: o guia.


Miragem.

vou pegar na sua cintura para a gente não se perder viu

Ele encostou a boca na minha orelha para dizer isso ao mesmo tempo em que punha a mão na minha cintura, leve mas firme. Era Carnaval e tínhamos amigos em comum, o que nos levou até ali, no meio do circuito querendo ficar juntos, pelo grupo. 

Eu tinha notado seu sorriso assim que o vi chegar, disfarcei interesse porque não sabia o que poderia ser. Eu acho que disfarço bem mas quando precisei olhar no olho dele eu já penso que ele já sabe tudo desde o começo, aí fingimos juntos, eu que não quero nada, ele que não notou, começa aí a cumplicidade, que gostoso é partilhar qualquer coisinha que seja e esperar o momento certo de chegar mais perto e me dizer coisas como 

quer dançar?

Mas dizer nem é tão necessário em tempos de festa de rua, lugar onde o corpo conta o que a boca não fala, onde o corpo confirma o que os olhares fingidos não puderam conter dentro deles. Não precisei dizer nada, quando a fila de corpos e mão na cintura se desfez minha mão encontrou a dele e disse te quero. A mão dele segurou a minha e foi resposta, a gente entende a linguagem do desejo.

O vaivém da festa, dos corpos em festa que para lá e para cá iam juntavam meu corpo no dele, completavam as frases que olhos e bocas não disseram, reforçavam minha certeza do que era tudo, estar ali, presente, era isso que dizia. Eu ali me deixava amolecer em seu peito e ele me recebia carinhoso, protegendo meu corpo do que poderia não ser a delícia que era estar perto dele, sentir sua pele, mãos, peito. 

Tanto espaço de um lado e outro mas eu só queria ficar ali, à frente dele. Sem olhar pra trás eu esperava que ele estivesse ali, minha nuca buscava a presença de sua respiração quente, eu não queria que aquela avenida tivesse fim, eu poderia viver uma vida toda sentindo aquele desejo que senti ali, naquele dia. Posso não ter certeza de nada nessa vida, futuro e mundo louco, mas tive certeza que ele queria estar ali também, quando me dizia coisas apertando meu corpo em muitas partes dele, passando a mão com uma leve pressão que a fazia demorar no mesmo lugar, quando estava sempre ali, me esperando quando ficávamos longe, mudando sua rota para ficarmos juntos de novo, para encaixar um corpo no outro, para sentir. 

Não vou conseguir descrever o que foi esse encontro, não. Uma ideia que se fez presente no corpo de que é possível encontrar alguém que te protege sem sufocar, que te espera sem pressionar, que te deseja sem amarrar, que te entende sem precisar explicar. Foi sonho? Sim, mas foi bom e eu gosto de sonhar. Por mim.

Prefiro sonhar e sentir do que amargar e sofrer. 

Tanto prazer, quanto prazer, muito prazer, essa sou eu, inteira, corpo, me queira, me deseje, eu não precisei dizer isso. Foi tanto desejo que senti que eu posso nunca mais vê-lo, mas ainda assim hoje sou mais feliz do que antes de ver seu sorriso pela primeira vez.