Você que me lê, me ajuda a nascer.
terça-feira, junho 30, 2020
segunda-feira, junho 29, 2020
domingo, junho 28, 2020
sábado, junho 27, 2020
sexta-feira, junho 26, 2020
quinta-feira, junho 25, 2020
Um preço muito alto: a jornada de um neurocientista que desafia nossa visão sobre as drogas, Carl Hart.
Terminei de ler o livro de Carl e fiquei com a sensação de que éramos amigos de longa data.
Eu irei comprar alguns exemplares deste livro para doar à jovens negros que conheço, que estão no início de sua vida acadêmica ou mesmo no ensino médio. Carl é corajoso ao expor sua própria vida para fazer-nos perceber como muito sobre o que pensamos sobre drogas, pobreza e juventude está errado. Sim, errado ou maliciosamente errado, para ser mais enfática.
Esse livro é em parte biografia, em parte apresentação dos estudos que ele vem fazendo desde o mestrado sobre o uso de drogas e como elas afetam o cérebro das pessoas. Carl não tem vergonha de dizer muito sobre ele, mesmo que, para um professor de uma universidade Ivy League nos EUA pareça demais compartilhar conosco que ele passa por situações difíceis com relação a um filho mais velho que ele desconhecia. Dificilmente gosto de biografias feitas pela própria pessoa porque, na maioria das vezes, somos muitos bonzinhos com a gente mesmo e não nos colocamos à prova na escrita; viramos heróis, nossa trajetória é sempre épica e, quando leio parece que, desde pequenas, as pessoas sabiam o que queriam. Não nos expomos com todos nossos medos e fracassos. Mas Carl não é assim e isso me puxa mais para perto do que ele escreve; queremos ler coisas assim, sobre pessoas que muitas vezes não sabem o que fazer, que tem medo e que recuam, porque isso somos nós, mesmo depois de uma vida inteira que, olhando em perspectiva, pode ter parecido perfeita aos olhos de quem chega agora.
Para mim, esse jeito de pensar ciência, o jeito de quem não sabia que a ciência ia atravessar nosso caminho é uma das contribuições que podemos dar ao mundo acadêmico com a nossa presença nele. Quando falo nossa contribuição, estou falando de nós, pessoas negras e pobres que acabam por conseguir concluir estudos acadêmicos que ainda são vistos como possíveis apenas para uma parte da população mundial. Vejo muita gente falando sobre ser afrocentrado e ler autoras e autores africanos, mas continuam fazendo as mesmas coisas de sempre em seus textos acadêmicos; não há nenhum exercício de autocrítica ou de demonstrar, a partir daquilo que aprendeu durante a vida, como a ciência é um saber falível e é por isso que você volta no outro dia para a pesquisa, é por isso que você explicita as regras estabelecidas, porque as coisas não são apenas naturais num mundo social.
Página a página, o autor vai demonstrando como é que alguém consegue escapar de uma vida que parecia predestinada ao fracasso. Ele também aponta como é possível que a situação em que viveu na infância colaborou no momento em que precisou tomar certas decisões na vida: mesmo que muitas vezes vejamos apenas dor, nossas privações nos ensinaram muito mais do que podemos imaginar. Lembrei-me de mim mesma em muitas situações porque, ter muito pouco (seja em matéria de dinheiro ou afeto) na infância me ensinou a me preocupar mais com minha sobrevivência, me ensinou a ficar longe de problemas que eu não poderia resolver facilmente sozinha, me ensinou a sentir prazer com minha própria companhia; é óbvio que essas coisas todas criaram traumas, mas não criou apenas trauma, me ajudaram a ter mais disciplina e coragem também. E assim me tornei o que eu sou.
Dia desses, um amigo perguntou-me que conselho eu me daria se pudesse ligar para mim ainda criança. Disse, de pronto, que falaria que eu deveria me inscrever em aulas de dança ou de circo. Passado alguns minutos, pensei melhor e disse que não queria dar conselho nenhum para mim mesma, mas tão somente saber de mim, como eu estava e o que eu pensava da vida; fiquei com receio de, ao fazer aulas de circo ou dança, alterar demais meu futuro e não ser mais quem sou hoje, alguém que tenho muito orgulho e prazer.
Carl não tem medo de expor que sabia de suas dificuldades de escrita ainda no doutorado, por exemplo. Isso é lindo e um alento para quem está dentro do universo acadêmico e vê apenas ego inflado e muita conversa fiada. Corajoso, sensível, tocando em pontos como relacionamentos interraciais e vergonha ou falta de traquejo com uma família que teve pouca formação educacional, Carl inspira demais em cada capítulo do livro. Senti-me um tanto abandonada quando o livro acabou, porque eu realmente estava vendo-o como um grande amigo, alguém com quem eu estava trocando ideias e a quem eu poderia confiar minhas dúvidas sobre como alcançar pessoas que conheço mas ainda não sei como.
A verdade é que, em termos relacionais, eu vejo muita potência em frases como "não sei" ou "preciso de tempo". Elas carregam alguma força e importância e não devem ser desconsideradas no processo de amadurecimento e na tentativa de aprender mais sobre como viver melhor com pessoas que amamos.
Ler Carl também me animou para fazer as pazes com as teorias comportamentais e querer estudar mais sobre neurologia, algo que uma colega de trabalho já havia sinalizado para mim há alguns meses atrás. Sim, a psicologia não deixou de ser uma área de estudos burguesa, mas pessoas como Carl tem tornado alguns de nossos problemas possíveis de serem ouvidos.
Agrada-me profundamente a ideia que ele defende no livro e que vai de encontro à ideia de meritocracia que por vezes vejo pessoas negras ou outros grupos sociais alijados dos espaços de poder defenderem, ainda que não nitidamente mas de algum modo, quando ressaltam suas qualidades inatas ou algo do tipo. Carl diz o tempo todo no livro, o que te leva à excelência é a prática e isso você pode constatar, seja por exercícios físicos, seja pelo número de horas que você passa estudando. Eu concordo em absoluto com isso. A prática é o que nos coloca no jogo, em todos os sentidos falando.
Sei também que não é fácil praticar muitas vezes num mundo que nos diz que não conseguiremos ainda que tenhamos tentado todo o tempo. Ainda aqui, a força da prática encontra-se na própria força de se fazer praticar: apegue-se a ela e a cada dia ela parecerá parte de você. Eu vejo isso em mim em tudo que faço, absolutamente, desde conseguir sorrir em tempos de amargura a conseguir cumprir metas ou horários. Minha maior motivação sou eu mesma, em primeiro lugar. A sensação eletrizante de ter conseguido fazer desde metas simples como acordar, meditar, fazer exercícios (em qualquer tempo) a metas como poupar dinheiro, escrever um livro, entre outras coisas que parecem enormes mas que podem se tornar apenas mais uma meta, caso a prática já tenha se tornado sua amiga.
É por conta da prática que aprendi a escrever e que aprendi a ler, é também por conta dela que aprendi línguas antes mesmo que começar a fazer cursos de modo regular (agora, com eles, aprendo mais e melhor). Carl Hart me ajudou a ter argumentos contra essa ideia absurda sobre pessoas que acreditam em méritos e só por isso, o livro dele é mais do que importante para mim.
Obrigada por existir, dr. Carl Hart. Nessas horas, a gente tem um orgulho danado de ter virado professora universitária e vemos que é possível fazer diferença num ambiente que por vezes parece não ter saída. Esse livro me estimulou a ver em mim a importância que há em continuar fazendo o que faço, por mim e por tantas outras pessoas que ainda estão aqui.
quarta-feira, junho 24, 2020
segunda-feira, junho 22, 2020
domingo, junho 21, 2020
sexta-feira, junho 19, 2020
Desconcerto.
I can pay for your flight
Ele disse isso e eu comecei a me desconcertar toda, não me pergunte porque, nem eu sei direito, lembrei de todas as vezes que viajei para ver alguém e das vezes que voltei, que sumi, que sofri. Ativou em mim memórias ruins e eu agradeci a ele por me fazer falar sobre isso, mas ele não queria ouvir, não quis, quem quer?
Não sei, não acredito. Ou, pelo menos, não estou acreditando por ora.
quinta-feira, junho 18, 2020
Racismo e Facismo/ O corpo escravizado e o corpo negro, Toni Morrison
Eu odeio apps, mas baixei o Kindle só para ler esse livro, grátis. Preparei-me para um texto enorme, mas não. Não!
Ao mesmo tempo, textos tão curtos e que diz tudo que precisamos ouvir, ler, acreditar, se amargar, voltar a acreditar. É isso.
Tem uma matéria que copia vários trechos dele, vai lá. São vários socos no estômago, mas Sra. Morrison avisa que não estava boa no dia. Eu amo Toni Morrison há muito tempo. Acho que serei a pessoa mais feliz do mundo quando ler um livro dela em sua língua nativa e entender tudo. Vou tentar isso, um dia.
Toni Morrison
Geni, ela e Conceição (e Esmeralda Ribeiro) me fazem ter tanto orgulho de mim mesma. Não caibo em mim por ser quem sou e saber que elas existem. Obrigada, universo, pela vida que eu tenho (ouvindo India Arie, não poderia ser diferente).
Aqui estão os sonhadores, Imbolo Mbue.
Já leu um livro em que teve vontade de encontrar com um dos protagonistas e falar:
Para, calma, não fica assim, não fica com medo, calma, tudo vai dar certo, não fica triste nem preocupado, a vida vai melhorar
Já teve? Pois é esse danado desse livro. Tive vontade de encontrar Jende e dar uma abraço e dizer tudo vai ficar bem, mas eu não sei, é mentira minha, eu não posso dizer isso porque eu não sei.
Só porque eu escuto duas meditações sobre desapego eu quero achar que já sei tudo sobre o que não posso controlar.
Tenho amigas que quando gostam do livro leem rápido, eu sou o contrário... quero que acabe não e às vezes fico me amarrando, lendo outros enquanto leio, só para demorar mais... E assim foi.
Amei Neni, a esposa de Jende, como se ela fosse uma amiga que eu não via há muito tempo, e fiquei imaginando o que eu diria a ela quando chegasse a hora de ir embora. Eu fiquei do lado de Jende, todo mundo sabe, porque eu voltei, todo mundo sabe. Fiquei também pensando em Liomi, queria ter ouvido mais dele e sobre ele, mas não era essa a intenção, tá tudo bem, o livro é maravilhoso.
Leia, não vou copiar parte nenhuma aqui e nem vou falar mais nada, porque já falei muito.
Imbolo Mbue, em carne, osso, pele, boca e cabelo
terça-feira, junho 16, 2020
segunda-feira, junho 15, 2020
domingo, junho 14, 2020
Sono.
(estava com tanto sono que postei agora, escrevi ontem, antes de dormir)
Como é que a gente aprende as coisas?
O corpo ensina também. Eu fico com os ouvidos abertos, mas às vezes algumas coisas passam. Os olhos, veem.
Era uma vez...
Era uma vez o racismo estrutural.
Que veio e disse como ia ser o mundo e tudo que você consegue alcançar, por terra, céu e ar.
E ele fingia que era um lobo mau, mas na verdade ele era a vovozinha, a cama, a mesa, a maçã, a história, o livro, ele era você.
E você passava a vida tentando destruir o lobo achando que destruindo-o você estaria feliz e a salvo num mundo onde todo mundo era igual, independente de tudo e qualquer coisa.
E esse mundo era uma ilusão, criada pelo racismo estrutural.
Era uma vez o racismo estrutural.
Lugar de Fala, Djamila Ribeiro.
Todo mundo já leu, e eu? Eu não. Li apenas um capítulo, tempos atrás. Essa minha mania de só ler depois que não está mais na moda não vai me levar além.
O ponto é que vale a pena ler, é uma introdução bacana sobre o tema e necessário para quem vive usando o conceito sem saber de onde surgiu. Sei que muita gente deve ter aprendido o livro nos muitos vídeos espalhados pelo You Tube, mas eu sou aquela que gosta de livro nesses casos.
O livro me lembrou que eu preciso ler mais Lelia Gonzalez e que eu queria fazer um média metragem sobre Beatriz Nascimento. Gosto tanto dela, vai saber porque. Deve ser porque ela me lembra eu mesma mas também tantas outras pessoas que amo.
O livro me apresentou autoras que já passaram por mim e eu não li ainda, como Linda Alcoff. Num texto de Sueli Carneiro, há muitos anos atrás, eu tinha ouvido esse nome e nada. E Gloria Anzaldua? O que estou fazendo que ainda não li mais nada dela? Não sei. Muita coisa, muita coisa.
Mas, uma coisa que o livro lembra e quase ninguém fala quando vive repetindo "meu lugar de fala" é: TODO mundo tem lugar de fala, gente. O que não dá é achar que pode falar por alguém ou silenciar vozes a partir de uma narrativa única. Há narrativas brancas e negras que são antirracistas, outras nem passam perto.
Djamila diz que
Por mais que sujeitos negros sejam reacionários, por exemplo, eles não deixam de sofrer com a opressão racista – o mesmo exemplo vale para outros grupos subalternizados. O contrário também é verdadeiro: por mais que pessoas pertencentes a grupos privilegiados sejam conscientes e combatam arduamente as opressões, elas não deixarão de ser beneficiadas, estruturalmente falando, pelas opressões que infligem a outros grupos. O que estamos questionando é a legitimidade que é conferida a quem pertence ao grupo localizado no poder (p. 39)
Rapaz, eu gostei disso. Gostei mesmo. Daí entender porque aquela pessoa branca que te conhece e diz que "tem uma amiga negra" muitas vezes achar que isso resolve o problema do racismo no plano individual. Não é que apenas não deixarão de ser beneficiadas, mas também o racismo estrutural em que ele foi cozido dele que nasceu não vai deixar de ferver e esquentar sua cachola.
Eu gostei de
Um dos equívocos mais recorrentes que vemos acontecer é a confusão entre lugar de fala e representatividade. Uma travesti negra pode não se sentirrepresentada por um homem branco cis, mas esse homem branco cis podeteorizar sobre a realidade das pessoas trans e travestis a partir do lugar que ele ocupa. Acreditamos que não pode haver essa desresponsabilização do sujeito do poder. A travesti negra fala a partir de sua localização social, assim como o homem branco cis. Se existem poucas travestis negras em espaços de privilégio, é legítimo que exista uma luta para que elas, de fato, possam ter escolhas numasociedade que as confina num determinado lugar, logo é justa a luta porrepresentação, apesar dos seus limites. Porém, falar a partir de lugares é também romper com essa lógica de que somente os subalternos falem de suas localizações, fazendo com que aqueles inseridos na norma hegemônica sequer se pensem. Em outras palavras, é preciso, cada vez mais, que homens brancos cis estudem branquitude, cisgeneridade, masculinos (p. 47).
Ainda, acho que é preciso cada vez mais que pessoas brancas falem a partir do seu lugar e ótica sobre fenômenos como racismo, dos seus privilégios e interesses, daquilo que os transforma em alguém que tem raça e que os vê como norma, ou seja, se a ideia do lugar de fala é traduzir perspectivas desde dentro, que sejam as pessoas brancas a fazer denúncias sobre o racismo que nos atinge enquanto sociedade. Grada Kilomba diz "o racismo é um problema das pessoas brancas", Guerreiro Ramos diz "o racismo é um problema da sociedade brasileira" (não me perguntem as referências, aha, hoje é domingo), outra pessoa escreveu e eu ouvi num vídeo (esse não lembro mesmo, mas é bem comum) "o racismo é um problema dos racistas" (eu gosto mais das duas primeiras frases, que contém a terceira, mas é mais abrangente).
"Vivem" dizendo que as pessoas negras precisam levantar a voz (usei "vivem" como se essas pessoas que nos dizem isso não tivessem raça e classe, aha, isso para soltar um veneno aqui) e dizer do racismo (Bacurau na veia, o inferno são os outros, peguem o jargão que quiserem), eu também deveria dizer aqui que são as pessoas brancas que devem levantar a voz e dizer dos seus privilégios e não nós que deveríamos apontar isso o tempo todo, porque parece ressentimento, mágoa, inveja, parece qualquer coisa menos o que é, white privilege. Não quero ser professora todo o tempo da vida e dizer como as pessoas devem ser mais sensíveis para viver junto.
Eu vejo isso quando leio o que Silvio Almeida falou sobre o episódio George Floyd (acabei de ver um filme sobre o episódio Rodney King), como se só a gente pudesse falar da polícia branca que nos mata. Teóricos/as brancos devem tentar explicar porque isso acontece e não apenas nós, com toda a nossa dor, de novo, mais uma vez, again, porque algo contra nós acontece de modo sistemático; devem tentar explicar e devem expor suas caras na TV', em solidariedade antirracista, deve dizer e se contradizer, deve errar, como nós, como as pessoas humanas. É nessa hora que vejo que leram esse livro de ponta-cabeça, mas só de sacanagem.
Eu consigo respirar, sim, por mim e por vários George Floyds. Eu ainda estou aqui e vou ficar por muito tempo.
Djamila retada, livros ótimos numa coleção que alcancou muita gente (nunca mais um livro tinha dado tanto buchicho e fez as pessoas irem para tarde de autógrafos, eventos em teatros para se ouvir falar de lum livro, muito orgulho por ela, por nós), que massa.
Já viu?
A maior das coisas a gente não pode controlar. Não pode. Não mesmo. Eu não fico mais pensando muito sobre isso, mas eu lembro de pensar quando encontro gente que me faz lembrar porque vive querendo controlar tudo.
Aí eu paro.
E penso.
Eu sou assim? Eu fico me martirizando pelo que não posso dar conta?
Oxe, eu não. Absolutamente. Eu não, mas eu já fui assim. Quem lê isso aqui direto deve lembrar do tempo que eu sentia raiva quando ficava parada nos engarrafamentos em São Paulo. Aquela cidade me ensinou muito. Mas eu aprendi mais ainda quando saí de lá e olhei-a de longe.
Sabe o que eu depois penso? Essas pessoas que vivem querendo controlar o incontrolável, o que elas podem controlar, não fazem. Acordar cedo para jogar o lixo fora? Não fazem. Organizar a vida para comer melhor e mais devagar? Não fazem.
Então me deixa. ME DEIXA.
sábado, junho 13, 2020
sexta-feira, junho 12, 2020
Meu futuro.
Apresentaram-me esse site, Futureme.
Acho fofo escrever para mim mesma no futuro. Hoje recebi uma cartinha de mim do passado, coisa boba, simples. Mas fofa.
É gostoso imaginar que eu, há um ano atrás, estava preocupada como eu estaria agora. E sim, estou bem. Chove aqui e eu queria sair e me molhar, cantar, dançar. Estou bem. Acho que yoga, meditação, ler, escrever, ouvir música, ver filmes, dormir (trabalhar não vai entrar na lista, muito embora eu esteja mergulhada num projeto bem bacana agora), cuidar das plantas, falar com amigas, estudar inglês, comer, tudo isso me deixa bem.
A chuva parou enquanto eu escrevia este post. E eu continuo bem. Tenho uma vista linda para uma ilha pequenina que aparece em várias passagens da história do Brasil, eu não posso querer mais nada no mundo.
quinta-feira, junho 11, 2020
Eu queria uma gata chamada Lúcida.
... mas, como tenho um pouco de medo de gatas, vou batizar as coisas da minha casa com nomes.
Roubei de uma amiga o nome da minha máquina, ela chama Elke (porque? Porque ela é uma maravilha, eu realmente achei que não precisava de mais nada quando comprei a minha primeira máquina). Minha amiga, muito mais sabedora das coisas que eu, botou o nome Elke na lava-louças porque ela chegou no dia que Elke desencarnou, lógico, certeza Elke voltou lava-louças. Acredito que se ela pudesse escolher, ia preferir passar essa era no Brasil como uma lava-louças. Eu mesma já pensei em ser liquidificador, por causa do filme de André Klotzel.
O computador é uma mulher trans, acho melhor que ela se chame Lúcida.
Também comecei a dar nome de pessoas às plantas, mas parei, porque algumas já tem nomes fantásticos. Eu vivo com uma Jamaica. Não tive coragem de mudar o nome dela.
Pensei então em dar nomes de países às plantas apenas que moram dentro de casa, nomes de países que já visitei. As de fora, darei nomes de países que ainda quero ir.
Já sei tudo aqui dentro da minha cachola. Eu sei tudo, pena que não sei tudo que sei.
quarta-feira, junho 10, 2020
terça-feira, junho 09, 2020
Minha história, Michele Obama.
Eu li porque vi o documentário e emocionei-me demais, aí fui ver o que tinha dentro. Comecei gostando e terminei nem tanto. Leitura gostosa e rápida, sim, mas acho que do meio para o fim o livro perdeu a beleza. Para mim, isso aconteceu com toda certeza quando ela não esqueceu de ser estadunidense e comemora o assassinato de Osama Bin Laden.
De resto, eu acho que dá para ler, muito embora eu ache que, à uma dada altura, eu fiquei com vontade de saber mais sobre os empregos que ela teve antes de colaborar com a campanha de Obama e das relação com as filhas, algo que aparece muito em forma de preocupação de Michele com a forma como as crianças lidariam com a Casa Branca e tudo que ela trazia a reboque, mas pouco em termos de um relato sobre como elas lidavam umas com as outras. Claro que foi um jeito de proteger as filhas, biografia autorizada é isso.
De todo modo, para mim fica mais o começo do livro e toda a beleza que ela conta do começo de sua vida e de sua relação familiar, de como conseguiu acreditar em si mesma, sua determinação e perseverança, sua ordem sendo bagunçada por Barack e tudo o mais. Gostei demais disso, que acho que o livro foi perdendo... perdendo...
Mas agora já foi.
On woman's Dress, Soujorner Truth.
On Woman's Dress
When I saw them women on the stage
at the Woman’s Suffrage Convention,
the other day,
I thought,
What kind of reformers be you,
with goose-wings on your heads,
as if you were going to fly,
and dressed in such ridiculous fashion,
talking about reform and women’s rights?
‘Pears to me,
you had better reform yourselves first.
But Sojourner is an old body,
and will soon get out of this world
into another,
and wants to say
when she gets there,
Lord, I have done my duty,
and I have told the whole truth
and kept nothing back.
ALL POETRY. On Woman’s Dress. Disponível em: <https://goo.gl/6M5Svw>. Acesso em: 09.jun.2020.
__________________
Vestidas de mulher
Quando vi mulheres no palco
na Convenção Pelo Sufrágio da Mulher,
no outro dia,
Eu pensei,
Que tipo de reformistas são vocês?,
com asas de ganso em vossas cabeças,
como se estivessem indo voar,
e vestida de forma tão ridícula,
falando de reforma e dos direitos das mulheres? É melhor vocês mesmas reformarem a si mesmas em
primeiro lugar.
Mas Sojourner é um velho corpo,
e em breve vai sair deste mundo
em outra,
e vai dizer
quando ela chegar lá,
Senhor, eu fiz o meu dever,
e eu disse toda a verdade
ela não guardou nada.
(tradução retirada do livro de Djamila Ribeiro, O que é lugar de fala).
segunda-feira, junho 08, 2020
domingo, junho 07, 2020
sábado, junho 06, 2020
Água.
Você não chora, mas às vezes sua casa chora. Alaga de água e você pensa
Eu nutro o universo e o universo me nutre
E fim. Ou não.
sexta-feira, junho 05, 2020
quarta-feira, junho 03, 2020
Chocolates.
Há cerca de duas semanas atrás, recebi em casa uma caixa de chocolates.
Uma estudante da faculdade onde eu trabalho havia me dito que enviaria para mim uma caixa de chocolate, o que achei fofo, mas foi completamente novo e inusitado o que eu senti quando chegou. Lembrei que há muito, muito tempo, eu não ganho nada parecido e senti também que ela gostava de mim de um jeito especial, tentando me dizer isso com bilhetes e chocolates mesmo de longe, cada uma na sua casa.
Fiquei emocionada e boba, mas o mais engraçado é que, dia após dia, enquanto eu comia os chocolates que demoraram para acabar (foi uma caixa recheada MESMO), eu fiquei pensando que muitas vezes as pessoas que amamos ou admiramos não precisam de demonstração de carinho, isso porque às vezes as vemos como referência, como alguém que nos ouve e nos ajuda, sendo assim, ela não tem problema, não sofre, não tem dilemas, não precisa de manifestação de carinho.
Não sei se ela pensou em tudo isso quando pensou em me mandar chocolates. Eu mesma não imaginei nada disso na hora, só fiquei desconcertada como todo ato de amor nos deixa, sem jeito, sem graça (mas feliz por dentro e uma sensação de importância tamanha); foi só com o tempo (e o chocolate comido devagarzinho, dia a dia), que eu percebi como me fazia bem ter aquela dose diária de carinho aqui, junto de mim, todos os dias. Lembrando-me que se às vezes eu me acho já no direito de dizer coisas à jovens de 20 anos (eu tenho quase 40, vejam vocês), também tenho meus dias de solidão e tristeza, de pensar muito sobre a vida, de tédio, de não querer mais nada além de um chocolate e palavras de amor. De querer muito isso para poder dar muito isso também por aí.
Fiquei lembrando de pessoas que eu admiro e com vontade de fazer a mesma coisa, como uma corrente que vai se ampliando, devagar e sempre, alcançando outras pessoas. Minha mãe, amigas mais velhas, pessoas que eu admiro e amo mas que acho que, por serem fortes, não ligam se não tiverem um afago, um carinho, um chocolate.
Tudo isso eu pensei e fiquei mais feliz, só de pensar. Queria tanto que essas palavras pudessem traduzir a paz que é quando se sabe ser amada por alguém.
terça-feira, junho 02, 2020
segunda-feira, junho 01, 2020
Dor.
Quando ele sumiu, ou quase desapareceu, eu senti dor. Eu sofri. Eu demorei para entender, achei que ele estava ocupado. Não entendi até hoje. Tem coisa que a gente não vai entender nunca. Nunca.
Eu deixei para lá. Às vezes volta. Eu lembro quando coisas me lembram ele, e sofro. Eu lembro e fico pensando porque porque porque. Não tem resposta.
Eu então fico agora pensando que ele nunca foi meu amigo, não como eu pensava, e tudo bem. Tudo bem. Não estou com raiva e nem tenho pena de mim, apenas entendi errado tudo. Ou entendi como eu precisava e queria entender. Eu fui tão feliz com essa amizade. Foi demais de bom.
12 anos de tanta diversão, se teve algo que eu fiz e não foi legal, eu achei que eu valia a pena, sempre. E que eu sempre seria escolhida ou poupada ou amada. Só que não é assim, nem sempre é.
As pessoas vão e voltam, as pessoas nunca voltam. O que importa é que eu continue aqui para mim, inteira.
Deepak Chopra, 21 dias de abundância.
Um amiga-irmã me indicou. Levei uns 10 dias para levar a sério. Fiz um dia. Depois, uma outra amiga-irmã mandou também. Aí eu disse que ouvi e não levei adiante. Mas, sabe de uma, vou terminar sim. Estou gostando, sim.
Hoje contemplo toda a abundância que me rodeia
Mas sabe, quando eu comecei a prestar atenção foi:
Hoje eu me concentro no que quero atrair para minha vida
E aí eu pensei que eu tem coisas que eu quero atrair, sim. Que eu tenho que parar de me enganar e fingir que não ligo para nada, porque isso é bobagem e orgulho. Dizer para mim mesma o que eu quero e fazer por onde, pronto, está tudo bem, Migh.
Mas sabe o que é, a gente não quer repetir o que dizem, a gente quer se desapegar do que dizem e descobrir o que a gente quer mesmo, e às vezes a gente acha que se o que a gente quer tem a ver com o que dizem, a gente não está sendo a gente mesmo. Rapaz, que complicação. Mas, eu me entendi.
Então, hoje eu abraço meu potencial para ser, fazer e conseguir tudo aquilo que eu sonho.
Eu ainda tou decidindo umas coisas aí. Mas eu tenho dezesseis dias para fazer isso. Está tudo bem, eu não tenho pressa de nada.
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