Você que me lê, me ajuda a nascer.

sábado, outubro 30, 2010

Livros.

Descobri e descubro todos os dias como é difícil para uma moça de “poucas posses” estudar. Tenho que trabalhar, para começo de conversa. Não posso me dar o desfrute de sair de meu emprego público e tentar uma bolsa por que uma bolsa seria apenas para pagar despesas poucas, dessas que se tem quando ainda se mora com o pai e a mãe ou só um deles ou se mora sozinha, numa república da universidade, mas não pude me dar a mais esse deleite por que o meu salário não é só para mim e dois anos de bolsa de estudos só para pagar coisas ligadas aos meus estudos iriam fazer grande diferença.

Descubro então que mesmo meu emprego sendo vinculado à área que eu estudo, o pessoal lá não quer saber de educação. E tome botar empecilhos para você continuar, fazendo com que você pense mesmo que é preciso escolher, e se você não pode largar o emprego, que largue os estudos, pois, afinal, que quero mais, se já tenho uma graduação, pós-graduação é coisa para quem tem dinheiro, não é mesmo? Até ingreis ou français você tem que saber falar! Isso é definitivamente coisa pra rico!

Depois tem os livros. São realmente muito caros. Eu já achava caro quando comprava quando queria, e agora, quando não compro quando preciso, por que são caros, vejo que é realmente muito difícil ler em português, quem dirás em outra língua!

Por isso, no fim do ano, aquela grana que todo mundo espera para ganhar o ano todo e gastar em presente, eu vou torrar toda em livros - e ainda assim não chegará no fim da lista dos que preciso.

Bem, nem sei por que estou dizendo isso. É que, olhando assim, parece tão fácil. É só fazer quatro provas, que tu tá dentro. Depois fazer as disciplinas, a pesquisa, escrever, e é só isso e você é mestre, doutor. Parece simples. Mas é realmente uma dureza tudo isso, e não o estudo em si. Mas todas as coisas que estão ao redor, a inadaptação a um lugar frio e sem tesão. E mais coisas, como a hipocrisia – eu não entendia por que todos os dias em que eu tinha que ir à universidade, e ainda hoje, eu me sinto realmente estranha. Como se estivesse fora de mim. Fora das coisas que eu aprendi a vida toda a gostar e respeitar.

Não, a graduação foi diferente. Eu estava entre os/as meus/minhas, mesmo que eles/as nem fossem tão meus/minhas assim. Aqui, parece tudo muito mais distante.

Ontem no restaurante universitário um grupo de adolescentes de uma escola particular aguardava na fila para entrar e comer com a gente. Eles/as estavam tendo um dia que parecia “Conheça a universidade”. Achei estranho por que imaginei que só o pessoal de lá poderia comer lá, o que em parte é verdade, já que a população pobre que mora no entorno não tem acesso ao restaurante. Mas devem ter feito um pacote, coisa do tipo. Só não sei quem fica com a grana, no fim das contas, já que almoçaram lá. Estavam em polvorosa. Sentaram numa mesa próxima à minha – achei estranho por que mesmo a minha mesa tendo três lugares vazios, não sentaram – e começaram a comentar

Eu paguei sessenta e seis reais para comer nessa m*?

Ainda bem que eu trouxe um pão com salame

E eu, refrigerante

O que é isso? (cara de espanto apontando para um copo com suco natural de limão) É bom?

De cara fechada eu estava, de cara fechada eu fiquei. O mais doido é que a maioria delas/es serão as/os futuros/as alunas/os dessa Universidade. Digo isso pensando em quanto a nossa escola pública está sucateada para servir aos empresários da educação e as essas escolinhas de meia pataca.

Bom, me embolei, coisa comum de minhas escritas. Mas era só um desabafo mesmo.

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