Onde você esconde seu machismo?
Essa é a pergunta que eu gostaria de fazer para os homens que pensam que sabem tudo sobre não ser machista. Há sempre um lugar sob a carne em que se esconde o machismo, não se engane. Talvez ele esteja bem naquelas coisas que você não diz nem para você mesmo, ou aquelas outras que algumas pessoas dizem e veem e você não confirma porque tem vergonha de assumir o machismo. Ficou difícil de entender? Volta e lê de novo.
O que eu não sabia é que mesmo quando um macho tenta, ele não consegue. O mundo está aí para ele levantar, aprender e cair de novo, o mundo todo está aí para acolher um vacilo que um homem dá numa relação, afinal "eles amadurecem depois", "eles aprendem a ser machistas desde pequenos", há tanta justificativa que você se assombra. Ele não quer ser machista, mas ele é. Ele é porque até o que ele faz achando que é um deslize, uma característica, pode ser mais do mesmo, o tal machismo.
Para nós, mulheres e negras, o que sobra?
Sobra se acomodar, se acostumar, só tem isso, não tem mais nada. Se alguém te disse o contrário, tudo bem. Eu mesma quando estou feliz finjo realidades sem machismo e desdenho dele. Não vou condenar quem quer tergiversar, eu faço isso também.
Eu não gosto de análises clichês sobre a vida, mas aí me pego tomando bem no meio da minha cara só porque não quero prestar atenção em sinais óbvios como machismo, racismo, inveja e recalque. Eu agradeço à vida por ainda não saber tudo e me permitir viver as coisas de novo. Só posso agradecer à vida por ser uma boba (quase) completa. Boba porque acredito, porque me surpreendo, porque me permito. Eu gosto disso, porque é essa coisa em mim que me permite sentir tudo, amor, paixão, desejo e tesão, mas também tristeza, raiva e impotência.
Eu me amparo em outras mulheres negras. E vocês, o que fazem? Eu me amparo em mim, em livros, músicas e filmes que falam sobre mim. E vocês? Eu me amparo no silêncio que sai da tristeza e da certeza, da lucidez que a cada dia mais eu sinto sobre a vida.
4 comentários:
Realmente, não é que a gente não seja machista, a gente busca não ser, uns mais doque outros e outros nem tanto. A normalização do machismo dado a forma como as sociedades e as relações sociais são estruturadas faz com que a gente seja machista mesmo quando buscamos não ser.
Por isso, a resposta que eu tenho para a sua pergunta é a seguinte: Apesar da minha luta diária pela desconstrução dos ideais opressores que carrego por ter os poucos privilégios que tenho, eu não escondi o meu machismo ele me acompanha todos os dias e é visível em tudo que eu represento como homem que sou.
Olha, uma coisa que eu noto (e que acho que tenho de escrever um post sobre), é que vejo que os homens, mesmo que os que estão atentos para o debate sobre machismo e masculinidade tóxica, não conseguem ouvir as mulheres. Ouvir e considerar. É muito difícil para eles prestar atenção no que as mulheres dizem, acolher e se transformar a partir dessa escuta. Na verdade, não conseguir ouvir as mulheres apontando algumas coisas é já o machismo operando, não é mesmo? Mas, veja você, a mulher é vítima do machismo, está ali dizendo como se sente, mas você não considera? Então, não vamos conseguir mudar muita coisa, porque você até conversa, ouve, mas não reconfigura nada a partir do olhar dela, porque isso é demais para você, é demais para o homem, ouvir E CONSIDERAR, ouvir e dizer, "eu vou fazer assim" ou "eu vou ver assim porque a mulher me disse para ver assim". Fazer isso parece que é ir de encontro a uma individualidade, mas para mim não fazer isso é resistir à mudança e continuar sendo machista. Já passei por situações em que eu disse coisas a alguns homens e eles não tinham nenhuma justificativa substancial para a merda que fizeram, eu apontava caminhos possíveis para a situação ter acontecido e eles ainda assim diziam: "não, não é isso". "E é o que, porra?". "Não sei, mas não é isso que você está falando". Aí dá vontade de falar, "então vai pra merda e volta aqui quando você souber o que é, porque você é macho demais para admitir que foi machismo". Obviamente que os homens (e quando falo os homens, estou falando dos que conheci, não todos os homens do mundo) ouvem quando é conveniente, quando as mulheres dão dicas de como passar numa processo seletivo ou ensinam a escrever um texto. Aí os homens ouvem demais. ESTOU FALANDO DE OUVIR QUANDO DÓI, QUANDO SÃO APONTADOS, QUANDO SÃO COBRADOS E RECLAMAMADOS, QUANDO HÁ ERROS, é disso que estou falando. Acho que cabe um post, farei!
Creio que em relação ao machismo a chave para mudança é a escuta, só escutando como vocês se sentem em relação ao nosso comportamento para perceber os nossos erros. Por isso agradeço pelo post e aguardo o próximo.
RECLAMAMADOS foi ótimo.
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