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domingo, agosto 28, 2011

O homem - parte três.

Mas nunca soube mesmo se ele era seu homem. Não gostava dessa expressão, seu homem. Macho, marido, namorado, qualquer coisa soava muito possessivo, muito embora ela não fosse assim adepta dos chifres. Chifre sim, quando falava isso com as amigas parecia demodê, mas ela ainda achava que quando uma pessoa com quem estava saindo - seja lá que nome desse a esse tal homem - saía com outra mulher e isso não era conversado entre eles, era uma baita traição. As amigas preferiam fazer "o que os olhos não veem, o coração não sente" e riam da cara dela quando assumia que um tal exnamorado saía com outras mulheres, mas ela preferia jogar limpo. As amigas. Não eram bem amigas, posto que estavam sempre em litígio, por pensarem diferente demais. Não se sentia à vontade para partilhar suas teorias sobre os homens, sobre o amor, a vida, enfim. Não sabia dizer se isso era amizade. Lembrava com saudade da época da faculdade, em que dividiu uma casa com um grande quintal com duas mulheres que, por mais que não concordassem com ela, estavam sempre ali, presentes. Mesmo se fosse para fazer bico das suas grandes cagadas, porres e amores sacanas.
E se não sabia se ele tinha sido ou era seu homem, e se não sabia se elas eram amigas, não sabia de muita coisa. Mas continuava, ainda acreditava nas pessoas, nas crianças, mães, árvores e plantas. Em sorrisos também. Essas pequenas esperanças que todo mundo tem para conseguir por o pé no chão pela manhã. Enquanto tinha esses pensamentos a caminho do trabalho, ele ligou, mas ela não viu. Fim da noite, checou as mensagens e ele havia escrito "eu te liguei, tudo bem?". Ela ligou e volta e era sempre assim: quando estava longe, ele parecia mais perto dela do que nunca. Parecia não ter medo das certezas dela quando estava fora de suas vistas, parecia poder controlar as coisas do coração dele, gargalhava mais solto, fazia piadas sobre quantas vezes poderia ter feito sexo naquela semana e não havia feito, falava de si mesmo e das coisas que estavam ao redor e lhe punham medo. Era sempre assim. De longe, ele parecia mais confortável porque, olhando em seus olhos, ele dizia coisas que não queria dizer.
Talvez fosse isso, ou nada disso, vai saber. Ela sabia, enfim, que estava apaixonada. Mas por um homem que não era seu. Mas que também fazia questão de lhe dizer, não era de ninguém.

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