Se olhou no espelho como fazia todos os dias quando acordava e quando ia dormir. Nunca repuxava a cara como faziam aquelas mulheres dos filmes que assistia, sempre achou isso uma grande idiotice. Mas sua pele ajudava, não era assim tão feia quando se olhava no espelho de casa. Na verdade, não se achava feia quando acordava nem quando ia dormir. Não achava que maquiagem melhorava nada, não gostava das mentiras contadas em propagandas de cremes de rejuvenescimento, deixou de ver televisão. Pelas propagandas de cremes e pelos crimes. No fim, dava tudo no mesmo.
Lembrou da senhora de 55 anos no trabalho falando que havia casado com 32 e que era muito feliz tendo tido um filho aos 42 e meio. Desdenhou e contrariando o ditado, não queria comprar. Não entendia porque quando as pessoas chegavam perto dela começavam com essas histórias de casamento depois dos trinta mesmo que ela estivesse falando sobre patologia animal ou coisa parecida. Dava um sorrisinho que mais parecia uma careta se bem olhado, seguia com o dia e com aquela conversa na cachola.
Se olhou no espelho porque se olhava o tempo todo, adorava fazer isso. De manhã até a noite sentia que muito tempo havia se passado, mesmo que não houvessem rugas para provar a sensação. Era bela, assim se via, mas talvez não era assim que a via os homens que por ela passavam quando andava até o trabalho, andar lento, vendo todos os dias a mesma paisagem e novas coisas. Bela, bonita, gostosa também. Por detrás daqueles óculos enormes, da cabeleira vasta, das ideias em desalinho dentro da cabeça, da gargalhada que enchia a sala, havia uma mulher, uma mulher.
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