Você que me lê, me ajuda a nascer.

quinta-feira, abril 05, 2018

Calor.

É tarde, uma tarde
Faz calor, ventilador
A dor de não ter ele aqui
Me faz ir, além do que pode um calor pode fazer

Me enrosco na cama e o bafo quente do vento quente sempre quente
Eu invento que é ele, é ele aqui
Me amando como nunca, como sempre

Lembro do sorriso, boca, olhos, dentes
E do bafo quente que ele tem, um calor arrepia
Minha pele se excita, se anima, avivo no corpo o sabor do seu cheiro
Tenho o gosto dele na minha pele, língua, ossos, alma

Faço amor então, quietinha, calada, sorrindo
Só lembrando do seu corpo quente
Numa tarde quente
Bafo quente
Da gente

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Migh, tudo bem?
Tenho lido suas postagens, elas sempre ajudam-me a refletir sobre alguns temas e ensaiei este comentário, que agora escrevo, várias vezes...Eu ainda tenho dúvidas de como ele está escrito, mas depois de ler esta bela poesia, vou arriscar-me...rs
Primeiro é sobre o amor entre pessoas negras,especificamente o amor romântico entre pessoas negras...Inspirada em uma música, posso afirmar que "nunca vi, nunca senti e só ouço falar". Talvez, ou melhor é provável, que eu não sabia o que é amor-parceira-admiração-carinho etc...Mas, eu NUNCA vi esse conjunto entre pessoas negras que formam um casal (se bem que conheço pouquíssimo casais negros ou que assim se auto identificam). Então, observando alguns desses casais eu percebo(no caso de casais héteros) que as mulheres "inventam" uma narrativa fantasiosa sobre os seus relacionamentos e lembram muito a família nuclear do séc.XVIII e XIX. Tenho ficado preocupada com essas narrativas de mulheres negras e seus amores fantasiados à la disney com a reconfiguração da ideia ( que não é dita, mas é expressa) de gerar uma vida para "segurar o amado". Elas fazem de tudo para ter alguém para chamar de "meu marido" e postar fotos de família perfeita.É assustador perceber a capacidade dessas mulheres "inventarem" essas narrativas e, mesmo quando todos percebem que, digamos, não é bem daquele jeito, elas mantém a "invenção" por um certo status que as distancia da ideia de solidão da mulher negra. Interessante que essas mulheres sabem discursar sobre diferentes assuntos, possuem escolaridade acima da média, contudo rechaçam qualquer fato que as aproxime de serem identificadas como negra, de classe popular e solteira...Isso parece ofendê-las, portanto ficam endividadas com perfumes, roupas e sapatos "de marca" e quando estão em destaque modificam o tom de voz e "inventam" narrativas de infâncias, de família de amor-parceira-admiração-carinho etc...
Mas, tudo isso pode ser uma percepção errada que tenho sobre amor-parceira-admiração-carinho etc...E, sinceramente, acho que nunca verei, nunca sentirei e só continuarei a ouvir falar,porém, para variar, eu gostaria de ouvir algo não inventando, então Migh esse é meu pedido: você poderia dizer um pouco sobre como é ser amada? Como sabe que é amada, o que sente? O que é amor entre as pessoas negras? É possível outras pessoas perceberem que há amor entre o casal?
E segundo, tendo em vista tudo o que eu disse, também fico pensando sobre representatividade. Por exemplo, se uma dessas mulheres que descrevi alcança um determinado "destaque" e tenho amizade com ela, no entanto sei que em alguns aspectos de sua vida (como o amoroso, familiar e acadêmico),as narrativas não acontecem como são ditas, e mesmo que tenho carinho e respeito por ela, eu não acho que a pessoa me representa... Vou tentar exemplificar melhor, eu não te conheço Migh, mas do que eu tenho acompanhado aqui no blog afirmo que eu não compartilho de todos os pontos de vista com você (principalmente no quesito canções...rs), mas por sua postura de mostrar as fragilidades ou mudanças como no caso da sua tese no qual relata quais eram os objetivos ao entrar no programa e porque foram modificados...Essa sinceridade eu admiro...Então, por isso, neste momento, eu acho que você me representa...Logo, eu não compreendo a representatividade... como com uma amiga próxima não me sinto representada (mesmo que essa pessoa tem um reconhecimento grande na minha cidade) e com alguém que desconheço, me sinto representada...Vc tem alguma sugestão de leitura sobre o tema?
Abraços
Moça das antigas

Migh Danae disse...

Moça das antigas, tudo bem? Acho que seria melhor um email para conversarmos, pois há respostas em que eu me exporia muito e eu não faço isso num blog, por mais que os meus posts pareçam pessoais demais. Do que eu posso responder aqui, digo:
1. É preciso ter em mente que eu sou uma pessoa otimista, além de não estar preocupada em representar ninguém. A representação que acontece quando alguém lê e se identifica comigo, pode acontecer, mas não é minha preocupação quando escrevo. Assim, eu não sei se estaria de acordo com sua ideia sobre representação. Apesar disso, sentir-se identificada por alguém que não conhece me parece algo bastante comum. Eu consigo me identificar com Maya Angelou e Ludmilla em alguns momentos e nunca as vi. Acho que pode ser.
2. O fato de divergirmos em gosto musical não faz tanta diferença nas áreas em que citou. Minha conexão com música busca por abaixo qualquer relação de hierarquia entre ritmo, cantor ou coisa do tipo. Eu ouço, me conecto de algum modo com o som/letra e posto. Simples assim, sem muitos julgamentos.
3. Amor romântico, não sei se consigo entender o que quer dizer. Hoje mesmo perguntei ao homem por quem estou apaixonada sobre isso, se somos ou não românticos. Chegamos à conclusão que sim e não. E sim, nos gostamos. Não sei explicar direito de que modo e acho que não representamos ninguém nem nada além de nós mesmos, mas estamos tentando ficar bem. Errando, acertando, como duas pessoas negras sobre a terra.
4. As perguntas "Como é ser amada? Como sabe que é amada, o que sente? O que é amor entre as pessoas negras? É possível outras pessoas perceberem que há amor entre o casal?" são aquelas que não darei conta de responder aqui. Mas pensarei em escrever um post sobre o tema ou sugiro que releia as coisas que já escrevi. Acho que em parte, respostas para estas perguntas aparecem pelos textos.
Beijo!

Anônimo disse...

Oi...
Sobre o amor quando escrevi amor romântico era amor de casal(não o amor fraterno, materno etc) e não necessariamente romantizado...Mas, muito obrigada pelas respostas!! Vou continuar lendo os posts...
Abraços