deixa
eu ver seu peitinho, vai, tira a mãozinha daí
deliciosa
Ele
falava doce, mas firmemente. Ele pedia, mas era um pedido com alguma ordem,
acontecia sempre que se falavam à noite, depois da uma da manhã tudo era
possível, a mãe dela já não entrava no quarto sem pedir licença e ela sempre
tinha voltado do banho quase nua. Ele falava doce, mas às vezes parecia que a
paciência estava quase a esgotar, já estavam ali a mais de meia hora e ela,
mais velha do que ele, cheia de vergonhas (ou pelo menos fingindo ter ainda
alguma, só pra ter algum charme na vida), dizia aquele não que é um sim,
mostrando parte do seio e falando não, tocando a auréola por cima da canga que
ela deixava sempre escorregar mais um pouco enquanto ele pedia
ajusta
a câmera, meu celular não funciona direito, lembra?
E
ela respirava fundo, adorava que ele não desistia e pedia de novo, mas sentia
uma ponta de vergonha não em se mostrar no vídeo, não era tanto isso, mas uma
vergonha boba de não conseguir chamar sua atenção quando o encontrasse
pessoalmente tanto quanto pela câmera, ele ali com ela a pedir, a quase
implorar com aquela vozinha que parecia ter sede, se ela fosse água que
ele precisaria pra beber naquela madrugada, ele queria ela gota-a-gota, ela era
a gota d'água.
Ela
não sabia muito dele, se soubesse entenderia que aquele peitinho não era só um
peitinho, era uma visão para acalmar seu desejo de encontrar com ela num tempo
em que ele não poderia e nem ela, era uma imagem pra guardar quando fosse
dormir, compondo um cenário de desejo e carinho, era sacanagem mas era carinho
também, como explicar, ele achava que gastar horas com ela já dizia muita
coisa, ele não sabia que enquanto ele se alimentava de imagens ela precisava de
palavras, ela gostava de quando ele dizia, escrevia
deliciosa
gostosa
amore
Era
isso que sustentava a vontade dela querer vê-lo de novo pela câmera esperando o
dia do amor adormecido, da excitação misturada com os sorrisos todos que se
davam enquanto conversavam. Ele, imagem, ela palavra. Era bonito, parecia
completo, como uma exposição de arte, tinha luz e som, a arte de viver junto
continuava difícil de se conseguir por aí assim, então tentavam com o que
tinham, tentavam também com o que não tinham tido ainda, tentavam porque não
queriam desistir cedo, ainda eram jovens demais para não insistir na vida e nas
sensações que só certos sentimentos provocam.
Ela
cobriu-se, ele pediu mais. Ela disse não, enfática, mas ainda sentia prazer no
pedido dele, nos lábios dele se movendo devagar na conexão lenta, ela via só
uma penumbra, mas sabia que ele estava ali, sua cor e sua forma quase estáticas
no vídeo esperando que ela mostrasse mais. Ele fazia perguntas sobre sexo, ela
respondia, mesmo achando que sexo é coisa para ser feita antes de ser falada,
mas todo mundo se doa um pouco nessa vida, ele doava tempo, sorrisos e elogios,
ela doava peitinhos e confissões do sexo que já havia feito e de todos aqueles
que ela ainda não havia feito, porque esperava sentir alguma coisa com quatro
letras para seguir em frente.
Desligou,
desligaram. Nunca sabiam o que acontecia. Passava sempre das duas da manhã, ela
se perguntava como ele conseguia acordar cedo no outro dia, diabo de homem que
gosta de safadeza igual a esse eu nunca vi, vai ver é insone e gasta o tempo
vendo peitinhos todas as noites. Esse era um pensamento que encontrava dentro
da sua cabeça às vezes, mas não era o que assolava; afinal, só havia um
peitinho como o dela, e só havia um pedido como o dele, não precisava de mais
nada, não importava quantos peitinhos ele tinha visto na vida, importava que
agora era ela, o tempo dele era dela, noite adentro. E quantas vezes foi feliz
por imaginar que ontem, a essa mesma hora, ele tinha os olhos fixos nela, era
com ela que ele falava e para ela que ele sorria e pedia mais peitinhos.
Se tinha uma coisa que estava aprendendo com ele é que pode
haver lampejos de amor no desejo. Virou para o outro lado, adormeceu de vez. Foi
feliz.
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