Você que me lê, me ajuda a nascer.

segunda-feira, janeiro 29, 2018

Peitinho.

deixa eu ver seu peitinho, vai, tira a mãozinha daí


Ele falava doce, mas firmemente. Ele pedia, mas era um pedido com alguma ordem, acontecia sempre que se falavam à noite, depois da uma da manhã tudo era possível, a mãe dela já não entrava no quarto sem pedir licença e ela sempre tinha voltado do banho quase nua. Ele falava doce, mas às vezes parecia que a paciência estava quase a esgotar, já estavam ali a mais de meia hora e ela, mais velha do que ele, cheia de vergonhas (ou pelo menos fingindo ter ainda alguma, só pra ter algum charme na vida), dizia aquele não que é um sim, mostrando parte do seio e falando não, tocando a auréola por cima da canga que ela deixava sempre escorregar mais um pouco enquanto ele pedia


ajusta a câmera, meu celular não funciona direito, lembra?


E ela respirava fundo, adorava que ele não desistia e pedia de novo, mas sentia uma ponta de vergonha não em se mostrar no vídeo, não era tanto isso, mas uma vergonha boba de não conseguir chamar sua atenção quando o encontrasse pessoalmente tanto quanto pela câmera, ele ali com ela a pedir, a quase implorar com aquela vozinha que parecia ter sede, se ela fosse água que ele precisaria pra beber naquela madrugada, ele queria ela gota-a-gota, ela era a gota d'água.


Ela não sabia muito dele, se soubesse entenderia que aquele peitinho não era só um peitinho, era uma visão para acalmar seu desejo de encontrar com ela num tempo em que ele não poderia e nem ela, era uma imagem pra guardar quando fosse dormir, compondo um cenário de desejo e carinho, era sacanagem mas era carinho também, como explicar, ele achava que gastar horas com ela já dizia muita coisa, ele não sabia que enquanto ele se alimentava de imagens ela precisava de palavras, ela gostava de quando ele dizia, escrevia

deliciosa
gostosa
amore


Era isso que sustentava a vontade dela querer vê-lo de novo pela câmera esperando o dia do amor adormecido, da excitação misturada com os sorrisos todos que se davam enquanto conversavam. Ele, imagem, ela palavra. Era bonito, parecia completo, como uma exposição de arte, tinha luz e som, a arte de viver junto continuava difícil de se conseguir por aí assim, então tentavam com o que tinham, tentavam também com o que não tinham tido ainda, tentavam porque não queriam desistir cedo, ainda eram jovens demais para não insistir na vida e nas sensações que só certos sentimentos provocam.


Ela cobriu-se, ele pediu mais. Ela disse não, enfática, mas ainda sentia prazer no pedido dele, nos lábios dele se movendo devagar na conexão lenta, ela via só uma penumbra, mas sabia que ele estava ali, sua cor e sua forma quase estáticas no vídeo esperando que ela mostrasse mais. Ele fazia perguntas sobre sexo, ela respondia, mesmo achando que sexo é coisa para ser feita antes de ser falada, mas todo mundo se doa um pouco nessa vida, ele doava tempo, sorrisos e elogios, ela doava peitinhos e confissões do sexo que já havia feito e de todos aqueles que ela ainda não havia feito, porque esperava sentir alguma coisa com quatro letras para seguir em frente. 


Desligou, desligaram. Nunca sabiam o que acontecia. Passava sempre das duas da manhã, ela se perguntava como ele conseguia acordar cedo no outro dia, diabo de homem que gosta de safadeza igual a esse eu nunca vi, vai ver é insone e gasta o tempo vendo peitinhos todas as noites. Esse era um pensamento que encontrava dentro da sua cabeça às vezes, mas não era o que assolava; afinal, só havia um peitinho como o dela, e só havia um pedido como o dele, não precisava de mais nada, não importava quantos peitinhos ele tinha visto na vida, importava que agora era ela, o tempo dele era dela, noite adentro. E quantas vezes foi feliz por imaginar que ontem, a essa mesma hora, ele tinha os olhos fixos nela, era com ela que ele falava e para ela que ele sorria e pedia mais peitinhos.


Se tinha uma coisa que estava aprendendo com ele é que pode haver lampejos de amor no desejo. Virou para o outro lado, adormeceu de vez. Foi feliz.



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