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quarta-feira, outubro 19, 2011

Muro de escola de Educação Infantil em São Paulo é pichado com frase racista.


Foto de Airton Vygnola




Muro de escola de Educação Infantil é pichado 

com frase racista na zona norte

Para diretora, trata-se de uma reação às ações da escola pela igualdade racial.
O muro da EMEI (Escola Municipal de Educação Infantil) Guia Lopes, no Limão, zona norte de São Paulo, foi pichado durante o fim de semana com a frase "vamos cuidar do futuro de nossas crianças brancas", acompanhada da suástica nazista. Para a diretora do colégio, Cibele Racy, foi uma reação às ações afirmativas pela igualdade racial desenvolvidas desde o início do ano entre os alunos.
A EMEI tem 430 alunos, com faixa etária entre 4 e 6 anos, divididos em classes da educação infantil I e II.. Durante este ano, as questões raciais têm sido discutidas com as crianças, como parte do projeto pedagógico. Cibele conta sobre a festa junina, que teve motivos afro-brasileiros:
- Foi um sucesso total. Trouxemos comidas e aspectos culturais da África. Tenho vários depoimentos de pais mostrando toda a aceitação.
Segundo a diretora, apesar de bem recebido, o projeto pode ter despertado reações negativas por parte de alguém que sabe do trabalho desenvolvido pelo colégio:
- Essa pichação teve um endereço certo. Não foi algo aleatório. Mexemos em uma ferida muito profunda e eu estava até preparada para alguma reação, mas não dessa maneira.
A diretora da EMEI afirma que, em sete anos na unidade, nunca havia visto uma pichação nos muros da escola. Ela diz ter ficado surpresa com a manifestação racista:
- A escola foi aberta domingo para a eleição do conselho tutelar. Quando fui embora, por volta das 19h, passei pelo muro lateral e vi o que estava escrito. Fiquei espantada. Pela manhã, já chamei os professores para discutir o que seria feito.
Cibele pretende registrar um boletim de ocorrência na delegacia do bairro nesta terça-feira (18), mas não só isso. No próximo dia 10, haverá uma reunião pedagógica no período noturno. Os pais de alunos serão convidados para um bate-papo com integrantes de movimentos pela diversidade racial. Além disso, os alunos serão convidados a remover do muro a frase e o símbolo de intolerância, mas de uma forma divertida:
- Vamos dizer que sujaram a escola e que precisamos dar um jeito naquilo. As crianças estarão livres para pintar o que desejarem. É uma forma de eliminar completamente essa marca lamentável. O que merece publicidade é o que tem sido feito de positivo aqui na escola.
Todos os anos, em novembro, o colégio faz passeata temática em via pública. A diretora diz que, no próximo mês, a igualdade racial será o tema da manifestação. Professora de psicologia da educação da USP (Universidade de São Paulo), Silvia Colello acredita que o projeto escolar surtiu efeito. Daí a reação.
- Foi tão eficiente que as vozes contrárias não conseguiram se calar.
A professora da USP elogia a solução proposta pelo colégio:
- A diretora está dizendo que vai responder de forma pacífica, lutando pela igualdade. Vamos cobrir as marcas da violência com a nossa mensagem, com desenhos, com o que temos a dizer.
Segundo Silvia Colello, na faixa etária dos alunos da Guia Lopes ainda não há manifestação de racismo:
- A criança pequena que é branca brinca com a negra sem problemas. A discriminação é algo socialmente
adquirido, que surge depois. Na adolescência, por exemplo, a intolerância já está arraigada.
Depois do registro do boletim de ocorrência, a Polícia Civil deve instaurar inquérito para investigar o caso e apurar responsabilidades. Em São Paulo, manifestações racistas são apuradas pela Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância).

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