Sobre o filme: acho massa que Eduardo Coutinho esteja inaugurando um jeito de fazer cinema (digo esses últimos documentários, o cara é bem sagaz). Essa coisa de metalinguagem, representação me fascina (tanto é que procuro filmes sobre isso na Mostra, além dos tradicionais sobre racismo, imigração, infância). Mas a questão é que agora ele não me seduz tanto como antes. Quando você começa a fazer essas maratonas que eu comecei a fazer há cerca de seis anos atrás, ir em todas as mostras de cinema de São Paulo/Salvador, todas mesmo, desde as menores em poucas salas a estas maiores, Eduardo Coutinho vira uma coisa. Um frisson e tals. Mas eu acho que o que ele faz, entrevistar "gente comum" não me fascina mais tanto porque eu vivo entre "gente comum" e tudo aquilo que elas falam no vídeo eu ouço o tempo inteiro (é deprimente ouvir as risadas dessas elitezinha sentada numa cadeira confortável quando alguém lá na tela diz alguma coisa sobre como elas vivem a vida, resolvem seus problemas). Não é que não haja importância nessa coisa toda, eu acho maravilhoso, mas ele faz isso para um outro público, os grã-finos chateados com suas vidas (as grã-finas também), os/as intelectuais que acreditam viver fora desse mundo, enfim... eu demorei a entender isso, mas não acho que não tenha o seu valor. Só que, hoje em dia, eu estou mais interessada em saber o que pensam os/as ricos/as (o "objeto" de pesquisa também pode ser os que pensam fazer pesquisa). E poucas pessoas fazem isso, entram nas suas casas, perguntam o que pensam, os deixam sem jeito com perguntas simples. Por isso Gabriel Mascaro é o que se tem de MUITO bom no cinema-documentário hoje. Entrando nas coberturas e nos cruzeiros marítimos para ver o que gente rica faz com o dinheiro que tem, o que pensam sobre o mundo, política, sobre nós, "o povo".
Me incomodava o fato dos filmes sobre "gente comum" saírem nas salas dos cinemas cult de todo o país e ver a elitezinha paulistana rindo de nossos jeitos de enfrentar a vida, consumindo nossa vida como se ela fosse um enlatado. Eu me perguntava se aqueles filmes teriam passado num circuito alternativo em periferias da cidade e descobria que as "gentes comuns" entrevistadas em sua maioria não haviam assistido a versão final do filme. Certa vez, estava numa sala de cinema assistindo Pro Dia Nascer Feliz e algumas adolescentes que estudavam no colégio para ricos que havia sido filmado por João Jardim estavam ali, sentadas do meu lado. Elas simplesmente nem ouviram as filosofias de redoma de vidro que as coleguinhas de escola falavam (e olha que foram muitas imbecilidades!), ficaram só comentando 'Olha a frente do prédio!", "Ai, olha aquele menino!". Lastimável. Enquanto uma menina lá no sertão do recitando Vinicius de Moraes, Manuel Bandeira.Mas será que só eu vejo essas coisas?
Seguindo a recomendação de Hugo Mansur, amigo, eu recomendo o curta Recife Frio. Aqui, a entrevista com o diretor:
E aqui, parte do curta:
A ideia de que ser "gente" é ser parecido culturalmente com a Europa é um pensamento bem corrente da elite brasileira. E isso vale pra Recife e Salvador, cidades com mais de 30 graus a maior parte do ano. Um colega italiano chegando ao Brasil no fim de 2007 ria horrores ao passar na Paulista e ver os enfeites de Natal. Disse que não entendia porque se comemorava daquele jeito se aqui era verão.
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