Cozinha.
Pela primeira vez, talvez, eu estou fazendo uma comida com prazer. Não, talvez eu já tenha feito isso, mas é a primeira vez que escrevo sobre isso. Bom, pelo menos eu não lembro se já escrevi. Eu sei que escrevo muito, mas não cozinho muito. Eu escrevo desde que eu aprendi as letras. Tenho diário pessoal desde os oito anos, e nunca deixei de ter diário mesmo com o blog. Escrever muitas vezes é o que faço quando não tenho nada para fazer. Escrevo cartas para ninguém, depois invento para quem mandar. Escrevo aqui, escrevo em papéis.
Mas eu também adoro números. Uma das coisas que mais gosto é contar quanto tempo falta para alguma coisa, quantos dias, horas. Adoro a ideia de quantidade. Da falta e da presença. Cheio e vazio.
Isso eu vim pensando descendo a ladeira quando voltava do supermercado. Um senhorzinho olhou para trás quando me ouviu dizendo bença, mãe no telefone. Fiquei com vontade de pedir benção para ele também. Ele me seguiu com os olhos até atravessar a rua. Liguei pra mainha pra perguntar quais as folhas que se usam em machucado. Ela foi dizendo, com a sabedoria de uma auxiliar de enfermagem que é e com a sabedoria de mãe e de mulher. Não recuso sabedorias.
A comida é uma coisa. Por que exige tempo. Calma. Não me vejo impaciente, mas penso nas coisas para fazer e prefiro alguma coisa rápida. Mas hoje, e ontem, me dei o direito de devagarzinho ir fazendo as coisas. E senti alegria em temperar, em botar para dourar, em esperar, esperar. Por que mainha diz que cozinha é isso, é entrega, não dá para cozinhar e esquecer, cozinha é presença. A comida pede você ali, provando, cheirando. Experimentando, sentindo. E não é sempre que eu posso fazer isso. Por isso, não faço. Para não fazer mal-feito.
Espero que seja um bom jantar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário