Você que me lê, me ajuda a nascer.

sexta-feira, junho 03, 2005

Andanças.

Eu sinceramente não vou escrever aqui sobre a minha viagem. Não é pessoal, é intenso demais para ficar ocupando-me em querer descrever as coisas. Se tu passasse sei lá, vai, 360 horas da tua vida com alguém sem se desgrudar pra nada e ainda assim ficar com saudade quando pega o avião tu ia entender o que eu tou falando. E não se engane, pode ser tua mãe, tuas melhores amigas. Pode ser qualquer pessoa, aquela que você quiser que seja. Mas se tiver vontade de continuar perto, de sentir o peso da mão dela na tua quando estiveres passeando pela cidade, tu vai entender que eu não ia nunca conseguir explicar o que é que sinto agora. Faz algum tempo que eu voltei. Então agora não tem muito sentido ficar suspirando. Tenho outros desejos agora, nesse exato momento. Já li muita coisa depois que cheguei. Normalmente gosto muito do que leio, mas posso dizer que odiei ler um livro chamado De Abismos e Vertigens. Primeiro por que na verdade eu ganhei o livro e segundo por que a pessoa lembrou de mim, por que a tal escritora Carol Teixeira disse "ter compulsão por escrever", e eu já disse isso numa das minhas cartas esse meu amigo. Só passei o olho, pra não me sentir culpada de deixar pela metade e querer ler tudo por obrigação, como sempre faço. É insuportável, a menina constata o óbvio na maioria das páginas, além de o tempo todo estar citando outras pessoas pra usar como mote de uma escrita que dura menos que uma folha frente e verso. O que me sobra dela? Inconsistência demais. O que não significa que ela seja de todo ruim. Tem uns estalidos. Ela tenta, forçadamente, parecer gostosa e inteligente. Não que isso seja impossível, ela pode mesmo ser isso, mas MEU DEUS, não desse jeito, não nessa vida. Foi muito melhor ler Adorno por esses dias. Até por que tive uma conversa pra lá de acalorada com alguém que amo, e me surpreendi o quanto eu saí gostando mais dele ainda depois disso.Tão bom quanto sexo, eu sempre disse. Pra muitos não, mas me mantém viva, assim como sexo. Gosto especialmente dele por que acredito que ele não era assim tão pessimista quanto parece pra muita gente. Para mim, é um dos poucos filósofos contemporâneos que escrevia tudo aquilo para dizer "olhem, é realmente catástrófico, mas esperem, ainda há uma maneira, eu sinto que há uma"; não estou dizendo que ele escreveu isso, mas sim que eu sinto isso. Transcrevo então alguém que também gosta de Adorno e o acha tão moderno quanto eu, a Olgária Matos: "Norbert Elias diz que as sociedades podem passar pelas maiores transformações, mas uma coisa que permanece é o encontro da família à mesa quando acontecem as conversas (e aqui vale qualquer família, mesmo pra quem mora em república e afins). É o momento no qual as idéias circulam, as experiências se comunicam. Ora, isso não existe mais. O advento do mundo da insignificância, o desengajamento e a ausência de responsabilidade são questões do próprio capitalismo, na sua forma contemporânea de acumulação, por que ele era necessariamente uma escassez artificial. Esse mundo insone, 24 horas por dia, fica circulando e faz com que nós nos submetamos a um tempo patológico. Quanto mais tecnologia se produz, menos tempo temos. Então, esse sentimento da perda do controle do tempo e das nossas vidas é uma questão mais ampla". Isso fode, não é? Fode! Então agora eu estou lendo a biografia do Dylan por Sounes, e eu já conheço a escrita desse cara, ele tenta ser fiel e cheio de detalhes que para quem ama a pessoa que ele descreve é muito importante. Levando em conta que "biografar" é um dos recursos da pesquisa etnográfica, diria que Sounes é um ótimo garimpador de descrições densas individuais.

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