O racismo nos prega cada peça.
Quem me conhece sabe o quanto eu sou simpática e faladeira. Conversadeira, me dou com todo mundo fácil, faço piada de tudo, com a maior preocupação em não ofender ninguém ao meu redor (isso não inclui deixar de imitar sotaques sudestinos).
Mas depois de um tempo, convivendo às vezes com mais pessoas brancas ao meu redor, comecei a perceber que de fato, ser uma mulher negra divertida e risonha pode parecer que você está acessível para tudo o tempo todo e isso inclui servir. É nessa hora que entendo minhas irmãs caras feias e desanimadas de qualquer contato menos hostil e reativo.
É que você nunca sabe se a pessoa branca gostou de você ou está te vendo como mais uma pessoa negra que serve: serve para fazê-la rir, serve para fazer coisas, tudo isso. E tudo isso me faz perguntar se eu sou assim porque gosto ou sou assim porque dói menos ser a mulher negra legal.
Eu lembrei de uma frase de Fanon que ouvi Sílvio Almeida no podcast Mano a Mano repetir:
Neste estágio em que estamos do capitalismo, o racismo já não ousa mostrar-se sem disfarces
Foi uma coisa assim.
Não é que eu não já tenha a resposta, só estou dizendo que esta é mais uma peça que o racismo prega na gente e que a gente, talvez, nunca vai conseguir se desvencilhar. A dádiva de conviver a maior parte do tempo com pessoas negras me ajuda a não ter de pensar nisso o tempo todo ou quase nunca.
Obrigada por isso (de nada porque fui eu mesma quem conscientemente escolhi).
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