A vida é muito dura para mulheres, e a gente vai sentindo cada vez mais, porque a gente envelhece, fica mais tempo viva na terra, parece óbvio dizer isso, mas eu digo mesmo assim.
O medo de ser violentada fisicamente, a insegurança de andar sozinha é algo constante. Lembro-me de todas as vezes em que saí sozinha à noite andando por ruas e me senti segura, porque foram tão poucas que não tenho como esquecer.
Uma vez (teve outra?), por exemplo, eu queria ficar mais tempo no karaoke e meus amigos foram embora. Estavam com sono e eu não. Me deu vontade de ir para casa às 4h e eu fui, sozinha, andando pela rua, achando muito estranho ter coragem (o álcool ajudou um pouco) de fazer aquilo ali.
As escolhas que a gente faz para não ter medo, para conseguir fazer o que a gente tem vontade de fazer sem se sentir errada ou estranha. Os caminhos que a gente toma para não encarar de frente o que nos paralisa. A gente vai passando a vida fazendo isso todos os dias. Todos os dias. Quando a gente lembra que somos mortas, queimadas, violadas, abusadas, apenas porque somos mulheres, isso nos mostra como a vida é dura sim, para as mulheres.
Vejo meus amigos homens indo e vindo por aí sem pensar muito nisso, sem medo e sem camisa. A gente nunca vai saber o que é isso direito. Eu sei o que é isso em algumas horas do dia, mas não em todas. Quando eles saem da minha casa à uma da manhã e eu digo "não, dorme aí" e eles nem ligam, eu vejo ali uma liberdade que eu acho que nunca mais provei, ou nem sei se provei.
A vida é muito dura para as mulheres, mas ainda estamos aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário