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terça-feira, julho 20, 2021

Cadernos de Memórias Coloniais, Isabela Figueiredo.


Ouvi falar deste livro e achei que valia a pena. Logo na semana em que assisti muita coisa sobre branquitude, acho que tinha tudo a ver estudar mesmo este livro. Ler, estudar, nem sei ao certo, porque há tanta informação aqui que fico atônita com a escrita de Isabela, que é maravilhosa, que faz doer, que é necessária.
Faço um parênteses aqui para dizer que acabei tendo contato com o primeiro capítulo do último livro de Fernando Henrique Cardoso (2021), um livro de memórias. Eis que leio:

À parte esse fato, dessa época recordo que passava tempos em nossa casa a filha de uma ex-escrava de meu bisavô Pinto Fernandes, chamada Alzira [...] e outra moça, Aracy, aparentada de Floriano Peixoto. 
Alzira e sua mãe eram agregadas da família, não apenas da família de meus pais, mas da família extensa: ora moravam com uns, ora com outros. Alzira, que eu chamava de Zizi, havia sido minha babá. De pequeno, e mesmo já grandote, eu não calçava meias nem sapatos: esticava as pernas e ela os punha. Em casa de minha avó, não me dirigia diretamente às empregadas, dizia em geral "tenho sede" ou "quero comer". 

Não sei a página, li no Kindle e é um saco saber a página do livro. É logo no começo, não vai demorar de achar. Assim, Fernando Henrique é bem polido para contar uma história que se cruza com a história de Isabela, que é muito mais explícita para falar do racismo e do colonialismo presente na relação entre os portugueses que foram à Lourenço Marques civilizar os pretos, como ela mesmo diz que o pai dela diz.

O pai, que morre depois que volta de Maputo, não viveu para ler o livro e para ouvir o pedido de desculpas de Isabela. Ela diz que o traiu, traiu a ideia de que as pessoas que voltavam de Maputo deveriam contar ao quatro cantos que sofriam horrores na colônia, que estavam lá a salvar o que Portugal tinha os mandado fazer. Ela diz, não o fez, não o fez. Voltou e não fez valer as palavras contra os nativos, palavras racistas que ouviu desde criança contra pessoas negras e que a fez ter certeza de que a colonização, nunca nunca nunca foi uma opção sensata.

Isabela escreve tudo isso muito bem. Emociona-me demais, mas não quero aqui copiar nenhuma parte do livro, porque as partes que fazem os olhos saírem água te tomam só se você ler o livro inteiro. Vale a pena demais. 

Gabriela Figueiredo
 

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