Você que me lê, me ajuda a nascer.

domingo, abril 02, 2017

Sem ar.

Queria poder abrir o peito, para respirar.
Por vezes tenho sonhos que quando me lembro no outro dia, tenho um mal-estar. Lembro e esqueço novamente mas, quando lembro, sinto como se o sonho, quando sonhei, estava sendo real.

Meu corpo não cabe em mim, preciso respirar.
Não saberia explicar a sensação melhor que isso.
Hoje acordei assim, vi um filme e, mesmo sem caber em mim, mergulhei mais para dentro. Há histórias que nos tocam e fazem a gente olhar pra dentro e para os lados. Às vezes, a gente não encontra ninguém. Para dizer o que somos, o que não somos. Que o amor vai vencer, que não somos perfeitas, mas elas estarão ali.

E a gente tem medo, ou se anestesia da vida, de sentir.

Não sei muito de mim, e descubro que sempre sei menos ainda, quando me sinto assim, sem ar. Penso nas coisas que eu fiz ou não fiz, porque fiz, se faria diferente... e não tenho certeza de nada.

Eu aprendi a falar menos, ouvir mais. Não consigo sempre, mas isso também dói. Falar menos, ouvir mais, também tem dores. Nada te livra dessa coisa chamada (con)viver. Mas é justamente aí, eu não quero que seja um fardo, quero que seja leve, mas não. Vejo que na maioria das vezes em que as pessoas relevam algo que acreditam ter doído nelas, aquilo ali fica, cresce, machuca mais. Não é 'deixa pra lá' e acabou. É 'deixa pra lá', mas ela mesma ainda está sentindo doer, e muito. E aí, quando outra coisa acontece, ela embola as coisas, mistura a zanga de antes com a atual, mistura as frustrações todas, não sara, não passa. Porque ela 'deixou pra lá'.

Uma vez, briguei com um amigo. Eu o amava muito, e nós ficamos sem nos falar. Ele lutou pela nossa amizade, e soube reconhecer que errou. Eu estava machucada, não me enganei. Não deixei pra lá, senti minha raiva, minha zanga. Quando me curei, voltamos a nos falar. Eu sei que ele é uma das pessoas que mais me ama no mundo.

Eu não estou dizendo que eu sou perfeita, não. Eu estou dizendo que gosto de mexer no que está quieto mesmo, porque desconfio que debaixo daquela calmaria toda tem um mar revolto. E esse mar é que não me deixa respirar. Só que esse mar revolto, só dá pra enfrentar junto. Se as pessoas não quiserem lidar com ele, não adianta a gente ir sozinha... e a gente vai, navegando nas águas paradas, com aquele mar revolto por baixo.

Mexer no que está quieto dói pra todo mundo, mas dói menos do que olhar para as pessoas com aquela coisa que você não consegue lidar e vai deixando lá no fundo, debaixo do tapete... e aquilo cresce, dói, eu não quero isso. 

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