O que me faz feliz é... ver que ainda tem pessoas que se importam com as outras [...]
Você que me lê, me ajuda a nascer.
segunda-feira, novembro 26, 2018
Bluesman, Baco Exu do Blues.
O que me faz feliz é... ver que ainda tem pessoas que se importam com as outras [...]
Olhos d'água, de Conceição Evaristo.
Não gosto tanto de livro de contos. Não gosto, mas leio. Quanta coisa que eu não gosto e faço? Não tem problema, não. Às vezes eu me faço fazer e às vezes gosto. É que quando vou pegando gosto a coisa termina e... li os contos de Conceição Evaristo porque eu quero tudo que ela escreve, eu não gosto tanto de contos mas ela fala tanto comigo que eu quero tudo dela, e fim.
Quis ficar sabendo mais de cada pessoa de quem ela contou um pouco. Por isso, escrevo pouco aqui, na vontade que vocês cacem esse livro e também aprendam. Vou escrever aqui a última frase do livro, pra dar mais vontade ainda:
E quando a dor vem encostar-se a nós, enquanto um olho chora, o outro espia o tempo procurando a solução. (p. 114)
Como não amar Evaristo, como não amar a palavra? Essa coisa que me liberta eu quero tanto, poder ler e sentir as palavras como minhas, da minha gente, é tão gostoso isso, é o que eu quero, é o que eu procuro quando leio esses livros todos que faço desfilar aqui.
Não tem como não amar a poesia, a prosa, a vida.
Camisinha.
Ouvi uma coisa tão massa dia desses. De uma moça negra chamada Renata Prado. Ela disse que uma das coisas mais políticas quando se pensa em sexo é usar camisinha. Era uma conversa em que os temas sexo e política se encontraram eu achei essa frase - que pode parecer bem óbvia e simples - realmente muito poderosa e política, mesmo.
Mesmo.
Usar camisinha é tão simples e tão importante para nós mulheres. Camisinha feminina, camisinha masculina, a que você quiser. Use ou exija. Ela liberta a gente de dúvidas, de medos, sem ela não é possível viver uma vida sexual plena como nós merecemos.
Ultimamente eu tenho conhecido muita gente que não usa camisinha, sim; que não gosta, que diz que não liga de usar mas que nunca põe. As pessoas esquecem que a camisinha nos protege de uma penca de coisas e também nos deixa viver a nossa vida sexual em paz, sem aquela preocupação chata de "o que pode ser que aconteceu ontem já que hoje eu vou encontrar com ele e...".
As doenças sexualmente transmissíveis continuam existindo e bebês aparecem se a camisinha não está lá. É óbvio, mas achei tão massa isso de pensar a política da liberdade e do afeto - de deixar ser, de deixar viver - que há numa camisinha, que não pude deixar de escrever aqui sobre isso.
Renata Prado
Anitta.
Sobre como inventar pessoas, nomes e coisas. Uma série que mostra como fazer isso passo a passo.
sábado, novembro 24, 2018
sexta-feira, novembro 23, 2018
Casamento.
Eu não pensava em casar. Quando eu era mais jovem, eu não lembro disso ser algo que eu me ocupei por algum tempo. Eu não me lembro mesmo. Suspirava por alguns homens, namorei, saí, me apaixonei. Depois, lá pelos 27, 28 anos, encontrei homens por quem eu pensava que eu poderia começar a pensar em casar... aí as coisas não davam certo, eles moravam longe e frio e eu desistia da ideia.
Continuava a sair, namorar, conhecer. Aí com uns 30 eu comecei a pensar se eu deveria ter pensado nisso antes e comecei a construir uma narrativa que às vezes eu repito hoje: casamento acontece. Não é algo que eu deveria ter pensado ou almejado porque é um troço construído a dois, numa lida de relacionamento que eu não tive. Eu não tive nada que me moveu para isso, então eu não pensei. Foi assim que resolvi minha falta de pensar nisso.
E agora, eu continuo pensando sobre casamento, sei lá se impulsionada pelos outros, sei lá porque eu crio um medo da solidão que eu nem tenho quando ouço algumas pessoas falando. Eu acho que não quero casar. Nunca quis, talvez. Mas há sim uma leve pressão que te direciona para isso quando você vai envelhecendo. Eu acho, eu sinto ela. As pessoas te veem com alguém, pergunta se está legal e já acham que a etapa seguinte é casar. Eu não quero. Eu preciso parar de ter medo de assumir isso. Eu não quero.
Eu amo a minha vida. Eu gosto dela como ela é. Não sinto falta de casar e não acho que deva fazer isso só pra dizer que sei viver junto, que sou a favor da convivência entre as pessoas, algo que eu realmente acho muito caro. Quando escrevo isso, escrevo para que eu leia também. É que eu estou descobrindo de novo que entre os muitos modelos impostos por uma sociedade a uma mulher negra, está esse de que se você não casa é porque você foi rejeitada, então a gente não quer esse rótulo e às vezes casa. Mas não tem só essa resposta (a da solidão) para uma mulher negra que está só. Ela também pode não querer e estar bem. Ela pode ver uma grande abertura para a tal (pequena) liberdade no fato de não casar, não ter alguém "sério", ter relações bonitas com muitas gentes por aí, sem se preocupar com mais nada além de ser feliz e fazer feliz. Eu quero saber qual é a minha resposta. Eu já posso ir além de aceitar outro rótulo para minha vida, eu sei que posso. Um amigo me disse lindamente que é isso que finalmente acontece quando a gente se descoloniza REAL: quando você se conecta tanto com a mulher preta que há em você que você inventa suas próprias respostas íntimas para a vida que você vive dentro de você; há sempre uma análise e um balanço dos rótulos todos pendurados fora de você mas, o massa de descolonizar a mente é que você não fica mais ocupada de entrar nesse ou naquele modelo para tentar ser feliz. Você implode o modelo e passa a vida tentando de verdade descobrir quem é você e o que é que você quer com tudo que você tem.
Claro que erra-se muito, de qualquer jeito. Disso não dá para prescindir.
Há tempos atrás, escrevi para uma psicanalista famosa que publicava as cartas em anônimo num jornal de grande circulação. Minha pergunta era simples. Eu saía com os caras, estava bem, não pensava em nada além daquilo. Ela, muito inteligente, foi simples também. Está bem? Se sim, porque a preocupação? Ocupe-se em descobrir de que jeito você é feliz, algo assim. Eu estou caçando essa publicação, porque queria ler de novo qual era minha onda naquele tempo, qual era a minha pergunta. Talvez ela seja a mesma ainda hoje. Talvez eu precise só ler de novo a mesma coisa para compreender outras coisas. Procura-se uma coluna de jornal antiga.
E eu estou aprendendo a ser feliz, sim. Todos os dias. Eu sei o que me faz feliz. Viagens, crianças, música, cinema, cuidar da minha (pequena) liberdade. Agora gosto um pouco de cachorro e plantas também. Eu tou tão feliz com todas essas descobertas, sem esquecer que eu também tenho de lidar com as opressões diárias e pressões da vida. Um saco isso.
Eu quero ser leve, love, livre. Não quero descartar fácil, mas vou escapar sim das coisas que não me fazem bem. Eu escorrego e vou embora, sim.
quinta-feira, novembro 22, 2018
terça-feira, novembro 20, 2018
É verdade este bilete.
Amei essa história, mas fiquei sabendo tem umas duas semanas. Linda, né? Muito muito muito. Gabriel tem cinco anos, escreve bem demais e merece todos os aplausos do mundo só por ser criança. Li que a mãe desabafou por causa de críticas ao acontecido, eu queria que ela soubesse que se Gabriel estudasse na minha turma a gente ia rir muito juntas por causa desse bilhete; pode ser que eu até pedisse a ela de presente pra emoldurar ou pôr na geladeira, como fiz a vida inteira com coisas como essa.
Mentira? Gabriel não mentiu, ele disse que amanhã não iria ter aula porque poderia ser feriado. Como não era, teria. Assim, ele não mentiu. E, mesmo se mentisse, a exposição do bilhete não é para repreender Gabriel, mas para mostrar como as crianças são realmente capazes de entender o mundo à sua volta e estão o tempo inteiro, à sua maneira, querendo participar dele com aquilo que pensam e sentem. Nós, adultos, só vemos a mentira. Ainda bem que a mamãe de Gabriel vê mais do que mentira. Espero que mais professoras vejam mais inteligência e menos sermão nesse bilete.
Ainda bem que teve história divertida com isso tudo também. Gabriel, a mamãe e o bilete.
Tem meu máximo respeito.
Visita.
Eu conheço o desejo. Durante esse tempo de vida sobre a terra, ele me visita vem em quando. Ás vezes, vem e fica por muito tempo. Não pede direito e senta, deita, dorme. Faz morada. Noutras, aparece, chega perto, sopra no meu ouvido, dá um sorriso bem perto do meu rosto e eu até consigo sentir seu bafo quente na minha nuca.
O desejo, não sei se me conhece. Tenho dúvida se me visita querendo me ver ou perdeu alguém de vista. Não sei responder direito porque ele parece que sim quando em mim eu vejo que ele vem, mas ele também me deixa, vai embora sem nem explicar como chegou e o que eu fiz para ele me reconhecer assim de longe. Nem eu sei. Eu penso que eu só fiquei ali e esperei, mesmo quando não sabia pra que e quando achava que ele nunca ia me conhecer. Mas...
Será que é música o desejo? Será que ele diz coisas quando as letras cantam e dançam na minha cabeça? Não sei.
segunda-feira, novembro 19, 2018
domingo, novembro 18, 2018
sábado, novembro 17, 2018
sexta-feira, novembro 16, 2018
Né?
Engraçado, muito engraçado. Conversando com mainha, eu descubro que quase não lembro do que não quero, do que poderia me fazer triste, vítima, infeliz, com baixa autoestima.
Se eu soubesse a poção mágica que me deixa longe de lembranças tão dolorosas que ela me conta e eu ouço como sendo de outra pessoa, juro que divulgava ela aqui. Deve ser antídoto bom para curar de racismo, machismo, sexismo, falta de amor e coleguismo. Vai saber.
quarta-feira, novembro 14, 2018
Tudo bem.
Eu estou bem. Você que me procura para saber, eu estou bem. Com saúde, disposição, coragem, falta o que. Às vezes quando vou sair de casa mainha me pergunta "quer o que?", eu respondo, "coragem", ela quase sempre diz que isso eu tenho demais. Então estou bem.
Estou bem, porque ainda acredito. Respiro fundo, quando não consigo acreditar ou quando me irrito. Não me deixo ficar assim por muito, mas quando acontece, penso: "vai passar, isso tudo é uma grande besteira, daqui a pouco eu nem vou me lembrar mais dessa porcaria", aí respiro fundo, como aprendi na yoga, e continuo.
Estou bem, porque tenho companhia para estar. De homens, mulheres e crianças. De várias cores, formas e orientações. Nem com todas faço tudo mas gosto dessa situação de não ter controle do que que vai ser. Tenho aprendido a me divertir com a dúvida e a angústia, com o meu erro. Contei para um amigo que não sofro quando erro, porque me digo "tudo bem, Míghian, você é humana, não pode controlar tudo". E quando acho que outra pessoa erra, eu digo "tudo bem, Míghian, ela é humana, ela não pode controlar tudo". E assim tenho justificativas ótimas para continuar não levando a vida a sério.
Algumas pessoas que me conhecem dizem que eu levo a vida a sério demais, sim. Que eu invento isso para enganar gente. Uma outra dizia, quando eu respondia que não fazia nada da vida, que eu tinha dois empregos e fazia doutorado, mas que eu sempre respondia assim para desconcertar as pessoas, que esperavam esfregamento de título e de tempo preenchido. Pode ser verdade, sim. Mas eu não sei. O que eu quero dizer é, quando sinto que posso emaluquecer com as coisas da vida, eu penso nas coisas boas que eu tenho, aí dá uma coceira gostosa no coração e eu sorrio, aí rápido esqueço aquilo que não presta. Serve também conversar com alguém que te diz "isso vai passar", porque vai mesmo. Quando eu ouço isso, parece que destrava um monte de troço aqui dentro e eu lembro que a vida é mais que aquela irritação que apareceu ali, chata, que eu posso ir à praia agora mesmo e chegar lá em 15 minutos, então... isso de poder, de poder, de escolher algumas coisas enquanto muita gente hoje, agora mesmo, não é LIVRE, me faz ficar tudo bem.
Eu acho que estou bem então porque na maioria do tempo eu estou tentando aprender jeitos novos de escapar das coisas que não prestam. Eu vivo nessa astúcia de descobrir caminhos que façam as coisas serem menos pesadas, mesmo que eles sejam mais longos e nada práticos. Eu faço isso, eu tenho essa consciência da minha vida em prol de ficar em paz.
38 anos aqui e eu preciso dar um jeito de continuar o combinado de não morrer. Não é morrer só morte matada, morrida (que também é matada, às vezes), é morrer para a beleza das coisas que tem vida, sorriso, criança, música, amizade, cachorro (eu até queria um), comida, sei lá, pencas de coisas tão boas que a vida tem todos os dias. Parece que dizer isso cada vez mais soa piegas, bobo, infantil. Mas é isso aí mesmo que eu pretendo ser, voltar ao meu estado natural de quando eu nasci. Parece ingenuidade supor boa convivência no trabalho, lugar de competição intensa e desenfreada. Parece mas eu nem ligo pro que parece, eu preciso continuar assim mesma.
O que eu aprendi com as crianças, eu não abro mão.
terça-feira, novembro 13, 2018
segunda-feira, novembro 12, 2018
segunda-feira, novembro 05, 2018
domingo, novembro 04, 2018
Novembro.
Novembro chegou, mais uma vez. Amo novembro, amo fazer aniversário, mas nem sempre foi assim. Por algum tempo, isso nem era importante. A única coisa que faço há muito tempo nesse dia é não trabalhar. É coisa minha, botei na cabeça, não trabalho nesse dia faz muitos anos. É um jeito de me dizer que ainda tem jeito.
No único ano que trabalhei nesse dia, a pedido da instituição que eu estava vinculada, foi péssimo. Não quero mais fazer isso. Saí de lá logo depois, sem esquecer desse dia. Uma mulher deve poder ter suas próprias regras, ou pelo menos uma, algumas vezes na vida. Inadmissível.
Eu ando bem feliz, como quase sempre. Não é demagogia nem nada. As coisas não estão boas o tempo todo, mas eu penso que se já não estão boas, eu pelo menos devo ficar. Me apego ao que de bom tem na vida. O que é? Crianças, amor, cerveja, praia, não sei. Vai depender de muita coisa, mas essas aí eu sempre consigo ter.
O preço que eu pago para me incomodar pouco e conseguir sorrir sem um traço de amargura não é pouco, não. Mas eu pago com gosto, sentada aqui numa cadeira tendo vista para um braço de mar logo aqui. Silêncio num domingo pela manhã (os passarinhos cantam, ah como eu queria saber nome de passarinho só pelo cantar), conversa com vizinha, cheiro do churrasco dela vindo aqui, não tem cinema, não tem exposição, não tem teatro, não. Não tem.
Tem praça, gente na rua, música alta, criança correndo. Tem mangue, braço de mar, vista de ilha com sol no fim da tarde. Tem nadas e nisso eu tenho tudo, meu preço é viajar por aí e fazer o que eu não faço aqui, para não fazer o que faço lá, aqui. Eu gosto disso, de calma e vontade de dormir, de conseguir dormir porque calma e vontade.
E lavar roupa? Virou a coisa mais de quem tem tempo na vida. As pessoas lavam roupa à máquina porque estão cansadas, porque é mais prático. Mas todo mundo acha que a roupa não fica bem lavada e é aí que agora lavar roupa à mão para mim virou sinônimo de tempo. Eu gosto de fazer minhas coisas, ter o controle delas, comprar as coisas de casa, saber onde tudo está, lavar roupas brancas e vê-las côco, eu gosto muito mas faço pouco. Quando faço, sinto um prazer enorme e dona de um tempo só meu, todo o tempo do mundo. Me sinto forte e invencível quando lavo roupas brancas, com toda a calma eu esfrego, espero um pouco, faço outra coisa, ouço uma música - às vezes ele está por ali, acendendo a churrasqueira ou estendendo as roupas - e volto à roupa, esfrego um pouco mais, amaciante, depois estender. É tempo, é tão bom cansar de fazer as minhas próprias coisas, as coisas que eu escolhi fazer porque são de minha vida também.
Esse é o alto preço que se paga para não enlouquecer demais, nessa vida onde tudo é demais. Machismo demais, racismo demais, adultismo demais, chatice demais. Paguemos, então. E bem feliz.
E lavar roupa? Virou a coisa mais de quem tem tempo na vida. As pessoas lavam roupa à máquina porque estão cansadas, porque é mais prático. Mas todo mundo acha que a roupa não fica bem lavada e é aí que agora lavar roupa à mão para mim virou sinônimo de tempo. Eu gosto de fazer minhas coisas, ter o controle delas, comprar as coisas de casa, saber onde tudo está, lavar roupas brancas e vê-las côco, eu gosto muito mas faço pouco. Quando faço, sinto um prazer enorme e dona de um tempo só meu, todo o tempo do mundo. Me sinto forte e invencível quando lavo roupas brancas, com toda a calma eu esfrego, espero um pouco, faço outra coisa, ouço uma música - às vezes ele está por ali, acendendo a churrasqueira ou estendendo as roupas - e volto à roupa, esfrego um pouco mais, amaciante, depois estender. É tempo, é tão bom cansar de fazer as minhas próprias coisas, as coisas que eu escolhi fazer porque são de minha vida também.
Esse é o alto preço que se paga para não enlouquecer demais, nessa vida onde tudo é demais. Machismo demais, racismo demais, adultismo demais, chatice demais. Paguemos, então. E bem feliz.
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