Retrato de Menino, de Arthur Timóteo da Costa (1892-1992)
Eu me comprometi a falar sobre todas as coisas que ando lendo, mas às vezes esqueço. Vou indicar a leitura de parte desta dissertação maravilhosa e deliciosa de ler, que acabei lendo de uma toada só, ontem, durante todo o dia.
O nome é Mendigos e vadios na Bahia do século XIX e tá inteira aqui. Ela virou um livro, esgotado e caro nos sebos por aí. Fiquei mais interessada no livro porque fiquei me perguntando porque é ele havia enfiado moleques no meio do título (sim, o livro se chama Mendigos, moleques e vadios na Bahia do século XIX). Não consegui ainda o livro, mas triturei a dissertação à procura dos meus queridos moleques.
Fraga fala pouco das meninas. Ao que parece, havia um contingente maior de meninos nas ruas e estes insurgiam-se de modos diferentes das meninas ao mundo adulto e suas pressões. O termo moleque é, segundo o livro A morte é uma festa, de João José Reis (1991,p.329) relacionado às crianças negras, que dá a cor das crianças encontradas no capítulo V da dissertação. O autor cita uma série de eventos envolvendo crianças entre 03 e 18 anos - muito embora num outro texto, Kátia Mattoso (O filho da escrava, esse tá aqui) vai afirmar que as crianças não eram mais vistas como crianças muito antes disso. As crianças negras, mais especificamente, perdem o estatuto de crianças por volta dos 08 anos), demonstrando o quanto as crianças resistiram à ordem social vigente, que os quiseram emoldurar num lugar de civilidade ao utilizar seus serviços juntos aos mestres de ofícios ou aos exércitos da Marinha. Evoca também eventos como a greve geral baiana de 1857 e de como as crianças participavam de momentos políticos de grande impacto na vida social baiana.
Não digo mais nada, mas ao copiar aqui umas das conclusões do autor, me parece certo afirmar que,a despeito da força física e poder em menor grau que os adultos, as crianças não sucumbiram ao projeto de nação que desejavam impetrar no Brasil, posto que passamos ao século XX sem resolver o problema da infância pobre brasileira:
"Mas já no final do século XIX, as autoridades demonstravam
desânimo diante do grande número de menores desvalidos. Em 1891, o chefe de polícia da capital, Pedro Mariani Junior, reconheceria
que 08 juízes de órfãos e a polícia n&o tinham destino a dar a
eles. Esse era, na verdade, o reconhecimento da falência de
toda urna política que insistia em tratar os menores pobres uma ótica autoritária" (p. 147-148)
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