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segunda-feira, abril 18, 2016

Me perdoem os que fingem neutralidade, mas ir à luta é fundamental.

Sinto-me muito confortável em tomar partido de Dilma justamente por nunca ter sido petista de carteirinha. Na época da graduação, aliás, eu fazia sistemáticas campanhas contra o partido por não acreditar que a forma como alguns militantes conduziam os trabalhos políticos dentro da universidade era a melhor. Não me arrependo de antes, não me arrependo de agora (toda vez que lembro da época da graduação e do PT, lembro de uma frase que um militante me disse e que nunca mais esqueci: "Veja bem, é um partido. O nome já diz, não é inteiro, é uma parte, é um ponto de vista. O que não significa não querer conversar com as outras partes, partidos..."), eu continuo acreditando em utopias e na anarquia, muito embora eu não faça mais parte de movimentos anarquistas. Estar a favor de Dil a hoje não exclui todas essas crenças. Isso tudo pra dizer que eu continuo a favor do diálogo, do fazer junto, das coisas que levem a gente a pensar para além de nós mesmas. 
Ouvi a maior parte das justificativas para a votação a favor do impedimento da presidenta. E, vejam vocês, um pessoal que sequer consegue falar presidentA. Incômodo linguístico é que não é, há tantos neologismos por aí, tantas americanizações e afrancesamentos da língua que eu me recuso a acreditar que é porque alguém ali defende o purismo de uma língua de colonizador! Tem machismo nisso, impossibilidade de aceitar uma mulher no poder. A língua não está morta e aceita transformações para abrigar mudanças. Mas alguns deles. Não conseguem lidar nem com um a num final de uma palavra, imagina com todo o resto. Eu mesma fiquei bem contente de receber meu título de mestrA).
Importante ouvir, conhecer a cara de todas as pessoas que votaram a favor, ouvir seus argumentos conservadores (conservador de patrimônios, conservador de privilégios, para além de conservador de mentalidades!) sem nenhuma vergonha na cara. Botavam criança no meio, botavam deus, sei lá qual, eu nunca sei para qual deus estão apelando. Importante ouvir os argumentos contra também, entender os motivos. Alguns argumentos contra eram também contra Cunha e Temer, eu não entendi direito. Querem impedimento de uma presidenta porque acham que fazendo isso vão conseguir retirar do Congresso toda a corrupção, que impedi-la seria o início dessa limpeza. Oxe. Eu tou louca ou eles não leram as letrinhas miúdas da Constituição? 
Poucas mulheres votaram contra o impeachment. Poucas mesmo. É possível procurar esse número aí pela internet. Isso me animou a continuar acreditando o quanto é importante encher aquela tal "Casa do Povo" de gentes como Moema Gramacho, Alice Portugal e Valmir Assunção.
O golpe é gospel, eu li no Facebook (Tiago Sant'anna). Li também que há mais diversidade racial na bancada evangélica do que no PT (Fábio Mandingo). Tudo muito certo mesmo, sabemos até os motivos. Mas o que eu queria falar mesmo não era sobre minha opinião política, coisa que eu nunca deixei de manifestar. É assim: eu não acredito numa democracia representativa, mas também não acredito na direita escrota brasileira. Na minha parca inteligência política, penso que é preciso garantir a democracia representativa para ir além dela, para fazermos acontecer algo que vá além dos conchavos que precisaram ser feitos entre o PT e o PMDB (que definiria outros rumos para o impedimento, estivessem ao lado de Dilma), além de mensalões e tudo o mais. Qual é a saída?
Antes de falar das saídas possíveis, eu lembro de quando um grupo de ex-petistas fundou o PSOL. Muita gente achava graça porque as pessoas estavam irritadas com o PT e estavam criando um outro partido. Mas como é que faz para jogar o jogo sem ter a carteirinha do clube? Me ensina que eu não sei. Tem outros jeitos que não nas urnas, mas dá para entender que a galera que fundou o PSOL foi com tudo para tentar as eleições porque escolheram o jeito vigente. Nenhum problema com isso. Eu de minha parte achei maravilhoso. Por causa dele, veio Chico Alencar, Jean Willys e Ivan Valente, que massa. 
As saídas? Guerra civil. Tudo bem, vamos lá, vamos à guerra. Num país com uma frágil democracia como a nossa, em que não conseguimos nem mesmo completar meio século sem impedimentos ou golpes, a guerra civil aparece como uma saída possível para fazer-se entender que tudo o que não queremos é guerra civil.  
A outra saída para mim é o diálogo (que eu só conheço nos moldes democráticos, num país do tamanho do Brasil). Diálogo com quem? Com gentes como Jair Bolsonaro, Heráclito Fortes, Sarney Filho (aliás, o que é o Partido Verde apoiando o golpe, gente? Para o mundo que eu quero descer... aliás, descer no mundo, não! Com um Partido Verde cinza desse jeito prefiro ficar na ionosfera!). Vocês tem estômago? Eu os acho desprezíveis politicamente, mas eles também deve achar o mesmo de mim, se pudessem ouvir o que penso sobre aborto, drogas e presídios (bonito ler que Lula é a contra o sistema penitenciário também!). Eu não sei. Eu fico encantada com pessoas Como Jandira Feghali e Luísa Erundina, que conseguem dizer o que pensam todos os dias num lugar cheia de gente escrota como a Câmara dos Deputados. 
Tenho ganas de participar de uma audiência pública naquele lugar para dizer algumas palavras, algum dia. Sonhei com esse momento ontem, depois dessa votação absurda. Eu sentaria lá - eu conseguiria! - e calmamente falaria como todos aqueles homens evocando suas mulheres e filhos, filhas não me representavam. Como eles faziam parte de um Brasil que eu não me pertencia, a defender privilégios e seus preconceitos. Diria muitas outras coisas. Mas acho que não serviria muito, talvez só eu ficasse um pouco satisfeita. Todas essas palavras não mais os atingiriam como eu penso. Aliás, todas essas palavras que em minha boca são agressões e xingamentos - conservadores, elitistas, cristãos - seriam para eles elogios. E aí que reside a centelha daquela tal guerra civil que eu falei lá em cima (e não me venham com discurso romântico, aqui onde eu vivo, desse lado preto do Brasil, a guerra civil come solta faz tempo. Não vai ser muito diferente pra gente, não).  
De tudo isso, na minha cabeça fica essa imagem de Jean Willys, uma imagem que acalenta meu coração valente e triste. O mundo acordou, mas eu não quero descer da cama, bem a la Mafalda


E só pra lembrar: eu prefiro que as pessoas assumam estar a favor do impedimento do que dizer que "isso não é comigo" ou "não entendo de política". Só aceito isso de quem está tramando um jeito novo de fazer um país melhor. 
   

2 comentários:

Pinguela Filmes disse...

Migh! Excelente reflexão! Um beijo grande no coração pra ver se nos conforta um pouco dessa tristeza!
Mariana Luiza

Nida Amado disse...

Muito boa reflexão!! Guerra civil para termos certeza de que não queremos guerra..