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sexta-feira, outubro 31, 2014

Cicatriz.

No meio da aula, na faculdade, fui buscar um café. Não gosto de café daquelas máquinas, mas era o único que havia e a aula prometia ficar mais chata do que já estava. Na minha frente, um moço chamou-me a atenção. Mas eu me mantive séria, não poderia dar bandeira que tinha achado atraente um moço que nem nunca tinha visto por aquelas bandas. Na faculdade, quase nunca aparece ninguém interessante e eu conheceria um moço tão bonito se ele fosse estudante. 
Foi quando ele me disse em inglês

you know how to use the coffee machine? 

E eu disse

I  don't speak English 

E ele me respondeu

Now you talked

Fiquei sem jeito, abri um sorriso, ele também. Mostrei para ele como funcionava e depois descobri que seu português de Portugal fazia a gente conversar melhor. Quando sentamos para tomar o café - a essa altura eu já havia esquecido da aula - ele me disse que era curioso não saber mexer naquela máquina de café, já que ele mesmo trabalhou por muito tempo numa empresa que confeccionava máquinas de café. Comecei a achar que ele também tinha me olhado quando eu cheguei, mesmo estando de costas pra mim.

Notei uma cicatriz do lado esquerdo do seu rosto, o que me deixou mais atraída por ele. Eu disse que adorava sinais naturais, gostava das pessoas como elas eram, mas ele não acreditava. Aquela cicatriz me dizia que sua beleza era real, como a minha, como a de pessoas reais, com problemas e dores, mas com sorrisos também. O café acabou. Ficamos nos olhando, procurando alguma coisa para falar. Ele tomou iniciativa, perguntou se eu tinha Facebook. Disse que sim, ele me procurou. Eu disse que não usava, que não poderia ser adicionada. Ele me perguntou pelo whattsapp. Eu disse que a gente morava perto, poderíamos nos encontrar pessoalmente. Ele disse que era justamente o que queria, me ver de novo. 

Alguma coisa aconteceu ontem à tarde. Sua voz, seu sorriso e o modo como me olhava me derreteram mais que o calor em São Paulo. Não sei o que pode ter acontecido. Ainda me pergunto porque penso nele o tempo inteiro. As coisas como disse, como me pergunta sobre mim, o que ainda não sabe, seu cheiro, ainda não consegui descobrir o que me atrai mais. Alguma coisa nele me puxa, me chama para perto, mas ainda não sei o que é. Sei que preciso descobrir. Talvez não todas as respostas, mas porque seu olhar me envolve tanto, me amolece, me deixa sem vontade de mais nada a não ser ficar ali, olhando, olhando, olhando. Suspirando. Tive frio na barriga quando me olhou de mais perto, quando me beijou. 

Voltei pra casa meio boba, aula pra quê?
À noite, meu celular faz um bip. Ele está no meio de uma pilha de papeis, demoro para encontrar. Há uma mensagem vinda de um número desconhecido que diz  

I need to make some more coffee. You could find me again in front of the coffee machine now?

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