Você que me lê, me ajuda a nascer.

quinta-feira, março 31, 2011


Perdi um brinco na Estação Cidade-Universitária de trem. Comprei na mão da mãe de Gabriel. Quem achar, entregar na Estação Primavera-Interlagos, pra moça do tíquete, que me conhece.
Um senhorzinho passou por mim hoje e disse

oi, boneca

Bem na lombada, bem devargazinho

oOooooOOOooi, boneca

Dei um sorriso, mas só depois que o carro dele passou da lombada.
Eu sou muito vaidosa. Mas, eu não sabia.
Eu namorei um fotógrafo. Era bom, eu fingindo que não e adorando quando olhava pelo canto do olho e ele estava tirando a máquina de dentro da bolsa para tirar uma foto minha. Ele fingia que não sabia que eu gostava, e tirava, tirava. Eu adorava isso. Olho para as fotos que ele tirou, lembro dele.
Não foi bem um namoro.
Mas a gente queria namorar.
Bom, eu acho.
Mas, o que eu queria dizer é que lembro dele. Vejo as fotos que ele tira e lembro dele. Eu gostava dele. Gostava quando ele sorria, mas isso não acontecia sempre.
Agora, quando estou certa da volta, lembro dele.
Mas, não acho que possa ter sentido.

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Algumas pessoas acham que ela é apaixonada por mim. Eu não descarto a ideia.
Mas como diz Mariene de Castro:

vira os olhos grandes de cima de mim pras ondas do mar


Conversando, um amigo me relembrou Mandela e me disse


Pretinha, se alguém precisa que você se encolha para iluminar-se, não é possível que te ame. 

terça-feira, março 29, 2011

Trouble.


É só isso.

segunda-feira, março 28, 2011

Never hold back with me


Se eu tivesse talento, faria música, faria poesia, com as coisas que a gente se diz. Mas talvez eu não queira. É bom ter inspiração saindo pelos poros assim, para nada. Para não ganhar dinheiro, só para ser feliz.
Conversando com uma de minhas mães, pergunto se foi melhor ter ido à escola depois dos cinquenta e cinco anos, se agora ela lê melhor. Ela diz que não, e prossegue a leitura. Eu acho que sim, mas ela continua dizendo não. Depois eu pergunto
E na escrita?

Ela repete o não e emenda

piorou, porque antes eu não sabia que não sabia e escrevia do meu jeito. Agora eu fico com dúvida pra escrever várias palavras

Dei uma gargalhada e descobri mais uma vez como o conhecimento é mesmo um troço endiabrado. E descobri também que as mães que a gente escolhe, na maioria das vezes, tem os mesmos defeitos da gente. Nesse caso, birrenta e metida.

sábado, março 26, 2011

Leitura.

Pode parecer engraçado, mas tenho quase certeza que quem mais lê esse blog aqui sou eu.
Mas, enfim, serve.

Sobre o amor.

Aprendi que é muito mais fácil amar quem diz eu te amo para você. Difícil é dizer amor para quem nem sempre vai responder com eu também. Difícil é descobrir nas entrelinhas do cotidiano as provas todas do amor. Mas sim, a gente também quer ouvir, não só brincar de investigação a vida toda. Mas sim, tem gente que acha que não precisa dizer, tem que gente que acha que diz, tem gente que tem medo de dizer, tem gente que acha que tem hora pra dizer.

Eu não sei. Eu só posso dizer de mim (muitas vezes, na maioria das vezes, quando estamos falando sobre nossos sentimentos, as pessoas acham que estamos falando sobre elas. Aliás, a maioria das pessoas não pode imaginar que às vezes estamos mais falando sobre nós mesmas!), do que sinto, como sinto. Mas sim, eu tento descobrir o que sentem por mim, tento ler nas entrelinhas. Mas sim, eu acho que preciso fazer menos isso e fazer outras coisas. Como talvez, mostrar que se pode falar sobre o que se sente, sem que isso vire uma camisa de força.

Difícil, mas não impossível.

quinta-feira, março 24, 2011

Sandália de couro.

Sandália De Couro
Jauperi

E tem um dengo que me encontra
e vai lançando seu olhar
Ela me olha eu vou pra lua
e num instante eu sou luar
Tem um dengo que me toque a luz

Não tem sapato que lhe calce
ela só gosta de sandália de couro
Não tem sapato que lhe calce
ela só gosta de sandália de couro
De sandália de couro
de sandália de couro

De tênis, não vai
De scarpan, não sai
Descalço, machuca o pé
O salto, lhe trai
Tamanco, ela cai
Sapato, lhe dá chulé
Não tem sapato que lhe calce
ela só gosta de sandália de couro
Não tem sapato que lhe calce
ela só gosta de sandália de couro 2X

De sandália de couro
de sandália de couro

Um vestido de renda
pra na festa dançar
Uma porção de carinho
pra gente namorar


Nem me conhece, falando de mim por aí... esse Jau... eu adoro quando ele diz
Se você não vem eu sou
Um astronauta baiano

Eu paro tudo e canto bem alto (os moços da oficina mecânica lá embaixo dão risada quando eu passo):
Voando, voando
A CABEÇA na lua

Frase.

As moças-senhoras da hidroginástica me chamaram a atenção dizendo que o exercício tinha mudado e eu ainda estava repetindo o anterior. A cabeça longe, na frase

I must be doing something right to have you in my life

Todo mundo sorriu. Eu também, mas por outros motivos.

Minha vida em "dois alto". Você lembra dessa expressão? Ela suspendia o tempo quando a gente brincava de pega-pega e fazia a gente poder respirar uns segundos, antes ou depois, por qualquer motivo.

Corações em Punga.

quarta-feira, março 16, 2011

Diferenças.

A mocinha virou pra mim e disse

Ela é minha melhor amiga

Apontando pra outra mocinha. No que o mocinho preto veio dizendo

Não tem isso de melhor amiga. Cada um tem suas diferenças, né, professora? A gente tem que ser amigo de todo mundo.

terça-feira, março 15, 2011

Ainda estamos de pé, texto de José Roberto Barbosa.

AINDA ESTAMOS DE PÉ
Há cem anos, em Londres, acontecia o 1° Congresso Universal das Raças. Dele participou o então diretor do Museu Nacional João Batista de Lacerda, delegado pelo Brasil e único representante da America do Sul a apresentar relatório. Nesse relatório ele afirmou que a população do Brasil, de sua época, era constituída principalmente por negros e mestiços negros e que os considerados brancos tinham além da ascendência européia, ascendência africana e indígena. È importante dizer que esse comentário resultou em criticas por parte de alguns de seus compatriotas que o acusaram de denegrir a imagem do povo brasileiro frente á comunidade internacional. Contudo, Lacerda afirmou também que, segundo suas pesquisas, por conta das políticas raciais, em cem anos já não haveria mais nenhum traço da raça negra no país.
“no Brasil já se viram filhos de métis apresentarem, na terceira geração, todos os caracteres físicos da raça branca[...]. Alguns retêm uns poucos traços da sua ascendência negra por influência dos atavismo(...) mas a influência da seleção sexual (...) tende a neutralizar a do atavismo, e remover dos descendentes dos métis todos os traços da raça negra(...) Em virtude desse processo de redução étnica, é lógico esperar que no curso de mais um século os métis tenham desaparecido do Brasil. Isso coincidirá com a extinção paralela da raça negra em nosso meio".
Como todos devem saber não bastassem três séculos algumas décadas e uns anos de sistema escravista, a população negra do Brasil ainda teve de enfrentar, alem do preconceito, que ainda nos assombra, a repressão social, cultural, religiosa e também econômica das primeiras cinco décadas da republica, que deveria ser provisória. Á exemplo do que ocorreu em outros países americanos, como a Colômbia e Argentina o Estado Brasileiro, além de dispensar as medidas de inserção social da população negra planejadas por alguns membros do movimento abolicionista (como os do intelectual negro André Rebouças) adotou como política de estado, os ideais de embranquecimento, fenotípico e cultural, da população brasileira. Ideais que já existiam nos primórdios coloniais e que foram reforçados no século XIX pelas teorias de diferenças raciais e de eugenia então populares no meio acadêmico.
Alem do incentivo a migração européia procurou se evitar a imigração africana e asiática através do Decreto n° 528 de 1890 que só permitia a imigração de africanos e asiáticos se houvesse autorização do congresso.
Nas escolas e nos meios de comunicação de massa as características culturais e fenotípicas européias eram mostradas como positivas em detrimento daquilo que não que não era europeu. Simultaneamente muitas das manifestações culturais e religiosas da população negra tornaram se ilícitas (embora antes já fossem consideradas contravenção) e mesmo quando não eram proibidas eram más vistas. Não é preciso nem recorrer aos inúmeros relatos escritos, gravados ou filmados que falam sobre isso (como no caso do documentário “Samba a Paulista”). Basta procurar o relato de qualquer negro(a) que tenha vivido nessa época e ele(a) vai confirmar isso. Usando aqui um exemplo pessoal, meu bisavô contava que mais de uma vez foi perseguido pela policia somente pelo fato de carregar seu bandolim.
Apesar de os negros terem sido a maior parte dos trabalhadores no campo e na cidade, atualmente usa se a desculpa que os imigrantes (sem querer aqui diminuí-los) saberiam trabalhar com o café melhor do que os negros (apesar de a maioria dos imigrantes que aqui chegavam nunca ter visto um pé-de-café na vida - e alguns deles mal tinham dinheiro para ter tomado um), que, diferente dos imigrantes, os negros não estavam preparados para o trabalho livre, que não estavam preparados para o mercado de trabalho.
Algo contraditório já que segundo o censo de 1872 de uma população de 9930478 pessoas registradas naquele censo 5700000 eram negras, sendo que 1500000 desses negros ainda eram cativas e 4200000 já viviam em liberdade, enquanto que na época em que se deu a Lei Áurea (em 13 Maio de 1888) o numero de escravizados estava em aproximadamente 720000. De forma que então a grande maioria dos trabalhadores negros era livre.
Nos grandes centros urbanos, como São Paulo, Salvador e Rio de Janeiro, até cerca de 1890, os negros costumavam ser a maior parte da classe trabalhista. Entre eles não se encontravam apenas carregadores e outros operários não especializados, mas também muitos trabalhadores especializados como; ferreiros, sapateiros, alfaiates, barbeiros, etc.... A partir daquela década, começou se a investir na industria que, a partir de então, rapidamente substituiu a manufatura artesanal. Contudo aqueles que até então haviam sido os maiores trabalhadores no Brasil (tanto como mão de obra escravizada, quanto livre) foram excluídos desse novo setor de trabalho. Pois as industrias e comércios eram incentivados a contratarem apenas imigrantes e filhos de imigrantes. Por isso os homens negros tinham dificuldade de conseguirem emprego formal (registrado) e freqüentemente acabavam vivendo de biscates, ou mesmo na criminalidade. Trabalhando como cozinheiras, copeiras, lavadeiras, faxineiras nas casas da elite e classe - media as mulheres negras costumavam serem as provedoras de suas família.
No pós - abolição a repressão da chamada República Velha gerou ao menos duas formas de resistência, que ás vezes se cruzavam. Uma delas tinha um caráter mais politizado e militante vinda, sobretudo de elementos de população negra pertencente à classe – media que Florestan Fernandes denominou como “Elite Negra”. A outra forma de resistência oriunda dos grupos mais empobrecidos e marginalizados da população negra. Caracterizava se por ter um sentido maior de resistência cultural onde, a despeito da repressão policial e criticas da “alta sociedade, faziam suas rezas, suas tradicionais festas, seus sambas e batuques. Se muitas dessas manifestações sobrevivem hoje é principalmente pela resistência cultural dessas camadas populares que o fizeram mais por devoção ou paixão lúdica do que por qualquer ideologia.
Tudo isso para dizer que apesar de tudo o que foi feito contra nós, particularmente contra nossos ancestrais, apesar de tudo o que foi feito para que em 2011 não houvesse mais nenhum traço nosso nesse país, nós estamos aqui. Estamos de pé, como diz a musica “Irmão Café” de Nei Lopes e Wilson Moreira.

“Mesmo usados, moídos, pilados,
Vendidos, trocados, estamos de pé:
Olha nós aí, meu irmão café!”

Por conta disso acredito que deveriamos aproveitar esse ano estabelecido por João Batista de Lacerda para erradicação dos negros no Brasil para fazer uma espécie de campanha, ou algo assim.
Dizer para o mundo que ainda estamos aqui.
Que apesar de tudo que fizeram contra nós, ainda estamos de pé.
Sofremos muito e ainda sofremos, mas ainda estamos aqui.
Muitos de nós cairam nessa de embramquecer.
Muitos de nós sofrem com baixa estima.
Mas ainda estamos aqui, estamos de pé.

Basicamente é isso, não deixarmos passar em branco, denuciar ao mundo essa infeliz politica e fazer com que a o estado brasileiro e, principalmente, a sociedade brasileira reconheçam esse mal que nos foi feito. Não é uma questão de vingança ou algo assim, mas sim de sermos justos.

José Roberto Barbosa
Contatos: hoolkpan@yahoo.com.br

Plantas e a cidade.

É engraçado. Eu passei a vida toda vendo mainha cuidando de plantas que ela pegava na rua, no meio do mato, na lagoa, na praça, em tudo que é canto. Agora, se eu quero ter uma plantinha em casa, fácil, posso comprar uma já crescida, perto de casa há uma kombi que vende plantas. Mas não tem sentido.
A cidade e suas necessidades. A kombi fica estacionada na frente de uma casa cheia de plantas. Elas estão enormes e eu penso em fazer igual mainha, pegar um raminho de uma delas pra mim.

segunda-feira, março 14, 2011

Hit the ground, babe. Bateu forte dentro de mim também. Suas palavras, suas mãos, seu calor, cheiro, seus sussurros, suas promessas. Não consigo me desvencilhar dessa felicidade que é deitar no seu colo e me perder, me abraçar nele, um colo sem-fim, um mundo de colo só pra mim e lá fora é barulho, mas é fácil, você diz, é fácil descansar aqui. No meu colo, e eu no seu.
Não sei se isso é amor ou quase amor. Não sei se é pra sempre. Eu quero não pensar se vai ser, eu só quero conseguir ficar só ali, no colo dele. Sem pensar se ele é meu ou eu sou dele. Mas, isso também importa. Isso também faz parte do amor e da felicidade que eu pouco tive. Alguém que quer passar mais tempo do que só uma noite (ou duas) comigo. Tudo bem, é bom. Mas sim, não posso ter medo de dizer que eu quero mais e que isso também é querer ser feliz, pensar no amanhã. Pensar no futuro não é não viver o presente, mas um luxo para mulheres que como eu só puderam pensar no presente, por ser a única coisa que tinham.
Eu consigo mais do que isso. Fácil. Mas, e você?
eu ainda tenho seu cheiro no meu corpo

domingo, março 13, 2011

Entre Cidade Jardim e Hebraica-Rebouças
Muita coisa pode acontecer
Um encontro furtivo que muda tudo
Mas não toda a sua vida.

E a música é Window Seat, ele para tudo e começa a cantar. Canta

I need your attention
I need you next me

I need someone to clap for me
I need your direction
Somebody say come back
Come back baby come back
I want you to need me

E traduz a letra, no intervalo da canção. Não sei se é pra mim, mas me olha. Me olha. Baixo os olhos, depois olho.
Ele termina com a dancinha habitual.


Eu sou feliz, seja também ouvindo e vendo o vídeo aqui:

quarta-feira, março 09, 2011

Ciclo.

Queria escrever rapidinho que eu estou muito feliz.
Pensei que talvez algumas palavras poderiam acalmar a felicidade que transborda dentro de mim, mas ainda assim, tenho ganas de voar.

Voar...

terça-feira, março 08, 2011

Eni, mainha.

Ela falou assim de mim:

Não acho que não se apaixone...  Acho que foge... tem medo do gozo, de se ferir, pois é sensível, sente mais que outras pessoas que conheço, sente de um jeito diferente, sente parecendo mais gostoso, sente parecendo que quer gozar... mas deixa sempre pra mais tarde, sente, tentando não se entregar tanto, parecendo que quer controlar... eu te acho assim, cheia de cheiros, irradiando magia, e querendo como deusa passar indiferente...
Pura vaidade,


Reli isso aqui hoje, depois de passar horas conversando com mainha sobre amizades, sobre confiança, sobre nossas durezas. Mainha quer que eu aprenda, mainha quer que eu fique má como uma pica-pá (isso porque estando longe não pode me ajudar como acha que deveria), mas eu não consigo. Porque ela também me liga contando de suas dores. E depois quer falar de mim.
FIlha de peixa, peixinha é.

segunda-feira, março 07, 2011

Folhas.

Mãe dando conselho

menina, vai ni uma igreja, procura ficar calma, vai todo domingo, reza, é bom pra tu

Mas, no final, ela não resistiu

mas antes de chegar em casa, passa ni Mariinha, pega com ela folha de maracujá e alecrim, faz uma infusão, toma de manhã cedo, é bom pra nervoso
Espera perto ao telefone


Nem tanto, mas esperando.

sábado, março 05, 2011

Vida.

Pego a lotação e é sempre a mesma coisa: é uma mãe, pai ou avó que me reconhece porque dei aula para alguém da família, irmão, neto, neta, filho. Isso me deixa emocionada mas eu não choro ali assim. Elas sempre dizem

ela nunca te esqueceu
tem dias que ela quer pentear o cabelo igual ao seu
ela diz que vai ser você quando crescer

Fico sem saber o que dizer. Às vezes, essas crianças tinham um ano e meio quando eu fui professora delas. Parece incrível, mas nem mesmo as mães conseguem entender como elas se lembram. Uma delas me disse que sua filha, toda vez que via uma moça negra de black na rua mandava o pai parar o carro porque ela tinha certeza que era eu. E foi essa mesma mocinha de dois anos que um dia me viu no ponto de ônibus, pôs a cabecinha pra fora e disse

professoraaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Fiquei sem jeito, mas feliz. Dos motivos que não me fazem desistir. Um dos outros motivos é um outra criança desse ano que ontem me disse

posso mexer no seu cabelo?

Ele ficou me fazendo cafuné. E quando pôs a máscara que fizemos juntos pro baile, ele me disse

eu sou o seu gatinho, não sou?

Sim, ele é o meu gatinho. E mais uns trinta e dois...  

Homem.

Dias atrás, recebi um email de um homem me pedindo desculpas por ter me magoado. Na verdade, ele não me magoou. Ele é só um canalha casado e com dois filhos que tem mais duas namoradas. Não, elas não sabem de nada disso. Quando ele me cortejava, eu não o quis. Nunca me interessei por ele. Mas ele não entendia e me disse que eu tinha medo de me entregar. Eu ria, eu ria. Ri até o dia em que ele achou que poderia tentar me dar um beijo. Depois desse dia, não falei mais com ele.

Mas, no email, a ideia é de que eu estou magoada com ele por alguma coisa que ele talvez não entenda porque! A culpa, no fim das contas, ainda é minha, porque estou solteira e disse não.

É uma pena que ele espere resposta.

Esquecer e lembrar.

Há coisas que eu nunca mais vou esquecer.

Tomar pepesoup e comer mocotó em pleno centro de São Paulo com um grupo de amigos, conhecidos, colegas. Tem muita pimenta então eles e elas esperam depois que eu tomo todo o caldo alguma cara feia, mas eu quero mais e quero o caldo, cheio de pimenta, elas dão uma risadinha quando sai uma lágrima do olho de tanta pimenta, mas é bom, faz bem, eu matei as saudades. Foi a moça que amarra o pano na cabeça quem fez, mas olha lá, tem mais uma e mais uma, cada uma com um pano diferente chegando e comendo, sorrindo.

Elas conversam fazendo caras e bocas e falam pra mim que eu faço cara e boca também, mas eu não vejo e aí eu penso que faço menos, mas talvez seja a mesma cara e boca do lado de lá.

Depois conversamos sobre tantas semelhanças e diferenças. Eu vou pra casa feliz.

Vamos para a saída do bloco afro Ilu Oba de Min, que também é yoruba. Os moços se espantam quando a moça do microfone chama Exu e diz que ele é dono do lugar. Eles me contam que lá as coisas não são bem assim, Exu é coisa séria.

O bloco segue fazendo uma apresentação folclórica com as divindades do candomblé. Elas vão cantando para os orixás, invocando os deuses. As letras das músicas são religiosas, mas as pessoas que estão ali parecem não se importar muito com isso. É só um carnaval alternativo. Mas me parece que o único modo de ouvir um ponto no meio da rua sem discriminação é se você faz disso folclore, exotismo, carnaval. Não sei se gosto disso. Sou uma velha rabugenta.

O moço nigeriano que conversa comigo é filho de rei na cidade onde morava em Lagos, estado da Nigéria. Seu nome diz isso, mas não foi ele quem me disse, por isso acredito. Ele fala de Ogum e da linhagem da sua família. Apesar de ser cristão, respeita o candomblé suficiente para não entender alguns modos de exploração da cultura negra. Ele chama um outro amigo meu, muçulmano, para me falar sobre candomblé, cultura e religiões.

Depois conheço/encontro Ni, também de Salvador. Fica espantado, como eu, com o número de pessoas brancas atrás de um bloco afro. Em Salvador, normalmente, quando há algum tipo de manifestação destas, seja porque o número de brancos/as é menor, seja porque há uma relação com o povo de santo quando essas músicas são cantadas, o número é sempre menor que o de pretos. E em São Paulo, cidade que logicamente tem mais pretos que em Salvador por ter mais pessoas, essa relação não acontece. Seguimos conversando sobre a perda identitária que a maioria das cidades grandes provoca nas pessoas.

Como disse, há coisas que eu nunca mais vou esquecer.
Eres tan expresiva; tu rostro se ilumina en ciertos momentos; estas llena de vida

Foi ele, falando de mim.

sexta-feira, março 04, 2011

Ana.

Eu disse pra ela
perdi todas as minhas calças 38
E ela diz
isso é bom?
Quando poderia ter dito
nossa, você engordou!

Como ela disse isso é bom?, eu disse que na verdade, sempre quis ter quadril largo. Então, eu tou feliz. Mas se ela dissesse nossa, você engordou!, talvez não iria ter muito sentido falar do meu desejo por um quadril largo.

Descobri, então, que daqui por diante, só quero perto de mim pessoas sensíveis e boas de coração. Como Ana.

quinta-feira, março 03, 2011

Entrega.

A gente passa trinta dias escrevendo, com medo de errar as vírgulas.
Mas, na hora da entrega, é só um bate-carimbo e elas chamam o próximo.
Assim, sem injeção, sem massagem.

quarta-feira, março 02, 2011

Luís Alberto Gonçalves.

Porque ele precisa saber o que me faz renascer, aqui longe.
Por causa dessas fotos todas.