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domingo, abril 25, 2010

Cabelo.

Acordei hoje depois de um sonho estranho. Tinha ido num salão de beleza e saído de lá com o cabelo alisado. A parte mais maluca é que eu tinha certeza que eu não tinha ido lá para fazer isso. Pode parecer bobagem, mas isso é uma coisa que me encuca: o fato das mulheres alisarem o cabelo de maneira desesperada, como se elas só pudessem ser felizes se tiverem as madeixas esticadas. Esticadíssimas, na verdade. Parece bobagem, mas não é, já que muitas mulheres gastam muito tempo das suas vidas se preocupando com isso. Mesmo para quem o cabelo alisado não fica bem, tome-lhe escova progressiva de chocolate, de limão ou azeitona...

Tem um artigo, que eu gosto muito, escrito por Nilma Lino Gomes, que fala um pouquinho sobre o que é essa coisa do cabelo e identidade étnica. Muitas pessoas já me disseram que eu sou só negra para elas por conta do cabelo, já que não tenho a pele retinta. O que significa dizer que cabelo é sim, identidade e que se eu escolhesse alisar estaria perdendo algo que para mim é muito caro, minha negritude. No Brasil, onde há uma eterna louvação à morenice e a miscigenação, é sempre importante saber quem somos e o que realmente nos faz bem.

Não é um problema com a morenice e a miscigenação, enfim. Mas quando estas coisas existem para afastar a hipótese de que somos um povo preto por que isso é um problema, aí o negócio complica. Voltando ao cabelo, todos os dias, quando caminho nas ruas, e noto o número de mulheres (e também alguns homens) que esticam seus cabelos para se sentirem melhores ou apenas para "seguirem o comboio", eu meneio a cabeça, dou um sorriso amarelo. Ninguém entende nada, mas eu penso: quem ou quê essas pessoas pensam sobre si mesmas e o que elas são?

Nessa história toda, euzinha aqui, que tenho um cabelo que deveria ser considerado o mais comum do mundo, já que eu não faço praticamente nada para ele existir (apenas deixo ele existir...), fico parecendo a moça triste, deslocada e infeliz. Algumas moças me olham com tristeza e devem pensar que estou juntando dinheiro para a próxima escova. Vai entender.

Não pensem vocês que eu nunca alisei o cabelo. Na verdade, eu fazia o que chamam de "relaxamento" por que mesmo antes achava que alisar era muito artificial e assim, eu "relaxava" os cachos apenas para que eles ficassem mais "maleáveis". Mas era um saco também. Fazem quase quatro anos que parei com isso, no meu tempo nem escova progressiva tinha. Foi bem no começo desse desbunde, onde até o cabelo mais crespo ficava lisinho em folha. Ufa, escapei.

Aí, depois do sonho. Fui ouvir Gilberto Gil. Aliás, eu amo Gilberto Gil. E ele canta pra mim:

Sarará Miolo

Gilberto Gil

Sara, sara, sara, sarará
Sara, sara, sara, sarará
Sarará miolo

Sara, sara, sara cura
Dessa doença de branco
Sara, sara, sara cura
Dessa doença de branco
De querer cabelo liso
Já tendo cabelo louro
Cabelo duro é preciso
Que é para ser você, crioulo

Vídeo aqui.

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