Você que me lê, me ajuda a nascer.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Osso duro de roer.

Assistindo Jogo de Cena, a Andréa Beltrão lembra da infância, você se pergunta o que é representação e o que é real, mas não tenho dúvida que ali ela está falando do que viveu: diz que sente falta da Cidina(chamava-se Alcedina, mas Andréa pequena não conseguia falar o nomão inteiro), empregada que trabalhava em sua casa quando tinha cinco anos, ela diz que sente falta do cheiro da Cidina, uma preta enorme que adorava sorrir, a Andréa mesmo diz que adorava fazê-la sorrir, e quando chegava a hora de ir dormir ela ia pra debaixo do sovaco da Cidina lambendo o açucareiro, não queria mais nada no mundo, só sentir o cheiro dela, fechou os olhinhos e eu ali na cadeira pensando com tanta coisa pra lembrar da infância ela foi lembrar do cheiro da pretona, cadê a mãe dessa menina, deve ter ido trabalhar, mas é isso, ela poderia ter falado da mãe, do pai e das festas e brincadeiras, mas memória é coisa que trai. Assista Ônibus 174 e não verta uma lágrima. Não sei se era a intenção do Padilha, mas não consigo. E também nem tento não chorar, quando vem eu não seguro. Ontem fez um mês, me senti triste no fim da tarde, vai saber. Eu sei. Li ontem o George Clooney falando que sofreu muito com o pai, cheio de convicções e se levantava na mesa do jantar se alguém fazia alguma piada racista, ele torcia para o pai pelo menos uma vez relevar, mas o papai dele era mau, pegava-o pela mão e dizia umas poucas e boas, até nunca mais. E fiquei me sentindo mal quando não mandei um cara ontem, sentado na mesma mesa que eu, ir catar coquinhos. Teve a pachorra de dizer que o apartheid no Brasil foi criado pelo Lula, que as escolas públicas estão infestadas de animais, e ainda sobrou pro garçom, que segundo o dito cujo, não tinha massa encefálica para processar mais de uma coisa por vez, assim como a sua secretária. O sujeito é médico. Do mesmo tipo que matou meu irmão. Depois dessa, decidi não aturar mais isso. Da próxima vez, se pelo menos não disser umas poucas e boas, me levanto e vou embora. Simples assim. Como quiserem: eu acredito, esperançosa e boba, que vai acontecer alguma coisa e bum!, vai mudar tudo. Tenho uma amiga que acha que só vai piorar (é a pioria, nada de melhoria, fessora) e piorar. Tem pra tudo que é gosto. Escolha o que quiser, idéias na cabeça ainda são de graça.

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