Você que me lê, me ajuda a nascer.

domingo, novembro 25, 2007

Estranhamento.

Choro toda vez que volto de ônibus domingo pela manhã, olhando São Paulo pela janela e as gentes todas, todos mundos, choro de felicidade-tristeza-saudade-incapacidade-solidão. Mas no fundo, me sinto privilegiada. Por amar, sorrir, brincar, comer, dormir, tudo isso e se eu quiser ao mesmo tempo, aqui ou em qualquer lugar. Gosto de São Paulo, gosto de Salvador, gosto de gente me rodeando, me pegando e gosto de olhar de longe gente que se pega, gosto de imaginar a vida das pessoas que vendem bala no ônibus, gosto de conversar com todas elas, gosto de olhar para as pessoas à minha volta no metrô, elas nunca se olham direto nos olhos, gosto de fingir sempre procurar alguma coisa, finjo falar no celular quando estou sozinha, adoro inventar uma vida às vezes, como fazem comigo, pra ficar me perdendo e me descobrir depois. Cada dia que passa, tenho cada vez mais certeza que vou ser escritora. Vou morrer fazendo isso. Mas também queria cantar. Posso compor, então. Dona Mariquinha diz Como é isso, menino? Amor é bicho bom E eu digo Como é isso, menina? O amor são umas pessoas E é uma pena que tanta gente por aí seja tão boba. Eu te amaria mesmo tu sendo bobo, o problema é sua pretensão de achar que é mais bobo que os outros. E se a vida é invenção, como eu sempre digo, gente, vamos inventar finais felizes, enquanto podemos. Nada de chorar amores pequenitos, de estações de ano. Eu quero é que me tomem por inteiro. Despedaçada, sozinha, eu já consigo.

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