Você que me lê, me ajuda a nascer.

sexta-feira, maio 13, 2005

Sobre a comunicação no amor ou Cala a boca, mulherada!

Tentei não transcrever isso aqui, mas vai assim mesmo, por que me fez aprender hoje pra vida inteira: (...) Só as melhores histórias (entre as quais a que conta Anzuategui) conseguem nos oferecer fragmentos de uma sabedoria do amor. Roland Barthes lembrou um dia que saber e sabor têm uma etimologia comum: o saber que nos ajuda a viver não é uma doutrina, é aquele que nos permite reconhecer e saborear os gostos, mesmo que sejam amargos, às vezes. De qualquer forma, na vida, como na cozinha, o pecado capital é o insosso. As histórias que nos ensinam a degustar a experiência (e que, no caso, nos ensinam um pouco a amar) são aquelas que não nos iludem, mas conhecem e respeitam a dificuldade atrapalhada dos sentimentos e dos desejos. (...) O amor que nos é apresentado é vivido numa economia de palavras e de gestos que é uma forma extrema de respeito. Em suma, o amor de Juliana não promete a felicidade, mas evita (e quem sabe nos encoraje a evitar) a maior praga dos relacionamentos amorosos: a incontinência verbal. Nisso, "Calcinha no Varal" poderia servir de "educação sentimental". Calligaris, FSP, 12.maio.2005. Daí depois me peguei pensando como é que nós mulheres, donas de sextos e múltiplos sentidos, não conseguimos na maioria das vezes calar pra entender o outro, aqui apenas no masculino por que estou falando dos homens. Todos eles. Na maioria das vezes, a gente acaba falando sempre além da conta, culpando ainda os homens de insensíveis por não nos ouvirem como gostaríamos. Mas como seria esse "ouvir"? Sim, a gente sempre reclama que eles não nos ouvem como deveriam, mas a gente mesmo nunca sabe explicar como é! E a gente nunca vai conseguir explicar mesmo, sabe por que? Por que na maioria das vezes em que os homens poderiam aprender da gente, estamos falando. Falando sem parar. Falando o óbvio, e pedindo que eles também falem o óbvio, como "eu te amo" depois de uma noite perfeita, com jantar à luz de velas e todos esses mimos que nos preenchem a vida. Incontinência verbal, eu também sofro. Um bom nome para uma comunidade orkutiana. Sim, a gente sofre disso ao mesmo tempo em que conseguimos suportar dores e sentimentos dos mais variados, estar à flor da pele nos momentos mais duros e ainda assim se emocionar com uma flor e mensagens de saudade no celular... mas como saber quando é a hora? A hora de calar para deixar que o respeito e o amor ao outro apareçam? Pensam que eu sei? Pensam que eu não incorro o tempo inteiro nesse tipo de "problema? Ah, e como! Só que agora eu sei disso, o que na prática não muda nada, mas me ensina a aprender sobre mim para me fazer conhecer pra quem eu amo e quero bem. Li num outro artigo do Nelson Ascher que hoje em dia a palavra diálogo está mais para "convencer alguém de". As guerras atuais também começaram assim, com os chamados "diálogos intensos", e aí, quando não se atingiu o objetivo do diálogo do mais forte, houve a apelação para outros métodos de convencimento menos diplomáticos. Taí, é isso que acontece também num relacionamento. O que a mulher quer é que o homem a ouça aponto de convencer-se de que toda aquela choradeira tem sentido, quandoela mesma, passado o primeiro momento, fica a se perguntar o por quê daquilo tudo. Então, acho que é hora sim do homem acreditar que ser homem é o melhor que ele faz, por que como diz Puglia, homens e mulheres são diferentes, mesmo que nas Academias atuais todo mundo esteja querendo ser eunuco. Quando eu digo isso, quero dizer que os homens devem ter em mente que não é preciso entender a mulher que ama o tempo inteiro (e eles, ao modo deles, já fazem e entendem muito bem isso). Guarde todo o amor que sente por ela para que nos momentos em que ela esteja completamente insuportável, você se lembre que ali na sua frente, chorando ou dando uma de durona, está a mulher que você ama, a melhor, a que você quer pra você. Se é essa umas das características que diferenciam os sexos, que venham as diferenças! E que a gente aprenda a vê-las como aliadas para a construção de um relacionamento bonito, cheio de vontades e desejos realizados e sonhos por realizar. Mais um parágrafo original de Sabina, mas não por isso inédito na minha vida: "Eu estava com Fabrício na cama, ele gozou primeiro e eu não quis continuar. Ficamos deitados, ele em cima de mim, eu de olho aberto, e de repente comecei a chorar. Não pensei que ia chorar. Mas, quando vi, as lágrimas estavam escorrendo dos meus olhos. Ele estava quase dormindo, eu não queria que percebesse. Em algum tempo as lágrimas secaram. Perguntei se ele não se incomodava de continuar mesmo depois de ter gozado. Ele disse que não se incomodava, que gostava." "Calcinha no Varal", de Sabina Anzuategui (Companhia das Letras). In Ascolto: Chauffer, Nina Simone.

Nenhum comentário: