Você que me lê, me ajuda a nascer.
sexta-feira, maio 06, 2005
Resposta.
Resposta.
Ela decidiu sozinha que, aos sete meses de namoro, ele merecia comer-lhe o cu. Ela o amaria o suficiente para entregar-se de corpo e alma, finalmente. Contabilizou quantas vezes haviam transado: cento e trinta e cinco vezes até aquele dia, e lhe faltavam duas semanas para o tão esperado dia oito, que era quando se completavam os sete meses e ele chegaria de uma longa viagem. Nada poderia ser mais confirmador do que todas essas datas acontecendo assim, num perfeito bailar de números, horas, ânsias, desejos se encontrando.
Claro que não, ele não sabia. Era segredo, aliás, o único, já que ele lhe desvendava tudo assim aos poucos. Mas ela gostava desse jogo de esconde e mostra, se sentia importante pra ele, pro mundo dele, ele era seu, ela dele, que mais importaria? Entregava sim, entregava tudo, até mesmos seus códigos mais secretos, aqueles que os homens nem mesmo precisam saber para se apaixonar ou odiar uma mulher. Ele, ávido por ela, bebia as informações todas, gota a gota, esperando descobrir então que diabos ela escondia dentro de si que o enfeitiçava desse modo, que o enlaçava mais e mais pra perto dela, que o fazia refém dos seus caprichos, que lhe fazia correr o mundo pra encontrar apenas o gosto de um seu beijo.
Talvez fosse o cu. Mas isso era ela quem não sabia, e até tinha medo de que assim o fosse, por que lhe ofertando o dito cujo, não haveria assim mais nenhuma descoberta brilhante, a não ser aquelas típicas do cotidiano que tudo embrutece, como daquela vez que lhe viu escovar os dentes, emitindo um barulho estranho que ela nunca conseguiu deixar de fazer, mesmo depois de tanto tempo de prática.
Sondou o terreno. Ele foi cortês em dizer-lhe indiretamente que esse não era o foco principal do namoro, que estava contente com o que tinham juntos... Mas, mais à noitinha, quando foram dormir após um jantar à luz de velas, ele lhe confidenciou que um dos seus desejos era conhecer a tal cavidade da mulher que amasse de verdade. E para completar a declaração, afirmou, comovido: "Você é a mulher que eu amo de verdade!".
Se fosse o cu o causador de tal fenômeno, o do mistério e desejo, pensava ela, ele vai procurar em mim alguma coisa que valha a pena tudo isso, as viagens, as serenatas, os bombons de gosto exótico, por que deve sim haver numa mulher como eu interesses outros que não apenas meus orifícios espalhados pelo corpo. Mas que tinha receio do encanto acabar, ah, isso tinha.
Mas que fazer? Ela também estava ali, incendiada de vontade para saber como era que se processava tal feito amoroso. Amoroso sim, já havia se consultado com amigas que lhe disseram ser possível que tal ato fosse executado com amor, bastando para isso que o parceiro tivesse paciência com sua inexperiência, afinal, estava ela ali, com toda a boa vontade do mundo a dar-lhe o cu, não seria pedir muito que fosse um cavalheiro. Havia, além disso, lido várias matérias sobre o tema, como para se confirmar que aquilo não era assim tão bizarro, também para anotar o nome daquela pomadinha indispensável à via dolorosa, que na verdade, confidenciava aquela amiga mais saidinha, era apenas fachada para o enorme prazer sentido logo depois.
Bem, estava então preparada. Previu muita coisa, tudo assim disposto. Mas não poderia prever que naquele sábado, uma semana antes de completarem os sete meses de amor e cumplicidade, ele fosse pôr um fim em tudo aquilo. A vizinha. Sim, a vizinha de sonhos adolescentes havia voltado de uma viagem ao exterior, mais bonita, encorpada e ainda solteira. Propôs-lhe sexo sem envolvimento. Ele aceitou, e se apaixonou.
Ela por sua vez, não tinha vizinhos para esperar. Tomou o maior porre da sua vida. Chegou em casa bêbada demais para entabular qualquer assunto, mas a sua mãe, senhora do tipo insone e bisbilhoteira, apareceu à porta do banheiro com cara assustada:
- Mas que você tem, chorando?
- Acabou, mãe!
- O quê, minha filha?
- O namoro.
- Oh...
Dirigiu-se a mãe para o quarto, mas de lá pôde ouvir uma voz abafada, que de dentro do banheiro vinha possuída de ira:
- Mas pelo menos, mamãe, o cu ainda está aqui!
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